Capítulo 5

1813 Words
Dario Não estava animado para o primeiro dia de trabalho naquele lugar. Ainda mais quando fui recebido com descaso e olhares de acusação como se fosse um criminoso. Sabia que havia feito merda, e me colocado nessa situação ridícula, ainda por cima ferrei meu carro e preciso encontrar dinheiro para conseguir arrumar aquela bagunça. Dinheiro esse que meu pai não quer contribuir, talvez consiga com a minha mãe ou o i****a do meu irmão. Talvez estivesse na hora de arrumar um emprego e não ter que depender de ninguém daquela família egoísta. Sair de casa era uma opção viável e em breve esse dia chegaria. E então teria a liberdade que sempre almejei, e não terei mais ninguém para encher a minha paciência. Mas a verdade é que eu nunca trabalhei na vida e seria um desastre uma tentativa assim, assim como será um desastre meu trabalho nessa escola de dança. Francamente, como essas pessoas pensam que vou me sair bem com um rodo e um pano de chão? Eu seria um fracasso se não houvesse alguém para me auxiliar e pelo o que estou vendo, ninguém vai se oferecer para ajudar e terei que me virar sozinho. Estava andando pelo local para conhecer o lugar na qual trabalharia nos próximos meses, era pequeno e nada muito atrativo. Me encontrava incrivelmente entediado, mas uma música em uma sala me chamou atenção, era uma escola de dança e eu sabia o que estavam fazendo, mas mesmo assim fiquei curioso. Não deveria parar para espiar, mas quanto mais enrolasse com o serviço, melhor. Estava prestes a atuar tudo e sair fugido daqui. A porta estava fechada e eu apenas a empurrei encontrando uma garota dançando, e ironicamente era a garota da escola e minha vizinha. Quão grande era a ironia da vida? Por que logo a garota que me deixou intrigado estava por toda parte? Me escorei na porta observando seu corpo magro fazer movimentos habilidosos e atraentes. Ela parecia saber o que estava fazendo e simplesmente flutuava pelo local como um pássaro livre. Estava de olhos fechados, mas suas expressões mostravam felicidade e dor. Como se sentisse na alma todos aqueles sentimentos que a música lhe trazia. Parecia ser uma garota forte e misteriosa. Não entendia nada sobre dança, mas não me importaria em ficar a observando por tempo indeterminado. Ela parecia trazer calma, na verdade era uma paz absurda. Quando a música parou e ele se virou para mim, vi surpresa em seus olhos. Talvez eu não fosse bem vindo e a estivesse incomodando. — O que você faz aqui? — acusou, olhando-me ofegante. O que eu diria? Que estava a espionando? E por que ela estava com toda aquela marra? — Vou trabalhar aqui agora, estava conhecendo o local e ouvi a música. Ela franziu o cenho, pensativa. — Seu trabalho não é me espionar e sim limpar o local. — Não estava espionando, só estava passando. — franzi o cenho em desagrado com aquela ideia. Eu só estava passando e senti um pouco de curiosidade, nem ao menos sabia que era ela ali. E se soubesse que era uma garota tão irritadinha eu não teria perdido meu tempo. — A porta estava fechada. — retrucou não se importando em ser dura. Tudo bem, o erro foi meu. Olhei para a porta que agora estava aberta, me sentindo um o****o. Eu não estava acostumado a me sentir dessa forma, garotas não me deixavam constrangido ou me sentindo m*l por ter feito algo. — Foi espontâneo. Mas não se preocupe, não vi nada demais. A garota franziu o cenho parando estar irritada e ofendida. Não me importei porque ela não estava facilitando para mim e me tratando como um i****a. — Bateu até palmas e não se impressionou? — retrucou ardilosa. Balancei a cabeça querendo rir da sua ousadia. Que garota maluca. — Então o rapaz já chegou. — a dona do local apareceu me olhando com seriedade. — Ela estava incomodando você Lúcia. Lúcia, gostei do seu nome. Lúcia me olhou e soltou um suspiro. — Dario só errou de porta, não foi? — me olhou sugestiva. Ela sabe meu nome, estudamos na mesma escola, mas não acho que ela tenha decorado tão depressa. — Sim. — concordei sentindo que aquela era a minha única alternativa. — Já que está aqui, deixe Lúcia em paz e venha fazer seu serviço. A mulher ordenou se afastando e eu assenti a seguindo para longe dali, dando uma última olhada em Lúcia que me observava com curiosidade. Aquela foi a coisa mais estranha que me aconteceu. — Você irá limpar as vidraças, banheiro, piso e cuidar do jardim. — a mulher saiu dando ordens e naquele momento desejei ter um caderno de anotações, porque não estava prestando atenção em nada que ela falava. Na verdade achava tudo isso um grande absurdo que precisava ser mudado. Aquela mulher estava louca? ela queria uma empregada? Um escravo? Eu só iria fazer um serviço comunitário, isso era ajudar não virar um serviçal que ela usaria para o que bem entendesse. — Ou seja, tudo. — soltei uma risada irônica, não acreditando no que estava ouvindo. Ela queria me fazer de empregada, essa era a verdade, deve ter demitido a que tinha, só pra me colocar para trabalhar de graça. Essa mulher era uma bruxa má, mas inteligente precisava admitir. — Está reclamando do que? Você destruiu a minha fachada