Capítulo 2

1421 Words
Naquela noite tive sonhos estranhos, um particular assombrou meus pensamentos mesmo depois de acordar.  Tenho quase certeza que estava no acampamento do Crystal Lake, lar do famoso serial killer que faz parte da clássica coleção de filmes de terror e também dos sonhos de algumas medrosas criaturas como eu.  Sonhei que tinha alguma coisa me perseguindo, não sei o que era, não consegui me lembrar de nada depois que acordei. Apenas me lembro de sentir medo, um medo apavorante que subia pela minha espinha e quase fazia meus músculos travarem enquanto tentava fugir, mas então...surgiu uma sombra. A sombra se movimentava de um pedaço escuro dentro daquele cenário e aos poucos chegava a uma parte mais clara, revelando então uma figura familiar. Era um lobo, maior que um lobo normal, tinha pelos negros como a noite e possuía um olhar apavorante e intimidador, seus olhos eram de um vermelho sangue vívido, que parecia brilhar em contraste com o n***o de seu pelo. Eu sabia que não era dele que eu estava fugindo, e quando ele surgiu de repente, do meio das árvores, não senti mais medo. Foi estranho. É tudo que me lembro antes de acordar Filmes de terror não fazem bem pra mim, isso é um fato... Nem ir dormir às 3 da manhã... Fui tomar um banho de quase arrancar a pele, um vício meu, mas vale a pena a cada segundo, e durante o banho, minha mente se dividia entre devaneios sobre o sonho que havia tido, tentando teimosamente lembrar de outras partes que haviam sido apagadas depois de meu cérebro ter despertado, e também sobre a idéia de que o fato de estar no meio do nada talvez me matasse de tédio antes que eu sequer tenha a chance de aproveitar. Ri para minha mente inocente. Como se eu não tivesse a capacidade de lidar e derrotar o tédio de uma forma ou de outra, nem que tivesse que ir lá fora contar todas as árvores em um raio de 300 metros.  Como acordei no horário de almoço não tomei café da manhã, dependendo do ponto de vista, nem almocei (depende do que pode ser considerado um “almoço”) Decidi inventar uma receita nova de panqueca sem olhar na internet, foi uma boa experiência e não ficou tão bom quanto deveria, e sujei a cozinha toda. Mas foi um bom "almoço". Parando e analisando tudo ao meu redor coberto de farinha de uma forma que parecia que tinha nevado, decidi dar um jeito na casa. Era uma casa grandinha e bem antiga, e como minha tia nunca estava, a poeira se acumulava nos móveis de madeira, então depois de resolver minha prioridade que era a cozinha, fui dar um jeito na sala . Tirei todo o ** dos móveis e percebi como aquela casa era sem graça.  A mobília era de madeira, e as paredes variam o tom entre laranja e bege -pelo menos na sala e nos corredores- Pra ficar uma casa completa só faltava fotos horripilantes nas paredes de gatos, palhaços ou crianças chorando. Fui correndo pra cozinha e peguei lá uma pequena cesta que ficava no balcão que era usada para guardar frutas... Bom, vou precisar de mais do que frutas decorativas agora.  Fui lá pra cima trocar minhas pantufas de unicórnio e meu pijaminha maravilhoso pôr uma roupa de verdade. Enquanto trocava de roupa, algum vento repentino deve ter soprado sobre a porta. Me assustei com o barulho dela se fechando contra a parede, e de consequência, meu velho casaco vermelho vivo que estava pendurado em um cabideiro atrás da porta acabou caindo no chão. Olhei intrigada para o casaco no chão, como se o universo quisesse que eu o colocasse, de uma forma até irônica. Universo, você acha que eu te escuto?  