Tudo a sua volta girava com força, seu corpo todo pesava e a levava para o chão, nada conseguia fazer aquilo parar, aquela dor lasciva, alucinante, aparentava não ter um fim. Então de novo gritos agudos e horripilantes enchiam seus ouvidos e tudo o que ela queria fazer era abrir os olhos. Acordar daquilo que ela presumiu ser um pesadelo.
Forçou-os o máximo que pôde, eles estavam tão pesados quanto seu próprio corpo, que parecia estar acorrentado ao solo, preso, mas com calma ela foi conseguindo. Enquanto tentava abrir-los, podia ouvir os murmúrios de preocupação ao seu redor, algumas vozes conhecidas e frases como “ela está acordando”, e estranhou um pouco aquilo. A luz do quarto a incomodou quando finalmente conseguiu abrir os olhos, fazendo-a fechar-los imediatamente para em seguida abrir de novo. Deparou-se com uma comitiva de boas vindas, Harry, Ginny, Ron, Molly, Pansy, George, eram vários pares de olhos sobre si, inclusive seus pais. Abaixou seus âmbar ainda desfocados para si mesma e viu-se com um lençol fino e o que lhe pareceu ser uma camisola de hospital.
— O que houve? - ela murmurou olhando para seus amigos e familiares ali com o cenho franzido e visão ainda turva por conta da luz.
De repente, sua mãe explodiu num choro barulhento, encaminhando-se apressadamente para cima dela e a tomando nos braços.
— Ah minha filha! - Jane apertava Hermione com força contra o próprio peito, esquecendo-se totalmente que a castanha estava toda dolorida por conta do efeito daquele feitiço n***o que Olímpios havia lançado contra ela. - Eu senti tanto medo de perder você meu amor! - a mãe confessou entre lágrimas. -
Ainda um tanto sufocada, Hermione passou os braços em volta da mãe e retribuiu o afeto, olhando por cima dos ombros dela para os Weasley e Harry, que também se encontravam no aposento. Praticamente todos estavam com os olhos marejados, o que fez Hermione entender que esteve ali em estado crítico, e provavelmente não apenas por horas como havia suposto quando abriu os olhos. Ela se recordou o motivo provável que a tinha feito parar naquela cama, e não foi algo em que teve que se concentrar. Podia se lembrar nitidamente dos olhos brilhantes e demoníacos dele quando o viu no corredor, ou da dor fulminante que a fez perder os sentidos.
Não podia entender como ele tinha saído da cela, ou se havia machucado mais alguém quando o fez, e isso a deixou preocupada, e louca para saber das coisas, como ele fugiu e se foi recapturado. Tentou se sentar ainda com Jane agarrada a seu corpo, mas suas costelas doeram terrivelmente e ela não foi capaz de sufocar o gemido de dor que escapou de sua boca.
— Perdão meu amor, perdão. - Jane se afastou culpada, e pegou sua mão a qual acariciou desesperadamente - Como se sente?
— Mãe… - Hermione murmurou, olhando para ela que tinha um rastro de lágrimas pelos olhos e parecia não dormir a dias. - Eu tô bem. Quero dizer, meu corpo inteiro está doendo mas estou bem.
Ginny, que estava se controlando até então, pelo que Hermione pode perceber, aproximou-se apressada e se sentou do outro lado da cama da morena, seus olhos azuis estavam aguados e suas mãos ligeiramente trêmulas quando tocaram o rosto da Granger mais nova com carinho. Hermione acolheu aquele toque, assim como tinha acolhido o abraço esmagador de sua mãe, e puxou a ruiva para um pequeno abraço, sentiu o corpo da ruiva desmoronar como uma avalanche descendo montanhas, e acariciou as costas da ruiva enquanto ela soluçava em seu colo.
— Tá tudo bem… - afirmou a castanha com a voz mansa -
A ruiva desvencilhou seu corpo de Hermione depois de algum tempo e enxugou os olhos com as costas da mão. Seus olhos avermelhados miraram a castanha e ela apontou o dedo em riste para ela.
— Nunca mais faça isso conosco, Granger! - ela avisou fungando para se desfazer da voz anasalada - Você quase matou a todos de susto… Foi muita falta de consideração da sua parte! - acusou seriamente - Você não pode brincar assim comigo, eu estou grávida, sua louca.
