Cara-Pálida

1362 Words
Embora Chloe Winston nunca tivesse visto o herdeiro de Richard Marks, o presidente da empresa da qual ela era a CEO, ela tinha certeza de que aquele pedaço de mau caminho, vestido em trajes tradicionais de índio e com o rosto pintado como se fosse para a guerra, era Raoni Marks. Afinal, ela duvidava que existissem muitos cherokees com olhos verdes marcantes e barba por fazer naquele lugar. Raoni xingou baixinho. Que espécie de mulher era aquela que seu pai tinha mandado atrás dele dessa vez? No último ano, seu pai havia enviado pessoas quase todos os meses, todas com o mesmo recado: "Venha a Nova York." Mas Raoni mandara todos embora com a mesma resposta: se o pai queria vê-lo, teria que vir até ele. Raoni não odiava o pai, mas não tinha laço afetivo algum com ele. Em toda a sua vida, ele viu o pai biológico apenas umas sete ou oito vezes. Quem realmente o criou foram sua mãe e seu avô. Ele era grato ao pai por obrigar sua mãe a mandá-lo para uma escola particular de ricos brancos, sob a ameaça de tomar a guarda dela caso ele não recebesse toda a educação possível até atingir os 18 anos, quando ele próprio poderia decidir qual caminho seguiria. Raoni herdou o toque de Midas do pai. No último ano da escola, criou um aplicativo para uma feira de ciências, e seu aplicativo de mensagens ficou famoso mundialmente. Ele então vendeu a patente do aplicativo por um valor astronômico, tornando-se milionário sem precisar de um centavo da fortuna do pai. No entanto, quando fez 18 anos, abandonou os estudos, comprou aquela fazenda de trezentos hectares e trouxe a tribo do avô para morar ali com ele. Enquanto seu pai era um homem ocupado demais para vê-lo, seu avô incutiu nele todas as crenças e costumes cherokees, e como ser o que seu nome significa: um homem honrado para ser chefe. Raoni amava ser um índio cherokee e cortou todo e qualquer contato com o pai. Mas, no último ano, o velho tinha se tornado insistente. Raoni não era um índio ignorante. Sua fortuna já tinha triplicado e a aldeia cherokee que ele chefia era próspera. Ele tinha orgulho disso e não pretendia sair dali nem mesmo para fazer uma visita ao pai. Ao perceber que a mulher ainda o encarava, ele franziu a testa e estreitou os olhos para ela. Sabia que ficava assustador quando fazia isso, ainda mais com o rosto pintado tradicionalmente. Chloe, por mais que tentasse manter a compostura, não conseguiu evitar dar um passo para trás. Era como se ele fosse atacá-la a qualquer momento. Satisfeito com a reação de Chloe, Raoni disse: "Olha, moça, não sei o que veio fazer aqui, e na verdade nem me interessa. Aqui sou o chefe Raoni, da tribo cherokee Lua n***a. E se ousar falar comigo assim novamente, pagará caro por isso. Não vou aceitar que uma cara-pálida venha de Nova York destilar seu preconceito aqui." Chloe o encarou com uma mistura de indignação e surpresa. Nunca ninguém tinha falado com ela assim. Ela estava acostumada a ter tudo do seu jeito e a ser atendida sempre que solicitava, mas pelo visto, isso não aconteceria ali naquele fim de mundo com aquele índio incrivelmente gostoso e m*l-educado. Chloe mentalmente se estapeou, tentando reunir a coragem que sabia que precisava naquele momento. "Vamos lá, garota, você não veio até aqui para ser colocada para correr por um 'huga, huga'," murmurou para si mesma, endireitando a postura. Ela respirou fundo e declarou com firmeza, tentando manter a compostura: "Sou a CEO da Enterprise Marks e estou aqui a pedido do seu pai. Ele quer que você vá visitá-lo em Nova York." Raoni arqueou as sobrancelhas, o rosto pintado realçando ainda mais sua expressão de desdém: "E eu não estou nem aí para isso. Não vou deixar minha tribo, minha fazenda, só porque ele decidiu que agora quer ser meu pai. É tarde demais para nós dois. E se você vai falar como o último que ele mandou por aqui e dizer que ele vai me deserdar, como disse antes, que se dane. Não preciso da fortuna