Capítulo Dois.

1521 Words
Hoje era mais um dia normal, ou nada normal se for analisar por outros olhos, mas eu já estou acostumada com tudo nessa vida. Eu continuo dormindo no sótão, e até prefiro dormir aqui, não moramos no topo, aliás eu nunca subi até lá, mas daqui eu consigo ver a praia e uma parte do morro. Mas como sempre o dever me chama, acordo antes das quatro da manhã e já desço indo pra área de serviço me lavar, e só depois disso que a minha jornada começa, começo a pegar a vassoura e o espanador e tirar toda a poeira da parte de baixo da casa, essa casa é um mistério pra mim, ela não parece que foi de nenhum morador por ser uma casa cara, quero dizer, e uma casa cara pra época dela, os móveis são antigos mais estavam conservados, quando agente veio morar aqui ainda tinha marcas de sangue nas paredes, pareçia cena de filme, mas filme de terror. Mas prefiro não ficar vasculhando mais histórias pra minha cabeça, já basta os fantasmas que me cercam todos os dias. Depois de varrer todo o chão eu pego o balde com um pouco de água, e limpo tudo até o último degrau da escada, e logo em seguida organizo todas as coisas em seus lugares e volto pra cozinha preparar o café e arrumar tudo que não estiver em seu devido lugar, na verdade eu faço café só pra mim, a Isabel só toma chá com as filhas, ela diz que cafeína não é bom pro corpo, tem gente que só pode ter um parafuso a menos mesmo. Mas não importa, volto ao serviço preparando o chá delas e um bolo de fubá, essa receita era do meu pai, choro ao lembrar dele, ele sempre fazia nosso café. O bolo fica pronto e eu coloco-o na mesa junto ao chá e alguns biscoitos e lavo todas as louças que eu sujei. Faço o meu café e tomo puro mesmo, normalmente eu só como alguma coisa depois que elas terminaram e sobrar alguma coisa pra mim, as vezes eu nem como, a Nicole e a mais gulosa de todas. Mas assim que dá seis e meia as meninas desçem com a mãe, elas estudam na parte da manhã, eu também queria mas infelizmente eu preciso fazer o almoço todos os dias. Assim que elas se sentam eu passo por elas o mais rápido que posso, tudo pra não ter que ficar muito tempo com elas pelo bem do meu dia, mas a Isabel me chamou e eu respondi com um bom dia normal. Isabel: Flora, preçiso que você passe a minha roupa que está sobre a cama, irei sair. — Sim Isabel. Isabel: Notei que as janelas estão todas sujas de **, quero que limpe-as todas antes do colégio, se acabar antes pode ir.— Disse e rio no final, mas nada mais me assusta vindo dela. — Como quiser senhora. Isabel: Por favor, use uma escova de dentes, quero tudo muito limpo. — Assenti saindo da sala e indo lá pra cima limpar toda a parte de cima, o que eu menos gostava era de lavar os quatro banheiros todos os dias, o de visita nem era usado, mas ela me fazia lava‐lo mesmo assim. Mas eu me acho rápida, limpei os quartos de todas e as janelas também pra diminuir pra mim, quando cheguei no corredor já eram nove da manhã, eu precisava correr pra dar conta, mas dei, limpei todo o corredor e o quarto de hóspedes e quando terminei limpei todas as janelas do segundo andar. Desçi correndo mas lembrei da roupa da Isabel que ela ordenou que passasse, então subi correndo mais uma vez e a passei com muito cuidado e desçi mais uma vez com o coração na mão, já estava na hora de começar a fazer o almoço, as filhas da Isabel não comem todo tipo de comida, a Natasha tem alergia de algumas coisas e a Nicole diz fazer dieta, bom a Isabel que obriga ela a fazer, então começei a cortar todas as verduras e ir cozinhando devagar, o fogão daqui é bem antigo, mas funciona muito. Deixei tudo no fogo e mais uma vez peguei o balde e a escova de dentes e começei a limpar todas as janelas do andar de baixo e assim que terminei já estava com as costas doendo muito, mas aqui não tenho tempo de sentir dor, já fui correndo de volta até a cozinha e o almoço já estava pronto, fiz dois tipos de sucos e uma