Pensei que meu pesadelo estava terminando, mas me enganei. O que era para ser “um retorno no domingo, com as crianças” acabou sendo um retorno na noite seguinte e eu recebi instruções de recebe-lo com o jantar pronto, de banho tomado e bem vestida.
Ele chegou em casa, sorrindo, perguntou como havia sido o meu dia, contando algumas idiotices do escritório e jantamos. Depois do jantar, ele mandou que eu o esperasse no quarto, e eu assim o fiz: ele entrou, tirou suas roupas e sem dizer nada, me possuiu. Não foi delicado, não me deu prazer algum, não foi nem mesmo cuidadoso, apenas enfiou seu m****o dentro de mim, até chegar ao êxtase.
Quando ele terminou, corri para o banheiro como havia feito na outra noite, nunca havia me sentido tão usada, tão suja. Talvez nem mesmo com uma p********a ele tivesse sido tão indiferente. Para minha surpresa, quando sai do banheiro, ele entrou e disse que tomaria um banho e voltaria para casa, para ficar em paz.
Ele deve ter sentido um pouco de culpa, porque tentou ser agradável antes de ir embora, mas eu ignorei a tentativa, tratando-o com indiferença. Ele ainda escolheu mais algumas camisas no guarda-roupas e depois, saiu sem se despedir, tudo o que ele falou antes de bater a porta foi: “lembre-se, Mel, você nunca foi nem mesmo suficiente”. Aquilo me fez chorar por horas... Aquela madrugada estava sendo terrivelmente difícil. Quando dei por mim, a chuva caia pesada e o dia estava amanhecendo.
Eu apenas me lembro de correr para pegar minha bolsa e enfiar-me dentro de um pesado casaco e dirigir em alta velocidade, chorando: eu não conseguia pensar com clareza, era como se tudo o que eu tivesse vivido ate aquele momento, fosse uma enorme e dolorosa mentira “você nunca foi suficiente”, a frase que James dissera, repetia em minha mente, como em um looping: não era boa esposa, nem boa amante, nem boa mãe... Péssima profissional, pois tinha deixado tudo de lado quando as coisas ficaram difíceis. Eu não era boa o suficiente.
Parei em frente aos portões de madeira: o dia m*l havia amanhecido e havia uma fumaça tímida saindo da chaminé, a chuva era pesada e eu ponderei se deveria entrar ou dar a volta e ir embora. Minha dúvida durou apenas alguns segundos, apenas até ver Dom sair correndo pela porta da frente para abrir o portão. Parei o carro em frente à cabana e não tive coragem de descer, eu só conseguia chorar.
Dom foi quem abriu a porta e me tirou para fora. Foi ele quem tirou o casaco molhado que eu vestia e alcançou-me um cobertor, foi ele quem fez o café, sentou no sofá e puxou-me para perto dele, aninhando-me em seu peito... Eu não precisei fazer nada, porque ele sabia o que fazer.
- O que está acontecendo? – ele pergunta.
- Eu não sou boa o suficiente – eu digo num suspiro, e Dom conhecia o peso daquela frase para mim – eu não sou, James disse que não e ele tem razão... Ele tem razão de procurar...
- Não – ele diz – não fala isso, não – ele beija minha testa – você é perfeita Mel.
- Eu não sou – resmungo – sou gorda, e descuidada, e não dediquei mais tempo à minha carreira, não sou uma boa mãe, nem boa esposa, sou péssima...
- Você é linda – ele segura meu rosto com as duas mãos – linda, de verdade. Pode ter menos tempo, pode ter se deixado de lado, mas é linda, é a melhor mãe que eu conheço, faz pelos seus filhos o que nem mesmo minha mãe fez por mim – ele beija minha testa – não deixa de acreditar nisso.
Passei horas naquele sofá. Dom levantou-se e fez torradas, depois, trouxe um chá e por fim, ele apenas foi atiçar o fogo da lareira. O silêncio era pesado e constrangedor.
- Olha – ele disse tentando parecer se controlar – eu sei que você está machucada – ele diz – eu sei que ele te disse coisas horríveis, que ele não cuida de você – ele suspira profundamente – esse cara vai acabar com você, você só vai definhar ao lado dele, e eu digo isso, porque eu sei.
- Eu não posso – eu soluço – você sabe...
- Acho que precisa começar a fazer as coisas por você – ele diz sério – sei lá, arrumar um emprego, voltar a estudar.
- Dom, eu não sei se...
- ... se ele permite? Fala sério – ele riu – um emprego, que no mínimo, te sustente, e ele já perdeu metade do que tem em favor dele em um tribunal.
- Você tem razão – eu digo e nem mesmo acredito no que acabou de sair da minha boca.
- Eu costumo ter – ele ri – acho que só precisa dar um tempo dessa cara, precisa de alguém que te lembre o quanto você é incrível.
- Você me lembra disso – eu digo sorrindo e deslizo os meus dedos pelo seu rosto – você me lembra disso todos os dias.
- Eu queria poder te provar que é muito além do que você imagina – ele beija minha mão – queria que você conseguisse entender que é incrível, e especial, e sexy – ele sorri – e que sempre teve o dedo podre, porque tinha tudo para ser feliz, era só ter o cara certo ao seu lado.
- Não existe cara certo, Dom – eu brinco.
- Existe sim – ele riu – e eu posso provar.
- Ah, pode? – eu debocho.
- Posso sim – ele ri alto – eu posso provar e você quer que eu prove. Mas, esse não é o momento para isso.
- Nunca vai ser – suspiro.
- O que está acontecendo, Mel? – ele me pergunta.
- Ele me trai – respondo – ele me trai, constantemente, desde o começo do casamento. Ele ameaça tirar as crianças de mim, e agora – contive minhas lágrimas o máximo que eu pude – ele me bate.
- E como está me dizendo isso com essa calma? - ele grita - Pelo amor de Deus, deveríamos estar no departamento de polícia.
- Eu não posso, Dom - digo chorando - ele tem amigos, influência... Meus filhos estão com a mãe dele e eu provavelmente nem mesmo conseguiria provar.
- E o que vai fazer? - ele pergunta.
- Esperar meus filhos de volta, conseguir me manter e ai sim, entrar com um processo...
- Ele pode te m***r até lá - Dom diz sério.
- Ele não seria capaz - respondo, mas uma parte de mim acredita que sim, ele seria capaz.
Fiquei na cabana com Dom por quase toda a manhã. Ele cuidou do hematoma em meu rosto, me fez chá e companhia e eu agradeci a ele e mentalmente por ele estar ao meu lado, provavelmente, se não fosse ele, eu já teria desistido de minha própria vida.
Antes que eu fosse embora, ele me fez prometer que eu o chamaria caso precisasse, que eu ligaria caso as coisas ficasse tensas, e ele chegaria com a polícia. Eu estava com medo de James, com muito medo do homem com o qual eu havia me casado, por que ele parecia outra pessoa e eu não conseguia reconhecê-lo.