Quando eu acordei na manhã seguinte, percebi que James ainda estava em casa, mas fora da cama. Encontrei com ele e as crianças na cozinha, fazendo panquecas e ovos mexidos com bacon, o cheiro estava bom.
- Bom dia – ele diz e logo aproxima-se beijando os meus lábios – achamos que precisava descansar um pouco mais.
- Obrigada – eu respondo.
- Tive uma ideia – ele diz – e os pequenos adoraram...
- Ah – eu murmuro – qual seria?
- Eles vão passar o fim de ano com a vovó e o vovô – James diz – consegui passagens – ele diz – embarcarei com eles hoje no fim do dia, e então, volto apara Chicago depois de amanhã, direto ao trabalho – ele sorri.
- Não sei se eu gostei – eu respondo.
- Não se preocupe – ele ri – já tenho um plano para nós dois – ele larga os convites de uma famosa festa de Reveillón em Chicago – você me encontra na cidade, reservo um jantar e depois, a noite é nossa – ele beija a minha mão e eu fico atônita, dividida entre o medo e o pavor.
James tratou-me bem o dia todo, o que era estranho, mas era bom... Acho que ele não me tratava bem desde o nascimento de Elle, será que eu precisaria ceder? Será que eu estava sendo uma péssima e m*l agradecida esposa?
- No que está pensando? - James pergunta enquanto fecha a sua mala de viagem.
- Em nada - respondo.
- Aquilo não vai se repetir - ele diz beijando minha testa - é só você ser boazinha.
Não respondi, e nem mesmo trocamos mais nenhuma palavra: James pegou as crianças e foi para a casa de seus pais. Eu podia fugir, eu podia forjar minha própria morte, ou então, poderia acabar com tudo... Caminhei lentamente ate a cozinha, mas fui interrompida pela campainha:
- Oi - Jenny e Gregor estavam em minha porta.
- Oi gente - eu cumprimento alegre - como estão vocês?
- Bem - diz Gregor - e você?
- Ah, eu estou bem - respondo - querem entrar?
- Ah, não queremos incomodar - diz Jen - só lembramos que gostava do bolo de frutas, sabe? Mamãe e eu...
- ... e ela resolveu cuidar os pequenos para darmos uma fugidinha - brinca Gregor.
- Então, aproveitem e entrem - eu insisto, ter companhia ia ser bom - vamos beber alguma coisa e aproveitar a paz.
- Eu ia perguntar - Jen diz - e os pequenos?
- Ah, sim - eu respondo - James os levou para a casa dos pais dele, passarão o Ano Novo com os avós.
- Que legal - diz Gregor - e os pombinhos? Já têm planos?
- Sim - eu respondo sorrindo, aquela festa era minha paixão desde a adolescência, mas não pude responder.
- ... Reveillón do Country? - Jen diz animada.
- Exatamente - eu respondo e Gregor fica vermelho: nos beijamos em um destes - James pegou os convites.
- Vai ser ótimo - Jen diz - também vamos.
Servi um vinho rosé e petiscos - a vantagem de ter pensado em alguns para a véspera, era ter as coisas em casa para as visitas não planejadas - e conversamos por um tempo, até a campainha tocar novamente, abri: era Dom.
- Oi Dom - eu digo animada - olha quem está aqui - abro a porta indicando Gregor e Jen.
- Oi gente - ele diz sorrindo - eu vi o carro, pensei que os gêmeos estivessem aqui...
- Não - respondo e já o puxo para dentro - é um momento de adultos, aproveita e fica conosco.
- Certo - ele diz sorrindo.
Logo somos quatro ao redor da mesa de centro, conversando e bebericando. O celular de Jen toca e ela diz que precisa ir, mas insiste que Gregor fique, afinal, estamos nos divertindo bastante. No fim das contas, decidimos levar Jen para casa e ir até Cavendish - um pub pequeno na saída da cidade, onde normalmente as pessoas iam encher a cara - para valer.
- Tem certeza do que esta fazendo? - Dom perguntou-me em voz baixa enquanto entramos.
- Tenho - eu respondo - eu só sai para me divertir com os meus amigos.
Por um tempo, foi bem divertido, de verdade. Relembramos um monte de besteiras do tempo da escola e rimos até a barriga doer. Mas o pub aos poucos esvaziou e mudamos o rumo da conversa.
- Mel - Gregor deu um gole em seu copo - acho que nunca pedi desculpas por ter sido um b****a com você.
- Sem problemas - eu digo rindo - você precisaria colocar uma nota no jornal da cidade para se retratar com todas as garotas.
- Verdade - ele disse rindo também - mas eu sempre tive uma coisa que me deixava puto com você.
- Ah é? - eu pergunto - O que eu fazia que te incomodava tanto, Gregor?
- Não - ele ri - não era o que fazia, meu problema era o Dom.
- O Dom? - eu ri alto - O Dom tinha dez anos, Gregor...
- Sim - ele responde - mas você tratava ele diferente...
- Porque era diferente - Dom interrompe.
- Eu tinha ciúmes - ele admite - de um garoto de dez anos...
- Por isso socou minha cara? - Dom riu alto.
- Por isso mesmo - ele bebeu o último gole e bateu o copo na mesa - vou para casa. Foi muito bom estar com vocês.
- Digo o mesmo - abraço Gregor - precisamos repetir.
- Com certeza - Dom também abraça Gregor - vamos marcar.
Tínhamos ido em meu carro e no de Gregor. Então, eu precisava levar Dom de volta para casa. Chegamos e eu ainda estava pilhada:
- Vamos tomar um Gim com Apperol? - eu pergunto.
- Mel - ele ri - isso é alcool com alcool...
- Não importa - eu respondo - quero ficar bêbada - eu completo - muuuuuito bêbada.
- Esquece isso - ele diz.
- Tudo bem então - eu me atiro no sofá da sala - pode ir, fecha a porta, tchau para você.
- Não é assim - ele tenta consertar - só acho que você não está num bom momento.
- Eu nunca estive em um bom momento - eu ri alto - nunca é um bom momento, DomDel.
Dom não falou nada. Caminhou até a cozinha e preparou a bebida, trazendo-me em seguida:
- Onde quer chegar com isso? - ele pergunta sentado ao meu lado.
- Coma alcóolico? - eu ri alto.
- Estou falando sério... - ele parecia muito sério.
- Eu não sei - eu respondo - acho que eu só quero esquecer...
- Esquecer o que, Mel? - ele segura meu rosto com as mãos.
- Tudo - eu suspiro e as lágrimas escorrem de meus olhos - eu quero esquecer tudo, e quero voltar para anos atrás - eu ri - onde era você e eu, um Gim roubado daqui e um Apperol de lá - indico a casa dele - e nosso primeiro porre.
- Eu tinha onze anos - ele diz - meu pai ficou furioso.
- Minha mãe me deu um sermão de três dias - eu ri alto - mas cá estamos nós...
- O que queria fazer na noite em que bebemos aquele Gim com Apperol, Mel? - ele pergunta.
- Eu queria - eu dou outro gole e fecho os meus olhos - eu queria beijar o garoto que estava bebendo comigo, pelo menos uma vez...
Não falamos mais nada. apenas ficamos sentados lado a lado no sofá da sala, tal como havíamos ficado, anos antes, na noite do nosso primeiro porre: nenhum de nós dois sabia exatamente o que fazer, e naquele momento, acho que não sabíamos novamente.