Verônica chegou em casa exausta e indignada com a mudança que aconteceu na empresa. Ela deitou no sofá da sala e desabotoou os sapatos, enquanto sua amiga Marília se juntava a ela no móvel, saboreando um mousse de maracujá.
— Que cara é essa, Verônica? Você sempre chega toda contente em casa.
Ela afastou os sapatos do sofá e deitou com os pés pendurados. — Hoje foi o pior dia de trabalho que já tive. Seu Garcia se aposentou repentinamente.
— Como? Se aposentou?! Mas não faltava mais de 1 ano pra isso acontecer? — ela ficou de queixo caído.
— Pois é. Mas ele decidiu adiantar isso e tente adivinhar quem ficou no lugar dele?
— Quem?
—Você não conhece. E o sobrinho dele, Ricardo. — ela choramingou.
— Sobrinho? Deve ser jovem.
— Jovem e narcisista. — ela sentou de repente. — Amiga, ele passa o dia inteiro admirando sua beleza em tudo o que sua imagem reflete. Na janela de vidro, no elevador, na colher e ele carrega um espelho pequeno no bolso também.
Marília ficou rindo. — Eita. Esse se ama. Mas ele é legal?
— Ele reclamou da temperatura do café e disse que a porta da sala deve ficar fechada, ao contrário do que seu tio fazia. Também me fez arrumar a gravata dele!
— Tão vaidoso e não sabe arrumar a própria gravata?! Me admiro.
— Eu também. — ela levantou. — Eu acho que tem uma revista com a foto desse cara aqui em algum lugar. — começou a procurar debaixo das revistas que havia em cima da mesa de centro. — Estou com a sensação de que já vi aquele desgraçado em algum lugar.
— Um dia e você já tomou ranço do homem?
— E existe parâmetro para pegar ranço? Eu tive ranço dele só de descobrir que ele seria meu chefe. — ela arrastou uma revista entre as muitas e encarou a capa. — Olha aqui ele.
Marília saltou do sofá curiosa. — Me deixa ver. — segurou um lado da revista e leu a manchete. — "Jovem prodígio das finanças". Bonitão! — ela balançou a cabeça admirada. —
Será que ele é solteiro?
— Tenho 99,9% de certeza que sim. Por duas razões. Primeiro que ele
é incapaz de amar alguém além de si mesmo e depois, que nenhuma mulher ou homem vai aguentar o narcisismo dele.
Marília ficou rindo.
— Mesmo assim, eu tentaria uma chance com ele. Como é sua voz?
— A voz dele... — Verônica tentou recordar. — É forte, mas não demais. É tipo... A voz do Thor dos vingadores. — ele imaginou.
— Foi longe na comparação, amiga. — Marília se admirou e arrastou a revista. — Vamos conhecer mais sobre ele. — sentou-se no sofá e a Verônica não quis dar muita trela para a história, voltou a deitar no outro sofá e abriu o zíper da saia e os botões de blusa. — Ele é filho do irmão falecido do Seu Garcia, Tem um irmão bonito que é modelo e parece que ele estudou fora do Brasil a vida toda. Ele tem sotaque?
— Não reparei. Acho que não.
— Você deveria ler essa matéria. Tem muita informação sobre ele.
— Eu não quero saber mais nada dessa criatura. Quero meu ótimo chefe de volta. — ficou chateada.
— Vai acostumando porque se já passou a coletiva de imprensa, ele será mesmo o chefe. O que ele disse na entrevista? — Marília encarou Verônica bem curiosa.
— "Meu tio desejou se aposentar mais cedo e como um presente para a Empresa Garcia me deixou em seu lugar. Sei que para vocês será uma honra trabalhar comigo. Eu tenho certeza absoluta que nossa empresa irá prosperar e vamos quebrar recordes." — ela reproduziu sua fala fielmente, em um tom de deboche.
— Realmente, ele se garante.
— Aham. Preciso de álcool para esquecer esse dia. — virou-se para Marília.
— Hoje é sexta. Vamos sair pra beber e esquecer tudo?
— Perfeito, Mary. Melhor ideia. Hoje eu quero encher a cara.