CAPÍTULO 22 – P.O.V - LILY
Eu entrei na minha casa desolada, eu ainda estava nas nuvens por ter sido tocada pelo Lucio, eu não conseguia tirar a imagem do rosto dele do meio das minhas pernas, eu não conseguia tirar essa ideia da minha mente de jeito nenhum.
Por mais que eu quisesse, era muito mais forte do que eu.
Eu fiquei parada no sofá com uma garrafa de vinho nas mãos ainda sentindo o toque dela na minha pele, o cheiro dele ainda estava em mim e se eu fechasse os olhos e me concentrasse bastante eu sentiria a língua dele no meio das minhas pernas.
Que tortura! Uma tortura horrível, saber que o meu marido tão bom em tudo estava chegando e eu estava sofrendo... por outro homem.
Que tipo de pessoa eu sou? - eu disse em voz alta antes de dar um gole na garrafa. Acho que só bêbada eu poderia encontrar um modo de viver com o que eu fiz.
- Nossa, começou a beber cedo... - ele disse logo que entrou pela porta.
- Estou fazendo uma festinha particular! - foi o máximo que eu consegui responder - eu vou tomar um banho... eu preciso me limpar, eu estou... suja! - confidenciei, mas não era suor o meu problema, o meu problema era só... o cheiro dele em mim, eu não queria que saísse... mas eu tinha medo que ele percebesse.
- Vem aqui Lily, quero me resolver com você... não quero ficar brigado mais - ele me puxou pelo braço, o meu coração se despedaçou no mesmo momento que os meus sentidos, eu senti a repulsa quando ele me tocou, eu não podia sentir aquilo, era inadequado. Ele era o meu marido afinal, e por que estar com ele causava em mim reservas enquanto eu me atraquei sem problema nenhum com um perfeito estranho horas antes?
Eu era demoníaca na forma como eu me comportava, olha como eu estava sendo terrivelmente ardilosa com tudo.
- Eu preciso mesmo de um banho Ben, eu já desço...
- Eu quero saber o que preciso fazer para te fazer feliz... ultimamente você tem estado exaltada, irritada... tem estado tão... eu não te entendo mais, nem sei se um dia eu entendi! - Ele chegou bem perto de mim e me deu um beijo, parecia certo e errado misturado em tudo dentro de mim.
- Eu não quero ser assim, eu estou tentando... eu só ando... confusa..., sei lá se eu tenho alguma desordem mental... você já parou para pensar?
- Eu sei que você não está feliz aqui, e eu estou estudando a ideia de nos mudarmos para a cidade... acho que você vai ficar um pouco mais feliz no meio da agitação da cidade, foi um erro te colocar no subúrbio.
- Droga, Ben... você não está pensando em nada disso, tem a ver com o maldito vizinho da frente - eu nem acreditava como eu estava sendo falsa naquele momento - eu estou errada em pensar assim?
- Não, é um dos motivos... eu não quero você perto desse cara.
Como um flashback as imagens das últimas horas não estavam saindo da minha cabeça, não tinha jeito das coisas melhorarem, ou piorarem.
- Eu vou tomar um banho Benjamin, conversamos depois... pode ser? - eu saí andando antes que ele, assim como eu, reconhecesse o perfume dele em mim.
Porque eu sentia por toda parte, estava encrustado em mim e na minha alma.
Assim que entrei no chuveiro deixei a água cair pelo meu corpo, e eu não podia deixar aquilo continuar, minha mente não saía do Lucio, não saia da boca dele... não saia de nada que eu pensava.
Era insuportável.
Quando mais eu me esfregava para sair toda aquela sujeira vinda dele, mas o perfume dele parecia ecoar pelo ar, como um vírus. Vai ver as minhas alucinações estavam vindo disso, talvez ele tenha passado essa loucura para mim a partir do momento que resolveu vir atormentar a minha vida, eu sentia raiva e ao mesmo tempo sentia vontade de sair correndo.
Saí finalmente do banho, e ali na minha janela eu vi uma mulher... a mesma mulher daquele dia no carro, o meu coração acelerou e eu nem consegui gritar, apenas me enrolei na toalha e saí correndo até a sala sem conseguir falar.
- O que houve Lily? você está até gelada...
A voz não saía, eu só conseguia gesticular
- Lá em cima? quem está lá? - ele saiu correndo pelas escadas, não pegou nem o acendedor da lareira para pelo menos enfiar na cabeça daquela psicopata se fosse necessário.
Eu subi atrás dele correndo
- Amor, quem estava aqui? - disse chegando perto de mim, colocou as mãos gentilmente em meu rosto, respirei fundo e finalmente comecei a falar
- A mulher... a... aquela mulher Ben...- eu disse abraçando-o.
- Ah meu Deus, será que ela ainda está rondando a nossa casa?
- Eu não sei... ela estava parada ali... ali na janela.... o que tem ela Ben? me diz o que aconteceu! agora! Por favor...