dele. Tenho tudo que preciso bem aqui." Chloe estava prestes a dizer exatamente isso, mas engoliu a frustração e insistiu: "Seu pai está doente. Nem mesmo isso te comove?" Raoni a encarou pensativo. Aquela era nova para ele. No entanto, ele decidiu não se deixar abalar: "Ele tem dinheiro suficiente para se curar. E se o dinheiro não resolver, não há nada que eu possa fazer. Mas ele pode vir até aqui quando quiser." "Seu pai está com problemas nos rins e precisa fazer diálise uma vez por semana. Como você sugere que ele venha para esse fim de mundo?" Chloe disse, a voz carregada de determinação. Raoni estreitou ainda mais os olhos. Ele e o pai tinham um tipo sanguíneo raro. Uma gargalhada amarga escapou de seus lábios enquanto ele respondia: "O que ele quer? Um dos meus rins? É isso?" Chloe o olhou com uma esperança palpável e perguntou: "Você doaria?" Raoni riu novamente, um som áspero e sem humor. Os cherokees não acreditavam em tirar partes do corpo e dar para outra pessoa, nem em receber partes de outra pessoa, nem mesmo sangue. Isso iria contra tudo o que eles acreditavam e, como chefe, ele perderia tudo se fizesse isso. Ele a encarou, os olhos verdes fixos nos dela, e disse: "Não, não faria. Mande-o encontrar outra pessoa." Sem dizer mais nada, Raoni se virou e começou a caminhar em direção à casa, proferindo todas as maldições que conhecia no dialeto cherokee. Ao perceber que Chloe ainda o seguia, ele parou abruptamente e, virando-se para ela com raiva, perguntou: "O que mais você quer?" Chloe ergueu o nariz para cima, tentando manter a dignidade. Então, um raio de sol atravessou as copas das árvores, iluminando-a. Raoni não pôde deixar de notar como a luz destacava seus cabelos vermelhos soltos ao vento, suas roupas chiques e o rosto delicado com olhos de um azul que rivalizavam com o céu. Ela era realmente muito bonita, ele admitiu a contragosto, mas imediatamente se lembrou de que ela era sua inimiga. Chloe sentiu o rosto corar, algo que não acontecia desde o fundamental. Ela se xingou mentalmente, mas, mesmo assim, respondeu com firmeza: "Eu não vou embora." Raoni respondeu com desdém: "Que seja. Fique à vontade para conhecer a propriedade e enfiar seu sapato precioso em cada monte de bosta que tem por aí. Eu não me importo." Dizendo isso, ele assobiou, e como nos filmes, um cavalo n***o lindíssimo se aproximou. Raoni montou com agilidade e saiu galopando, deixando Chloe ali, sozinha, encarando a cena. Ela se perguntou se, por acaso, estava dentro de um filme de Hollywood. O vento jogava seus cabelos para trás enquanto ela via o cavalo desaparecer na distância, e a realidade da situação a atingiu com força. Estava longe de Nova York, em um lugar onde seu título e influência pareciam insignificantes, e, acima de tudo, estava diante de um homem que não se deixava intimidar. Chloe olhou ao redor, observando a vastidão da fazenda Cherokee Lua n***a. O lugar era incrivelmente bonito, com suas árvores imponentes, campos vastos e cavalos galopando livremente. Ela respirou fundo, tentando absorver a serenidade do ambiente, mas o nervosismo a corroía por dentro. Ela não podia falhar. Richard Marks precisava de sua ajuda, e ela não podia voltar para Nova York sem completar sua missão. Ela começou a caminhar, cada passo uma luta contra o terreno irregular. Seus sapatos de salto alto afundavam na terra, e ela praguejava baixinho a cada tropeço. A fazenda parecia imensa, e cada árvore e planta exalava uma rusticidade que contrastava fortemente com sua vida na cidade. Ao caminhar, Chloe tentou formular um novo plano. Raoni era claramente teimoso e independente, mas ela precisava encontrar uma forma de convencê-lo. Ela pensou nas palavras de Richard, sobre o desejo de se reconectar com o filho. Chloe sabia que havia mais em jogo do que apenas a empresa; era uma questão de família, de laços quebrados que precisavam ser reparados.
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