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Estava perto da hora em que seria realizada a cirurgia na ala C, Douglas sentia-se calmo, já havia feito dezenas de cirurgias como essa. Havia pedido à Kate que o acompanhasse na cirurgia. Esta por sua vez havia se mostrado uma ótima secretária, e como ela queria seguir a mesma área da Medicina que ele, havia decidido que a ajudaria nisso.
Ela participaria de algumas cirurgias juntamente a ele, para poder tomar a decisão certa e ver se realmente gostava daquela profissão. Ele tinha criado um grande apego a ela, e fazia muito tempo que não se apegava a ninguém. Mas o apego não era algo físico, era como se ele quisesse cuidar dela, como cuidaria de uma irmã mais nova.
Ele estava se sentindo culpado por tê-la tratado m*l mais cedo, quando ela chegou atrasada. Ele só não queria dar a ela privilégios que a sua outra funcionária não tinha. Sabia que havia exagerado um pouco no tom, pensava em se desculpar, mas fazia tempo que não sabia o que desculpas significavam, então certamente não o faria.
Já era 22:27 quando ele desceu para a ala C, que ficava dois andares abaixo de onde se localizava seu escritório. Preparou-se para a cirurgia, o homem que passaria pela cirurgia já era de idade, segundo o prontuário tinha 68 anos e estava com um tumor maligno no cérebro. A cirurgia era de alto risco e por isso demoraria um pouco, e seria bastante complicada. Enquanto alguns enfermeiros sedavam o homem, ele terminou de preparar-se e poucos minutos depois Kate entrou na antessala de cirurgia se esterilizando.
— Katherine, esterilize essas ferramentas e depois traga-as para mim. — Falou com um tom de voz brando, ela apenas assentiu e começou a fazer o que ele mandou.
Eram exatas 23:18 quando a cirurgia começou, houveram complicações e a cirurgia durou três longas horas. Quando terminou, já passava das duas da manhã, voltou para a sala realizado, havia conseguido salvar a vida daquele senhor. E era isso que fazia o trabalho dele valer a pena, as vidas que ele salvava, e era isso que o fazia sentir-se menos m*l todos os dias.
Poucos minutos depois que entrou em sua sala, Kate passou indo para a pequena sala aos fundos da dele, ela parecia aflita enquanto tentava ligar o celular. Foi aí que teve a ideia de chamá-la e pedir para levá-la em casa, não poderia deixar que ela fosse sozinha a essa hora da madrugada, afinal, era por causa dele que ela estava ali.
— Kate. — Falou batendo na porta.
— Sim, doutor Fitiz? — Ela falou, sua voz parecia preocupada.
— Posso te levar em casa? — Ele perguntou no tom mais amigável possível, estava tentando reparar o tom grosseiro com o qual tinha falado com ela mais cedo. Ela por sua vez, parecia relutar em um conflito interno, então ele continuou. — Não posso permitir que vá sozinha a esta hora.
— Tudo bem. — Ela respondeu mais tranquila. — Vou apenas pegar minhas coisas e já volto. — Falou e entrou na sala novamente, saiu dois minutos depois com uma bolsa e uma jaqueta.
— Vamos. — Ele falou e os dois saíram da sala.
O hospital já estava quase vazio, havia apenas algumas pessoas que estavam fazendo o turno da noite. Desceram e foram até o estacionamento, chegando lá, Douglas procurou entre tantos carros o seu Range Rover branco, fruto de tantos anos de trabalho como médico. Ninguém sabia, mas Douglas era louco por carros e motos, mantinha em sua casa uma velha Harley vermelha, o Range Rover e um jaguar preto.
Kate parecia não se impressionar com o carro, era admirável da parte dela, geralmente toda mulher que Douglas, diga-se de passagem, "convidava para sair", se impressionava pelo carro e logo ia para a cama com ele. Não que aquela fosse a intensão dele com Kate, pois não era, mas esperava uma reação melhor dela.
Entrou no carro e logo conectou o iPod no som do carro, colocando uma playlist calma para tocar. Não queria manter um clima tenso ali, a primeira música a tocar foi Lucky — Janson Mars and Colbie Caillat, tudo bem que aquela era uma música meio gay, mas o acalmava e era de um clima bom.
O caminho até a casa de Kate foi silencioso, ela apenas falou com ele para lhe indicar onde morava e ao chegar lá na frente, parou o carro e se apressou para dar a volta nele e abrir a porta para ela, era um típico cavalheiro, usava da boa educação que a mãe lhe tinha dado
— Obrigada pela carona, Doutor Fitiz. — Ela agradeceu assim que eles pararam em frente à porta.
— Me chame só de Douglas fora do trabalho, por favor, Katherine. — Ele respondeu com um sorriso, odiava esse modo formal como todos o tratavam até fora do trabalho, precisava de mais amigos, tinha Janson, mas como o filho dele estava doente, eles pouco se viam.
— Então me chame de Kate. — Ela sorriu também, o seu sorriso era sincero, mas cansado.
— Tudo bem, vejo você amanhã no hospital e sem atrasos. — Ele falou sério e depois sorriu mostrando estar brincando.
— Claro, boa noite. — Ela estendeu a mão para ele, que agarrou a mão dela e a puxou para dar um beijo em sua bochecha. Ele a viu corar imediatamente.
— Boa noite! — Ele foi saindo e entrou no carro, continuou olhando para Kate até ela entrar em casa e quando ela abriu a porta, os olhos dele cruzaram com os de outra moça, uma energia estranha percorreu todo o corpo dele deixando-o nervoso. Ficou alguns instantes a encarando, ele sabia que ela também o tinha visto, porque parecia tão estática quando ele.
Não sabia o que estava acontecendo com ele, de repente sentiu uma vontade imensa de descer correndo do carro e ir até a moça. Não se sentia assim desde que namorara Sarah, lembrava-se de se sentir do mesmo modo ao vê-la pela primeira vez no colegial, mas não poderia ser isso. Se ama apenas uma pessoa em toda a vida e ele estava destinado a morrer sozinho e sem amor. Pelo menos era o que ele pensava enquanto se martirizava todos os dias.
Quando Kate finalmente fechou a porta, ele parecia ter saído de um transe, finalmente recobrou os sentidos e ligou o carro, pronto para ir para casa.
Chegou em casa pouco mais de três da manhã, acendeu as luzes e tudo ficou mais claro. A casa que havia comprado em um condomínio próximo ao hospital era ampla, para não se dizer exagerada. Ele não precisava daquele espaço todo sendo que morava sozinho, mas como uma vez ao ano sua família o visitava, ele achava que seria necessário ter quartos para acolher a todos.
A casa tinha 9 quartos, sendo 4 suítes, dois andares, uma cozinha enorme, uma sala de jogos, uma sala comum, uma sala de jantar, seis banheiros, dois quartos de limpeza e lá fora tinha uma piscina média e uma área com churrasqueira, além de um belo jardim. O primeiro andar da casa praticamente não tinha paredes, era todo em vidro, com paredes apenas para separar os cômodos. E os quartos que ficavam no segundo andar tinham uma bela vista para os campos e o pequeno lago do condomínio.
Subiu as escadas desanimado, assim que entrou no quarto foi para o banheiro tomar banho. A essa hora a sua empregada, Maria, já estava dormindo, e mesmo que estivesse faminto, não a incomodaria para que pudesse comer. Tomou um banho rápido e vestiu apenas uma calça moletom, jogando-se na cama. Ficou perdido em pensamentos, não conseguia tirar os belos olhos cor de mel da moça que vira na casa de Kate.