Fim de semana peculiar

1103 Words
                 Acordei no domingo sentindo uma ansiedade diferente: por pior que pudesse parecer receber James em casa, meus filhos estariam de volta depois de um período - que eu julguei muito longo - longe de mim. Comecei a preparar o almoço assim que saí da cama, arrumei o quarto das crianças e coloquei um bolo de carne no forno.  - Mãe - ouvi a voz de Benjamin logo que ele passou pela porta - mãe... - Benjamin - gritei em resposta, correndo para abraça-lo - como passou?  - Bem - ele diz aninhando-se em meu abraço - estava com saudades.  - Eu também estava - respondo e logo sou literalmente, atropelada por Ellie e Jimmy que já estão dentro de casa também.                   Em meio à abraços e beijos e diversos "mãe", "mamãe" e "má" como dizia o pequeno Jimmy, eu quase me esqueci que James estava em casa: - Oi querida - ele diz se aproximando-se.  - Oi - respondo e logo dou-lhe as costas, voltando minha atenção total aos pequenos.                  Foi um fim de semana peculiar: era como se nada de errado estivesse acontecendo entre James e eu, as crianças não estavam recebendo nenhum tipo de respingo da agressividade, da crueldade e da indiferença do meu marido. Ben, por ser o mais velho e o mais chegado à mim, apenas parecia confuso, como se não esperasse nos ver tão bem.  - Acho que vamos superar isso - James disse me encarando sorridente, como se "isso" fosse uma discussão sobre discordar da cor das novas cortinas.                  Não consegui responder... E o que é que eu responderia? Se eu dissesse à James qualquer coisa diferente do que ele pretendia ouvir, ele possivelmente perderia o controle novamente, e eu sabia muito bem até aonde ele poderia ir caso isso acontecesse. Aceitei o convite para jogar um jogo bobo com as crianças para distrair minha cabeça e assim, quando eu percebi, o fim de semana estava terminando e James, perto das sete horas da noite disse que voltaria para a cidade, o que gerou uma enorme sensação de alivio.                  Telefonei para a minha mãe assim que ele saiu. Contei que os pequenos estavam de volta e ela falou que estava pensando em nos visitar - também não sabia se eu queria encontrar com ela, porque eu também tinha meus problemas com ela e principalmente, com ela e a maneira com que ela encarou a vida depois de perder o papai, aquilo me incomodava bastante ainda.                  Preparei uma roupa para o meu primeiro dia de trabalho, e as crianças pareciam empolgadas quando contei que começaria em um emprego e mesmo assim, teria tempo para ficar com eles. - Vai ficar tudo bem? - perguntou Ben quando fui em seu quarto para lhe dar boa noite.  - Claro que vai, bebê - eu respondo.  - Com o papai também? - ele pergunta.  - Não entendi sua pergunta, pequeno... - eu o encaro tentando fingir confusão.  - Vocês estão brigando, ele está sendo c***l e rude - ele diz nervoso - ele vai parar?  - Vai sim - eu o beijo na testa, eu sabia que aquilo aconteceria, ele perceberia, eu não precisava falar, meu filho mesmo veria como o pai estava se comportando.  - Você tem certeza? - ele pergunta.  - Tenho sim...  - A Ellie está com medo dele - Ben disse rapidamente.  - Como assim? - eu pergunto.  - Quando estávamos voltando - Ben suspira - ele gritou com ela, e ela voltou chorando, durante todo o vôo - ele disse.  - E por que é que eu só estou sabendo disso agora? - pergunto.  - Papai pediu que não contasse - ele responde sem jeito - mas achei errado, achei que precisava saber.  - Sim, bebê, eu precisava, obrigada - respondo.  - Eu amo você - ele diz e me abraça.  - E eu também amo você.             Sinto o meu sangue ferver: como ele pode? Agora caminho vagarosamente para o quarto da minha filha, sei que Ellie está acordada ainda: - Oi pequena - eu digo  - Oi mamãe - ela responde, sentando-se na cama.  - Está tudo bem? - pergunto.  - Sim - ela responde - está sim, e com você?  - Eu estou  bem - suspiro e beijo seu rosto - como estava na casa da vovó?  - Bem legal - ela responde - o vovô me ensinou a descascar laranjas.  - Ah, isso é bem legal e importante - digo sorrindo.  - Sim - ela responde orgulhosa - o Jimmy também queria, mas a vovó falou que ele ainda é muito pequeno para isso.  - Sim, é verdade - digo rindo - e na volta? Deu tudo certo?  - Mais ou menos - ela diz envergonhada.  - Uhm, não me convenceu....  - Não posso falar sobre isso - ela diz rapidamente.  - E por que não? - pergunto.  - Papai pediu para não falarmos sobre isso... - ela parece envergonhada.  - Mas eu sou a mamãe - digo séria - sabe que sempre pode me contar as coisas, qualquer coisa... - Eu sei - ela suspira - mas não foi nada demais.  - Tudo bem - digo - mas o que foi? - Papai gritou comigo - ela diz chorosa - no aeroporto... Eu lembrei que havia deixado a Sally na casa da vovó, e ele gritou comigo, dizendo que eu não sabia cuidar das minhas coisas, mas eu esqueci.  - Tudo bem - eu respondo - vamos poder resolver isso, vou pedir para a vovó que envie Sally pelo correio para cá, o que acha?  - Em uma caixa? - pergunta Ellie.  - Sim - respondo - em uma caixa, por via expressa, assim ela chega rápido e não fica com medo. - Pode ser - ela boceja - preciso dormir, boa noite, mamãe.  - Boa noite, querida.                  Volto para a sala, minha vontade era de telefonar para James e gritar com ele, até ele voltar para casa e pedir perdão à nossa pequena Ellie, já não bastava à ela ter esquecido o seu coelhinho de pelúcia, ainda precisava ouvir os gritos de um pai descontrolado? Mas me contive, e me ative a resolver o problema, telefonando para a minha sogra que, muito solícita, disse que enviaria o bichinho na manhã seguinte para a nossa casa e lamentou não ter percebido o esquecimento da neta em tempo.                  Consegui concluir o dia com sucesso: tudo em ordem, sem surtar e cedo, em tempo de descansar para o meu primeiro dia de trabalho, eu estava inegavelmente orgulhosa de mim, a retomada da minha vida profissional era umca coisa que tinha muita importância naquele momento.                
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