UM (parte 1)

4572 Words
Quando voltou para casa no dia seguinte, Madson não contou à mãe o que havia acontecido. Primeiramente porque não aguentaria ver a cara de desgosto da mãe, que sonhava que ela se casaria com Caleb. Segundo porque não queria mais chorar, havia chorado demais por toda a noite naquele lago e terceiro porque, mesmo que fosse, odiava parecer fraca. Para encobrir ter passado a noite fora, Madson falou que tinha dormido na casa de uma amiga, e agora estava esperando essa amiga entrar no f*******: para falar pra ela ajudar na mentira. Porque do jeito que dona Melissa Martínez é, ela iria querer saber da história e relembrar isso não seria algo bom. Uma janela de conversa começou a piscar no canto da tela do computador, uma tal de Katherine Snow, por ter o mesmo sobrenome que o pai dela, Madson resolveu abrir a conversa. Nela, a menina dizia tudo, e de um modo bem direto. E falava algo sobre querer conhecê-la, que o pai delas não podia ter feito algo assim a elas. A mãe de Madson nasceu na Espanha e veio para os Estados Unidos com uma prima numa viagem à passeio. No meio dessa viagem ela conheceu Gerald Snow, e acabou se apaixonando por ele, os dois tiveram um caso rápido, mas logo a mãe de Madson teve que voltar para a Espanha. Só que, alguns meses depois, ela descobriu que estava grávida. Manteve contato com Gerald e por meio de uma ligação contou tudo a ele, decidiu que teria o bebê na Espanha e só quando nascesse ela voltaria aos Estados Unidos. Quando Madson estava com três meses de vida, Melissa decidiu que era hora de levá-la até o pai e foi para os Estados Unidos, procurou por Gerald ao chegar lá e por cerca de três meses ele se manteve junto a ela. Só que havia períodos em que ele sumia e Melissa começou a desconfiar, quando ela conversou com ele sobre aquilo, ele acabou contando a ela que não teria como ficar com ela porque era casado e já tinha mulher e filha, mas prometeu que sempre estaria presente na vida de Madson. O mundo de Melissa desabou, mas como era uma mulher forte, ela decidiu que não voltaria para a Espanha, não seria humilhada por seus parentes por ser mãe solteira. Gerald a ajudou a ficar nos Estados Unidos, e como havia prometido, ele visitava a filha sempre, mas se mantendo distante de Melissa. E assim era melhor, ele a tinha magoado muito. Quando Madson completou 10 anos, Melissa casou-se novamente, com Dean. Que era uma maravilha de homem, tudo o que uma mulher sonhava para marido e pai de sua filha e ele acabou sendo bem aceito por Madson. Melissa sempre fora bem clara com a filha, não queria esconder nada dela e por isso Madson cresceu entendendo o porquê da distância do pai. Ela nunca havia tentando procurar a outra família do pai e naquele momento vendo a foto da tal de Katherine Snow, quis saber mais sobre eles. Pela primeira vez a ideia de ter uma irmã era algo que a agradava, sair do Arizona era o que mais a agradava, e o melhor de tudo, sair de lá sem ter que dar mais explicações, começar uma nova vida, ao lado de uma pessoa que talvez a entendesse. Ela conversou por horas com a irmã pelo f*******:, acabou até esquecendo de falar com a amiga. Mas aquilo pouco importava naquele momento, quando mais falava com a irmã, mais afinidade sentia por ela. As duas trocaram números e passaram a se falar com frequência. Madson começou a conversar com a mãe sobre ter conhecido a irmã, e no começo essa ideia não a agradava, mas ela acabou cedendo e começou a gostar de Kate também. Depois de um mês conversando com a irmã sobre tudo, ela acabou decidindo que iria fazer faculdade em Stanford, onde a irmã fazia. Iria cursar psicologia e seguir sua vida bem longe daquele local, voltaria apenas para visitar a mãe e o padrasto. Difícil foi convencer a mãe disso, foram longas horas de conversa explicando o porquê de querer ir para tão longe. Melissa ainda quis falar com Kate e fazer mil recomendações sobre como deveria cuidar de Madson, parecia até que ela tinha 15 anos de idade * Aqueles cabelos loiros, aquele sorriso branco e aqueles olhos verdes, Douglas sabia muito bem quem era. Estava vendo-a, ela caminhava lentamente até ele com um longo vestido branco e aparência angelical. Seu sorriso