Cap 3

1014 Words
Mirella Aí, eu já estou cansada dessas historinhas de menina emocionada que não pode ver um Zé droguinha que está toda lá, sofrendo de amores, chorando horrores porque o seu n**o ficou com outra p**a, não suporto disputa com marmita Meu objetivo é outro aqui no morro da Rocinha, é ser grande, tanto quanto o dono do morro Ninguém sabe, mas eu sou filha do Arqueiro. Filha fora do casamento, da mulher que ele chama até hoje de mulher da vida dele, mas não assume. Só que ela não sofre não viu, acho que eu puxei isso dela, contanto que o Arqueiro dê tudo o que ela pede, a neguinha não liga de dividir ele com a coroa lá que bate no peito pra ser chamada de fiel Quanto ao Preto, pra falar a verdade, não era o plano que eu ficasse com ele, nunca quis isso, imagina, mesmo porque, quando a gente veio pro morro, ele já era casado, eu vi a mina buchuda e fiquei sabendo, como todo mundo do morro, o dia que ela pariu Sim, fui eu que falei pro meu pai o melhor dia pra invadir o morro, ninguém nem desconfiou, eu tomei cuidado, nunca me aproximei do pessoal do movimento, minha função era só olhar mesmo, eles não podiam me apontar como X9 Com a morte da Valerie, eu pensei direitinho, considerei as possibilidades, mas decidi mesmo seguir pelo caminho da paixão quando vi o Preto caindo na rua de tão bêbado, tentando afogar a dor da perda Fiquei até tentado a sentir pena dele, mas eu tinha que seguir meu caminho aquele morto tinha que vir pra minha mão. E não, não era pelo meu pai. Lógico que a ideia foi dele, o negócio de não assumir minha mãe, não dar na cara que é enroscado com outro r**o de saia, pra mim, era mais programado do que ela mesma imaginava, mas a bicha não aceitava A bebedeira ficou frequente e eu achei o meu motivo de ficar indo no bar do Moisés com mais frequência, inventei desculpa e tudo, ninguém conhecia o meu rosto, mas meu nome correu na boca do povo no momento em que estendi minha mão pro dono do morro Primeiro, uma sopinha aqui, um café forte ali, daí passou pra banhos gelados, café da manhã, noites em claro e lógico, o n**o não aguentou o chá. Mas também não consigo negar que ele ainda pensa na falecida, ele chama ela durante a noite, chora por ela sem nem perceber, eu sei que ele ainda a ama, mas nenhuma lembrança vai empacar a minha vida O Ítalo? Ah, aquele ali é meu ponto fraco eu tenho que admitir. Pensa numa criança que não dá trabalho, por mais que eu tentasse evitar, ele, com jeitinho, conseguiu cantar o meu coração, por isso que me doeu quando meu pai me avisou que a ideia dele era quebrar o Preto de vez e matar a família que tinha sobrado, pra ele, a morte não era o bastante, o sofrimento fazia mais efeito Não quis ir na escola pra ver o olhinho do Ítalo me reconhecendo como a mandante da sua morte, fiquei em casa, chorando, fingindo que estava preocupada com o Preto, fazendo oração teatrada e por fim, quase morri de ódio quando descobri que aquela retardada acabou com o meu plano ... Catherine Na hora que eu vi aquele p**a n***o caindo no chão e o Ítalo de contorcendo todo pra sair do meu colo e ir abraçar o pai desfalecido, não sei o que deu em mim, acho que foi reação de adrenalina mesmo O outro cara lá, que diga-se de passagem, eu nem reparei no rosto, ao invés de focar na gente ali todo espremido dentro do armário, decidiu comemorar a façanha de ter derrubado o Preto na base da coronhada, o que eu fiz? Na boa, nem me lembro ao certo, só sei que fiz Caty – Fica bem quietinho aqui do lado, Ítalo, eu vou ajudar o papai, mas se você chorar, vai chamar a atenção do homem chato, tá bom Eu sussurrei no seu ouvido, tadinho, ele estava chorando baixinho, mas feito homenzinho, me obedeceu. Eu saí devagar, enquanto o homem lá conversava no rádio, peguei o meu grampeador, porque foi a única coisa pesada que consegui sentir com a mão, e nem medi força, só joguei na cabeça do homem Detalhe, os tiros continuavam correndo solto, mas não estavam mais na direção da escola, acho que os homens sabiam que tinha gente importante ali, que não podia ser alvejado. Os menor do Preto? Se enfiaram no buraco, não dava pra ver nenhum, nem de longe, pela fresta do armário Ele caiu, colocou a mão na lateral da cabeça, depois levou a mão procuro do olho, só pra contemplar o sangue que já manchada os seus dedos e depois, caiu no chão “Tomara que você só tenha desmaiado, só que se morreu, a culpa é tua, Deus me perdoa” Dei um chutinho básico no homem, vi que ele nem se dignou a mexer, peguei o Ítalo e saí correndo. Ele estendeu a mãozinha chamando pelo pai, foi aí que eu me lembrei do dono do morro e voltei, cutuquei ele com o pé até o homem acordar, desesperada né, lógico, escutando o Ítalo continuar gritando pelo pai Caty – Anda logo, pelo amor de Deus Devagarinho, ele foi voltando e eu continuei acelerando, fez força pra voltar pra realidade logo, só que assim, não dava pra cantar vitória, ele até tentou, mas os tiros voltaram, e no fim, a gente teve que sair correndo, sem saber o destino do homem que eu dei a grampeada na cabeça Na verdade, eu não queria saber quem ele era, o que tinha acontecido e o que ia acontecer, a minha preocupação era só com aquele pequeno, aquele menino já tinha trauma demais, não merecia mais nenhum agouro, depois eu pensava em mim e procurava se, na minha correria do lado do dono do morro, eu tinha sido alvejada por alguma bala
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