Capítulo 2

1278 Words
Nicoletti Droga, mil vezes droga! Sentada numa pedra de cimento que era a cama fria da cela de Paris, reclamava miseravelmente comigo mesma. Como fui deixar ser pega? Nos outros bancos da cidade não existia sistema de segurança. O fato de roubar somente o suficiente para um ano sem miséria, não levantava suspeitas sobre a minha pessoa. Agora sendo pega no fraga... tinha medo de ser condenada até por crimes que não cometi e ser enforcada diante de todos. Escarlate sempre avisou para ter cuidado, ou, no mínimo não cometer nenhum crime por causa de ninguém. Dizia que não deveria me sacrificar tanto e tinha que pensar mais em mim. Retirei as roupas masculinas, ainda bem que fiquei com o vestido por baixo, assim fico mais apresentável diante dos guardas. Um vestido branco simples, porém foi a dona Suzete que costurou pra mim. De graça, pois vivia sem dinheiro, às vezes até mesmo pra comer. A vida em Paris não era fácil para quem não tinha sobrenome, título de nobreza, ou nascesse em berço de ouro. A fome era sempre presente, uma companheira que não era bem vinda. Escuto o barulho da porta de ferro rangendo e logo em seguida o próprio Lord Severin Sanches aparece diante da minha presença. Levantei sem fazer reverência para o ser desprezível na minha frente. Seus olhos verdes inescrupulosos passeiam, e antes de ser mais indelicado fixou bastante no meu rosto... Depois seguiu até os meus s***s pequenos, descendo até ao pé, voltando lentamente até encontrar os meus olhos novamente. Tinha um ar de superioridade extrema e seu sorriso nunca chegava aos olhos frios. — Posso ajudá-la a sair dessa pocilga. —Sua voz era aveludada e cheio de maldade. Mirou rapidamente o lugar com asco. — Como? Perguntei esperando o pior. Sempre era assim. — Se concordar em ser minha acompanhante por uma semana... — O que o senhor quer dizer com isso?! — Questionei super nervosa. — Quero que seja minha amante por uma semana, Nicoletti. Me espantei por já saber o meu nome. — Ora... — Estalou a boca. — p**o super bem pelos favores femininos... — Não sou uma prostituta!!! Gritei, avançando, segurando as barras da grade de ferro. Ele continuou no mesmo lugar, sem piscar, sem se abalar. — Todas são... por natureza ou pela profissão. Não se faça de puritana, senhorita Nicoletti sem sobrenome. — Desdenhou do fato de ser filha de ninguém. — Não estou pedindo nada do que não tenha feito mais de mil vezes, todas vocês são iguais! Acusou-me friamente. Fitou minha boca, odiando sua expressão de desejo, nossos olhares se encontraram. De repente estendeu as mãos para tocar os meus s***s, afastei imediatamente. Seu olhar era difícil de decifrar nesse momento. — Arisca... heim... Nicoletti, você tem quantos anos? Diga a verdade. — Descobriu meu nome e não sabe a minha idade? Ele levantou uma sobrancelha inquisitivamente. — Seu nome estava na lista de suspeitos dos roubos dos bancos, junto com um desenho seu. O problema que alguém tentou esconder isso da própria polícia... Alguém que a protege daqui de dentro... Um amante talvez? Seu olhar sagaz me irritou. — Não sei do que está falando! — Está bem... deixemos isso de lado por hora. Mas agora é a sua chance de conseguir tudo o que tentou roubar de mim. Vou oferecer muito dinheiro, mais do que você poderia roubar em um semana do meu banco. Uma troca justa. E no final de uma semana será rica o suficiente para nunca mais ter que roubar de novo. Viu? Quero ajuda-la. Todavia, preciso saber sua idade, não quero cometer nenhum crime indioso. — Tenho exatamente dezoito anos. Esses olhos verdes sem emoção, frios e calculistas, avaliaram-me por completo. — Essa idade deveria estar frequentando bailes, em busca de maridos e... — Não quero um marido! Nunca