era a coisa mais linda que ele já havia visto. Ela se aproximou e encostou a mão no rosto dele, por um momento ele fechou os olhos e quando abriu, viu que o sorriso dela havia sumido. Ela retirou a mão do rosto dele e pronunciou algumas palavras com a voz doce, mas cheia de mágoa. — Você me deixou morrer. — Ela falou e ele sentiu o coração apertar. — Você não se importou comigo e me deixou morrer. — A voz dela foi mudando de tom. — Agora estamos separados para sempre. — Aquela não era a voz da sua doce Sarah. — Não! — Douglas acordou gritando, aquele mesmo sonho que o atormentava todas as noites havia voltado. O sonho que era o motivo pelo qual ele não se dava ao luxo de dormir com alguma mulher ao seu lado. O sonho que o fazia acordar desesperado todos os dias e o sonho que fazia a saudade de Sarah se renovar. Ele se achava incapaz de amar de novo, ou mesmo de gostar de alguém. Seu coração havia sido partido em tantos pedaços que nem poderia contar, ele se sentia como Jack e a mecânica de corações, com um coração quebrado, prestes a parar e que precisava urgentemente de um concerto. Depois que se mudou para Stanford e começou a faculdade, ele havia virado um galinha, essa palavra o definia bem. Não se descuidou dos estudos, mas todo dia tinha uma mulher diferente. Isso só ficou menos frequente quando passou a trabalhar no hospital, depois de formado. Desde que havia saído de FellsFord não havia voltado lá, e já fazia 14 anos. Seus pais o visitavam uma vez ao ano, juntamente com seus dois irmãos mais novos, o irmão mais velho havia ido lá apenas os cinco primeiros anos, eles tiveram uma briga e acabaram se afastando. Douglas levantou da cama, precisava de um banho para se acalmar. Entrou no chuveiro e ficou por uns tempos perdido em seus pensamentos, ele se perguntava quando superaria a morte de Sarah, e a resposta que sempre vinha a sua mente era “nunca”. Saiu do banho, vestiu apenas uma calça de moletom e caminhou até a sala principal. A casa onde morava era ampla, totalmente branca e móveis de cores claras. Tudo muito moderno, mas ele passava pouca parte de seu tempo ali. Pegou o violão e começou a tocar uma de suas músicas preferidas, Talking to the moon — Bruno Mars. Ele sempre mantinha o hábito de cantar quando estava sozinho, era o que ele realmente amava fazer, mas nunca mais havia deixado que ninguém o ouvisse cantar. Para todos, ele havia desistido do sonho de se tornar um cantor famoso. * O avião havia acabado de decolar, o coração de Madson havia doído quando ela viu a mãe chorar nos braços de Dean, seu padrasto. Queria voltar lá e abraçá-la mais uma vez, mas a última chamada para o voo já havia sido anunciada. Seria quatro horas de voo até o aeroporto próximo a Stanford. Kate, sua irmã, a havia ajudado a entrar na faculdade e as suas boas notas no colegial também. Como não havia muito o que fazer naquele voo, ela pegou um pacote de M&M's e seu celular, colocou na sua pasta de músicas preferidas e abriu o pacote e começou a comer. Ofereceu para a moça que estava ao lado, mas esta recusou. Depois do flagra que havia dado em Caleb, ele havia tentado de todas as maneiras possíveis entrar em contato com ela. Mas ela havia conseguido driblá-lo todas as vezes. Por um momento Madson sentiu-se egoísta, estava deixando a cidade sem pensar em como a mãe ficaria. Mas ela também sabia que Dean cuidaria muito bem dela, e ela estava seguindo um sonho. Que m*l haveria em ir em busca da felicidade? A música How it ends começou a tocar e Madson começou a ficar com sono, seus olhos pesaram e ela adormeceu. Acordou com mãos em seus ombros a sacudindo. — Moça, ei, moça. — Um homem com o uniforme da empresa de avião a estava chamando. — Oi? — Falou sonolenta. — Chegamos. — Ela sorriu, finalmente havia chegado. --- Madson pegou as suas malas e arrastou devagar pelo hall do aeroporto, ela estava nervosa. Iria conhecer a irmã, sangue do seu sangue. Pelo telefone a irmã parecia ser uma pessoa muito legal, mas bem ocupada. E como seria ela pessoalmente? Não sabia, mas esperava que fosse daquele mesmo modo. Madson havia sido a última a pegar as malas, por causa do pequeno incidente com o sono pesado. E por isso o hall do aeroporto já