Quando dei por mim eu estava novamente dirigindo à caminho do centro comercial para encontrar com Dom. Tal como na outra vez, não trocamos uma única palavra, apenas peguei o capacete e subi na moto, eu sentia raiva de James e uma parte de mim, sentia culpa por buscar em um tempo com Dom, conforto para o meu coração.
- Aqui estamos nós - ele diz pegando o capacete das minhas mãos - você combina com esse lugar - ele diz e sai andando em direção à porta.
- Se você diz - dei ombros e por uma fração de segundos, eu me imaginei vivendo com Dom naquele lugar, aposto que seríamos felizes.
- Acho que precisamos conversar - ele diz.
- Sim - eu respondo rindo - é por isso que nós estamos aqui.
- Verdade - ele ri sem jeito - por quanto tempo vai continuar?
- Continuar? - pergunto.
- Sim - ele responde - com o seu marido b****a.
- Dom, eu não estou pensando... - a frase some da minha boca.
- Claro que não está - ele diz - se pensasse, já teria feito.
- Não é tão simples assim - eu respondo, não estava disposta a falar daquilo - eu não deveria ter vindo, isso é um erro.
- Isso é especificamente, o erro que você quer cometer, Mel - ele diz presunçoso - mas eu não estou disposto.
- Do que você está falando? - eu o encaro franzindo a testa.
- Disso - ele aproxima-se de mim, e delicadamente, tira a minha jaqueta, deslizando os dedos sobre os meus ombros - do jeito como você fica - ele me pega pela cintura, colando o meu corpo no dele - eu sei o que você quer, Mel.
- Eu não... - tento dizer que não, mas está explícito - não, Dom - eu tento afastá-lo, mas quando foi que ele ficou tão forte?
- Não se preocupa - ele sussurra no meu ouvido - a gente não vai fazer nada, nem que você queira.
E então ele me solta, e eu me pego estática e trêmula encarando ele que sorri:
- Você sabe que é um i****a, não sabe, Dom? - eu digo.
- Sim, eu sei - ele ri - e eu sei que você gosta... Mas, não estamos aqui para resolver esse assunto.
- Esse assunto? - eu ri alto.
- Sim, esse assunto pendente que nós temos - ele continua - estamos aqui, porque você está numa situação r**m.
- Não é uma situação r**m - eu digo num suspiro, sentando-me no sofá.
- Então, o que é? - ele pergunta.
- É uma m***a - eu respondo - Dominic, é uma merda...
- Mel - ele senta ao meu lado, pegando minha mão e a beijando - precisa ser mais específica.
Acabei contando para Dom tudo, absolutamente tudo, sobre a minha vida - pelo menos a parte que ele não sabia, eu não queria ser repetitiva. Contei sobre cada uma das traições descaradas de James, contei sobre as ameaças de tirar as crianças de mim... Quando eu me dei conta, eu chorava novamente no ombro de Dom, reclamando sobre um cara, sobre como eu tinha sido enganada e iludida, sobre como todas as pessoas eram ruins comigo.
- Eu sinto muito - ele beija minha testa - sinto muito por tudo isso, Mel.
- Obrigada por me ouvir - eu digo - eu não tinha intenção de chorar no seu ombro de novo...
- Você pode chorar no meu ombro, eu só não sei se eu vou conseguir aguentar por muito tempo - ele sorri - eu amo você, Mel, amo desde sempre... Acho que a única garota com a qual eu já sonhei na vida, era você. Eu sei que as coisas não saíram como eu planejei, nem como você planejou - ele suspira - eu apenas sou grato por ter você aqui, por ter você de volta, certo?
- Dom, eu... - eu nem sabia o que dizer.
- Não fala nada - ele puxa-me para perto dele, abraçando-me apertado, estou em seu colo, ainda chorando, aninhada em seu peito, e eu não conseguia contar tantas quantas tinham sido as vezes que eu havia feito isso - só se acalma, a gente vai dar um jeito.
"A gente vai dar um jeito" foi, sem sombra de dúvidas, a frase que Dom mais disse para mim durante a nossa infância e adolescência: quando aprontávamos, quebrávamos coisas... Quando a gente fazia alguma travessura e era pego no flagrante, quando precisávamos de dinheiro para alguma coisa e depois, quando meu coração passou a ser partido, ele estava sempre perto para dizer que resolveríamos aquilo, e de um jeito ou outro, nós sempre resolvíamos. Com isso, acabei por encontrar o conforto que eu estava buscando: se Dom disse que daríamos um jeito, então, com toda a certeza, nós daríamos.
Sem mais joguinhos ou provocações, almoçamos juntos - dessa vez ele havia programado um menu especial para nós, e perto das três horas ele me levou de volta e sim, eu lembrei de deixar todas as cartas guardadas com ele, dizendo que eu voltaria para buscá-las. Acho que qualquer ser humano com o mínimo de noção, perceberia que eu tinha chorado, mas como eu não estava preocupada com isso, apenas segui do estacionamento para a escola, para pegar meus pequenos e continuar a minha rotina entediante de dona de casa e esposa. Atendi uma ligação de James no começo da noite, uma parte de mim, tinha medo do que ele poderia fazer, caso eu não desse notícias:
- Querida - ele disse assim que eu atendi - meu Deus, eu estava tão preocupado.
- James - digo num rosnado - você sabe que estávamos bem, eu não atendi por opção.
- Sinto muito - ele diz - de verdade, eu não consegui nem dormir nos últimos dias.
- Com certeza - eu ironizo - aparentemente sua amiga está bem em forma, você pode não ter tido muito fôlego.
- Estou falando sério, Mel, eu estava preocupado - ele diz.
- Estamos bem - respondo com frieza.
- Porque não vem ficar comigo essa noite? - ele pergunta - Pegamos uma pizza, acendemos a lareira...
- Eu não vou - respondo.
- Tudo bem - ele diz - entendo que esteja chateada, mas e se eu for até ai?
- Faça o que achar melhor, James - digo desligando o telefone na cara dele, tal como ele havia feito comigo no domingo.