e eu não estou reclamando disso. Como ela ousa dizer algo assim? Tão cínica e manipuladora, eu deveria tomar cuidado com essa mulher pois ela era perigosa. — O meu trabalho é fazer serviço comunitário, não ser seu escravo. — Você fará o que eu quiser, ou prefere ir para cadeia por m*l comportamento? — ameaçou, fazendo-me olhá-la com raiva. Respirei fundo e apenas pedi o material de limpeza. Sabia que faria tudo errado, pois nunca havia limpado nada na vida. Isso era perda de tempo e logo ela se arrependeria de tentar me fazer de empregada. Eu não seria útil, apenas daria trabalho. Comecei limpando as vidraças. Era vergonhoso fazer isso com algumas pessoas me observando, e julgando com os olhos, isso quando não estavam cochichando umas com as outras sobre eu ser um marginal que destruiu a fachada da escola deles. Eu odiava murmurinhos ao meu respeito, ainda mais pessoas indiscretas. Não me importava nenhum pouco com eles, e agradeceria se ficassem de boca fechada. Lúcia evitou minha presença. Quando me via apenas ignorava minha existência e isso me intriga cada vez mais. A garota tinha uma seriedade no olhar intrigante. Parecia viver em seu próprio mundo, não se importando com nada a sua volta. Enquanto outras garotas soltavam sorrisos e se esforçavam para chamar atenção. Lúcia queria ser discreta, eu havia observado ela mais do que devia, mas apenas porque havia me intrigado, apenas isso. Não entendia de balé ou qualquer outro estilo de dança, mas aquela garota era boa no que fazia, conseguia ver esforço e dedicação a cada passo e movimento sutil que assisti mais cedo. Eu não esqueceria facilmente sua dança, e isso era estranho. Era apenas uma dança. Por que eu deveria me importar e admirar mais do que o necessário? Ela era boa, apenas isso. (...) Precisava arrumar meu carro de alguma forma e minha única opção naquele momento era o chato do meu irmão. Eu não queria pedir ajuda para Dean, mas não queria preocupar minha mãe com isso porque ela já tinha problemas demais. Suspirei parado na porta do quarto de Dean esperando ele criar vontade para vir me atender. Ele falava ao telefone e alto para que eu pudesse ouvir que estava ocupado e parasse de bater na sua porta. — O que você quer Dario? — Dean suspirou ao abrir a porta e me ver. Ele estava apenas de toalha e deve ter saído do banho a pouco tempo. — Preciso de dinheiro. — Claro que precisa. — respondeu irônico. — Preciso consertar a frente do meu carro. — Por que não pede pro papai? Revirei os olhos com aquele absurdo, ele sabia muito bem porque eu não pedia para Marcos. Depois do que aconteceu a última coisa que meu pai faria seria me ajudar a consertar o carro. — Você sabe porque, e eu não quero incomodar a mamãe. — Você só causa problemas Dario. — Dean estava frustrado agora. — Ou me ajuda pagar o carro, ou terá que me dar carona todos os dias. Dean suspirou derrotado e entrou no quarto, segundos depois voltou com um cartão. — Só pague o conserto do carro e depois me devolva. Sorri enfiando o cartão no bolso. — Valeu mano. — lhe dei um tapinha nas costas. — Ande na linha Dario. — Faço isso todos os dias. Me afastei do seu quarto e entrei no meu que era logo ao lado. Suspirei enfiando o cartão no bolso me aproximando da janela aberta. Era noite e o céu estava bonito. Iria reclamar da vida se não tivesse prestado atenção na garota da casa da frente que fazia o mesmo que eu. Observava o tempo, pensativa. Ela já estava aparecendo demais a minha frente. — Ainda quer que eu acredite que não está me espionando? Você é o que? um Stalker? — ela notou minha presença. É claro que tinha que ser uma chata insuportável. Apertei a beirada da janela, respirando fundo. — Baixa a bola garota, não tenho culpa se minha janela é de frente para sua. — E precisa aparecer justamente quando eu estou aqui? — Acho que tenho livre arbítrio para fazer o que quiser, ou você quer marcar horários para que eu possa aparecer na minha janela? — Seria uma boa, assim eu não preciso lidar com a sua presença. — retrucou afrontosa. Arqueei uma sobrancelha tentando me lembrar o que havia feito para merecer aquele tratamento. Geralmente eu mereço coisas muito piores. — Qual o seu problema comigo garota? — Está brincando? Você foi um babaca comigo quando nos conhecemos. — disse ofendida. Então era isso? Minha personalidade não era uma das melhores e as pessoas preferem não se aproximar muito, sou grosso a maioria das vezes, mas não é proposital. — Não me lembro. — dei de ombros. — Está sendo um babaca agora fingindo não lembrar. — riu irônica. Eu não devia nenhuma explicação a ela ou nenhum motivo para então não me importava o que pensava de mim. — Não devo nenhuma explicação a você então pense o que quiser. — Cruzei os braços, escorando-me na janela. Ela me olhou frustrada e posso jurar que a ouvi resmungar um arrogante antes de fechar sua janela sem se importar em ter parecido rude. Não consegui segurar o riso com toda aquela ousadia. Pelo visto tenho uma vizinha brava que me odeia e que terei que encontrar em todos os lugares. Interessante.
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