Sr. King

1506 Words
Maya Depois do meu pequeno acompanhante indesejado no jardim, corri para dentro do restaurante e me sentei novamente na mesa onde meu marido tinha me deixado. Aquela experiencia foi um tanto bizarra, não entendo como é que alguém se aproxima daquela maneira tão intima de alguém que nem mesmo conhece. O mundo está cheio de pessoas malucas mesmo, mas eu não conseguia deixar de pensar no que tinha acontecido. Caio demorou mais do que eu imaginava para voltar, e quando apareceu, estava muito estranho, diferente. Ele parecia envergonhado, seu olhar passou a fugir do meu, mas o que mais me chamou atenção, foi o homem ao seu lado. Meu marido não era baixo, era bem mais alto que eu, e mesmo assim, o homem ao lado dele era mais de uma cabeça maior. Tinha tatuagens espalhadas pelos braços e pescoço, até mesmo no rosto havia uma pequena, uma cruz abaixo do olho direito. A camisa dele não conseguia esconder seu corpo definido. Tentei voltar a minha atenção a Caio, mas era impossível, o homem tinha um magnetismo surpreendente, algo que me mantinha presa a ele. E me encarava com uma intensidade tão grande, que fez meu coração errar algumas batidas. – Essa linda mulher é a minha esposa, Maya, o meu maior tesouro. – Caio anunciou chegando próximo a mim. – Querida este é Damon King, agora meu mais novo sócio. – Nos apresentou com um sorriso. Damon se aproximou de mim pegando minha mão direita levando-a aos lábios. – É um prazer conhecê-la Maya. – Era ele, assim que sua voz chegou aos meus ouvidos eu soube que era o homem que tinha se aproximado de mim no jardim. Ele pronunciou meu nome de uma maneira tão sensual, que eu poderia jurar que era assim que ele falava com uma mulher quando estava na cama. – Seu marido está correto ao afirmar que é uma linda mulher, sua beleza é realmente de tirar o fôlego. ­Recobrei os meus sentidos e o respondi de maneira formal. – O prazer é meu Sr. King. – Tentei soar o mais distante que pude, não queria que ele percebesse que me deixou sem graça. Eu jamais daria a um completo desconhecido o gostinho de saber que mexeu comigo, amo meu marido e não é essa parede de músculos que irá mudar nada. – Espero que tudo tenha corrido bem em relação aos negócios de vocês. – Sorri puxando minha mão de volta. Assim que eu o respondi, seus olhos ganharam um brilho estranho, algo que me lembrou um predador quando olha para sua presa, e ele sorriu de canto de um jeito que o deixou com uma aparência sedutora e seu olhar lambeu meu corpo de baixo para cima. Um desavergonhado... Meu marido parecia completamente alheio aos olhares daquele homem, estava meio perdido em outro mundo e isso estava me irritando. – Querido? Você está bem? parece um pouco distraído. – Questionei enquanto ele olhava para algo além de mim, me virei para ver se via algo, mas não era nada. – Hum? Eu estou bem, apenas pensando em como as coisas vão caminhar maravilhosamente a partir de agora. – Ele está com a pupilas dilatadas... eu não acredito! – Aposto que deve estar com fome, vou pedir que nos sirvam um ótimo prato, a especialidade da casa. – Por mais que eu tentasse ignorar a presença dele, o homem não desviava os olhos de mim nem mesmo por um segundo. Aquilo estava ridiculamente desagradável e ele nem respeitava o fato de que meu marido estava presente. Ele não se envergonha de estar se comportando dessa maneira com uma mulher casada? – Na verdade Sr. King, eu planejei passar o resto desta noite agradável com meu marido! Temos tão pouco tempo, hoje seria o dia dele de folga e gostaria de passar essa noite apenas com ele. Não é mesmo querido? – Olhei mais uma vez para meu marido, que novamente parecia completamente imerso em seu próprio mundo. – Ou talvez seja melhor que eu o leve até o hospital, ele não parece estar bem. – Disse engrossando um pouco a voz. – Eu lhe garanto que ele só precisa comer um pouco. – Ele bateu nos ombros de Caio, que instantaneamente parece ter acordado mais uma vez. – Vamos jantar então. – Isso, vamos. Estou com fome. – Caio respondeu como se nem mesmo tivesse escutado tudo o que eu tinha dito. Eu com toda a certeza irei matá-lo, espera só chegarmos em casa, está visivelmente alterado e não me parece bebida. O