04 - Desculpando.

2985 Words
Hermione franziu o cenho e juntou as sobrancelhas em um misto de surpresa e preocupação. Que diabos aquela louca estava fazendo ali, aquele horário? - Aconteceu alguma coisa? - perguntou alarmada, seus olhos castanhos quase escapando das órbitas. - - Você precisa me ajudar! - sentenciou Ginny passando pela porta tempestuosa como somente ela era. - Hermione ainda estava de cara para a porta, tentando entender o que estava acontecendo ali, revirou os olhos lembrando-se de que se tratava de Ginny, e por isso podia-se esperar quase que qualquer coisa da mesma. Fechou a porta e virou-se para a direção da ruiva, que se mexia inquieta e estranha, batendo os pés e tamborilando os dedo nas laterais do corpo. A castanha era amiga de Ginevra a muito tempo, e mesmo com ela sendo um ser mutável e volátil, a Granger nunca a tinha visto tão inquieta daquela forma. Apertou os olhos para a amiga e andou até ela, calmamente.. - Porque está tão inquieta assim? - quis saber Hermione sentando-se e indicando o outro sofá para ela - Ginny se sentou e rolou os olhos por todo o espaço da sala antes de olhar nos castanhos de Herms e começar a falar. - Bem... Minha vida com Harry tem sido uma loucura, sabe? - disse, olhando para baixo, para suas unhas pintadas de um vermelho-sangue - - Uhum. - a castanha balançou a cabeça em afirmação não entendendo de fato onde ela queria chegar. - Prossiga. - E desde que fomos morar na nossa casa que não temos deixado as coisas esfriarem.... - enrolou, mordendo os lábios, nervosa - - E? - instigou Hermione, levando as mãos até a bochecha, apoiando o cotovelo no encosto do sofá - - Bem, você sabe que.. - retardou ainda mais o assunto em questão, e por esse motivo foi interrompida - - Gin, por Merlin, vá direto ao ponto, querida! - pediu Hermione impaciente. Ginny sempre foi uma pessoa direta e reta, estar dando voltas no assunto deixava Hermione intrigada, nervosa e preocupada.- - Euachoqueestougravida. - soltou rapidamente, tão baixo que Hermione sequer entendeu - - O que? - perguntou Hermione se erguendo no sofá, e olhando-a confusa - - Eu disse que; Acho-Que-Estou-Grávida. - falou a ruiva pausadamente, desviando os olhos azuis para o abajur cor-de-vinho que se encontrava na mesinha próxima à ela - Hermione notou a ruiva soltar todo o ar que tinha em seus pulmões e abaixar a cabeça. Por esse gesto, ela se preocupou, já que dificilmente via-se Ginny dessa forma. Andou até ela que agora aparentava estar segurando o choro e abaixou-se diante dela, olhando no fundo dos olhos azuis. - Eu tenho medo de não ser uma boa mãe! - murmurou, a voz estava embargada e os olhos marejando lentamente - Godric, somos tão jovens ainda! - lamentou-se e dizendo isso ela irrompeu em lágrimas, puxando a Granger para mais perto, derramando sua alma nos ombros de Hermione, chorando compulsivamente - Hermione abraçou a ruiva com força, esfregando suas costas enquanto ela chorava e chorava. Ver Ginny tão frágil daquele jeito era quase como o apocalipse sendo anunciado, era novo. Nem mesmo com a morte de Fred ela ficou assim, foi a Weasley mais forte, foi ela quem arrumou tudo para o enterro e o velório, por isso era totalmente estranho para Hermione vê-la tão insegura daquele jeito. O choro dela foi cessando lentamente, tudo o que restara depois de alguns minutos foram os soluços engasgados da mesma. Ela fungou, limpando o rosto e olhando para a amiga. - Desculpe por isso. - pediu, envergonhada, seus olhos azuis estavam vermelho e inchados. - Hermione balançou a cabeça em negação, e puxou ela para seus braços, lhe dando um abraço apertado e que poderia dizer tudo o que sua boca não dizia. Afastou-se de Ginny e colocou seu cabelo vermelho atrás da orelha. - Vou fazer um chá. - disse e se levantou, deixando a ruiva na sala enquanto ia preparar a bebida - (...) Esperar nunca foi pra Hermione, tampouco para Ginny. Ambas estavam sentadas na cama da castanha, olhando com ansiedade para o bastão branco na mão de Ginny. A poção precisava de ingredientes que elas não tinham no momento, e como havia uma farmácia de esquina com o prédio de Hermione a conta foi muito fácil de se fazer; teste de gravidez Muggle. - Você tem certeza que essa coisa funciona? - perguntou uma Ginny nervosa, olhando para