Carlo e Marcelo nos conduziram pela cidade. Paramos em um restaurante de cardápio variado que estava bem cheio.
Havia todo tipo de pessoa, dos executivos em reunião a pessoas buscando uma refeição desacompanhadas. Pedi uma mesa no segundo andar, que parecia estar mais vazio. Ficamos sozinhas. Marcelo sentou no bar e Carlo em outra mesa.
— Nada de comida saudável! — Maria implorou. — Esse filé parece maravilhoso. Papai deixou usar o meu cartão de crédito depois de quase um ano! — Bateu palminhas.
— Você comprou uma bolsa de doze mil dólares sem pedir autorização. Eu, sendo o papai, mesmo tendo dinheiro, não permitiria um cartão na sua mão nunca mais!
Ela fez um beicinho engraçado.
— Não se preocupe com dinheiro, meu futuro marido já abasteceu minha conta e me deu um cartão de crédito alegando que não precisava me preocupar com limites. — Voltei a olhar o menu com calma. Filé parecia bom, na verdade, tudo parecia incrível.
— Será que ele é mais rico que o papai?
— Acho que sim, a família dele sempre teve muito dinheiro e o território é maior — murmurei, ciente que o sobrenome Bracci havia perdido uma fatia dos lucros nos últimos anos.
— Legal. Minha irmã é rica.
Como se ela conhecesse o sabor da pobreza. Minha irmã ainda precisava amadurecer muito antes de um casamento pois vivia no mundo da lua.
Fizemos nossos pedidos e ao contrário de Maria, bebi uma taça de um drinque com espumante para relaxar. Passei a noite preocupada com a viagem dela, sua chegada e um tanto desconfiada que algo estava acontecendo com Romano porque ele não havia retornado depois de sua última visita, estava um pouco distante nas mensagens e muitas vezes, falando apenas sobre o casamento. Suas oscilações de humor me deixavam confusa.
Compartilhar a refeição com minha irmã foi divertido. Pedimos muita comida, sobrou e Carlo até comeu para ajudar. Não tinha espaço para sobremesa, fomos embora depois de quase duas horas de comilança.
Saímos do restaurante de braços dados e entramos no carro.
Carlo estava conduzindo enquanto Marcelo olhava a cidade.
Seguimos em um trânsito tranquilo e paramos em um sinal quando Carlo falou para soltamos nossos cintos de segurança. Fui rápida em me desfazer do meu e do de minha irmã. Ouvi o primeiro som de disparo e puxei a cabeça dela para baixo. Marcelo caiu para o lado e seu olhar sem vida encontrou o meu.
As janelas eram blindadas, mas ele estava com um espaço aberto porque estava fumando.
— Não levantem! — Carlo gritou. Ele estava dirigindo como um louco, olhando pelo retrovisor e eu só fechei meus olhos, agarrada à minha irmã, tentando ignorar que nosso guarda estava morto no banco da frente.
Nosso carro foi alvejado. Foi muito rápido, mas tiveram muitos disparos.
Maria estava chorando, agarrada em mim tão firme que suas unhas criaram feridas nos meus braços. Carlo fez algumas curvas acentuadas e parou. Portas foram abertas e saí do carro com minha irmã, que olhou para trás e viu Marcelo morto. Ela gritou tanto, que os cães na vizinhança devem ter saído correndo.
— Venham, meninas. — Carlo me puxou. Estava estagnada no lugar.
— Você está ferido? — balbuciei.
— Não deu tempo de me ferir. Vocês estão bem?
Maria estava quase desmaiando em meus braços.
— O vidro não quebrou — sussurrei e entramos no elevador.
Estava desesperada, tremendo, mas engoli todos os meus sentimentos para cuidar da minha irmã que estava histérica. Parte do meu cérebro queria gritar para que ela calasse a boca, porque seus gritos estavam me dando nos nervos.
Parte, estava em choque, sem conseguir reagir. O rosto inexpressivo de Marcelo estava rodando na minha mente como um looping infinito.
Levei-a para o chuveiro, vesti um pijama e dei um calmante. Marina me ajudou a colocá-la na cama e cobrir.
— Você está bem?
— Acho que preciso tomar banho.
— Estou na cozinha se precisar de mim. — Ela esfregou meus braços, carinhosa de um jeito maternal que me fez querer o colo da minha mãe.
Entrei no banheiro, tirei minha roupa, acionei o chuveiro quente e tentei tomar banho, mas um tremor me dominou e deixei o sabonete cair.
Os sons dos disparos continuavam na minha cabeça. Escorreguei para o chão, me abraçando e deixei que as emoções me dominassem, em uma tentativa de me acalmar de alguma maneira.
A porta do banheiro foi aberta e Romano tirou o terno, sapatos, entrando de meias e o restante da sua roupa no chuveiro. Ele ajoelhou ao meu lado e me permitiu subir nele, ensopada do jeito que estava, sedenta por consolo. Seus braços firmes me pegaram com segurança, senti seus lábios na minha testa e palavras suaves ditas em italiano.
— Estou aqui, está tudo bem.
— Marcelo estava connosco desde que eu era pequena — falei baixinho.
— Sinto muito, linda. — Ele beijou meus lábios.
— A janela estava aberta porque estava fumando. Nunca me incomodou antes, mas ele deveria ter mantido as janelas fechadas. — Soltei um suspiro.
— Não pense nisso agora. Preciso saber se está bem...
— Não estou ferida, só assustada. Maria ficou histérica e eu acho que estou em choque. — agarrei-o. Ele me deu mais um beijo e ficamos no chão por bastante tempo.
Romano não era um homem de muitas palavras, mas naquele momento, ele deu o que mais precisava: carinho e acalento.