CAPÍTULO 20 – P.O.V - LILY
Aquele sonho foi real demais, eu não esperava... eu não queria pensar tanto nisso, não queria pensar naquele maldito livro e em toda aquela lama, mas eu pensava... não tinha como fugir daquilo era mais forte do que eu.
- Lily o jantar lá na associação em minha homenagem... está tudo certo não é? - Disse Ben me questionando de algo que eu não sabia. p***a, eu não vi nenhum detalhe se quer daquele baile, joguei tudo nas mãos de Vivian e seja o que Deus quiser.
- Sim, está tudo certo meu amor... - eu menti - não se preocupe! - droga, agora eu ia precisar finalmente me inteirar daquele inferno, isso queria dizer entrar no meio daquele bando de mulher insuportável falando sobre as coisas banais que não me interessavam em nada - e sobre o assunto... da stalker? - eu precisava saber, por mais que ele estivesse sentindo ainda raiva de mim por ter ido caminhar com o vizinho. Esse assunto era igualmente importante.
- Eu não a vi mais, hoje eu vou até o meu amigo chefe de polícia e vou dizer a ele o que está acontecendo, ela não vai nos incomodar... - ele disse um pouco mais animado ao falar comigo, já que em seu olhar eu conseguia ver claramente o desprezo.
- Vamos ficar nessa agora Benjamin? Nos falando pouco... nos olhando torto! Podemos resolver tudo, e você sabe... - eu nem sei por que eu estava tão triste com o modo como ele estava me tratando, eu não costumava ligar.
- Lily deixa que eu cuido da situação do Stalker, por favor tenta pelo menos fingir que você se importa com a homenagem que estão fazendo para mim, pode ser? - ele disse irritado - não esquece de ficar longe do vizinho...
- Ainda está com isso, que inferno! - eu disse irritada querendo sair de perto dele mais rápido possível. Eu sabia que nós dois íamos nos causar choque se continuarmos a discutir.
- Um inferno ficar longe do cara... e você diz isso olhando na p***a da minha cara? - não era normal que ele falasse esse monte de palavrões que ele estava falando, me assustava, mas despertava em mim também uma animosidade extrema. - Eu vou indo, eu não quero mais ouvir nada sobre nada Lily, eu só te digo uma coisa, eu não vou te perder para ninguém.
E saiu.
Sim, esse era o medo do infeliz... me perder para alguém que nem me queria.
Eu saí ao encontro daquelas mulheres, com o coração apertado de ter que conviver, com a cabeça ainda naquele livro das sombras que apareceu em meus sonhos e parecia tão real, tudo estava confuso e quando eu parava para pensar nada se clareava em meu caminho.
- Que surpresa... - disse Vivian assim que cheguei na droga da reunião da associação - a mulher do médico finalmente decidiu vir ajudar! - disse parecendo irritada com minha presença.
- Eu vim saber se vocês precisam de ajuda... se minha presença incomoda eu não faço questão de ficar! - respondi ainda mais ríspida, eu não estava a fim de nenhum desatino, ainda mais vindo daquela mulherzinha.
- Claro que precisamos da sua ajuda, assim você pode nos contar como foi a conversa com o nosso vizinho gostosão na madrugada! - claro que aquela cobra iria ficar a espreita a qualquer custo para saber da minha vida.
- Eu não sei do que você está falando Vivian, e nem acho normal que uma mulher casada como você possa falar assim...
Elas se arrumavam em bando, ficavam me olhando para saber qual seria a próxima reação da malvadinha, elas esperavam para ver se elas iriam me esnobar ou me colocar lá em cima.
Mas elas não estavam mais voltadas para mim, todas olhavam para a porta onde estava a minha vizinha que também as odiava, graças a Deus.
- Olá... - eu a cumprimentei com um sorriso que ela não contribuiu
- Oi, eu fui meio que obrigada a vir aqui hoje... se não, não podemos morar no bairro.
- Que bobagem é essa? - eu disse surpresa, era alguma coisa da Vivian com certeza, essa palhaça já tinha cinquenta anos nas costas e ainda se comportava como se estivesse na p***a do colegial.
- É uma nova regra, eu deixei na sua caixinha também... mas sendo o seu marido um médico deixamos para lá, agora deles, não sabemos nada... é estranho!
- Bom, o que exatamente você precisa saber de mim e do meu irmão? - disse a mulher enigmática na sala, notei as tatuagens no braço dela... eu fiquei me perguntando os significados, além também de todos os adornos que pareciam símbolos muito exóticos.
Mas um em especial me chamou atenção.
A estrela na ponta do anel que ela usava.
- Esse anel... esse símbolo... Anne não é? - eu disse tentando sorrir de um modo contido para não demonstrar que estava louca para perguntar mil coisas.
- Sim, o que tem meu anel? - ela falou escondendo as mãos.
- Vivian, tem alguma coisa que a gente precise buscar em alguma lojinha na cidade, ou no mercado?
Uma das mulheres gritou - Estamos precisando de mais tecidos floridos... - e recebeu de volta uma olhada da Vivian que poderia matar, ela queria dar as ordens.