a morena com quase acusação. - Eu não sei, Ginny. Nunca precisei usar um. - alfinetou, vendo outra fazer uma careta de desagrado a insinuação que fizera - - Óbvio que não, você sequer transa. - retrucou, olhando para Hermione, sorrindo de lado, triunfante - - Cala a boca! - chiou a Granger revirando os olhos castanhos. - - ARG! Eu odeio esperar! - comentou a ruiva, apertando o bastão nas mãos - Parece uma eternidade. - São só três minutos... - Quantos minutos já se passaram? - perguntou, impaciente - - dois. - respondeu Hermione de forma monótona. - Ginny bufou e se levantou da cama, andando de um lado para o outro, com toda a sua ansiedade, nervosismo e medo palpáveis no ar. Eram os sessenta segundos mais longos de toda a história bruxa! Olhava insistentemente para o objeto em sua mão, esperando que todas as suas dúvidas fossem sanadas assim que a tal da listrinha aparecesse. E ela veio. Depois dos sessenta segundos restantes, ela veio. E eram duas. Ginny parou de imediato, suas pupilas dilatadas nas órbitas, e seu coração batendo bem devagar. Ou melhor, quase não batendo. - Apareceu. - murmurou a ruiva, estava visivelmente desorientada, parada de forma irregular no meio do quarto, ela andou estranhamente até a cama, e sentou na mesma bem devagar. Esticou o bastão para a castanha - Eu estou grávida. E lá estavam elas, as duas listras. As respostas que a ruiva queria. O "sim". Sem saber o que fazer ao certo, Hermione apenas puxou Ginevra para seu colo, apertando a mesma em seus braços. - Parabéns, Gin! - felicitou, emocionada. - Finalmente algo pra por juízo nessa sua cabeça avoada. Gin, que ainda encontrava-se aparentemente em pânico, olhou para Hermione e semicerrou os olhos azuis. - Não acredito que você está tirando sarro desse momento, merda! - xingou a ruiva, olhando feio para Hermione, reprovando sua atitude - - E eu não acredito que você não está feliz. - debateu Hermione, sorrindo animadamente, ignorando a carranca de Gin e quase pulando na cama - - Você está? - retrucou a outra - - Claro que sim, vou ser madrinha! - disse simplesmente, abraçando Gin de forma carinhosa, quase que em agradecimento - Finalmente então, a ruiva resolveu ceder diante daquele acontecimento. O que está feito, está feito. Sorriu e tocou em sua barriga ainda completamente lisa, de forma protetora. - Você precisa contar a Harry logo, Ginny. - orientou Hermione - - Eu precisava ter certeza antes. - sussurrou mais para si do que para Hermione - - Agora já tem. Ela balançou a cabeça e olhou para a morena, jogando a cabeça para o lado, pensativa. - Que foi? - quis saber a morena - - Será que Harry vai ficar feliz? - questionou a ruiva, aquela sua versão insegura se fazendo presente outra vez - Quer dizer, está cedo demais. - Você já viu como Harry olha para Teddy? - Hermione perguntou retoricamente - Ele quer isso na vida dele, pode confiar em mim. - Ai Hermione, o que seria de mim sem você? - perguntou manhosa, abraçando a ruiva uma outra vez - - Tudo, Gin! Você é uma mulher forte, e sabe disso. Antes que Ginny pudesse responder, Hermione se levantou da cama com tudo, saindo do quarto correndo. - O GUISADO! - gritou Hermione já do corredor. Logo em seguida, Gin sentiu o cheiro da comida queimada chegar a sua narina. - Péssima madrinha que você vai ser. - disse jogando-se de costas na cama, mirando no teto e sorrindo. (...) - Bela reunião hoje, Hermione! - Frederick disse, batendo no ombro de Hermione, antes da sair da sala e deixá-la sozinha. A bruxa estava terminando de organizar os papéis sobre a reunião que acabara de ministrar quando ele chegou. Aquele cheiro amadeirado foi a primeira coisa que sentiu, antes mesmo de olhar para trás, para vê-lo. Respirou fundo pedindo que só dessa vez estivesse errada, e virou calmamente. Ela apertou os olhos forte nas órbitas quando seus olhos pousaram sobre ele, sobre aquele azul tão brilhante, tão malditamente transparente. - O que faz aqui? - perguntou, virando-se novamente para seus papéis, organizando a pilha para que pudesse levar nos braços para sua nova sala - - Antes de tudo, Hermione, eu queria te pedir desculpas. - ele disse, incerto - - Pelo quê? - ela não deu muita importância para o que ele dizia, apenas sabia que precisava sair da presença dele. Não que soubesse o