Capítulo 3

1006 Words
Eu ainda estava parada no mesmo lugar quando ele começou a se aproximar em passos lentos, e as duas partes de mim começaram a guerrear internamente. Uma que se voltava para minha sobrevivência e outra que sabia que ele não iria me machucar.  Ele estava muito perto agora, e foi o meu lado mais dominante -o que sabia que ele não me faria m*l- que me fez estender a mão sobre sua nuca. Enquanto isso, o lado que havia sobrado me fazia me imaginar chegando no céu junto com todo mundo e conversando com os outros fantasmas: "Nossa, como foi que você morreu?  -Eu morri afogado durante um tsunami!!! -Morri na guerra com 5 tiros em direção ao peito. -Morri em um incêndio, salvando criancinhas." O que eu iria dizer? "-Morri tentando acariciar um lobo que media 3 vezes mais que um lobo normal!" Tudo se voltava no fim de tudo para a mesma pergunta: O que eu estava fazendo da minha vida naquele momento?  Mas, pra variar entre todas as minhas escolhas que eu poderia ter tomado naquela situação, aquela estava dando bem mais certo do que eu esperava. Ele havia fechado seus olhos e inclinava  a cabeça em direção a minha mão. Com um pouco mais de confiança depois de um certo tempo, levantei de onde estava sentada. -Oi pra você também, e obrigada por não me devorar. - Ele bufou. Estranho, mas a situação toda era um mar de bizarrice, então parei de me torturar com perguntas. Dou uma leve risada. -Eu estava esperando encontrar alguma coisa mais sutil nessa floresta, como um gnomo, uma árvore mágica talvez... Ou até mesmo o Jason, mas isso é novidade pra mim. Tá bom, acho que há uma pergunta  com a qual eu deveria me torturar.  Por que eu estava falando com um lobo?  Olhei para copa das árvores, os espaços onde saem os raios de sol e percebi que ele tinha abaixado muito, e agora sua luz era de um laranja poente, dando à floresta um ar mágico. Porém não por muito tempo, tenho certeza que não seria uma boa ideia ficar por aqui a noite, tinha me distraído com as flores e minha…”recente companhia” que acabei perdendo completamente a noção do tempo, mas como ainda restava uma parte da minha noção de perigo, recolhi minha cesta que estava agora repleta de flores silvestres. -Olha, foi muito bom te conhecer,  mas eu tenho que ir agora. Se nos encontramos de dia não quero nem imaginar o'que eu poderia encontrar de noite, então, até qualquer hora...talvez. Eu precisei de um momento pra me localizar na trilha de novo, o lobo ainda não tirava os olhos de mim.  Depois que achei a trilha de novo, segui ela para casa, acompanhada de um guarda costas intimidante que me seguiu o caminho todo. Parece que tinha feito um novo amigo.       -----------------        Chegando na beirada da floresta, bem no final da trilha, vejo logo a frente minha casa. Olho para trás, onde estava meu acompanhante e digo: -Bom, obrigada por me fazer companhia o resto do caminho, você parece muito legal, principalmente por não ter tentado me devorar. Adoraria te convidar para entrar e tomar uma xícara de café, mas não acho que você vá gostar- Rio comigo mesma pela minha ideia. O que eu não poderia sequer imaginar, naquele momento, seria a série extra de sonhos que teria por mais aquela noite. Eu estava com os braços enrolados no pescoço do lobo. Só uma louca mesmo pra fazer isso, mas novamente tinha aquela sensação de segurança, de novo aquele cheiro maravilhoso e os olhos hipnóticos, era tudo tão bizarro...  Mas nunca tinha me sentido tão bem. Isso foi só de noite, antes disso, quando me despedi do meu novo amigo, dei uma leve olhada em direção a floresta quando cheguei a porta, e ele ainda estava lá, como que esperando eu entrar. Sumiu assim que tranquei a porta. Espalhei tantas flores por todos os cantos da casa, até os inabitáveis. Ficou tudo cheirando a uma caminhada em uma florália. Exatamente do jeito que eu queria. Encontrei no fundo da minha cesta uma pequena margarida com o caule quebrado, faltavam algumas pétalas, pois era a mesma que eu estava fazendo "bem-me-quer" "m*l-me-que" quando o lobo chegou. Peguei ela com cuidado para que não caísse mais nenhuma pétala e me dispus a terminar meu trabalho com aquela margarida. Parando na última pétala, que terminava em um singelo "bem-me-quer" fico feliz com o resultado, apesar de saber que não faz diferença nenhuma. Passei o dia seguinte largada no sofá da sala, procrastinando por um tempo, testando umas novas receitas e tentando não incendiar a cozinha com elas, mas quando chegou a noite, já estava querendo fazer alguma coisa diferente que não fosse ficar trancada em casa. Então às 10 da manhã do dia seguinte lá estava eu, acordada, arrumada e pronta pra sair. Eu me olhava no espelho avaliando.  Eu havia posto minhas botas azuis favoritas e prendido meu cabelo caia em uma trança lateral da cor de caramelo. Eu sempre gostei da cor do meu cabelo, nunca quis sair tacando descolorante por todo ele, com exceção de uma pequena mecha azul que se mantinha escondida bem na parte de traz, que só era visível quando eu o prendia em algum coque ou penteado alto, o resto dele era o meio perfeito entre o castanho e o loiro, pendendo um pouco mais pro loiro mas ainda assim como uma cor só minha. Eu estava usando o mesmo casaco amarelo do outro dia. Analiso minha imagem refletida. Pondero. Tiro o casaco e o coloco em cima da cama e em seguida, caminho em direção ao cabideiro atrás da porta e pego o casaco vermelho, volto para frente do espelho e o visto. Respiro profundamente e saio. Nada a dizer. Sabia exatamente o que iria fazer hoje.  Sabe a minha lista de "coisas que preciso fazer antes do fim do mundo"? Como já faz um tempo que os jornais não anunciam nada apocalíptico, foi alterada temporariamente para "Coisas que preciso fazer antes do fim das férias" Como eu não sei quando vou voltar aqui de novo, né. Vamos nessa. Aliás, eu estou em uma cidade aterrorizantemente desconhecida, com uma enorme floresta desconhecida, com muitas coisas desconhecidas na mesma porcaria de cidade desconhecida. Era enlouquecer ou morrer.
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