Encontro marcado

1024 Words
O meu primeiro dia de trabalho foi, sem sombra de dúvidas, interessante: conheci a equipe toda, até mesmo os professores e alunos – porque fui levada de porta em porta, em todas as salas de aula e apresentada à todos como “Mel, do financeiro”. Posso dizer que eu nunca fui tão bem recebida em meus empregos anteriores, inclusive recebi alguns desenhos de alunos pequenos, que me desenharam sorridente ao lado de pilhas de dólares e computadores. Eles tinham uma imaginação incrível e o trabalho burocrático até parecia ser muito mais divertido do que realmente ele era. Samuel e David ofereceram, como parte do meu pano de benefícios, bolsas de estudos para as crianças, e eu aceitei, porém, disse que eles somente mudariam de escola depois do fim daquele período letivo, afim de não prejudicar o aprendizado e nem mesmo o rendimento – mas na verdade, eu queria saber se me adaptaria e ficaria antes de colocar os meus filhos em uma escola diferente. - Mel – ouvi Dom chamar perto da porta do estacionamento. - Dom – respondo animada. - Tudo certo com você? – ele pergunta descontraído. - Sim – respondo – tudo certo sim. - Que bom – ele sorri e enfia a mão na mochila tirando uma pequena caixa de dentro dela e me entregando – espero que tenha tido um bom primeiro dia – ele sorri sem jeito – trouxe isso pra você. - Obrigada – eu respondo e logo abro a caixa, encontrando dentro dela, uma outra caixa, acrílica, com bombons de chocolate e avelã dentro e uma carta. - Leia em casa – ele riu – eu ficaria constrangido. - Tudo bem – eu respondo – e obrigada, mas acho que vou ter que dividir os chocolates com você... - Ah, com certeza – ele riu – espero que não tenha se esquecido disso. - Nunca esquecerei. Antigamente, quando um de nós ganhava algum doce, sempre dividia igualmente com o outro. Tínhamos um pequeno estoque também, na casa da árvore que havia em frente à casa dele, dentro de uma lata de biscoitos enferrujada e velha. Nos despedimos rapidamente, assim que eu percebi que precisava buscar as crianças na escola. Ele ficou de telefonar no fim do dia, o que parecia que iria deixar o meu dia mais feliz. - Mãe – disse Ben assim que encontrou-me na frente de sua escola – está tudo bem mesmo? - Sim – respondo – está tudo bem e vai ficar melhor ainda. - Certo – ele suspira e me abraça – eu quero que esteja bem e feliz. - Sim, bebê – eu o abraço – e eu vou estar. Voltei para casa, cumpri a missão banho nas crianças e os deixei brincando na sala, sob a supervisão de Ben, enquanto tomei meu próprio banho. Encontrei a caixinha de chocolates dentro de minha bolsa, e resolvi ler a carta que Dom havia escrito: "Querida Mel, Espero, de coração, que tenha tido um excelente primeiro dia de trabalho, o ambiente é bem legal e tenho certeza de que você vai se adaptar e se sair muito, muito bem. Estou orgulhoso de sua retomada, sei que vai ser complicado no começo, conciliar todas as coisas, mas você vai tirar de letra. Sonhei com você essa noite - eu sei, é estranho, mas sonhei... E diferente de todas as outras tantas vezes em que isso aconteceu, eu acordei com a esperança de que meu sonho se realizaria em breve e eu vou fazer a minha parte, espero que aceite fazer a sua: te encontro amanhã, nove e meia, no lugar de sempre, e eu vou te levar para a cabana e vou cozinhar para nós. Desejo muito, muito sucesso na sua nova carreira, e não vou negar, estou muito feliz de poder te ver todos os dias" Desci para preparar o jantar. DomDel sabia mesmo como me deixar curiosa. Preparei o jantar e Ellie ajudou-me com a louça para que Ben pudesse terminar a lição de casa. Coloquei todos na cama e segui para o meu quarto, onde peguei meu telefone e liguei para Dom: - Ainda acordada? - ele pergunta assim que atende. - Não - dou risada - liguei dormido. - Certo - ele ri - foi uma pergunta bem i****a. - Sim, foi sim - digo com sinceridade - e ai? Como foi o fim do seu dia? - Normal - ele responde - voltei do trabalho e vim corrigir provas e trabalhos, aqueci sobras da ceia de ano novo... - Bom jantar - digo. - Sim, muito bom - ele diz rindo - e o almoço? Está de pé? - Não sei - digo sem jeito - não sei se você não está colocando expectativas demais - digo. - Não - ele ri - não estou não... Só tenho certeza de que o que eu sonhei, não está somente em minha mente. - E onde mais estaria, Dom?- pergunto. - Na sua - ele diz sem rodeios - tenho certeza de que já pensou nisso também. - Minha mente tem muitas coisas - digo rindo. - Então, com certeza, já pensou nisso também - ele diz rindo - mas sem problemas, mesmo que não realize meu sonho, quero que aceite o meu convite... Quero que esteja comigo amanhã. - Tudo bem - eu respondo - encontro marcado. - Nove e meia - ele diz - lugar de sempre. - Certo, encontro você. Desligo o telefone e visto o meu pijama, Tantas coisas passam sobre a minha mente quando penso sobre DomDel que eu nem mesmo conseguiria arriscar o que exatamente ele poderia ter sonhado ou fantasiado nos últimos tempos. Era estranho e causava expectativa, ansiedade, frio na barriga. Isso era um dos dons que ele tinha, o de me deixar ansiosa, confusa e sem ação... E ele conseguia fazer isso até mesmo pelo telefone. Dormi e sonhei com ele, sonhei com a cabana, com antigamente e o tempo que costumávamos passar juntos quando éramos mais novos. Era difícil distinguir o que era sonho do que era lembrança, e eu acabei acordando agitada e um pouco atrasada.
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