porque tinha que fazer isso. - Por tudo? - perguntou, a voz grave mostrando que aquilo era tão novo pra ele quanto para ela - - Okay. - disse Hermione, simplesmente - Ergueu os papéis nos braços e seguiu para a porta, para onde ele estava parado. Ainda estava chateada com ele. Não sabia se era de agora ou de tempos atrás, sabia apenas que estava chateada e que queria sair da presença daqueles olhos. Mas, nada na sua vida poderia ser tão fácil, poderia? Ao tentar passar pela porta, Malfoy segurou seu braço, impedindo-a de seguir para longe dele. Seu corpo pareceu tocar em lava derretida, pois quase sentiu as pernas desmancharem diante de toque tão simples. Sua língua parecia ter grudado na boca, e ela teve que fazer uma força enorme para poder falar. - Malf... - foi interrompida - - Só me escuta, tá legal? - ele pediu autoritário, mas não esperou resposta. Ainda era ele, em algumas de suas atitudes mais naturais - Eu não fui a pessoa mais certa durante a minha vida, eu fiz coisas das quais me arrependo, mas eu não quis tirar sarro das suas pesquisas, ou do que você quer que o Ministro aprove. Apenas fiquei surpreso por ver que depois de tantos anos, você ainda continua tendo o mesmo coração bondoso. Ainda continua sendo exatamente como era em Hogwarts. Ainda tem em mente aquela coisa do F.A.L.E. - disse e soltou seu braço - Eu só queria pedir desculpas, Granger. Surpresa quem estava agora era ela. Não sabia se estava surpresa pelo fato dele lhe pedir desculpas duas vezes no intervalo de dez minutos, ou pelo fato dele saber do F.A.L.E, já que o movimento teve pouquíssimas adesões naquela época, e ela nunca sequer chegou a pedir apoio às outras casas. Realmente, aquele Malfoy não era o mesmo que ela teve o desprazer de conviver na escola de Magia e Bruxaria. Na sua essência sim, com seu jeito arrogante, autoritário e completamente sarcástico. Falar nem sempre é fácil. Principalmente quando você não tem ideia do que dizer. E Hermione não tinha. Ela só queria poder ir para sua sala, trabalhar, pensar, esquecer dele, de seus olhos e de como ele parecia afetá-la. Mas ele ainda estava lá, esperando o parecer do seu pedido, as mãos nos bolsos como era seu costume e os olhos cinzas focados nela. Hermione mordeu a parte interna dos lábios e soltou um muxoxo. Era orgulhosa demais ainda, porém, tinha que reconhecer que ele estava fazendo tudo da maneira correta, e que merecia, ao menos dessa vez, ter um voto de confiança. Acenou com a cabeça positivamente para ele, encarando aqueles azuis-acinzentados bem de perto, e sentiu, inevitavelmente, sendo-se sugada por aquelas orbes, levada por uma maré de sensações estranhamente familiares. Quase teve um lapso novamente, dessa vez entretanto, tudo o que viu foi ele de costas, indo para sabe-se Deus onde. Afastou-se para sua própria segurança, apertando os papéis contra seu peito com força. Porque se sentia vulnerável na presença dele? Logo ela, que sempre soube das respostas, se via agora completamente leiga diante de tantas perguntas. - Eu desculpo você, Malfoy. - ela disse, soando o mais firme que conseguiu, era uma mulher forte ainda, não era? - Só por favor, não leia nada que seja meu e que esteja naquela sala, sem minha autorização, sim? - ela também sabia ser autoritária - Ele riu, aliviado. - Sim sra, Granger! - provocou. - Tenha um bom dia, Draco. - disse Hermione, e saiu, seguindo para sua sala - Quando chegou na sua nova sala fechou a porta com força e respirou fundo. Largou suas coisas em cima da mesa e passou as mãos no rosto, tentando entender porque estava assim; nervosa. Eram informações demais para sua cabeça, coisas demais para assimilar, precisava de um descanso, ou iria acabar enlouquecendo.. Sentou-se e começou a planejar, precisavam agir para que esse caso fosse logo resolvido. Ela acreditava que sua vida voltaria ao normal depois disso... Horas mais tarde... - Posso? - a cabeça de Harry apareceu na porta e a fez sair de suas leituras para que pudesse olhar para ele - - Deve. - disse sorrindo se levantando enquanto ia pegar um pouco de água para molhar sua garganta. - - Você sabe que me deve uma conversa, não sabe? - perguntou Harry, jogando a ela um olhar significativo - Harry também sabia saber inquisitivo e isso era culpa única e exclusivamente