Eu estava enlouquecendo.
Meu pé já estava quase cem por cento bom, mas eu ainda mancava às vezes e ainda não era recomendado pra mim correr, mas eu ainda sonhava noite após noite com aqueles olhos e o rapaz misterioso.
Eu só pensava naqueles olhos 24 h por dia, não sabia o que fazer... estava começando a me sentir deprimida e com uma solidão muito grande depois daquele primeiro encontro. Eu precisava.
Eu tinha...que encontrá-lo.
Entrar naquela floresta de novo? Não sei se seria uma boa ideia.
Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu voltaria para lá, a tentação era grande demais. Parecia que a floresta estava me chamando, e era como se eu soubesse que ele estava lá e que eu tinha que encontrá-lo, como se estivesse me esperando.
A única distração que tenho tido eram as conversas com meu quase vizinho James, que ainda não tinha voltado para cá, mas viria dentro de alguns dias.
Hoje era o último dia que minha tia ficaria em casa, e tenho certeza que seria uma má ideia ir pra floresta com ela aqui.
Veja bem, não acho que ela concordaria com a ideia, já tive que contar que machuquei meu pé depois de colocar uma música da CIA em um volume muito alto, então eu fui obrigada a esperar alguns dias até ela ir embora.
-Tem comida na geladeira, fiz bastante compras então não precisa se preocupar com isso agora -Disse minha tia indo em direção a porta.
-Ta bem.
-E olha, juízo, eim! Se cuida enquanto estiver fora.
Acho que minha tia era o único m****o da minha família que valia a pena, ela pelo menos me ligava de vez em quando, enquanto estava fora.
-Tudo bem, pode deixar...
Ela sai pela porta e a fecha, espero algum tempinho na sala e me dirijo rapidamente para a janela mais próxima.
Ela tinha ido.
Não perco tempo e corro o máximo que meu pé machucado permite em direção ao andar de cima, vulgo meu quarto. Eu me atrapalhava nas escadas tentando correr, marcar parecia tão mais prático que no meio do caminho desisti de tentar correr e fui pulando em uma perna só.
Funcionou, acabei indo mais rápido e por milagre não cai nem uma vez.
Assim que chego no quarto sento em minha cama e olho as minhas confortáveis pantufas de urso e meu pijama de domingo e ponho alguma coisa decente. Eu estava muito apaixonada pelas pantufas, elas eram o presente que minha tia havia me trago dessa vez. Me disse que havia comprado em uma loja de conveniência no Canadá, onde um dos seus vôos estava destinado. Ao que parece eles tentam vender qualquer coisa relacionada a ursos, pois é uma marca turística do local (o que por um lado é bem estranho, pois isso deveria AFASTAR turistas). Desde então eu as vinha usando, e estava apaixonada.
Com relutância as tiro e calço minhas botas, e troco também meu pijama.
Logo depois saio para a floresta.
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Passei um tempo andando, seguindo a mesma trilha pra ver se encontrava de novo com...Ele.
Depois de um tempo eu tinha perdido as esperanças, tinha retomado o caminho de volta pra casa cabisbaixa, mesmo sabendo que continuaria voltando aqui por um bom tempo até encontrá-lo, E mesmo que isso acabasse comigo, eu sabia que era algo que eu não conseguiria evitar, como um empuxo de uma maré muito forte. Você não consegue lutar, não consegue nadar contra, ela apenas te leva.
Enquanto voltava pela trilha, ouço um barulho atrás de mim. Olhei esperançosa pensando que poderia ser ele e me surpreendi ao encarar dois vibrantes olhos vermelhos escondidos nas sombras. Era o lobo que eu encontrara outro dia, e que eu -espero- ter feito amizade.
Ele vem se aproximando com os olhos fixos em mim.
-Oi amigo...você me assustou.
Aproveito a ocasião e me sento ao pé de uma árvore para descansar meus pés.
-Não estava esperando te encontrar de novo.
Ele se aproxima e deita bem do meu lado com a cabeça no meu colo. Acaricio suas orelhas.