vou me casar! Homens não prestam! Falei com rancor. — Com certeza. Meneou a cabeça de lado. — Mulheres como tú, não fica satisfeita em ter apenas um homem. Novamente corri na sua frente, querendo ataca-lo. Mas no último momento de lucidez me contive, agarrando as barras. — Olha aqui seu... — Seu? Diga-me... Quero ouvi-la... escuta-la como merece ser. Sussurou mirando os meus lábios abertos. — Sou tudo que tens para salvar sua cabeça, nessa encrenca em que se meteu, decida-se agora! Ou irei embora e vai apodrecer nessa cela nojenta, ou amanhã de manhã seu lindo pescocinho estará pendurado... e toda a cidade de Paris vai ver o que acontece com criminosas como tú! Acabando de falar se afastou de supetão das grades, sério e um tanto enfurecido, em seguida deu meu volta e saiu da minha vista sem dizer mais nada. — Espere... volte. Milorde! Chorei de verdade, eu não podia morrer agora, não quando tantos precisavam de mim. Ele retornou com a vitória estampada na sua face. Limpei as lágrimas, cheia de ódio dele. — Milorde não me conheces para julgar-me. Não sou como o senhor pensas. Porém, vou aceitar a sua proposta indecente. Farei esse sacrifício. — O mirei com asco, mesmo assim, minha aversão a sua pessoa não lhe fazia m*l. Posso até arriscar que gostava da minha falta de ânsia em servi-lo. Como se eu fosse seu desafio... seu brinquedinho. — Fico imensamente feliz por ter decidido em ser minha mulher por um breve período. Sou um ótimo amante, nunca houve uma dama que passou pela minha cama que tenha saído insatisfeita. Com a senhorita não será diferente. — Que presunção a sua. Rebati, revelando sem temor a minha vontade de vomitar nos seus trajes caros. — Cuidado... — Ameaçou. Tentei me conter mas o meu coração batia freneticamente, parecendo que ia saltar fora do peito. Pensar em ser de um homem pela primeira vez não me soava nada bem, ainda mais dessa forma. — Mandarei os guardas para liberta-la. Nicoletti... Caminhou para fora do corredor, as portas se fecharam e em cinco minutos um guarda abriu a cela sem falar nada. Peguei os trajes masculinos e sai daquele espaço pequeno e gelado. Fui conduzida para fora da prisão, fora do delegacia vejo a rua de Paris começando a acordar. Um dia novo começava. — Senhorita, Nicoletti. Olhei para o lado e um senhor de meia idade me observava com curiosidade. —Sim. Sou eu. — Por favor me acompanhe. — Para Onde? Senhor... — Rufalo. É o meu nome, senhorita, obrigado por perguntar. Sorriu simpaticamente. — Para a carruagem do Lord Severin. — Completou ele. Deixei ele me conduzir para a carruagem fechada, feita com madeira nobre, cara. Com detalhes cravejados de rubi, esmeraldas e ouro. A carruagem dos sonhos. Conseguiria um bom dinheiro com essas pedras preciosas. Senhor Rufalo abriu a porta dela, segurando na minha mão com bastante cuidado, como se eu fosse uma pétala de flor, tudo isso só para subir no veículo. Me acomodei de frente ao Lord Severin, perto da janela. Puxei a pequena cortina de seda vermelha e olhei pela janelinha a cidade. Ele bateu no teto com um cajado preto, a ponta de diamante, e a carruagem começou a andar. Não queria olha-lo nos olhos, sentia vergonha da minha realidade. Ele por sua vez não tentou nada. Todavia, sentia o peso do seu olhar sob mim. Contudo, não saber onde estava me levando deixava-me apavorada. — Para onde o Milorde está levando-me? Posso saber? Apertei as roupas contra meu corpo. Queria desesperadamente fazer meu coração se acalmar, mas estava sendo uma missão impossível. — Verás em breve. Não se preocupe pequena dama criminosa, não sou tão vilão assim. Virei o rosto para ele e vi um brilho malicioso naqueles olhos verdes. Continua...
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