Joguei o casaco em cima da cama, vesti o meu casaco amarelo, e saí em direção à floresta. ------------- Era bem distrativo andar por entre as árvores, com o canto dos pássaros, o farfalhar do vento… O ambiente em si era algo anestésico. Minha mãe ainda não tinha me telefonado uma vez sequer, nem pra perguntar se eu estava bem, ou algo do tipo. Mas eu já esperava por isso. Tentei parar de pensar nisso, mas o problema é que, ou eu ocupava minha mente totalmente com isso ou ocupava com os malditos filmes de terror que assisti ontem, e se não fosse com isso seria com a sensação terrível que meu pesadelo de perseguição me havia deixado. Com certeza eu estava sem muitas opções, então optei por cantarolar. Os barulhos de floresta ressoavam ao meu redor, o vento assobiava entre as folhas das árvores e trazia um arrepio nos pelos dos meus braços. Eu caminhei um pouco seguindo uma pequena trilha na floresta, sabia pra que lado ficava a casa e não tinha como me perder. -----------        Depois de caminhar um pouco, chego a uma parte da floresta onde as árvores se dão mais espaçamento uma das outras, e suas raízes eram carregadas de pequenas e delicadas flores silvestres. A luz do sol se espreitava por entre o espaço dos galhos e descia como um véu de luz. Era como uma pintura divina registrada naquela pequena parte da floresta, longe de muitos olhos humanos em um museu só dela, e destinada a se acabar com uma simples mudança de estações. Minha mente me gritava pela ideia que acabara de ter. Deitei entre as flores do chão e fiquei um tempo lá, sentindo o perfume delas. O matinho esperava pelo tecido do meu casaco e me causava algumas cócegas, mas valia a pena. Valeu muito a pena, Eu não dava a mínima se estava me sujando ou para os mosquitinhos chatos sobrevoando minha cara, eu sempre quis fazer isso. Eu amo as flores, sempre amei. E o melhor nelas é que cada uma é única e especial, como se contassem sua própria história. Elas têm significados diferentes, cada um especialmente feito pra elas; têm cheiros e aparências diferentes e o melhor de tudo é que, seja qual for, a beleza da flor ao lado nunca apaga a dela própria. O manual das flores havia sido um dos primeiros livros que li assim que aprendi a ler. alguns significados eu ainda lembrava Fiquei mais um tempo ali, e estava distraída com um bem-me-quer m*l-me-quer com uma margarida do campo quando sinto uma sensação estranha. Me sento onde estava deitada de forma assustada e olho em volta, mas não vejo nada além do comum de primeira olhada, mas então ouço atrás de mim um barulho de galhos se quebrando, olho assustada e então vejo por entre as árvores um assustador par de olhos vermelhos a me observar. Droga. Por que eu não sonhei com os números da loteria? Apertando mais a vista para me adaptar à sombra daquelas árvores, percebo que era um ENORME lobo n***o. Assim, sabe um lobo normal? Eles já são GRANDES, mas aquilo não estava nem perto de ser um lobo normal. Senti também um cheiro estranho e exótico, amadeirado que me lembrava um dia de sol. Não me lembro de lobos cheirarem tão bem, mas da mesma forma acho que nunca fiquei tão perto de um. Tudo que eu sei é que estou prestes a ser devorada por um. Além dos olhos e do tamanho, dava pra ver que ele tinha dentes muito afiados, que poderiam arrancar um m****o em uma mordida. Com certeza um conjunto assustador, mas os olhos...tinha alguma coisa diferente neles, e senti a mesma coisa que senti no meu sonho. Eu não estava com medo. Deveria estar, mas não estava. E enquanto me perdia naqueles olhos, poderia jurar que ouvi uma voz na minha cabeça dizer em um uma voz forte: "Minha" Eu fiquei um tempo ali parada, hipnotizada com aquela sensação que tomou conta de mim, sem lembrar como é ter alguma reação. Mas então voltei a mim, e o lado racional da minha mente, o responsável pela minha sobrevivência que não está nem aí pro que o resto do meu corpo quer fazer ou pensa a respeito disso resolveu tomar conta, e me fez revisar minhas opções, que eram: A) Correr- com toda certeza não iria dar muito certo, duvido que consiga escapar de uma coisa dessas, ia no mínimo durar uns 2 segundos na corrida. B) Me fingir de morta- eu li em algum lugar que se você encontrasse um urso, o melhor a se fazer era se jogar no chão e fingir de morto, pois assim ele poderia enjoar de te usar como brinquedinho de morder e ir embora, mas como isso não é um urso melhor considerarmos outras opções. Só que eu não tinha mais ideia do que fazer ou de o que poderia ser uma opção,  poderia chamar pra jogar cartas mas deixei meu baralho em casa.  Que pena.
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