Afinal chegou o dia em que eu teria de sair com o James. Ele m*l tinha acabado de chegar, nem sequer tinha tocado nas caixas de mudança e já me mandou mensagem dizendo que estaria aqui às 15 horas. Esperei. O relógio parecia se mover em câmera lenta, e antes que eu percebesse, eu balançava minha perna direita no ritmo que a minha ansiedade tocava. Por conta disso desisti e comecei a me arrumar umas 2 horas antes, mas acabei rápido, o que me fez voltar à posição inicial, com minha perna inquieta e sentada em cima das mãos para não roer as unhas.
Depois de um tempo, finalmente ouço a campainha tocar.
Ando até a porta e conto até dez de trás para frente como uma tentativa de controlar meu nervosismo e minha ansiedade.
Como será que ele está? O máximo que cheguei a ver foram umas poucas fotos no f*******:, e fazia anos que eu não o via pessoalmente, portanto a curiosidade fazia picadinho de mim por dentro.
E se ele estiver muito diferente? E se me achar entediante? E se simplesmente aparecer aqui, olhar na minha cara, rir e sair?
Dou um basta em meus próprios pensamentos, mando eles se calarem a abro a porcaria da porta.
A primeira coisa na qual reparei foi numa moto incrivelmente LINDA, meus olhos deveriam estar brilhando de encanto, e juro que quase tive um infarto. Aos poucos meus olhos foram subindo e reparei na figura em cima da moto, com um leve topete como se tivesse saído de um filme dos anos 80, e vestindo uma jaqueta de couro que combinava perfeitamente com todo o contexto estava ele.
Eu não imaginava que uma jaqueta de couro caísse tão bem em alguém, mas parecia que era feita pra ele. Eu ainda continuava babando por aquela moto.
Tudo bem, me recompus e caminhei até ele.
-Primeiramente, você está linda. Segundamente, espero que não tenha nenhum problema com motos.
Travei por um minuto com o elogio inesperado. Eu estava usando o meu vestido amarelo e meu cabelo caía solto nas minhas costas. Não era exatamente meu visual de noite de gala, mas estava perfeitamente aceitável.
-Obrigada...e não, não tenho problema nenhum. -Disse tentando disfarçar minha empolgação.
Eu ainda sentia uma leve vergonha pairando sobre a minha cabeça, a vergonha normal que deveria se sentir depois de anos sem ver uma pessoa e de repente ela aparece parecendo um modelo de uma capa de revista dos galãs da década.
-preparada para uma aventura? -ele me pergunta me entregando outro capacete, subo na garupa e quase sentindo meus braços enferrujados e pesados pela timidez, firmo os braços na cintura dele.
-Depende, pra onde vamos? -Pergunto mesmo já tendo uma idéia
-Você vai ver.
E arranca com a moto.
Ele foi indo devagar por uma parte do caminho, por minha causa, e tudo que eu queria era ter a coragem de gritar para ir mais rápido.
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-O que te trouxe de volta a nossa pacata cidade? -Pergunto. Estávamos no planetário da cidade, depois de uma rápida parada na sorveteria que tinha os 100 sabores diferentes de Milkshake. Ele se surpreendeu, assim como eu, quando viu que essa loja tinha se aberto por aqui. Fez perguntas do tipo:
“É possível existirem 100 sabores de Milkshake?”
e também:
“Como que eles fazem o Milkshake de algodão doce?”
e também teve o:
“Será que algum paladar do mundo acharia todos os 100 sabores bons?”
E eu tentava responder essas perguntas da mesma forma que alguém tentava descobrir o significado da vida.
Eu olhava os ladrilhos que mesclavam do preto para o azul conforme andávamos.
-Digamos que tenho uns assuntos pendentes na cidade.
-Uuuh, assuntos pendentes, vai m***r quem? -Digo brincando e ele sorri.
-tenho uma pequena lista. -Ele fala entrando na minha brincadeira.
-Espero não estar nela.
-Bom, se estiver vai descobrir cedo ou tarde, não é mesmo?- Ele me encarou sério e nós dois começamos a rir.
-Pretende ficar por quanto tempo?
-Não sei. Ainda vou ver isso.
-Não vai sumir de novo sem avisar!
-Tudo bem, tudo bem...
Exploramos todos os andares, e decidimos ir em um pequeno game que tinha por ali que parecia funcionar como um paint ball futurista. Tínhamos lazeres, e coletes que eram desativados assim que atiravam com os lazeres neles.
Olha, eu não diria que eu era uma pessoa competitiva, mas... mentira, sou a pessoa mais competitiva que conheço, mas James era um absurdo.
Ele se pôs de tocaia como um fuzileiro de guerra. Atirou em tudo que se metia pela frente e acertava os alvos com maestria . No início tínhamos formado uma dupla, apesar de o propósito desse jogo ser "cada um por si", mas assim que foi diminuindo a quantidade de sobreviventes, eu ia andando na frente por um pequeno túnel cenográfico com o que pareciam ser várias pedras lunares, e então ouço sua voz me chamando por trás, e me viro para olhar.
-Nael, espero que entenda que não é nada pessoal.
E então, ele atirou em mim.
Ele foi cordial o bastante para me fazer virar de costas e não me dar um tiro por trás? Sim.
Mas eu nunca fiquei tão arrependida de ter salvado ele de um tiro a tiracolo de uma garotinha de 5 anos como eu havia feito mais cedo naquele dia. Queria dizer que se arrependimento matasse eu já estaria morta, mas acontece que eu realmente morri pro meu parceiro de equipe.
Depois do jogo, ficamos mais um tempo andando pelo planetário, mas não conseguimos olhar as estrelas pelo telescópio, pois estava parcialmente nublado.
Ele me levou em casa um pouco antes de anoitecer, me deixou na porta de casa e nos despedimos de forma calorosa, mesmo eu ainda guardando uma leve mágoa.
-Bom, espero que possamos nos ver mais vezes enquanto estiver pela área.
-Umas árvores de distância. Só me procurar. Nos abraçamos e ele foi indo embora.
Eu não entrei em seguida, fiquei na porta esperando ele ter ido e corri em direção da floresta