- Foi exatamente o que eu te contei, ela ficou aficionada por mim, e eu não fiz nada que justifique isso... você me conhece, não sou dado a esse tipo de coisa. E eu fiquei com pena... de ir até a polícia...
- Você não disse que iria fazer isso hoje Ben? - eu não tinha nada para falar sobre aquele homem, meu Deus, eu estava me sentindo ainda pior do que antes.
O que deu em mim? O que deu na minha cabeça? Por que eu não estava profundamente apaixonada por uma pessoa perfeita?
- Ben... por que você sentiu pena dela? o que houve?
- Eu senti pena... porque... ela é uma mulher sozinha, só está com algum problema mental não resolvido, precisa de ajuda e não da cadeia.
- Eu admiro muito a sua bondade Benjamin, mas você precisa ir até a droga da polícia, porque se você não for eu vou até lá... eu falo sério! Eu não tenho nenhuma pena... eu quero essa mulher longe da nossa casa.
- Mais um motivo para nos mudar para um apartamento seguro em Manhathan! é melhor para nossa segurança, e nosso casamento... eu não vou ter que dirigir até aqui todos os dias!
- Não vamos nos mudar... eu... estou me adaptando, fiz amizade com a vizinha da frente!
- Com ela ou com o irmão dela?
- Droga Benjamin!
- Olha, considera o que estou dizendo... não vai fazer m*l se você pensar um pouquinho nas suas possibilidades. Se você concordar, vamos depois da cerimônia em minha homenagem na associação. Você foi até lá ver a palhaçada que a Vivian está planejando?
- Eu fui. O de sempre, babados, cores fortes e comida ruim... ou seja todos vão achar perfeito! Liga para a polícia! Eu falo sério Benjamin, agora!
Descemos as escadas e eu estava com sentimentos misturados, o que houve com o Lucio não podia acontecer nunca mais, talvez fosse melhor eu ia para a ilha, e deixasse para trás os subúrbios e as tentações daquela vida. Agora tinha uma louca à espreita querendo o meu marido que eu mesma desprezava.
Minha vida estava uma p**a de uma bagunça.
Benjamin ligou para a polícia, e só o que tínhamos que fazer era aguardar, eu não tinha muito o que falar da história, mas eu só podia rezar para tudo ser resolvido logo.
- Lily... vem aqui na lavanderia! - ele gritou, e eu senti que ele tinha achado um tipo de crime em algum canto.
- O que houve Ben? - e lá estava... o livro que eu procurei por todos os lados, na mão dele... estava completamente limpo, mas eu sabia que era o livro - ah você encontrou!
- Encontrei o que? que livro velho é esse? tem cheiro de mofo e enxofre!
- Eu comprei esse livro... eu o perdi pela casa acredita? - menti de novo, estava virando uma profissional nessa arte.
- Sério? como conseguiu perder algo fedendo desse jeito? segura... eu vou lavar a mão... - ele me entregou o livro e eu o abracei, foi como se finalmente tivesse voltado até a minha casa... como se eu tivesse alguma conexão real com aquele livro velho. Ele era como o meu sonho, se é que aquilo era realmente um sonho.
Tinha aquele fecho maldito, e eu soube no mesmo momento a pessoa que poderia abrir para mim. Toquei o colar no meu pescoço, e fiquei remoendo enquanto Benjamin falava com o policial, eu não via a hora dele dormir para eu sair na calada da noite arriscada a tomar algumas facadas de uma louca até a casa da frente para encher o saco da Anne para ela abrir para mim.
Droga! Benjamin não parecia nem um pouco cansado.
Mas eu fiz uma promessa a mim mesmo, eu não ia cair em tentação com o Lucio, o que aconteceu não voltaria a acontecer nunca mais, eu só tinha que evitar estar sozinha com ele nos cômodos da casa, sentir o cheiro dele, e olhar nos olhos dele. E eu ficaria bem.
- Onde foi que você viu a mulher senhora? - disse o policial e eu estava tão perdida em meus pensamentos que eu nem me atentei a pergunta. - senhora?
- Desculpa, qual foi a pergunta?
- Onde você a viu amor... diga ao policial! - Acho que Benjamin já estava irritando o suficiente comigo.
- Eu a vi na janela do banheiro... do andar de cima... ela estava pendurada...
- Nossa, que insistência... vocês precisam tomar cuidado, nada de sair daqui a noite, quando o senhor for sair checar sempre a saída e o seu carro... vamos tentar encontrá-la e interrogá-la, mas a questão é que temos que pegá-la no flagrante.
- Entendido, vamos cooperar... não é Anne?
- Sim claro, vamos cooperar sim... claro... - eu concordei sabendo que eu não ia cooperar com aquilo, eu só precisava me armar com alguma arma que eu pudesse enfiar na cabeça dela caso ela me atacasse e ia ficar tudo bem.
Saber o que tinha no interior daquele livro era muito mais importante do que a maluca solta por aí. E eu não ia fugir disso de jeito nenhum.