enorme vasilha de salada e fui para o jardim, a minha parte favorita. Eu dei vida a esse jardim que antes não tinha cor, mas ainda não está do jeito que eu quero, então todos os dias eu faço alguma coisa já que o meu tempo é corrido, então já começei a molhar e a mudar algumas plantas de lugar, as rosas estavam todas abertas, fiquei orgulhosa de mim, enquanto a maioria dessas meninas estavam preocupadas com a cor do esmalte que devia passar na unha, eu queria ter dinheiro pra comprar mais adubos pras minhas plantinhas. Terminei as pressas quando me dei conta das horas que já eram, corri pro meu sótão e peguei minha toalha, tomei banho num bandeirinho aqui nos fundos, eu uso ele, e gosto, o chuveiro apesar de frio e enorme então eu nem sofro muito. Troquei de roupa ali mesmo e subi pro sótão denovo, eu adorava o meu quarto, eu tinha bastante espaço pra fazer o que eu queria, mas era meio bagunçado já que todas as caixas da casa eram jogadas lá, caixas das coisas que sobraram dos meus pais, mas eu ficava feliz por isso, me deixava mais perto deles. Coloquei a minha calça e a camiseta da escola, meu tênis velho e pinteio meu cabelo, eu tenho tanta sorte dele ser liso e não preçisar de muita coisa, só com um olhinho já está bom. Desçi mais uma vez as pressas, agora precisava colocar a mesa, já que as meninas já estavam pra chegar e a Isabel já estava pra sair do quarto também, então eu coloco tudo que fiz lá e tiro um pouquinho pra mim, lavo todas as panelas antes de sair, a Isabel lava os pratos dela e da filha, já é a minha grande sorte se não chegaria muito atrasada na escola. Deixo elas na mesa e nem dou bola pro que elas conversam, pego a minha mocilha na área de serviço e saio de casa, caminhando na calçada até a escola, que não era muito longe, acho que essa era a melhor parte do meu dia, acho não, concerteza era, pode sair daquela casa e respirar aliviada. Assim que cheguei na escola a samy já esperava por mim, talvez eu tenha me esqueçido de falar dela, mas não porque ela não é importante, a samy é a minha melhor amiga ou a minha única amiga nessa minha vida solitária, agente se conheçeu no meu primeiro dia de aula e daí pra cá não nós desgrudamos mais. Ela é da minha idade e do meu tamanho, um ano mais velha só, bem bunita por sinal com sua pele morena e os cabelos meio caracolados, é alegre, meio exagerada as vezes, mais gosto do jeitinho dela, ela ao contrário de mim já namorou, mas disse que terminou depois que ele a traio na cara dura, eu nunca perguntei muito sobre quem era o menino, nunca quis deixar ela triste, só sei que ela o amava de verdade. A samy fala com gírias mas eu nunca conseguir acompanhar a língua dela mesmo achando legal e engraçada, sempre falo do meu jeitinho certo, ela me achava uma patricinha até eu contar toda a minha história e apesar dela me achar uma tonta por aguentar tudo isso, ela respeita a minha decisão. — Porque não entrou? — pergunto sem fôlego assim que fico ao lado dela. Samy: Eu também acabei de chegar e decidir esperar pow. — Eu rir vendo ela falar, mas ela nem repara, ela fixa os olhos em uma moto parando perto da gente, a loira desçe e beija o cara na moto, ela até se despede dando um beijo nela. — Samy. — Ela nem ouve. —SAMY. — ela me olha. — Quem é ele? — agora eu fiquei curiosa. Samy: Ninguém importante Flora, e só o capeta do meu ex. — Diz e eu olho pra ele, era moreno, era bunito sim mais não como os príncipes dos filmes, pra que tanta tatuagem? e uma arma daquele tamanho? isso tudo é pra se achar melhor? — Ele tem cara que não mereçe você. — Ela sorrir pra mim. Samy: Você tá certa, o nome dele é PH. — Isso é nome de gente? pra que usar abreviação? — ela rir. Samy: Se fala vulgo Flora, e o nome dele é Pedro Henrique, mas ninguém pode chamar ele assim a não ser a família. — Mais uma regra da favela, vamos entrar né.— Ela assente e entramos juntas.
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