— Me desculpe. - Hermione pediu encolhendo os ombros. Sabia que tinha culpa por estar deixando todos preocupados, sem dormir e nervosos. Mordeu o próprio lábio. - De verdade, a todos vocês.
— Você não teve culpa. - Harry se pronunciou diante da sessão de autopiedade da amiga - Foi atacada, não teve tempo. Ele foi um covarde.
Hermione acenou positivamente, deixando para discutir sobre isso outra hora, quando seus pais não estivessem ali, de preferência.
Ali estava a sua família, demonstrando preocupação com ela, chorando por ela acordar e estar aparentemente bem, depois de ter sido atacada por um bandido. Ela tentou sorrir ignorando a pontada em suas costelas e olhou para cada pessoa presente naquele quarto.
— Então, quanto tempo estou aqui? - ela perguntou e se ajeitou na cama, tentando a apoiar as costas. -
— Cinco dias. - Ron disse e ela arregalou os olhos - Foi realmente um susto.
— Os três primeiros deles inconsciente, sem sequer se mexer e os outros dois você chegava a abrir os olhos por alguns minutos mas logo os fechava. Se lembra de algo? - quis saber Harry -
— Não sobre isso… - ela atalhou coçando a cabeça meio sem jeito - Mas acho que tive pesadelos.
— Alguns. - Pansy concordou - Acho que eram da guerra. - ela lançou a Hermione um olhar de compressão, e a Granger admirou esse gesto -
— Vou mandar uma coruja para Arthur, ele avisara à Kingsley que você acordou, todos estão tão preocupados com você! - contou Molly e deu um beijo na testa de Hermione - Trarei o medibruxo quando voltar. - acrescentou ela antes de sair pela porta -
— Ela cuida de você como uma mãe. - Jane murmurou ainda chorosa -
— Ela faz isso com todo mundo. - alegou Gin - Não se chateie.
— Não.. Fico realmente tranquila em saber que tem alguém por ela quando eu não posso estar. - ela deu a Ginny um sorriso de agradecimento -
De repente, todos puderam ouvir gritos exasperados de Criança e um pequeno vulto de cabelos castanhos como os olhos de Hermione invadiu o quarto correndo. Teddy pulou na cama, abraçando Hermione fortemente, que se assustou mas sorriu, pegando-o em seus braços.
— Tia Mi, você acordou! - ele disse aninhado à ela - Tive medo, tia…
— Não precisa mais ter medo, meu amor. - ela afirmou afagando os cabelos dele -
— Promete que não vai fazer isso de novo? - ele pediu manhoso -
— Palavra de marota. - ela olhou bem para os olhos dele e piscou, vendo-o sorrir abertamente. -
… … …
— Não sabemos como ele conseguiu fugir. - Harry admitiu andando de um lado para o outro com as mãos no queixo -
— Ele estava muito tranquilo quando o vi. Não aparentava ter lutado. - disse a morena enquanto afastava a bandeja vazia de seu almoço -
— Ele fugiu. - confessou Ron cabisbaixo. - Quando recebemos o alarme da fuga ele já deveria estar a milhas dali. Que horas mais ou menos você foi atacada?
— Acredito que eram quase oito. - ela disse tentando se lembrar do horário - Eu fiquei até um pouco mais tarde, e ainda saí antes de retornar e ir para as lareiras -
— Encontramos você umas dez e meia. - Harry lembrou - Nosso sistema foi falho, não poderíamos ter deixado-o ter tanto tempo assim… - ele esfregou os olhos frustrado - Foi nossa cul...
— Pode parar por aí! - exigiu Hermione seriamente levantando as mãos - Eu não posso me levantar daqui para te dar um cascudo, mas tenha certeza que o farei assim que o Medibruxo liberar! - ela soltou o ar e então falou um pouco menos agressiva - Harry, não tem nada de sua culpa aqui. Ele é um bandido, bandidos são criaturas do m*l, fogem a todo momento e atacam pessoas inocentes. - ela deu de ombros - Eu só estava no lugar errado, na hora errada. Vamos pegá-lo. E os outros também, todos eles. - prometeu a castanha apertando os lábios em uma linha fina -
Sabia que Harry estava se culpando por tê-la mandado para o Ministério, porém Hermione também sabia que se tinha alguém com um pouco de culpa era ela mesma. Podia ter ido embora direto, sem resolver nada com Malfoy, ou seguí-lo para acabarem brigando no beco, deixando-a atordoada e só querendo sua casa, retornando ao prédio para pegar as lareiras, e dessa forma encontrar Olímpios. No entanto, por mais que buscassem culpados entre eles e suas escolhas, Olímpios não deveria estar ali pronto para atacar, deveria estar na sua cela, e se não estava não era culpa nem de Harry tampouco de Hermione. Fora apenas um maldito acaso que acarretou em alguns dias desacordada e mais alguns de repouso.