não estava tão cheio, caminhou até uma porta de vidro que dizia desembarque e a abriu com cuidado, quando passou por ela, logo parou seus olhos na moça loira que conversava animadamente com mais três pessoas. Quando a moça se virou, ela percebeu que era a irmã, as duas sorriram uma para a outra e Madson largou a mala e correu para abraçar Kate. As duas ficaram ali por um tempo emocionadas e enquanto as duas conversavam, um dos caras que estavam ali com a irmã pegou a mala dela. — Vamos? — Ele perguntou interrompendo as duas. — Prazer, Thomas Wolf. — Ele estendeu a mão para Madson e abriu um sorriso sincero, ele era simplesmente lindo, será que este seria o namorado da irmã? Ou um amigo? — Prazer. Madson Martínez. — Ela sorriu e apertou a mão dele. — Ah, esse é John e aquela é a sua namorada e minha melhor amiga, Tracy. — Kate falou sorrindo. — E minha filha. — Thomas acrescentou. — Filha? — Madson perguntou em surpresa. — Mas você parece tão novo, eu poderia dizer que são irmãos. — Ela sorriu de lado e pelas rugas ao lado dos olhos do homem, poderia perceber que ele era mais velho que ela. — Muita gentileza sua. — Thomas respondeu com um sorriso. Eles começaram a andar em direção ao carro, ao chegar lá, Thomas guardou a mala e entrou no lugar do motorista, o tal de John, que por sinal também era um cara charmoso, entrou ao lado de Thomas e as três foram juntas nos bancos traseiros. Conversaram durante todo o caminho, e as meninas explicaram a ela várias coisas sobre Stanford, sobre onde Kate morava e tudo mais. Antes de finalmente irem para a casa da irmã, eles passaram em Stanford. Madson ficou maravilhada com tudo que havia visto ali, a faculdade era muito mais linda do que ela imaginava e fria também, mas já passava das 23 horas, então com certeza estava frio. — Estão entregues, mocinhas. — Thomas falou depois de retirar a mala de Madson do carro. — Obrigada, senhor Wolf. — Madson respondeu com um enorme sorriso, a irmã não havia mencionado em momento nenhum algum envolvimento com Thomas, então ela não se preocupou com o modo de tratá-lo. — Chame-me só de Thomas, por favor. — Ele respondeu com meio sorriso. Ele era realmente encantador e a estava tratando muito bem. — Ok, Thomas. — Ela falou o nome dele bem devagar. Nesse momento Kate estava se despedindo de Tracy. — Obrigada pela carona, Thomas. — Kate sorriu para ele, Madson ficou tentando desvendar o sorriso da irmã, mas não havia nada ali, ou ela apenas não a conhecia suficientemente. — De nada. — Ele sorriu por um momento, mas parou de sorrir assim que John chegou abraçando Kate por trás. — Não quer carona, John? — Thomas perguntou de um modo um pouco grosseiro. Madson ficou observando aquilo, esse Thomas parecia gostar da irmã dela. — Hoje não, Thomas, deixei meu carro aqui. Obrigado. — John respondeu brincalhão, ele parecia ser uma pessoa legal e bem-humorada. — Tudo bem então. Tchau, meninas. John. — Thomas acenou com a cabeça. John soltou Kate do abraço e foi pegar as malas de Madson. As duas entraram na casa abraçadas e rindo, Kate levou Madson até um quarto, era lindo, com uma cama de casal, um guarda-roupas e uma mesinha ao canto, não era muito amplo, mas era aconchegante. Madson por sua vez falou ter adorado tudo e alegou estar cansada demais, já eram 23:40, e também precisava ligar para a mãe avisando que havia chegado bem. — Achei que o professorzinho fosse me matar quando te abracei. — Madson ouviu a voz de John seguida de alguns risos. — Shiii. — Dessa vez era a voz da irmã. — Você provoca, né. — O que veio em seguida era um sussurro. Madson resolveu deixar de escutar atrás das portas, não era educado. Pegou o celular e discou o número da mãe, chamou algumas vezes antes dela finalmente atender. — Filha, eu estava tão preocupada. — Melissa falou rápido. — Oi, mãe, eu estou bem, já pode ficar calma. — Madson falou rindo, a mãe dela às vezes exagerava na preocupação. — Não ria de sua mãe, Maddy. — Melissa a repreendeu. — Mãe, não tenho mais 8 anos, me chame de Mad, e não Maddy. — Madson reclamou, odiava ser chamada daquele modo, e pior ainda era quando a mãe apertava suas bochechas. — Já estava dormindo? — Ainda não, filhinha, e eu te chamo como eu quiser, não