Entrei na floresta com a esperança de mais uma vez encontrar meu lobo.
Andava pela mesma trilha de sempre que sabia que ele iria aparecer mais cedo ou mais tarde, quando ouço um barulho de galhos se quebrando atrás de mim. Olho esperançosa, mas ao invés de encontrar quem eu queria, me dou de cara com um outro lobo. Era um pouco menor em r*****o ao meu lobo, e sua pelagem era mais acinzentada.
Ele mostrava os dentes e parecia me avaliar com os olhos ferozes.
Congelei no lugar onde estava.
Ele me rodeou enquanto mostrava os dentes em uma posição que não precisava ser perita em animais selvagens para saber que ele logo pularia na minha jugular, e eu não tinha ideia do que fazer, já que sabia que correr só iria piorar a situação que tinha me metido.
O que eu entendia de sobrevivência, afinal de contas?Ainda não tinha ideia de como tinha sobrevivido ao primeiro lobo! -No caso, não tinha ideia de como meu coração havia sobrevivido, porque só o susto que eu levei deveria ter me feito bater as botas.
Ele se aproximou mais de mim e vi que estava se preparando para saltar, mas antes que pudesse ouço um barulho nos arbustos do meu lado e, logo depois de o lobo cinza pular, vejo uma grande sombra preta surgindo de repente dos arbustos e pulando primeiro na frente do lobo cinza.
Mais uma vez, não tem como meu coração passar ileso por essa experiência.
Agora estavam os dois lobos no chão rolando em uma confusão de garras e dentes, mas eles se levantam rápido e ficam se circulando, meus olhos quase não conseguem acompanhar a luta que se seguiu depois.
Era uma série de mordidas para os dois lados, com múltiplos arranhões e tudo que tinha direito. O lobo preto era realmente maior e estava indo com tudo pra cima do lobo cinza, estava claro quem iria ganhar.
Mas não estava muito afim de ficar para descobrir, pois acho que já tomei decisões idiotas de mais para uma semana só.
Sem hesitar, me pus a correr.
Corri pela trilha pelo caminho que eu já conhecia de volta pra civilização, tomando o máximo de cuidado possível pra não tropeçar e sem olhar pra trás nenhuma vez sequer, dando graças aos céus por meu tornozelo estar curado, coisa que eu não tinha certeza se realmente estava até precisar usá-lo agora.
Dava pra ouvir o som deles se enfrentando ecoando pela floresta, em uma mistura de vários rosnados com o som das folhas batendo com o vento de final de tarde.
Depois de um tempo, tudo ficou silencioso, parei de correr por um instante, faltava pouco para chegar, mas esse silêncio só poderia significar que a luta tinha acabado.
Parei de correr e fiquei o mais silenciosa possível, atenta a qualquer ruído.
Ouço galhos e folhas se quebrando à minha direita, olho assustado e vejo sair de lá a mesma sombra preta de uns minutos atrás.
Inconscientemente acabo sorrindo e respirando fundo em uma onda de alívio, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, ele rosna alto e eu paraliso novamente.
Reparo bem em seus olhos em um vermelho sangue que pareciam ferver em uma fúria animalesca, como se não me enxergassem de verdade, completamente diferentes da última vez que eu havia olhado em seus olhos. Diferente das outras vezes, desta só conseguia ver a fera.
Mostrava seus caninos e se aproximava de mim com feições assustadoras. Estava sujo de sangue que presumi ser do outro lobo.
-Garoto...? Lembra de mim?
Ele continuou a mostrar os dentes pra mim e começava a se aproximar.
-Não vai me machucar, vai?
Dessa vez eu estava com medo, e instintivamente fui chegando pra traz, até minhas costas baterem numa árvore, me deixando encurralada.
Com as garras pra fora, ele veio com tudo pra cima de mim e eu fecho meus olhos, esperando, sem poder reagir de outra forma.
Ouço garras se chocando contra alguma coisa e depois o silêncio domina a floresta mais uma vez, quando abro, ele não estava mais lá. Eu olho em volta e ele tinha sumido.
Na árvore ao meu lado tinha marcas de garras profundas que dilaceraram o tronco.
Corri para casa sem olhar para trás.
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ANTES
Raiva
Uma raiva que queimava nas veias como metal derretido.
Louis quebrava tudo que via pela frente na cabana.