Hermione olhou para seus meninos e depois suspirou.
— E o restante das coisas? Como estão? - ela quis saber mudando de assunto por hora -
— Acho que o plano de manter as guardas pode dar em alguma coisa. - foi Ron quem se pronunciou - Tivemos uma pequena, quase imperceptível queda nos furtos, mas tivemos. - ele conseguiu dar um meio sorriso -
— Eu tenho um plano. E acho que é um bom plano. - a mulher disse esfregando suas mãos - Mas preciso estudar um pouco mais o caso, sinto que estou perto das respostas agora.
Eles assentiram. O celular de Harry soltou um bipe e o mesmo o tirou o bolso para checar. Leu o que quer que fosse atentamente, e quando terminou pôs de volta no bolso. O moreno lançou a Ronald um olhar significativo que deu um aceno firme de cabeça e então Harry pigarreou antes de sorrir docemente para ela.
— Certo, srta dos planos, seu superior receitou descanso e repouso a você. - Harry começou aproximando-se e tocando a coxa dela por cima do lençol - Vamos deixá-la fazendo isso.
Ela estreitou seus olhos para ele em desconfiança. É claro que algo estava acontecendo.
— Quem era no celular? - ela perguntou semicerrando os olhos -
— Ninguém importante, querida. - Harry respondeu calmamente -
— Harry… - ela protestou fazendo força para se levantar -
— Escute, - ele levantou o queixo dela para poder olhar em seus olhos - apenas faça de tudo para se recuperar depressa. O resto pode deixar comigo.
— Mas… - ela olhou de um para outro, pedindo a Ron apoio -
— Hora de irmos. - decretou Ron e deu um beijo em seu rosto antes de se afastar em direção a porta -
— Voltamos a noite. - comunicou Harry indo pelo mesmo caminho -
E dizendo isso, ambos deixaram-na sozinha e confusa.
— Ótimo. - murmurou e cruzou os braços na altura dos s***s.
(...)
As horas se arrastavam naquele quarto. Cada minuto era como uma eternidade de ansiedade e espera. E Hermione não aguentava mais esperar. Estava entediada. Molly e Ginny precisaram ir a uma consulta, a primeira consulta oficial do bebê, seus pais estavam trabalhando, ela insistiu para que eles fossem, precisavam descansar e viver a vida deles. Ela já estava bem. Só estava cansada de ficar quieta. Parada. Sem fazer nada.
Tentou se levantar, mas o corpo inteiro berrava e doía quando ela tentava. Não se lembrava de sangue, e também não percebeu nenhuma nova cicatriz quando fora se banhar algumas horas antes, mas tudo doía como o inferno. Cada pedacinho dela, quando outras pessoas a tocavam ou ela esbarrava em algo com mais força do que deveria. Repentinamente, tocando suas costelas doídas, ela começou a divagar para o momento em que foi atingida. Não teve tempo de prestar atenção ao feitiço que havia sido lançado contra si, apenas imaginava que deveria ser algo do m*l. Algo obscuro e n***o. Que a deixou desacordada sem reagir a contra feitiços e medicação por alguns dias.
Em algum momento daquela reflexão, Hermione se pegou pensando que talvez, ela ter sido atacada não fora apenas um acaso, ou estar no lugar errado na hora errada. Mas sim que ele pudesse estar esperando por ela, pois aquele homem parecia querer algo dela. Lembrou-se do olhar, do primeiro que ele lhe deu no dia em que fora capturado, foi uma ameaça muda, mas explícita por aqueles olhos que ele tinha, e depois quando ela foi vê-lo. Por alguma razão ele parecia saber que ela estava ali, e a olhou, daquela sua forma incompreensível e assustadora.