fique pensando que vai mandar na minha boca. — Melissa respondeu e Madson riu, aquela era a sua mãe. Meio maluquinha. — Tudo bem, senhora Martínez. Eu já vou dormir, amanhã tenho um longo dia. Boa noite, mãe, já estou com saudade de você. — Boa noite, meu amor, amanhã me ligue de novo ou eu vou morrer de saudades. Beijos. — Beijo. — Madson falou e desligou. Caminhou até as malas e pegou uma roupa leve, por sorte havia um banheiro em seu quarto, ela tomou um banho rápido e foi dormir. * Douglas estava cheio de trabalho nesse último mês, e quando a faculdade ofereceu a ele mais uma secretária que precisava estagiar, ele logo aceitou. Ele já tinha uma secretária, Anne, que trabalhava com ele há um bom tempo. Mas toda ajuda era bem-vinda. O nome da nova secretária era Katherine, ela ficaria em uma sala conjunta a de Douglas e participaria o máximo possível das cirurgias e consultas. Para poder aprender tudo, já que ela havia escolhido seguir a carreira justamente nesse setor. Katherine era uma pessoa bem-humorada, profissional e responsável. De um modo bom, ela o fazia lembrar da Sarah, deveria ser por causa dos cabelos longos, loiros e olhos claros, ou até mesmo pelo jeito de sorrir. Tudo bem que a aparência dela não era lá tão parecida com a de Sarah, mas tinha uns pequenos detalhes que o faziam lembrar. Isso de um certo modo acabava o atraindo, mas ele não cometeria a burrada de se envolver com sua outra secretária. Ele já havia se envolvido com Anne, e esta não aceitou muito bem que havia sido só uma noite. Havia feito um escândalo enorme e surtado de ciúmes quando ele saiu com outra mulher. Por esse motivo ele havia deixado de se envolver com pessoas do seu ambiente de trabalho e não seria com Katherine que ele quebraria essa regra. De certo modo, Douglas já estava cansado de ficar com uma mulher diferente toda semana, ele queria mais do que aquilo, estava cansado de sentir-se solitário o tempo todo. Mas ele não conseguia se envolver com outra pessoa de um modo sério, não com a memória de Sarah tão viva em sua mente. Sentia-se culpado por não ter percebido que ela estava doente, e ainda mais culpado por não ter ficado ao lado dela nos últimos dias de sua vida. A memória de Sarah já não era uma coisa boa, era dolorosa. Ele havia tentado de vários modos se livrar daqueles pesadelos que tinha todas as noites, mas não conseguia. Ele queria seguir em frente, mas não sabia se teria força e pior, não sabia se era capaz de amar. --------------- Madson havia acordado cedo, estava ansiosa para conhecer Stanford, infelizmente a irmã não poderia acompanhá-la, então ela iria com Thomas, Tracy e talvez John. As aulas dela só começariam na semana seguinte, mas queria conhecer cada lugarzinho de Stanford, estava animada com a mudança de vida. Queria esquecer tudo o que havia acontecido e seguir em frente. Pena que para ela isso não era muito fácil, Caleb continuava ligando e não sabia que ele poderia ser tão insistente. Quando finalmente terminou de se arrumar, saiu do quarto. Na noite anterior ela não havia prestado atenção na casa onde a irmã morava. Mas agora, via que a casa era extremamente aconchegante, com cada móvel no lugar certo, e todos os cômodos de um tamanho perfeito. Nem muito grandes, nem muito pequenos. Madson caminhou até a cozinha, estava disposta a fazer um café da manhã para ela e a irmã, mas ao chegar lá, viu que Kate já tinha deixado tudo pronto, e perto da bandeja de café havia um pequeno bilhete. "Bom dia, Mad, eu tenho aula logo cedo e por isso precisei sair antes de você, espero que fique bem. Nove horas os meninos passam para te buscar, espero que se divirtam. Bem-vinda a Stanford, maninha." Madson sorriu ao terminar de ler o bilhete, a irmã era tão atenciosa. Tomou o café devagar e depois esperou dar nove horas na sala. O pessoal era bem pontual, já que, quando deu exatas nove horas ela ouviu uma buzina. Correu para fora e trancou a casa, como não sabia onde a irmã guardava a chave, decidiu levar consigo. Sabia que a irmã iria da faculdade direto para o hospital e então chegaria tarde. Quando entrou no banco de trás do SUV Jeep vermelho de Thomas, ela percebeu que John não estava. Fechou a porta com cuidado, não