Prometi a mim mesma - e fiz isso antes mesmo de sair da cama - que eu não procuraria por chifres na cabeça dos cavalos, como meu pai dizia, e que não me preocuparia com as atitudes de James, ele estava sob pressão. No fim das contas, eu estava apenas justificando mais uma coisa que ele fazia e nem mesmo percebia.
Tirei as crianças da cama cedo e tratei de preparar um café da manhã rápido, e enquanto eu fazia isso, os pequenos assistiam televisão na sala e Benjamin encarava-me sério:
- O que foi? - pergunto encarando o meu menino mais velho.
- Você vai fingir que está tudo bem? - ele pergunta, fazendo meu estômago revirar.
- Do que estamos falando? - pergunto novamente.
- O que o papai está aprontando? - ele pergunta - Ele tem outra mulher?
- De onde você tirou essa ideia? - eu digo rindo, afim de fazer ele esquecer o assunto.
Elle interrompe nossa conversa, invadindo a cozinha e gritando alguma coisa sobre bolinhos de nozes e cerejas frescas, que Ben disse que ela havia visto em um programa de culinária. Prometi que faríamos os bolinhos e deleguei à Benjamin a tarefa de encontrar a receita e a extensa e complexa lista de ingredientes, eu sabia que daria trabalho, e eu nem mesmo era uma boa cozinheira, mas seria legal tentarmos alguma coisa juntos, apenas para variar.
Saímos logo após o café da manhã, deixando a nada pontual equipe de limpeza começar o seu trabalho e fizemos alguns passeios nostálgicos, quer dizer, o centrinho de Napperville ainda tinha as mesmas lojas e restaurantes e então, eu estava com os meus filhos, entrando e saindo de muitos lugares que eu havia frequentado por longos anos da minha vida, estava fazendo com eles coisas que eu costumava fazer com os meus pais: um passeio longo e demorado, sem hora para voltar, onde comprávamos as roupas e os materiais para a escola, onde escolhíamos novos livros de histórias e um ou outro brinquedo e no fim, tomávamos sorvete ou comíamos um lanche.
- Gostei de Napperville - diz Ben deciido enquanto eu pagava a conta na loja de livros, pequena e desorganizada desde quando eu conseguia me lembrar.
- É um bom lugar para viver - eu digo com propriedade.
Aquilo para mim bastava: se eu tivesse conseguido encontrar um lugar onde os meus filhos sentiam-se bem, o resto era coisa pequena e eu logo daria um jeito, eu sabia disso. E com esse pensamento, eu acabei pulando de loja em loja, fazendo todas as compraz necessárias para a volta às aulas de todos. Já na metade da tarde, meu celular tocou, eu sabia que era James e tal como eu havia desconfiado quando vi seu nome na tela, assim que eu atendi ele pediu mil desculpas e disse que sairia tarde do escritório, e não poderia voltar para casa. Respondi que tudo bem, agradeci por ter avisado e tudo mais, sem nenhuma grande comoção, quer dizer, ainda tinha uma parte de mim assustada demais para que pudesse dizer que não estava um pouco aliviada por não precisar ver ele.
Quando chegamos em casa, a equipe de limpeza tinha encerrado o seu trabalho, e por mais que eu me sentisse a pior mãe do mundo por não ter cozinhado naquele dia, eu pedi delivery para o jantar: eu acreditava que eu precisava de um tempo de "contemplação" daquilo que se tornaria a minha vida, e quando enfim consegui colocar todos para dormir em seus respectivos quartos, uma taça de vinho rosé e o silêncio de minha casa, era tudo o que eu precisava, mas mais uma vez, ouvi o ronco da moto e não consegui não correr para ver Dom:
- Ei - gritei da varanda assim que ele saiu da casa de sua mãe.
- Mel - ele sorriu e acenou e por um minuto, eu acreditei que ele fosse ir embora e deixar-me parada como uma i****a naquela varanda, mas ele suspirou e saltou por sobre a cerca, aproximando-se de mim em seguida - tudo certo?
- Sim - respondo, lembrei dos vizinhos - quer entrar?
- Tem certeza? - ele ri.
- Melhor não - eu reconheço derrotada - li a sua carta - suspiro - quase todas, na verdade, mas na última...
- Acho que não é o momento adequado - ele sorri: era incrível como o sorriso daquele cara não mudara nada, ainda era como um menino, envergonhado, que fechava os olhos em seu sorriso - de verdade, Mel.
- Tudo bem - eu respondo - acho que tem razão.
- Normalmente eu tenho - ele diz convencido, me fazendo rir - mas acho que tenho uma ideia.
- Ah, é? - eu pergunto.
- Sim - ele responde - as aulas dos pequenos começam semana que vem e nós podemos nos encontrar em uma tarde dessas e tomar um café, o que acha? - ele fala com o olhar fixo no meu, uma das coisas que eu sempre amei em Dom.
- Acho que... - eu suspiro - não parece boa ideia, já estão falando...
- Você e eu - ele se aproxima um pouco - vamos até a cidade, e ai saímos juntos de algum lugar, para outro lugar - ele falava com propriedade, como se aquele plano tivesse em sua mente há muito tempo.
- Vou pensar a respeito - eu digo tentando manter a postura - ainda me parece uma ideia não muito boa...
- Não vai se arrepender - ele pega minha mão e a beija, e logo sai andando de costas, com as mãos nos bolsos e sorrindo - a gente se vê por ai...
Voltei para dentro de casa e não consegui esboçar nenhuma reação: apenas sentei no sofá macio e confortável que havia em frente à janela e contemplei o quintal: eu precisava começar a limpar o quintal... Suspirei: era tudo comigo, e eu sabia, sempre fora assim, esperar que James tomasse as rédeas e assumisse alguma parte, por menor que fosse, das tarefas que envolvessem as crianças e a casa, era quase uma utopia, e no fundo, bem lá no fundo, eu sempre soubera daquilo.
Tratei de ir cedo para cama, mesmo sabendo que levaria horas para dormir: com tudo o que estava acontecendo e mais a conversa, e principalmente, a proposta de Dominic, por mais que eu tentasse, a voz dele repetia em minha cabeça sem parar "não vai se arrepender" e eu sonhei toda a noite com Dom e com todos os desfechos possíveis para aquele encontro proibido e audacioso que ele havia me proposto...