Perdida dentro de suas memórias sobre aquele que a tinha mandado para lá, ela não ouviu quando a porta foi aberta, somente se deu conta da presença quando avistou dois enormes buquês. Um de rosas vermelhas, cheirosas e reluzentes, trazido pelo Sonserino moreno, e um enorme de orquídeas lilás, delicadas e encantadoras, trazidas pelo Sonserino loiro.
Ela se encostou no apoio da cama, e olhou, divertida e surpresa de um para o outro.
— Soubemos que você acordou! - explicou Blás sorrindo e esticando a ela o enorme arranjo de flores - E que os outros não estavam mais aqui. - sussurrou esta última frase e piscou - Como se sente? - perguntou, e ela observou a preocupação existente na sua voz -
Ela observou que os olhos de Blás transpareciam um pouco do que ele era e como estava, e pôde notar que ele estava com um misto de alívio e felicidade em seus olhos. A amizade com ele, era algo pelo qual começava a ter cada vez mais estima.
— Estou bem.. - ela disse com simplicidade - Quer dizer, cada parte de mim está arrebentada e dói mas vou sobreviver.. - deu de ombros e olhou para o loiro finalmente - Draco. - ela chamou -
— Hermione. - ele murmurou -
Hermione olhou para ele quando ele abaixou o enorme buquê que cobria seu rosto parcialmente. Aqueles olhos cinzas estavam inexpressivos, e só se podia ver o corpo dele tenso. Ela deu um meio sorriso para ele indicando que deveriam conversar depois. Estava, sobretudo, feliz por ele ter ido vê-la. Uma vez que a briga que tiveram havia sido tensa, com acusações dolorosas e talvez até destrutivas. Mas ele estava lá para ver se ela estava bem.
— Eu sin.. - ele começou -
— Não. - ela o interrompeu levantando a mão direita - Nós vamos ter essa conversa, mas só nós. - ela disse e olhou para Blás - Não confio nele. - e riu -
— O que? - ele se fingiu de ofendido - Eu sou o Sonserino mais confiável dessa sociedade bruxa. - ele retrucou divertido - Bom saber que está me trocando por ele, Granger. - Blás revirou os olhos -
— Vieram mesmo só pra me ver? - ela perguntou incrédula -
— Claro que sim, ficamos preocupados. - afirmou Draco num tom firme -
— Verdade. - concordou Blás abraçando e balançando o loiro pelos ombros - Nunca vi esse meu amigo tão deprimido. - caçoou -
Hermione lançou à Draco um olhar interrogativo, que ele fez questão de ignorar. Ele parecia um pouco abatido, um pouco cansado mas ela preferiu pensar que ela ou seu estado de saúde não tinham nada a ver com essa história.
Ela ficou conversando com eles por algum tempo, e rogava silenciosamente para que eles ficassem por bastante tempo. Era bom ter gente ali. Gente para distraí-la, e não fazê-la ficar pensando no maldito que tinha fugido. Ela iria pôr meio mundo atrás dele. Não iria escapar. Como Harry havia dito; ele era um covarde, mas iria pagar pelo que fez.
Ter uma conversa civilizada com eles, Blás e Draco, era, para ela, como derrubar um muro erguido por ancestrais, e o ato de ambos terem deixado suas coisas de lado para irem até o St Mungus dava mais ênfase sobre o tanto que haviam progredido, todos eles. Os meninos por terem deixado as raízes de preconceito para trás e ela, por ter aceitado conviver com eles, e esquecido todas as coisas e atitudes que eles tiveram para com ela quando ainda viviam as diretrizes de uma hierarquia sanguínea.
Aprendeu e descobriu gostar deles. Blás era uma ótima companhia, era divertido e conseguia tirar qualquer pessoa do sério, principalmente quando tentava seduzir essa pessoa, como estava tentando fazer com a curandeira que havia trago a medicação de Hermione.
E Draco era a incógnita. Ela também descobriu gostar da presença dele. Ele tinha senso de humor, de um modo diferente, havia mudado muito desde a queda do Lord e era focado em seu trabalho, gostava dele, acima de tudo, por isso. Por mais que isso soasse estranho, ainda porque quando estava com ele, não era capaz de entender cem por cento o que ele dizia, e aqueles olhos tempestuosos escondiam dela a verdade. Havia, em soma, aquelas pequenas sensações que acompanhavam-no, e as reações esquisitas dela quando algo rolava entre eles. Mas não era algo romântico, ou s****l, era um algo mais profundo, uma coisa que as vezes era capaz de desestabilizar todo o sistema nervoso e inabalável dela. Olhou para ele, e suspirou.