- ótimo, eu vou lá com Anne então... trago já o que vocês precisam!
Saí puxando a mulher pelo salão, eu não sei se ela agradeceu ou não por aquilo já que a minha presença também parecia causar nela uma certa repulsa esquisita.
Ela entrou no meu carro protestando, e ainda escondendo o anel.
- O seu anel é bem bonito... o que tem na ponta? - eu fui direto ao assunto, eu nunca soube comer pelas beiradas, inclusive Benjamin achava esse o meu maior defeito, eu jogava tudo o que pensava na cara de quem quer que fosse sem nenhum problema.
- Sim, mas por que você quer saber? - ela foi seca, parecia desconfortável.
- O símbolo me chamou a atenção... eu tenho tido essas curiosidades ultimamente... - eu parei por alguns segundos entendendo a loucura que era ser tão invasiva com as pessoas - desculpa, eu estou estranha esses dias... tenho tido alguns sonhos esquisitos.
- Sonhos estranhos? me fala mais sobre eles! - de repente ela parecia interessada, talvez ela tenha pensado "vou ajudar essa louca, conversar um pouco com ela... por que assim ela larga do meu pé"
- É... estranho.... outro dia sonhei que eu segurava um livro muito sujo, o sonho foi tão real que eu procurei o livro na casa inteira, procurei até cansar de procurar e cair na real que não existia livro nenhum! Não é terrível ser uma doente mental?
- Esse livro... Lily... você não o encontrou em casa? - ela ergueu as sobrancelhas.
- Eu não encontrei, eu não disse a você que eu sonhei com ele só? Sei lá, deve ser o problema que tem lá em casa... deve estar enlouquecendo as minhas ideias!
- Que problema? - ela parecia ainda mais curiosa à medida que eu falava.
- Um cheiro de enxofre constante... eu sinto em todos os cômodos mesmo sem razão aparente, eu nem tenho certeza de que o meu marido sente também, mas eu sinto... é insuportável de tão r**m! Eu preciso procurar um médico.
- Escuta... Lily... eu vou te entregar uma coisa... - ela começou a fuçar na pequena bolsa que ela estava levando no colo - Toma! - me entregou um colar como o dela, com uma estrela na ponta - coloca isso no pescoço, todas as vezes que você sentir esse cheiro! você entendeu?
- Como assim? por quê? - eu disse nervosa
- Eu não consigo te explicar nada agora, só se proteja da forma como eu estou falando... e por favor, me deixa na porta da minha casa? eu preciso falar com o Lucio!
- Não é coisa da minha cabeça, não é? esse cheiro? você sabe de alguma coisa? tem a ver com o livro que eu te contei?
Eu não sei o que me deu que eu falei sem parar, e de repente eu a vi de outro jeito... vi o rosto dela meio deformado e as asas marcando, foi como uma volta ao passado... eu desmaiei quando eu encarei de perto a luz.
O que aconteceu depois eu não me lembro, eu só sei que acordei novamente jogada em minha cama... eu me questionei pensando que nada daquilo foi real, mas era impossível ignorar o colar no meu pescoço, como ele foi parar ali se aquilo foi só um sonho?
Me levantei irritada, e fui até a casa dos vizinhos da frente... bati na porta até acabar as minhas forças, até o tal Lucio atender.
- Eu preciso saber... olha aqui... esse colar... a sua irmã... ela me deu... me explica o que aconteceu? eu estou confusa... eu sinto esse cheiro eu...
- Se acalma, do que você está falando? - eu conseguia perceber o quanto ele estava dissimulando, eu via em seus olhos que ele sabia exatamente do que eu estava falando.
- Eu quero falar com sua irmã! Onde ela está?
Ele permaneceu me olhando em silêncio sem me deixar entrar
- Eu vou fazer um escândalo aqui! Eu juro! - eu comecei a gritar e ele me puxou pelo braço para dentro da casa. - E então, me diz Lucio... o que vocês sabem que eu não sei? vocês fizeram algum m*l para mim?
- O que? nós? você ficou maluca? volta para sua casa... se quiser te dou um pouco de água e você volta lá para o seu marido! Aposto que ele não vai gostar nada de te ver aqui comigo...
- Me diz... - eu segurei a camiseta dele chorando, minhas emoções foram de zero a dez muito rápido - Por favor Lucio... eu estou tão perdida... tenho tido sonhos ruins, tenho visto coisas que me fazem questionar se eu estou louca ou não, e eu acho que você e sua irmã sabem como me ajudar!
Ele segurou o meu queixo, parecia estar tão relutante... chegou com o rosto pertinho do meu, e eu me senti desabar - Eu não posso ajudar você... porque eu não sei do que você está falando Lily... - me chamou carinhosamente, e as mãos dele pareciam conhecidas para mim, o cheiro do seu corpo também parecia, o jeito como ele respirava contra o meu rosto me invadia
- Eu acho que você sabe muito bem do que eu estou falando... me ajuda... por favor... - eu continuei chorando e à medida que eu falei baixinho ele se aproximou mais e mais, até a boca dele colar na minha.
Sensação como aquela eu jamais senti em toda a minha vida.