Estrada para Mount Pleasant

1017 Words
Para Chloe Winston, parecia que já fazia um século que ela estava dirigindo. Chegara de avião naquela manhã no condado de Charleston, na Carolina do Sul, onde um carro alugado já a esperava. De lá, seguia para a vila de Mount Pleasant, uma viagem que parecia interminável. Nascida e criada em Nova York, Chloe estava acostumada ao trânsito caótico da cidade e à constante agitação. A tranquilidade e a vastidão da paisagem ao seu redor lhe davam nos nervos. Enquanto dirigia, Chloe observava a paisagem que se desdobrava como um cenário distante e estranho. A estrada era ladeada por majestosos carvalhos cobertos de musgo espanhol, cujas longas cortinas verdes balançavam suavemente com a brisa do início da tarde. As copas das árvores formavam um dossel natural sobre a estrada, filtrando a luz do sol e criando um jogo de sombras dançantes no asfalto. À medida que avançava, Chloe notava os pântanos que margeavam a estrada. O brilho esmeralda da vegetação aquática se misturava com o azul dos pequenos riachos que serpenteavam pelo terreno, refletindo o céu límpido de primavera. Garças elegantes e cegonhas grandes faziam seus ninhos nas margens, alheias à presença humana, criando uma atmosfera de serenidade e harmonia com a natureza. Para Chloe, acostumada ao luxo e à badalação de Nova York, a viagem era exasperante. Ela era o que muitos chamariam de "patricinha". Se pudesse, jamais estaria ali. No entanto, Chloe tinha um objetivo claro e não podia falhar. Estava ali por um motivo muito específico, não a turismo. Não importava que estivesse a caminho de uma fazenda de 300 hectares no meio do nada; o que importava era que Chloe Winston não sabia desistir ou aceitar um não como resposta. Embora aquela fosse, de longe, a tarefa mais desafiadora de sua vida, Chloe estava determinada. Sua missão? Convencer um índio a largar sua tribo e ir com ela para Nova York. A ideia era tão absurda que Chloe teve uma crise de riso ao pensar nisso. Mas, certamente, ele não era um índio tradicional. Afinal, havia inventado um aplicativo aos dezoito anos e faturado milhões. Além disso, era herdeiro de um dos homens mais ricos da América. Pensando por esse lado, Chloe tinha certeza de que encontraria um homem excêntrico que gostava de fingir que vivia em uma reserva indígena, mas que com certeza morava em uma mansão em uma fazenda cheia de descendentes cherokees. Finalmente, à medida que se aproximava de Mount Pleasant, Chloe começou a notar a mudança na paisagem. As casas tornavam-se mais espaçadas, dando lugar a extensões maiores de natureza intocada. O caminho à frente era emoldurado por fileiras de palmeiras e arbustos de louro, e o som distante das ondas batendo na costa se fazia presente. Já fazia algum tempo que Chloe estava em uma estrada de terra, e a cada quilômetro que passava, ela ficava mais nervosa. Finalmente, avistou uma placa que dizia "Fazenda Cherokee Lua n***a". A entrada era imponente, com grandes portões de madeira e uma guarita de segurança. Chloe parou o carro e, quando o guarda se aproximou, ela não podia acreditar no que via. Era um índio, vestindo apenas uma calça de couro e com o rosto pintado. Ela sentiu uma vontade imensa de xingar, mas respirou fundo. Abaixando o vidro do carro, disse pausadamente, com medo de não ser entendida: "Estou aqui para ver Raoni Marks." O índio a encarou com o mesmo desprezo que ela o encarava e disse: "Ele disse que alguém da cidade viria, mas se quiser entrar, vai ter que deixar o carro aqui. Hoje não pode entrar carro na propriedade." Chloe insistiu, mas o índio, que se chamava Ravi, não cedeu. Sem outra opção, ela pegou sua bolsa e desceu do carro, lançando um olhar m*l-humorado para Ravi. Chloe não podia acreditar que tinha deixado o carro na porteira daquele lugar ermo. Ela só agora se arrependia do salto número 12 que calçava. Suas roupas de grife contrastavam com a natureza ao redor. Quando tropeçou pela Terceira vez, teve que conter um palavrão, pois damas não usavam aquele palavreado, muito menos uma CEO de sucesso. Ao olhar em volta, Chloe não podia negar a beleza rústica do lugar, cheio de árvores, plantações e cavalos soltos. A fazenda era vasta e bem cuidada, com campos verdes e cercas brancas que se estendiam até onde a vista alcançava. Então, ela pisou em algo não muito agradável. Ao olhar para baixo, viu seu lindo scarpin de mil dólares enfiado em um monte de bosta de cavalo. Deixando a etiqueta de lado, Chloe xingou todos os palavrões que conhecia e depois resmungou: "Céus, como um índio pode ser o bilionário mais cobiçado do país? Devo estar em um pesadelo." Ao levantar os olhos, porém, deu de cara com o homem mais lindo que já vira na vida. Ele era musculoso, com a pele marrom dourada e traços claramente cherokees. Os olhos, no entanto, eram verdes – os mesmos olhos de Richard, e ele tinha uma barba por fazer, o que geralmente não era uma característica de índio. E ele não parecia nada feliz em vê-la ali. Raoni Marks sentiu sua cabeça doer só com a visão da patricinha que acabara de entrar no seu domínio. Ele já podia imaginar o que ela tinha vindo fazer ali, mas ao ouvir as últimas palavras dela, a vontade que tinha era de chamá-la de cara pálida, já que era assim que ela esperava que os índios Cherokees se comportassem em pleno século vinte e um. Raoni pensou que ainda podia escapar. Estava vestido com um traje tradicional que consistia em uma calça de couro, um cocar na cabeça, e o rosto e o peitoral pintados, para o ritual de fertilização da terra que aconteceria mais tarde, e duvidava que ela acreditasse que ele era o bilionário que procurava.Por isso, simplesmente se virou e começou a andar na direção oposta. "Raoni Marks, parado aí!" ela gritou. Raoni parou, sentindo a irritação crescer. Ele se virou lentamente, encarando a mulher que se aproximava com um olhar determinado, apesar de sua aparência fora de lugar naquele ambiente.
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