O loiro estava sentado na poltrona ao lado de sua cama, enquanto olhava para Blás, que tentava fazer a curandeira que se chamava Sarah aceitar seu convite para um café. Draco soltou uma risada pela nariz, e balançou a cabeça em desaprovação depois. Hermione o via fazer isso constantemente, e pegou mais aquele pequeno detalhe dele para ela, inconscientemente, é claro.
— Certo, deixe-a. - intrometeu-se Draco por fim - Ela não quer tomar nada com você.
A moça lançou um olhar brilhante e charmoso para Draco e saiu da sala murmurando um “obrigada”.
— Blás, acho que você perdeu Sarah para Draco. - sentenciou Hermione entre uma risadinha, mas suas costelas doeram e ela instantaneamente gemeu.
— Você tem que descansar. Acho melhor irmos. - sugeriu Malfoy levantando-se e olhando bem para ela como se checasse o que dissera -
— Estou bem, foi só uma pontada. - explicou a castanha se recompondo -
— Por mais que eu queira ficar, acho que Draco tem razão. - Zabini pegou a mão dela - Você parece cansada.
— Estou ótima. - rebateu empinando o nariz para eles -
Draco revirou os olhos e soltou o ar pelo nariz.
— Pare de ser teimosa, Granger. Afinal, nós estamos vendo a sua cara abatida. - ele disse e um pequeno sorriso, um que não era visto por Hermione há tempos, apareceu.
Observando que eles iriam de qualquer forma, ela se rendeu, deixando-se relaxar na cama.
— Tudo bem. Podem ir. - ela disse fingindo pouco caso.
— Eu vou voltar, querida. - Blás avisou, dando um beijo na testa dela com carinho - Se comporte.
— Pode deixar. - ela disse e sorriu para ele, que se afastou.
— Então, tchau. - disse Draco -
A castanha percebeu que Draco iria apenas dar-lhe um beijo na testa, como seu amigo fez. Ele se aproximou dela, seu cheiro entrando em cada poro e encostou seus lábios levemente na pele castanha de sua testa. Ela sentiu seu coração sendo levado e seu corpo sacudir um pouco com a umidade e o calor da boca dele em sua pele, então, como se nada tivesse acontecido, ele ameaçou ir embora. Hermione segurou a mão dele quando o mesmo estava se afastando, fazendo-o olhar para trás surpreso.
Afastou sua cabeça um pouco para o lado, para olhar para Blás que esperava por seu amigo.
— Você pode nos dar um minutinho a sós? - ela perguntou expressando sua face mais meiga -
Blaise acenou positivamente, um gigantesco sorriso embelezando seus lábios grossos, Hermione podia jurar que ele queria dar um pulinho de satisfação.
Quando o moreno saiu e bateu a porta ela soltou a mão dele e então o olhou, nos olhos. No fundo deles.
— É a nossa hora de acertar as coisas. - ela disse, seriamente. -
Draco respirou fundo e acenou positivamente, andando um pouco para perto dela. Hermione bateu com a mão na sua cama, no ladinho, indicando que ele deveria se sentar ali, e ele foi.
Assim que ele se sentou, ela começou. Sem rodeios e sem mentiras.