sabia se o dono do carro era enjoado e com certeza não estava fechando a geladeira de sua casa, que francamente sofria com os baques que Madson dava. Sorriu para Tracy e Thomas antes de falar. — Bom dia, gente. — Animou-se. — Bom dia, Mad. — Tracy falou sorridente. — Dia. — Thomas falou, olhando fixamente para a frente. — Aonde vamos primeiro? — Madson perguntou. — À Biblioteca de Stanford. — Tracy respondeu. — Tratem de colocar o cinto de segurança. — Thomas avisou enquanto dava partida no carro. — Ok. — As duas responderam juntas e sorriram em seguida. Durante todo o caminho, Madson e Tracy mantiveram uma conversa animada sobre as lojas e o shopping que havia ali perto, e acabaram marcando de ir lá assim que Kate tivesse um tempo. Ao falar na irmã, Madson percebeu que o corpo de Thomas estremeceu, era nítido que ele gostava pelo menos um pouco dela, mas talvez não fosse correspondido. Como a boa curiosa que era, Madson resolveu montar um plano para tentar atrair a atenção da irmã para Thomas e também saber o quanto ele gosta dela. — Pronto, meninas! — Thomas falou enquanto estacionava o carro em frente à Stanford. Madson estava deslumbrada, mesmo já tendo visto a faculdade durante a noite do dia anterior, vê-la assim de manhã era muito melhor. Dava para reparar mais em como ela era linda, tinha algumas torres altas, os gramados estavam verdes e em um deles havia o nome da faculdade e o que parecia a bandeira da faculdade desenhada em flores. Tudo era de um marrom vivo e cores derivadas desse tom. Ela agradeceu mentalmente por ter chegado em uma época que o frio já havia passado. Mesmo adorando aquelas roupas que se usava no inverno, ela preferia usar as roupas mais simples do verão. E como, quando acordou, o dia já estava quente, ela havia optado apenas por um vestido branco leve florido e um salto vermelho que combinava com algumas das flores no vestido, os cabelos estavam soltos como quase sempre e ela não havia passado uma maquiagem complicada, apenas o básico para não parecer uma morta viva. Começaram a andar devagar pelo campus de Stanford, passaram primeiro pela biblioteca e Tracy tinha razão, era enorme e simplesmente linda. Em seguida passaram pelos outros prédios de Stanford e quando já se aproximava das 11 horas, eles foram até um restaurante que havia ali perto para comer algo. — Isso aqui é maravilhoso. — Madson falou apontando para a lasanha em seu prato. — Meu pai ama comer aqui, até porque ele não cozinha nada bem e eu não tenho tempo para cozinhar. — Tracy falou, e Thomas a olhou de canto de olho. — É verdade. — Ele confessou rindo. — Sabe, essa comida só não é melhor que a da Kate. — Madson falou jogando um verde para Thomas. Thomas engasgou com a comida e Tracy foi ajudá-lo, batendo em suas costas. Aquilo seria engraçado se não fosse tão trágico, já não havia dúvidas de que Thomas nutria um sentimento por sua irmã. Agora ela só precisava provocar ciúmes em Kate e fazê-la notar Thomas de outro modo. Continuaram o passeio por Stanford, Madson conheceu algumas pessoas, uma mulher que estudava psicologia em Stanford já fazia um ano, um dos professores que iria lhe dar aula e um cara que, assim como ela, estava entrando na faculdade agora. Quando finalmente voltou para casa, Madson decidiu que ligaria para a mãe. Fazia pouco mais de um dia que não a via e já sentia saudades, queria saber também se o novo emprego do padrasto havia dado certo. Esperou pacientemente enquanto o celular chamava. — Oi, meu amor. — A mãe atendeu e pela voz parecia feliz. — Olá, mamãe. — Madson falou sorrindo, era tão bom ouvir aquela voz. — Como foi o seu dia? — A mãe perguntou, pela voz dela Madson deduziu que ela escondia algo. — Foi ótimo, eu passei o dia em Stanford com a amiga da Kate e o pai dela. E como foi o seu? — Madson perguntou. — Foi ótimo, filha, Dean conseguiu o emprego, o prédio vai começar a ser construído na semana que vem. — Melissa falou animada. — Ele deve estar bem feliz. — Madson falou. — Filha, tem alguém aqui que está louco de saudade e quer falar com você. — Melissa falou e quando Madson ia falar algo, ouviu aquela voz que tanto temia ouvir de novo. — Oi, amor. — Caleb falava animado. — É muita cara