CAPÍTULO 11 (ANASTÁCIA)

1000 Words
Inconscientemente, estava tentando não ser eu mesma, para quem sabe, perder a atenção de Romano. Isso nunca iria acontecer. Provavelmente, toda famiglia sabia que me tornei a sua escolhida. Se a fofoca não correu porque Lucinda Vacchiano era sogra de um dos chefes, minha própria mãe deveria ter feito o trabalho mandando mensagens para suas amigas. Ao voltarmos para casa, meu coração estava mais uma vez acelerado e as mãos suando à toa. Romano pediu autorização para me mandar mensagens de texto e meu pai me perguntou antes de permitir. Eu o olhei e pensei em milhares de respostas ruins, mas não podia despejar minha acidez, porque tudo que papai estava fazendo era fingir que meu casamento aconteceria em um processo natural entre duas pessoas apaixonadas. Sonho meu. Romano informou que me levaria a um determinado restaurante e quase gritei. Eu era louca para ir lá, porém, meus pais não permitiam e não iam porque era jovem demais. Todos os meus amigos da faculdade falavam sobre ele e reservavam mesas direto. Estava quase explodindo por dentro, dividida entre ficar reticente com o encontro e aprovar sua escolha. Tomei um banho relaxante, lutei contra a vontade de tomar um dos calmantes da minha mãe para domar a histeria que borbulhava no meu peito e me arrumei com capricho. Não queria envergonhar a minha família. Ele era um homem refinado, sua roupa estava impecável, alinhada, bem passada, usava uma camisa cinza, calça jeans pretas e paletó preto. De alguma maneira, estava jovem e ao mesmo tempo demonstrando sua posição. Provavelmente, ele estaria igualmente bonito naquela noite e por isso, me senti bem dentro da minha calça clochard cinza chumbo, com um body de renda preto e terninho feminino cinza claro. Escolhi tons sóbrios porque além das camisetas das minhas bandas favoritas, não costumava usar nada colorido. Calcei os sapatos e parei na frente do espelho. — Você está mais ousada do que realmente gosto, mas está linda. — Mamãe parou atrás de mim. Ela parecia triste, como se a minha introspecção tirasse a sua alegria. Eu não podia ajudá-la. Não ainda. — Eu te amo. — Eu te amo muito mais, mãe. — Sorri verdadeiramente. Ela tinha tudo para me tratar apenas como a sobrinha do seu marido, mas ao contrário disso, me amou intensamente como se eu tivesse saído do seu ventre. No nosso meio, sobrinhos órfãos criados por tios era bem comum, principalmente com a taxa de mortalidade devido às atividades da família. Conhecia histórias terríveis de meninas que foram morar com familiares e eram tratadas como empregadas. — Ele chegou. Papai já falou com ele e agora, só está te aguardando. — Maria entrou no meu quarto sem esconder a excitação. — Estou pronta e vou descer. — Peguei minha pequena bolsa. — Me desejem sorte. — Você não precisa de sorte, seu nome é Anastácia Bracci. — Minha irmãzinha comemorou. Ela sempre me colocava na lua. Sorri e saí do quarto sozinha. Andei com cuidado nos corredores para não virar meu pé. Sabia andar de saltos altos, mas não era o meu momento favorito. Desci a escada, deslizando minha mão pelo corrimão e só quando virei no segundo lance que ele pôde me ver. Ergueu o olhar do seu telefone e parou, parecendo beber a minha visão com toda calma. Seu rosto não demonstrava nenhuma expressão além do fato de que estava atento a minha presença. Tudo que senti enquanto seguia na sua direção era que ele não confiava em mim. Para Romano, representava uma ameaça tanto quanto um homem da famiglia. Ele deveria ser tão fechado que não se permitia relaxar sozinho. — Você está muito linda, Anastácia — falou baixo, em um tom de voz rouco que me deixou arrepiada e ciente de que o elogio havia sido verdadeiro. Pela primeira vez, senti a terrível sensação de que as minhas bochechas quentes estavam vermelhas. — Adorável da cabeça aos pés. Limpei a minha garganta. — Muito obrigada. — Ainda assim, minha voz saiu suave como uma garotinha boba. Matem-me agora. — Está pronta para ir? — Enfiou o telefone no bolso. Ele usava a mesma combinação da noite anterior, porém, em cores diferentes. O tom de azul combinava muito bem. Romano era mais alto que eu, mesmo usando saltos altos. Parada tão próxima, podia perceber o contorno dos seus músculos trabalhados e o quão era largo, do tipo que poderia ser um jogador de futebol americano com a aparência divina dos modelos italianos. Seus cabelos eram castanhos claros, bem cortados e penteados para trás, como se só tivesse passado as mãos. Os olhos castanhos eram enigmáticos, carregando um peso perigoso. — Quer olhar um pouco mais? — Me provocou. — Eu tenho direito de olhar a mercadoria que estou levando. — Rebati e imediatamente mordi o lábio, pensando que precisava controlar minha boca. — Sim, você tem. — Ele sorriu e foi algo realmente bonito de se ver. — Espero que não se incomode que faça o mesmo. — Piscou e ofereceu seu braço. Senti alívio por ele não levar meu comentário ácido para um lado r**m, já que a maioria dos homens orgulhosos não aceitava ter nenhuma resposta contrária, ou que mulheres fizessem piadas na sua frente. Segurei seu antebraço e olhei para trás, percebendo que meu pai estava no lado mais escuro da sala, ouvindo e observando toda minha interação com Romano em silêncio. Caramba. Fiquei morrendo de vergonha. Romano parecia ignorar, não só meu pai, como meus guardas e os seus, me levando diretamente para seu carro e conduzindo pelas estradas do meu bairro com tranquilidade. No som tocava uma música americana que eu não conhecia. Era esquisito. Ele vivia em um país com uma cultura avessa à minha. Eu não tinha certeza se me adaptaria à América. Toda segurança que adquiri com a nossa troca se esvaiu ao lembrar que, com o casamento, me mudaria para outro continente, do outro lado do oceano, com uma língua e costumes totalmente diferentes. Droga.
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