Visitantes indesejados

920 Words
         Quando acordei – bem mais tarde do que o planejado – percebi o carro de James em casa. Eram nove e meia, ele provavelmente tinha levado as crianças para a escola. Sai da cama e fui até o banheiro: como eu desconfiava, havia um hematoma em meu rosto. Chorei novamente, de raiva e pela humilhação... Como as coisas tinham chegado à aquele ponto?          Vesti meu robe e desci as escadas, encontrando James na cozinha, aparentemente ele não iria trabalhar: - Ai está você – ele diz e sorri – conseguiu descansar? - Não fala comigo – eu respondo seca – nunca mais ouse falar comigo. - Mel – ele levanta-se do banco a caminha em minha direção – eu pedi perdão, meu amor, eu sinto muito, eu fiquei nervoso – ele diz – você me deixou nervoso. - Eu não vou admitir ser culpada pela m***a que você fez – eu grito – sai da minha casa. - Eu não vou sair – ele diz sério – pode gritar o quanto quiser.          Me servi de uma caneca de café e fui para o meu quarto. Passei mais de uma semana com um hematoma no rosto. James ficava mais tempo em casa, acho que na tentativa de evitar que eu saísse e contasse às pessoas sobre o que estava acontecendo. Eu apenas ignorava, o máximo que eu podia, a presença do meu marido em casa. Com o passar dos dias, a minha intensa raiva foi diminuindo e no fim de duas três semanas, eu apenas estava aceitando o fato de que precisaria conviver com ele. Três semanas sem ver Dom. Três semanas sem sair de dentro de casa. No fim da tarde de um ensolarado e alaranjado sábado, o meu telefone toca: era Donna, minha sogra. - Alô? – eu digo confusa. - Oi querida – ela diz assim que ouve minha voz – está tudo bem ai? - Sim – eu respondo, não sei o que James disse à ela – está tudo bem sim e vocês? Estão bem? - Ah, estamos sim – ela diz contente – e os pequenos? - Na escola – respondo – James os levou mais cedo... - Ah, claro – ela diz em uma risadinha – ele está em casa, nos ligou há pouco tempo... Conversei com o Roger e sim, nós aceitamos – ela diz sem cerimônia. - Ah, certo – eu digo confusa, nem mesmo faço ideia do que aceitaram – vai ser bom. - Claro – ela diz – um Feriado de Ação de Graças juntos, e na linda casa de vocês... Tom e Anne também vão poder ir, James vai ficar feliz – ela diz – não consegui retornar no telefone dele, mas achei que serviria responder à você. - Sim – eu digo atônita – é claro que sim.          Minha sogra é uma pessoa boa – e digo isso com propriedade. Ela tem um bom coração, nunca a vi falando m*l de ninguém, nunca a vida fazendo fofocas ou intrigas, ela apenas é o que é, uma senhorinha muito da intrometida às vezes, mas com um coração de ouro, sempre tentado ajudar à todos em sua volta.                 O problema todo estava em “um Feriado de Ação de Graças”, “juntos” e “na linda casa de vocês” serem ditos pela mesma pessoa em uma frase única e sem que ela nem mesmo tivesse feito algum tipo de convite. - James – eu grito descendo as escadas com o telefone na mão – que m***a está fazendo? - Bem – ele sorri – havíamos combinado que convidaríamos meus pais para os feriados depois que mudássemos para Napperville – ele diz irônico. - Porque está fazendo isso? – eu pergunto já chorando. - Porque estamos em um momento r**m, e nos momentos ruins, precisamos estar perto da família – ele aproxima-se de mim e me abraça – vai ficar tudo bem.                 Cansada demais para discutir ou questionar, apenas afastei-me dele e comecei a preparar a lista de compras para o feriado, que seria em duas semanas. Eu sabia que encontrar os ingredientes perfeitos em Napper podia ser difícil se um bom planejamento não fosse feito, apenas deixei mais um acontecimento envolver-me a ponto de esquecer o motivo pelo qual eu estava tão furiosa.                 As semanas seguintes foram de preparativos diversos, entre limpeza, decoração, compra de itens necessários para a acomodação dos nossos hóspedes durante o feriado: eu sabia bem receber as pessoas e normalmente fazia isso de bom grado e com o coração aberto, mas daquela vez, os meus visitantes pareciam ser bem indesejados, então eu não estava satisfeita com nada em relação à sua estadia em minha casa e quando eles finalmente chegaram, eu tinha uma imensa vontade de sair fugindo pela porta dos fundos, aparentemente, eu não teria estômago para aguentar eles durante todo o feriado.                 Como já mencionei, minha sogra era uma boa pessoa, o difícil era aguentar o meu cunhado e a esposa dela, mas, no fim das contas, entre perus e vegetais salteados, vinho e tortas de abóbora, acredito que eu tenha f**o um bom trabalho, ao menos eu estava consciente de que havia feito o meu melhor, afinal, nem mesmo os meus visitantes indesejados tinham culpa do que estava acontecendo comigo, então, eu os tratei bem e fiz o que pude para termos um bom feriado, ao menos as crianças teriam uma boa lembrança de um feriado em família, aquele era o tipo de coisa que confortava o meu coração. 
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