de p*u sua. — Madson falou com raiva. — Eu também estou com saudade. — Falou como se não tivesse ouvido o que Madson havia dito, mas ela sabia que era porque provavelmente a mãe estava por perto e usaria disso para poder falar tudo o que não havia falado para ele. — Olha aqui, seu viado, eu quero que você suma da minha vida porque nem em um milhão de anos eu voltaria para você, espero sinceramente que você se f**a e me deixe em paz. Volte para as suas vadias e seja muito infeliz, saiba que você perdeu uma mulher e tanto, e que nunca vai encontrar alguém a minha altura. Passar muito m*l, adeus. — Ela praticamente gritou tudo e desligou. — i****a. — Madson praguejou jogando o celular na cama. Ela não conseguia entender como ele podia ser tão cara de p*u, só faltava ele dizer que aquelas mulheres escorregaram e caíram no p*u dele. Isso a deixava possessa de raiva, será que ela não havia sido mulher o suficiente para ele? Fazia de tudo, sempre tiveram uma vida bem ativa e ele não tinha do que reclamar. Mas nem tudo são flores, uma das amigas de Madson já havia tentando avisá-la sobre Caleb, mas ela não havia dado atenção, estava cega de amor. E depois de estar cega por tanto tempo, enxergar era algo difícil e doloroso. Pelo menos ela estava conseguindo seguir em frente, e alguma hora conseguiria ser feliz. * Madson jogou-se na cama ainda atônita, se perguntava mentalmente como pôde ser tão i****a. Deveria ter seguido o seu sexto sentido, sabia que havia algo de errado naquele relacionamento que mantinha com Caleb, mas nunca imaginaria que ele pudesse traí-la. Uma parte dela gostaria de saber há quanto tempo vinha sendo traída, mas a outra parte só queria esquecer isso tudo e seguir em frente. Lembrando de algumas situações, ela começou a se achar i****a, havia tido várias pistas de que ele a traía e mesmo assim ignorava cada uma delas como uma boa cega apaixonada. Teve um dia em que os dois foram juntos ao mercado, e enquanto Madson buscava um macarrão para eles fazerem o que queriam, ele conversava com uma mulher loira, alta e magra, quando Madson chegou, a loira apenas sorriu, piscou para Caleb e saiu. No momento Madson não havia imaginado nada, mas agora vendo desse modo, sabia que tinha sido b***a. Cada ligação estranha, cada vez que ele falava que estava ocupado, cada festa que ele insistia em ir sozinho dizendo que seria uma chatice para ela. Realmente ela havia ficado cega de amor, se é que se pode chamar aquilo de amor. Levantou da cama decidida a assistir sua série preferida, precisava tirar aquele canalha da cabeça. Foi até a sala e pegou o notebook que havia em cima da mesinha que ficava ao lado de um dos sofás e pesquisou na Netflix a série que queria ver: Sobrenatural. Ela sabia que ficaria morrendo de medo e provavelmente teria dificuldade para dormir à noite, mas não conseguia evitar, amava assistir filmes e séries de terror. Por sorte ainda conseguia entrar no site com a conta da mãe, logo achou a série e o episódio que havia parado, 7x6. Deixou pausado enquanto corria até a cozinha à procura de algo para comer. Pegou no armário algumas guloseimas, por sorte Kate era viciada em doces assim como ela e no armário haviam vários. Pegou também uma lata de coca cola e seguiu de volta para a sala, dando play na série. Ela era apaixonada pelos irmãos Winchester, surtava cada vez que o Sam ou o Dean sem camisa. Madson estava comendo mais do que assistia, isso a fazia lembrar das suas amigas que viviam de regime e reclamavam por ela comer tanto e não engordar ou ter celulites. Ah maravilha de genética. Por um momento se perdeu em pensamentos, ela estava doida para ver o pai, mas pelo que havia conversado com a irmã, ele ainda não sabia que ela estava ali. E Kate queria fazer tudo com calma, pois não queria magoar a mãe dela, que por sinal, ainda não sabia sobre Madson e Melissa. Afastou tais pensamentos de sua mente e voltou a se concentrar nos gostosões lutando contra os demônios, teria pesadelos, com certeza teria. Mas no meio desses pesadelos haveria os dois para salvá-la. Afinal, essa era a graça de um pesadelo com Sobrenatural, Dean e Sam prontos para socorrê-la.
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