meu jantar foi completamente desconfortável, meu marido agindo de maneira muito estranha, e aquele homem descarado me olhando como se eu estivesse dançando nua em sua frente. – O que a senhorita faz? – Quanta audácia! Senhorita? – É Senhora, sou casada Sr. King. – Ele fez uma leve careta, como se o que eu falei o desagradasse, e eu estou preocupada com isso? nem um pouco! – Sou formada em gerenciamento de empresas, alguns dos projetos de Caio são em conjunto comigo, mas eu fico a maior parte do tempo em casa e apenas ele vai para a empresa. Caio deu uma risadinha. – E ela passa muito tempo no orfanato. – O fulminei com o olhar, mas ele nem percebeu, está aéreo. – Pode me explicar o que faz em um orfanato? – Olhei para meu marido, que agora estava concentrado em seu prato, como se o mundo a seu redor tivesse desaparecido. Ele está drogado, isso notei desde que ele me apresentou, mas o que quero saber é, o que diabos deram a ele? – Eu cuido de dos bebês, leio historias para as crianças, ajudo na cozinha, arrecado doações com os meus vizinhos... o que for necessário para o bem-estar dos pequenos. – Um trabalho bastante delicado imagino, não deve ser fácil ver crianças precisando de algo, a falta de carinho e abandono... deve ser algo bastante atormentador. – Ele nem imagina o quanto, não faz ideia das tantas noites em claro. Eu tomo tantos remédios para dormir que já até perdi as contas de quantas vezes tive que trocar por não fazerem mais efeito. – É realmente difícil, mas eu faço o meu melhor para conseguir que nenhum deles sinta falta de nada, principalmente amor e carinho. – A pior parte de tudo isso era ver o apego das crianças maiores comigo, tantos deles já me pediram que os adotasse, até quem trabalhava ali me pedia que eu tentasse me manter mais distante para que eles não sofressem se tivessem que partir, mas como eu recusaria carinho? Não posso. – Querida, que horas são? – Meu marido parecia aos poucos estar recobrando os sentidos. Eu estava furiosa com ele. – Creio que já esteja na hora de irmos Caio, já ocupamos por tempo demais a noite do Sr. King. – Meu sangue estava fervendo, a vontade que eu tinha era de quebrar os pratos na cabeça dele, mas era melhor conversarmos quando ele estivesse se sentindo melhor. – Imagina. – Respondeu com um sorriso. – A companhia tem sido adorável. A melhor em muitos anos... mas e vocês, não quiseram ter filhos? Já são casados a tanto tempo, onde estão os herdeiros? A vida de Caio exige demais para que queiram ser pais? – A pergunta me acertou precisamente, todos sempre perguntam, eu já deveria ter me acostumado, mas não, sempre sinto que fui golpeada, é como um soco no estômago. Caio soltou uma gargalhada estridente. – Minha esposa não pode gerar filhos, não podemos ter nenhum herdeiro! É exatamente por isso que ela ama ficar com os órfãos, poder fingir por um momento que é mãe! – Ele colocou as mãos nos bolsos. – Onde eu deixei as chaves do carro, não consigo encontrar... Sua irmã ia nos visitar essa semana? Não gosto daquelas crianças chatas dela! – Agora a facada foi de dilacerar meus ossos, senti um tremor em todo o meu corpo e as lágrimas ameaçarem cair. Aquilo foi a gota d’água. – Chega! – Me levantei bruscamente batendo ambas as mãos na mesa. – Vamos imediatamente Caio. Obrigada pelo jantar Sr. King, mas meu marido não parece estar em seu juízo perfeito e eu já me sinto cansada. – Olhei para meu marido. – Vamos, agora! Não aguardei que o homem respondesse, simplesmente marchei para fora do restaurante enquanto meu marido se levantava meio cambaleante. Ele jamais havia dito aquilo dessa maneira tão sem tato, tão grosseiramente, ele sabe que é um assunto delicado para mim e a maneira que ele disse me machucou profundamente. Eu me recusava a chorar ali, não queria demonstrar o quanto aquilo me feriu, ainda menos na frente de um estranho, mas assim que caio recuperasse seu juízo, eu o faria pagar pelo que disse. A noite que era para ser agradável foi um verdadeiro desastre. Eu devia tê-lo escutado, devia ter ficado em casa, assistindo a algum documentário. Agora estou aqui, chateada, com uma ferida aberta e uma noite destruída.
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