Alcóol com alcóol

1328 Words
            Quando eu acordei na manhã seguinte, percebi que James ainda estava em casa, mas fora da cama. Encontrei com ele e as crianças na cozinha, fazendo panquecas e ovos mexidos com bacon, o cheiro estava bom. - Bom dia – ele diz e logo aproxima-se beijando os meus lábios – achamos que precisava descansar um pouco mais. - Obrigada – eu respondo. - Tive uma ideia – ele diz – e os pequenos adoraram... - Ah – eu murmuro – qual seria? - Eles vão passar o fim de ano com a vovó e o vovô – James diz – consegui passagens – ele diz – embarcarei com eles hoje no fim do dia, e então, volto apara Chicago depois de amanhã, direto ao trabalho – ele sorri. - Não sei se eu gostei – eu respondo. - Não se preocupe – ele ri – já tenho um plano para nós dois – ele larga os convites de uma famosa festa de Reveillón em Chicago – você me encontra na cidade, reservo um jantar e depois, a noite é nossa – ele beija a minha mão e eu fico atônita, dividida entre o medo e o pavor.              James tratou-me bem o dia todo, o que era estranho, mas era bom... Acho que ele não me tratava bem desde o nascimento de Elle, será que eu precisaria ceder? Será que eu estava sendo uma péssima e m*l agradecida esposa?  - No que está pensando? - James pergunta enquanto fecha a sua mala de viagem.  - Em nada - respondo.  - Aquilo não vai se repetir - ele diz beijando minha testa - é só você ser boazinha.              Não respondi, e nem mesmo trocamos mais nenhuma palavra: James pegou as crianças e foi para a casa de seus pais. Eu podia fugir, eu podia forjar minha própria morte, ou então, poderia acabar com tudo... Caminhei lentamente ate a cozinha, mas fui interrompida pela campainha: - Oi - Jenny e Gregor estavam em minha porta.  - Oi gente - eu cumprimento alegre - como estão vocês?  - Bem - diz Gregor - e você?  - Ah, eu estou bem - respondo - querem entrar?  - Ah, não queremos incomodar - diz Jen - só lembramos que gostava do bolo de frutas, sabe? Mamãe e eu...  - ... e ela resolveu cuidar os pequenos para darmos uma fugidinha - brinca Gregor.  - Então, aproveitem e entrem - eu insisto, ter companhia ia ser bom - vamos beber alguma coisa e aproveitar a paz.  - Eu ia perguntar - Jen diz - e os pequenos?  - Ah, sim - eu respondo - James os levou para a casa dos pais dele, passarão o Ano Novo com os avós.  - Que legal - diz Gregor - e os pombinhos? Já têm planos?  - Sim - eu respondo sorrindo, aquela festa era minha paixão desde a adolescência, mas não pude responder. - ... Reveillón do Country? - Jen diz animada. - Exatamente - eu respondo e Gregor fica vermelho: nos beijamos em um destes - James pegou os convites. - Vai ser ótimo - Jen diz - também vamos.                      Servi um vinho rosé e petiscos - a vantagem de ter pensado em alguns para a véspera, era ter as coisas em casa para as visitas não planejadas - e conversamos por um tempo, até a campainha tocar novamente, abri: era Dom. - Oi Dom - eu digo animada - olha quem está aqui - abro a porta indicando Gregor e Jen.  - Oi gente - ele diz sorrindo - eu vi o carro, pensei que os gêmeos estivessem aqui...  - Não - respondo e já o puxo para dentro - é um momento de adultos, aproveita e fica conosco.  - Certo - ele diz sorrindo.                  Logo somos quatro ao redor da mesa de centro, conversando e bebericando. O celular de Jen toca e ela diz que precisa ir, mas insiste que Gregor fique, afinal, estamos nos divertindo bastante. No fim das contas, decidimos levar Jen para casa e ir até Cavendish - um pub pequeno na saída da cidade, onde normalmente as pessoas iam encher a cara - para valer.   - Tem certeza do que esta fazendo? - Dom perguntou-me em voz baixa enquanto entramos.  - Tenho - eu respondo - eu só sai para me divertir com os meus amigos.                 Por um tempo, foi bem divertido, de verdade. Relembramos um monte de besteiras do tempo da escola e rimos até a barriga doer. Mas o pub aos poucos esvaziou e mudamos o rumo da conversa.  - Mel - Gregor deu um gole em seu copo - acho que nunca pedi desculpas por ter sido um b****a com você.  - Sem problemas - eu digo rindo - você precisaria colocar uma nota no jornal da cidade para se retratar com todas as garotas.  - Verdade - ele disse rindo também - mas eu sempre tive uma coisa que me deixava puto com você.  - Ah é? - eu pergunto - O que eu fazia que te incomodava tanto, Gregor?  - Não - ele ri - não era o que fazia, meu problema era o Dom.  - O Dom? - eu ri alto - O Dom tinha dez anos, Gregor...  - Sim - ele responde - mas você tratava ele diferente...  - Porque era diferente - Dom interrompe.  - Eu tinha ciúmes - ele admite - de um garoto de dez anos...  - Por isso socou minha cara? - Dom riu alto.  - Por isso mesmo - ele bebeu o último gole e bateu o copo na mesa - vou para casa. Foi muito bom estar com vocês.  - Digo o mesmo - abraço Gregor - precisamos repetir.  - Com certeza - Dom também abraça Gregor - vamos marcar.                  Tínhamos ido em meu carro e no de Gregor. Então, eu precisava levar Dom de volta para casa. Chegamos e eu ainda estava pilhada:  - Vamos tomar um Gim com Apperol? - eu pergunto.  - Mel - ele ri - isso é alcool com alcool...  - Não importa - eu respondo - quero ficar bêbada - eu completo - muuuuuito bêbada. - Esquece isso - ele diz.  - Tudo bem então - eu me atiro no sofá da sala - pode ir, fecha a porta, tchau para você.  - Não é assim  - ele tenta consertar - só acho que você não está num bom momento.  - Eu nunca estive em um bom momento - eu ri alto - nunca é um bom momento, DomDel.                  Dom não falou nada. Caminhou até a cozinha e preparou a bebida, trazendo-me em seguida:  - Onde quer chegar com isso? - ele pergunta sentado ao meu lado.  - Coma alcóolico? - eu ri alto.  - Estou falando sério... - ele parecia muito sério.  - Eu não sei - eu respondo - acho que eu só quero esquecer... - Esquecer o que, Mel? - ele segura meu rosto com as mãos.  - Tudo - eu suspiro e as lágrimas escorrem de meus olhos - eu quero esquecer tudo, e quero voltar para anos atrás - eu ri - onde era você e eu, um Gim roubado daqui e um Apperol de lá - indico a casa dele - e nosso primeiro porre.  - Eu tinha onze anos - ele diz - meu pai ficou furioso.  - Minha mãe me deu um sermão de três dias - eu ri alto - mas cá estamos nós...  - O que queria fazer na noite em que bebemos aquele Gim com Apperol, Mel? - ele pergunta.  - Eu queria - eu dou outro gole e fecho os meus olhos - eu queria beijar o garoto que estava bebendo comigo, pelo menos uma vez...              Não falamos mais nada. apenas ficamos sentados lado a lado no sofá da sala, tal como havíamos ficado, anos antes, na noite do nosso primeiro porre: nenhum de nós dois sabia exatamente o que fazer, e naquele momento, acho que não sabíamos novamente. 
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