Encontro bem planejado

1314 Words
        A semana parecia m*l ter começado quando eu percebi que já estávamos na quinta feira. Acordei naquela manhã com uma estranha sensação de que algo r**m aconteceria, e eu detestava sentir aquelas coisas, pois lembrava-me bem de ter sentido algo parecido no dia em que havia perdido o meu pai.         James havia telefonado na noite anterior, dizendo que jantaria em casa e que poderíamos assistir ao jogo de football – o que decepcionou um pouco o nosso Ben, que esperava que o pai o levasse ao campo, mas te toda forma, ele ficou feliz de termos um tempo juntos: o jogo era tarde e os menores já estariam na cama, então seria ele, o menino grande, com o papai e a mamãe e aquilo parecia o acontecimento do ano para ele.          Assim que eu os deixei na escola, acabei por lembrar-me da proposta de Dom, e ri sozinha, ao perceber que eu não tinha um número de telefone dele, nem nada do tipo, para que pudéssemos combinar alguma coisa, então, provavelmente, ele havia dito aquilo no intuito de livrar-se de minha companhia naquela noite. Quando cheguei em casa, deparei-me com um envelope debaixo da porta, e assim que eu o abri, percebi a caligrafia de Dom “Centro Comercial Olsens, estacionamento, nível 04, pega um casaco, eu te espero às 11:00”   eu ri alto com o papel em mãos: aquele centro comercial era quase em Chicago, eu sabia qual era a intenção dele, despistar os curiosos, e achei graça de sua dedicação, e então, percebi que eram quase dez horas e que eu precisava me arrumar se eu pretendia comparecer ao encontro bem planejado de Dom.         Quando dei por mim eu estava apressada, tomando banho e me arrumando para encontrar com Dom em um estacionamento. Aquilo parecia tipo de coisa que uma mulher casada faria? Não. Parecia o tipo de coisa que eu faria? Não... E eu nem mesmo tentei justificar para mim o meu erro: eu simplesmente me coloquei naquele lugar onde eu estava, de uma forma ou de outra, eu tinha consciência de que aquilo aconteceria.         Escolhi um jeans ajustado, coturnos e uma blusa básica em tom grafite, peguei a jaqueta de couro preta, tinha noção de que sairíamos naquela moto, por isso o alerta do bilhete... Bilhete... Eu deveria queima-lo? E se por alguma razão, James o encontrasse? Resolveria isso depois, o bilhete e as cartas. Dirigi em alta velocidade e sim, cheguei alguns minutos atrasada. - Oi – ele disse assim que se aproximou do meu carro. - Oi Dom – eu respondo sorrindo. - Eu estava começando a pensar que não viria – ele brincou. - Eu acho que eu nem mesmo me perguntei se eu deveria vir... – era verdade. - Vamos? – ele me entrega o capacete. - Vamos – eu o coloco e logo estou em cima da moto.                 Dom não disse nada, apenas acelerou, pilotando em alta velocidade com maestria, como se conhecesse aquelas ruas e avenidas como a palma de suas mãos. Ele tomou um caminho que eu sabia onde chegaria: acampamento do Tedy e, portanto, sua casa nova. Chegamos à estrada que eu conhecia e depois, a que eu não conhecia e ele parou em frente aos portões de madeira envernizados: - Chegamos – ele riu – pode parecer estranho, mas meu café é bom e não tem fofoqueiros de plantão. - Tudo bem – eu não me importava onde estávamos, eu estava com Dom, então, estava bem.                 Assim que entramos pelo portão envernizado, avistei uma casa no meio das árvores: madeira, pedras e vidro e sim, se eu encontrasse aquele lugar por acaso, eu juraria que Dom morava ali, porque aquilo era a casa dele. Entramos por uma porta de madeira e chegamos a um ambiente amplo com uma lareira e imensas janelas de vidro. Eu podia ver uma cozinha pequena em um lado, um banheiro e uma escada dava acesso a um mezanino, que levava à duas suítes no andar superior. Fim. - Minha humilde residência – ele disse assim que consegui passar meus olhos por tudo – comecei isso aos dezesseis – ele disse. - Tá brincando? – eu pergunto incrédula. - Não – ele responde – lembra que o Tedy, do acampamento, era primo da minha mãe? - Sim – eu lembrava vagamente de haver um motivo para não pagar pelo acampamento de verão. - Então – ele sorri – isso aqui fazia parte da propriedade... Aí quando eu fiz dezesseis, comecei a fazer monitoria no acampamento, em todos os verões, o Tedy sempre me pagava, pouco, mas pagava, e dizia que eu ainda seria mais bem recompensado – ele riu – ai quando fiz vinte e um, cinco anos de trabalho, ele me entregou a escritura dessa parte e disse que dali em diante, eu receberia o salário integral. - Nossa – eu sorri – que coisa incrível. - Demais – ele diz empolgado – acho que tem um dedo da mãe nisso, ela sabia o quanto eu amava o mato e tudo mais, e o Tedy sempre foi bem chegado à eles. - Pode ser – concordo – mas de toda forma foi um investimento interessante. - Com certeza – ele revira os olhos – claro, eu sou oficialmente os olhos de Tedy durante o verão, quando ele está fora, acho que isso faz parte do combo. - Compreendo, mas ainda assim... – eu penso em um bom argumento. - Ainda assim é incrível. Meu pai detesta – ele ri – mas você sabe como ele é, acho que ele nunca vai gostar de nada, eu poderia ser o Presidente e ainda assim, seria r**m. - Vocês ainda brigam muito? – pergunto, mas uma parte de mim, sabe a resposta. - Tanto quanto antigamente – ele suspira – acho que tem uma única pessoa no mundo que o meu pai não afastou e trata bem, e é a minha mãe, o resto... - Ele sempre foi difícil – eu digo. - Tenho medo de ficar assim como ele – Dom suspira e logo está mexendo com as coisas para preparar um café.                 Conversamos tomando um delicioso café, e eu sinceramente, perdi a noção do tempo. Poderia ser meio dia ou três da tarde, eu não sabia... Quando percebi isso, tratei de descobrir e assustei-me ao ver 14:35 no relógio: - Dom – eu disse rindo – preciso ir. - Não – ele pega minha mão e a beija – pensei em cozinhar... - Quase três da tarde, as crianças... – eu queria ficar, estava escrito na minha testa. - Tudo bem – ele suspira – eu te levo, mas saiba que me deve um almoço, quer dizer, devo um almoço para você... Nem percebi o tempo passando. - Nem eu – eu respondo rindo – mas infelizmente, não posso ficar mais.                 Dom e eu saímos da propriedade e logo estávamos no mesmo estacionamento onde havíamos nos encontrado. Uma adrenalina estranha percorria meu corpo, a sensação de estar fazendo uma coisa errada, por mais que me fizesse bem... Me despedi dele rapidamente e tratei de voltar à NapperVille: precisava fazer compras e buscar as crianças, ainda tinha um jantar com meu marido.                 Corri como uma louca dentro do supermercado e depois, para pegar minha turminha na escola e seguir para casa, focada na missão jantar especial. James chegou e eu tinha conseguido fazer bastante coisa: almôndegas e molho prontos, precisava ralar o queijo e cozinhar o espaguete. Ele deu uns minutos de atenção aos pequenos e logo estava com o ralador em mãos, trabalhando no queijo e ajudando-me no jantar. Tenho certeza que qualquer pessoa que nos visse juntos naquela noite, teria certeza de que somos a típica família feliz, daquelas dos comerciais de televisão, eu só não consigo me lembrar quando foi que eu desisti de todo o resto apenas por um ou dois momentos assim... 
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