— Eu quero ser sua amiga, Malfoy. Mas quero que você acredite que isso é real! - estava disposta a tentar essa vez, como uma última chance - Quero que pense que você merece, que pode e deve ser alguém bom, que entenda que as pessoas te vêem como o homem que você se tornou, e não o garoto que foi. - ela despejou em cima dele tudo o que julgava necessário para quem sabe fazê-lo entender que, ele não poderia se manter preso ao passado -
— Você ficou chateada pelo que disse à Blás. - ele constatou, sua testa estava franzida, havia uma pequena ruga entre uma sobrancelha e outra -
— É claro que fiquei. - ela admitiu como se isso a coisa mais óbvia do mundo - Você disse algo que não é verdade, me pintou como não sou. - ela agitou as mãos deliberadamente - Eu não me importo com seu passado, contando que você faça melhor no seu presente. - Hermione suspirou - Olha, você mostrou que é outro, se não, jamais teríamos começado isso que começamos…
— Isso? - ela a interrompeu intrigado -
— Essa amizade. - ela explicou -
— Ah. - Draco concordou com a cabeça -
— Eu só quero que você entenda, que eu não julguei, e não julgarei você por nada. - ela admitiu e, desfazendo-se de tudo, das mágoas, da raiva, da irritação, engolindo seu orgulho, continuou - E se fiz isso naquela tarde, se pareceu a você dessa forma, quero pedir desculpas. - falou com sinceridade -
O loiro ficou calado por alguns minutos, seus olhos nunca dando a ela nenhuma pista do que ele estava pensando. E isso a deixava intrigada, louca, desesperada por respostas. Draco era uma verdadeira caixinha de surpresas. Uma pessoa totalmente não maleável. E, isso conseguia ser encantador e frustrante na mesma proporção. Finalmente, depois do que pareceu a ela a eternidade de silêncio, ele disse;
— Você não tem que pedir desculpas.. - Draco disse, negando com a cabeça e soltando o ar - É só.. É difícil aceitar coisas boas de alguém para qual eu fiz m*l. Tanto m*l. - encolheu os ombros e fitou a janela, observando o crepúsculo comendo a tarde de sol -
— Você não é mais um garoto, Malfoy. É um homem - ela lembrou-lhe - Um homem melhor. - sorriu para ele amigavelmente - Olhe só, você veio me visitar, sua maior inimiga. Se preocupou comigo. Isso é ser bom.
— Me senti culpado, por isso vim. - ele quis desconversar -
— Que seja. - ela revirou os olhos diante da resposta que ele deu -Pessoas que sentem culpa tem um coração bom. - argumentou - Geralmente. - brincou a castanha -
— Estou falando sério. - ele repetiu - Quando soube do ataque, eu… Fiquei péssimo! - confessou o loiro com uma voz cheia de angústia e abaixou a cabeça - Porque se eu não tivesse sido um i****a, talvez você não tivesse voltado até lá. E estaria bem agora… - passou as mãos no rosto. Hermione sentiu-se um pouco tonta com aquela admissão - Sinto muito.
— Eu estou bem agora! - ela retrucou ainda abalada - Não foi culpa sua. Já passou.
— Talvez tenha sido, um pouco. - ele retorquiu. -
Ela se remexeu na cama inquieta. Havia descoberto um lado de Draco que ainda não sabia existir, e não sabia como lidar com isso. Ele era frágil. Na verdade, tinha uma pequena porcentagem frágil, mas quando a deixava sair, o inundava. Ela podia vê-lo. Estava submerso na culpa e no arrependimento. O jeito que os dedos dele se apertavam mostravam que ele teve medo, e, sua voz um pouco mais lenta do que o normal, enfatizava os sentimentos dele. Embora ela tenha feito essa análise bem por cima do que conhecia dele, ou, o que ele deixava ela conhecer.
Mais uma vez, ela teve coragem e levou sua mão até a dele, apertando carinhosamente.
— Quero ser sua amiga, Draco. - ele repetiu - Vamos fazer certo dessa vez. Sem acusações e sem estereótipos. - sugeriu - Pode ser?
— Se você me desculpar… - ele encolheu os ombros para ela -
— Certo. Certo. - ela disse e depois o empurrou de leve - Gosto de você. Gosto como você é agora. - deixou escapar e olhou para ele, fixamente.
Malfoy sorriu sinceramente para ela e em seguida deu um pequeno soco em sua coxa. Aquilo era um princípio de amizade.
— Acho que vou me lembrar disso antes de dormir, Granger. - Draco disse e se levantou.
Ele ajeitou a gravata e ela esticou as pernas na cama. Quando o loiro terminou, sorriu para ela de novo. Não que ela quisesse admitir, mas poderia viver fácil com ele sorrindo assim para ela. Draco abaixou-se e deu outro beijo nela, desta vez, no rosto.
— Fique bem. - ele desejou.
Hermione não disse nada, não achou que precisasse. Apenas assentiu até vê-lo sair e a deixar novamente sozinha, olhando para seus buquês na janela.
Flores sempre alegravam o ambiente, pensou a castanha enquanto já ansiava por poder sair daquele quarto.