Assim que deu a notícia, seu beta saiu correndo da cabana o mais rápido que pode, sabia o que viria a seguir e resolveu não ficar no caminho para sua própria segurança.
Agora Louis quebrava tudo que via pela frente sem enxergar mais nada.
Estava confirmado que os vampiros tinham retornado, depois de tantos anos e os malditos não estavam extintos. Apenas se escondendo como os vermes que são.
Como se não bastassem os problemas que já tinha a alcateia, agora ainda tinha que se preocupar com sanguessugas por aqui.
E como se não bastasse, isso tinha que acontecer logo agora, que tinha encontrado sua companheira, e da forma mais inesperada possível, caminhando pela floresta.
A primeira coisa que sentiu foi seu cheiro, a partir daí já sabia o que viria depois.
Estava tentando, acima de tudo, se manter longe dela.
O peso de ser um alfa, o peso de ser um lobisomem. Era perigoso demais pra ela, ele era perigoso e tudo no seu mundo mais ainda.
A culpa o dominava muitas vezes por isso, como na vez que ela caiu em cima dele na floresta, e torceu o tornozelo. Ele a levou pra casa, e como queria ter ficado lá...
A culpa depois foi terrível, mas foi melhor assim. Queria poder ter ficado e cuidado de Nael, nome que tinha descoberto pelo seu beta, há quem tinha pedido que investigasse. E que belo nome, assim como sua dona.
A primeira coisa que fez assim que a viu foi ordenar a todos de sua matilha que mantivessem distância dela e de sua casa, ele próprio tentou o máximo possível se manter longe, mas foi inútil.
Seu cheiro, sua voz, tudo o atraía até ela, e a cada segundo que lutava para se manter longe parecia acabar com ele.
Ela também não facilitava, indo todo dia àquela floresta, não importa o que fizesse ela parecia tão determinada a se manter longe quanto ele. Pelo menos decidiu que não iria mais vê-la da forma humana, assim seria mais fácil, tanto pra ela quanto pra ele.
Ainda consumido pela raiva se pôs na sua forma de lobo e correu pela floresta com as garras pra fora dilacerando árvores e tudo que via em seu caminho, era uma péssima ideia fazer isso agora, pois em um momento de raiva como esse, ficava fora de si, não conseguia se conter e tudo que tinha agora era uma fera raivosa com dentes que cortaria quase qualquer coisa ao meio. até que sentiu aquele cheiro de novo. Era ela.
Correu sem ter noção de onde estava indo, não estava mais no controle, apenas sentia como se fosse um pesado sonho em que seu lado feroz o comandava. Chegou a tempo de ver um lobo cinza, que fazia parte de outra alcateia e que não deveria estar nesse território, ele se preparava para pular bem em cima dela e Louis nem se quer exitou, toda a raiva no seu corpo que parecia adentrar nas suas veias agora e borbulhar em brasa. Pulou em cima do outro lobo com garras e dentes. O outro lobo tentou revidar e estava claro que ia perder, mas mesmo assim não recuou. Pouco tempo depois de se enfrentarem com arranhões e mordidas, Louis pegou o pescoço do lobo cinza e, com uma mordida só, partiu a jugular dele.
Agora estava todo repleto de sangue e a fúria ainda o consumia. Como instinto natural acabou seguindo o cheiro de sua companheira, que ao ver a briga havia corrido o mais rápido que podia. Seu cheiro chegava até ele graças ao vento favorável, mesmo estando difícil de se sentir graças ao forte cheiro de sangue, que encobria os outros.
Mas não iria salvá-la, muito menos correr adiantaria.
Ele a encontrou e ainda estava fora de si, enquanto um lado monstruoso queria atacar tudo que se metesse na sua frente, ainda tinha parte dentro de si que lutava contra esse lado, o máximo que conseguia. Sabia que não conseguiria se perdoar se machucasse ela.
Estava se preparando para partir pra cima, sua visão tremia e os dois lados guerreavam dentro de si. Ouviu ela dizer alguma coisa para ele, mas não conseguia processar as palavras, saiam todas tremidas e irreconhecíveis. Momentos antes de suas garras a atingirem, por um momento de clareza, ele mirou na árvore ao lado. Acertou o tronco em cheio deixando marcas profundas. E saiu correndo o mais rápido que pode na direção contrária, antes que fizesse algo que não teria mais volta, a raiva sendo aos poucos ocupada pela culpa.
Que parecia que seria tudo que teria naquela noite.
Culpa.