-Sentiu saudades de mim?
Ele fecha os olhos como se estivesse apreciando o carinho. Não tinha como negar que era um comportamento estranho.
-Não era bem você que eu esperava encontrar por aqui, mas até que gostei da surpresa..., aliás, por acaso você viu mais alguém por aqui?
Pergunto como se ele fosse responder, mas mesmo sabendo que não, conversar com ele me dava uma certa tranquilidade.
Fiquei ali com ele por um tempo,conversando bobagens, falei sobre o rapaz que encontrara e que tinha ido ali procurar ele, falei sobre a floresta e perguntei se ele gostava de viver ali (mesmo sabendo que ele não iria responder), e outros assuntos supérfluos. Era muito bom conversar com ele, mesmo sem rolar exatamente um diálogo. Apesar de tudo, ele parecia ouvir cada palavra que eu dizia pra ele, suas orelhas ficavam alerta mostrando que estava escutando tudo, às vezes ele chegava até a rosnar ou bufar com algum comentário.
Depois de um tempo fui embora. Ele me levou até a beira da floresta de novo e fui com a promessa de que voltaria outros dias até o final do verão, e também agradeci a companhia dele.
Chegando em casa me surpreendi com umas 300 mensagens de James dizendo que viria daqui a exatos 3 dias. Nem bem tinha mudado de volta e me convidava para logo no primeiro dia turistar pela cidade.
Cheguei a mencionar que eu quase nem fui à cidade, mas ele não se importou, disse que iríamos nós dois a uns lugares bem legais pelo centro. Ele parecia estar morrendo de saudades daqui.
Também chegou a mencionar de um planetário que ficava no topo de uma colina perto da prefeitura que eu nem sabia que essa cidade tinha.
Nael: assim, você tem noção de que vamos ter que andar um pouquinho, né? Por que a gente não mora - ou quase mora, no seu caso - exatamente PERTO do centro da cidade...
James: Deixa essa parte comigo.
Nael: Como assim?
James: Você vai ver
Nael: tudo bem, se você diz.
Tudo bem, só me restava esperar. Até que estava bem animada com isso tudo.
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Eu queria poder dizer que tinha passado as férias isolada do mundo, no meio do nada, sem contato com nenhum ser humano. Mas seria mentira.
Até o meu passeio com James, fui para a floresta todos os dias, honrando minha promessa, e aquele lobo sempre estava lá, me esperando. Eu andava um pouco pela trilha e ele me encontrava, como se ele soubesse exatamente onde eu estava. Eu passava horas ali. Nós conversávamos -no caso só eu, né - às vezes eu levava um livro e ficava lendo para ele em voz alta. Ele pareceu gostar bastante da Alice no país das maravilhas, ou talvez na minha cabeça ele tenha gostado, pois era um dos meus livros favoritos.
Ele abanava o r**o de forma animada, sua cabeça estava encostada nas minhas pernas enquanto eu fechava a capa do livro depois da história ter acabado.
-Bom, é isso. Quer ouvir um fato interessante?
Eu peguei a mochila que estava apoiada do meu lado.
-Sabia que Lewis Carroll, autor desse livro, foi um dos suspeitos de ser j**k Estripador?
Ele parou de abanar a cauda, como se estivesse realmente entendendo o que isso simbolizava.
-Bom, aparentemente foram encontrados alguns anagramas no livro da Alice que poderiam estar relacionados, mas nada nunca foi provado. Mas acredito que ele é um dos suspeitos mais interessantes.
Ele me olha curioso.
E depois de mais um dia com ele, acabamos nos despedindo e eu fui embora para casa.
Eu não encontrei mais aquele homem do outro dia, mas aos poucos o sentimento de solidão foi sumindo. Quando eu me encontrava com meu novo amigo na floresta, por alguma razão as tristezas que haviam aparecido em meu coração iam embora.
De repente aquele homem não tinha mais importância.
Tirando as noites em que eu passava sonhando com ele.