Não era costume da família permitir que as meninas solteiras ficassem sozinhas com um homem, sendo ele solteiro ou não. Estar sozinha no carro com Romano me deixou nervosa e ao mesmo tempo experimentando o sabor de uma liberdade que eu nunca tive. Talvez o casamento me desse isso: sair debaixo das asas opressoras do recato.
— Como é viver na Filadélfia? Você gostaria de viver aqui na Sicília?
— Fiz assunto.
— A cidade é muito bonita, estou acostumado. Me mudei para lá com dois anos e só estive aqui algumas vezes ao longo dos anos — respondeu, sem desviar os olhos do trânsito.
— E como é a sua rotina?
— Trabalho o dia inteiro e às vezes, à noite também. — Me deu um breve olhar. — Você poderá trabalhar fora, se quiser. Contanto que seja um estabelecimento da família, que seja seguro e que não comprometa sua presença ao meu lado quando necessário.
Meu cérebro entrou em parafuso. Ele permitiria que eu trabalhasse? A esposa de um subchefe vivia em função do marido.
— Como assim trabalhar? — Estava confusa.
— Imagino que não tenha feito uma faculdade e milhares de cursos à toa. Temos casas noturnas que oferecem um cardápio variado, restaurantes e até empresas reais que fornecem alimentos aos funcionários. — Romano falou como se não fosse nada demais. Esperança. Eu odiava o gostinho dela na minha boca.
— Acredito que possa encontrar uma posição.
— Entendi. — Não tinha uma réplica espertinha para aquilo. — É incomum.
Romano sorriu.
— Se disser sim, vai viver fora de algumas regras que o tradicionalismo da Sicília ainda impõe. Além do mais, será uma mulher casada.
Casamento. Liberdade ou prisão?
O Origano ficava em frente ao mar, no alto de uma colina em uma região bem badalada. Romano entregou o carro ao manobrista e colocou a mão no meio das minhas costas, me conduzindo para dentro. Apesar de ter uma mesa reservada, a hostess nos levou para o bar. Ele pediu um copo de uísque para si e uma bebida colorida com gin para mim.
Quase disse que meus pais não me autorizavam beber, mas eu tinha vinte e dois e eles queriam me casar…
Dei um golinho e era muito bom. Romano estava me observando atentamente. Próximo, tive certeza de que o cheiro gostoso dentro do carro era dele mesmo. Muito cheiroso.
— Anastácia! — Ouvi uma voz masculina que me deixou tensa.
Merda. Virei e me deparei com um conhecido da faculdade que dei uns beijos dentro da biblioteca. — Uau. Gostosa… — Foi se aproximando.
Alerta de pânico invadiu a minha cabeça. Romano simplesmente colocou seu antebraço entre ele e eu.
— Marcelo! — Ofeguei com a parada abrupta. Meu guarda se aproximou com meu chamado.
— Ah, desculpa. Não vi que estava acompanhada. — Sorriu torto.
— Márcios Ferrari. — Esticou a mão para o Romano, que só o encarou bem sério. — Certo… foi bom te ver, Ana. — Saiu, retornando para os seus amigos.
— Quem é ele? — Romano perguntou baixo, em um tom de voz mortal.
— É um conhecido da faculdade. — Coloquei meu copo no balcão.
— Íntimo? — Arqueou a sobrancelha.
— Está preocupado que a sua mercadoria não seja intocada? Romano soltou uma risada seca.
— Acha que me importo se é virgem ou não? — Arqueou a sobrancelha, virando seu copo inteiro de uísque.
— Eu me importo se você tem um relacionamento ou mantém sentimentos por outra pessoa. Quero que deixe isso claro agora e assim não vou perder meu tempo.
Caramba!
— Não tem sentimento nenhum, como disse, ele é apenas um conhecido da faculdade.
Romano olhou em meus olhos, procurando a verdade. E era. Exceto que o beijei, mas não significava que fora além disso. Era só um garoto bonito e pelo visto, sem amor à vida. Ainda sem falar nada, pegou meu copo e percebi que a recepcionista estava próxima para nos levar para nossa mesa. Ele sinalizou para ir na frente e passei, andando com calma até o lado mais alto, reservado e com uma visão esplêndida para o oceano e a cidade.
Dentro estava aquecido e decidi tirar meu terninho, colocando no encosto da cadeira ao lado, junto com minha bolsa. Romano puxou minha cadeira como os príncipes encantados fazem nos contos de fadas.
Eu não deveria ficar surpresa com a reação dominante de Romano com a aproximação de um homem, mas fiquei muito chocada que ele não se importava com a virgindade. A tradição dos lençóis ensanguentados evoluiu para exame médico depois do casamento do chefe, Damon Galattore.
Ele sequer se deu o trabalho de constranger sua noiva com a exibição de sangue. O outro lado da família, a de Nova Iorque, não se importava com isso.
Algumas das meninas namoravam antes de casar, mesmo que só tivessem autorização para se relacionar com homens da família, elas podiam ter a experiência de um romance.