de Gin. Ela bufou e andou até ele, recostando o bumbum na mesa de trabalho, acenando com a cabeça, rendida. - Ainda é por ter que deixar seu departamento? - o moreno tentou adivinhar - - Não. - disse Hermione baixinho - Quer dizer, eu acho que isso tem um pouco de influência. Essa semana definitivamente não está entre as minhas favoritas. - confessou bebendo um gole suave de sua água - Eu só tenho que me acostumar com isso, estou apenas estressada. Ela sempre contava tudo a Harry, porém, em relação ao sonho com Draco, ela ainda não se sentia totalmente aberta para narrar. O trabalho era a desculpa mais plausível que tinha, já que, de fato era isso que ela culpava por tanta confusão em sua cabeça. - Mas você sabe que está fazendo um trabalho incrível, né? - disse Harry animado, mudando de assunto - Eu estou pensando em uma missão pra ver se conseguimos pegar um dos capangas dessa quadrilha, porque é nítido que é uma organização bem esperta. - Oh, Harry! - exclamou a morena, concordando, agradecida - Estou estudando a possibilidade de montarmos uma guarda perto dessas chaves de portais. Fazendo um levantamento das que estão sendo mais usadas, conseguiremos monitorar as possíveis entradas e saídas. - Muito esperta, Hermione! Já até sei quem pode fazer esse levantamento. - comunicou Harry, levantando-se e seguindo para a porta - - Temos que ser rápidos, hein! - alertou Hermione antes dele sair - Antes que algum trouxa acabe descobrindo sobre nós.. - Certo. - concordou o moreno e saiu, mas voltou rapidamente - Ah, seu expediente já acabou, e você sabe. Vá para casa, Mione. - sorriu carinhoso para a amiga - - Sim senhor, chefe! - zombou Hermione e Harry sorriu ainda mais - - Teremos jantar n'A Toca domingo. - acrescentou sorridente. - Você tem a obrigação de comparecer! - afirmou autoritário como poucas vezes ele era, ao menos com ela - - Eu não faltarei! - prometeu a Granger, sorrindo - O Potter sorriu e sumiu porta a fora. Provavelmente Gin já deveria ter contado à ele de sua gravidez, e obviamente agora iriam anunciar para a família. Já podia até imaginar toda a festa que aqueles cabeças-ruivas iriam fazer. Sorriu pelo nariz e olhou para a janela, onde a noite caía naturalmente e a lua se erguia ao horizonte. - Hora de ir pra casa, Herms. - ela murmurou. Apanhou seus pertences, desligou a luz fechou a porta da sala, e saiu. Os passos calmos dela ecoavam pelos corredores, algumas outras pessoas saindo também para irem para suas casas a cumprimentava pelo caminho. Estava se sentindo cansada demais para ir andando, resolveu que usaria a rede de Floo aquela noite. Se direcionou para as lareiras do Ministério, parando vez ou outra para falar com alguém. Sabe quando você sente que já viveu uma cena? Quando você a vê se repetindo na sua visão, e aquele arrepio involuntário sobe sua espinha e se espalha por todo o seu corpo, te fazendo quase tremer? Foi assim que aconteceu com ela. Foi automático, foi olhar para frente e ver. Cabelos loiros brilhantes e ele de costas, e ele ia para sabe-se Deus onde, exatamente como ela se lembrara horas antes, quando estava com ele. Respirou de forma irregular e olhou para os lados, como se alguém tivesse visto o mesmo que ela. Mas de longe ela sabia que era uma coisa só dela. Teve vontade de chorar, um nó na garganta e aquele vazio conhecido lhe vieram fazer companhia, apertar seu peito e deixá-la angustiada. Mas não podia. Estava no meio de pessoas que a achavam forte demais, não poderia chorar assim; sem um motivo realmente justificável. Forçou-se a recomeçar a andar. Mesmo com seu corpo pesando demais, mesmo com seu coração chacoalhando dentro do peito. Ela tinha que sair dali, precisava se sentir segura, se sentir ela. Não essa sua versão desconhecida que era irritantemente frágil e tinha lembranças do Malfoy. Entrou na primeira lareira vaga que encontrou, murmurou "Angel's gold Número 307" e logo estava na lareira de sua casa. Escorregou as costas pela lareira até sua b***a se encontrar com o chão. Colocou as mãos no rosto e olhou para frente, especificamente para o nada. Algo estava acontecendo com ela, Malfoy tinha alguma coisa a ver com isso. E ela precisava descobrir o que demônios era, antes que ficasse louca.
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