Brilhando como ela imaginara. Era dessa forma que ela estava quando Hermione pôs seus olhos sobre ela.
Os trovões que eram as batidas de seu coração, reverberavam em seus ouvidos como se a tempestade que a assolava estivesse arrebatando Londres inteira. A chuva torrencial que enchia a si mesma de medo e lacunas profundas era avassaladora, mas não existia fora dali.
Com um cuidado exagerado, Hermione retirou a pulseira de trás do seu guarda-roupas, e dessa vez sentiu o ouro queimar sua pele, pesando, ardendo e aquelas sensações que normalmente surgiam quando ela estava com Malfoy vieram à ela tal qual uma oferenda de sensações. Colocou a pulseira em sua escrivaninha e ficou olhando mais do que fixamente para aquele objeto. Tantas perguntas acompanhavam cada detalhe daquela peça. As formas delicadas das finas argolas eram como cada pergunta que nascia dentro dela.
Porque tinha encontrando aquela pulseira somente agora? Se, regularmente costumava fazer faxinas ali e em nenhuma outra vez havia esbarrado naquela joia?
Era engraçado como o destino fazia coisas, esperava o momento certo para jogar um problema na sua cara, e não só isso, se aproveitava do fato de sua cabeça estar torrando com tantas coisas para resolver.
Estava totalmente no escuro diante de tal situação. Mas, em seu coração alguma coisa a deixava constantemente inquieta. Balançou a cabeça em negação, era mais como um gesto desesperado para afastar aquela maldita hipótese sobre o Obliviate. Aquilo esmagava seu coração como alguém que pisa em um castelo de areia. E ela pensando que tinha erguido algo mais sólido dessa vez. Parecia estar desmoronando dentro de lembranças, medos e perguntas.
Passou as mãos nas têmporas que latejavam ferozmente.
Sabia que precisava dormir, ainda tinha a intenção de voltar ao Ministério antes do fim do expediente, verificar relatórios e traçar um outro plano de ação, um melhor que não colocaria vidas em risco e que seria eficiente. Mas antes disso precisava dormir. Entrementes, seu sono havia escoado, se perdido. Fugido dela.
Bufou e se Levantou seguindo para o banheiro e abriu o armário onde guardava suas coisas.
A noite que passara em claro já tinha sido o suficiente para pensar, lembrou a si mesma. E, em algum momento daquela longa noite ela realmente pensou em levar a pulseira para Malfoy, e ver se ele poderia dizer a ela algo sobre aquilo, entretanto, e se ele também não se lembrasse? Ela seria a louca com cara de i****a, e por mais que seu cérebro não aguentasse mais as perguntas sem respostas, ele pensou em primeiro arrumar um jeito de saber se algo esquisito vinha acontecendo com ele também. Por hora, precisava descansar. Não conseguiria arrumar as coisas estando como um zumbi. Pegou o pequeno potinho branco e levou-o para seu criado-mudo. Retornou ao banheiro e se banhou. Estava sem fome e por esse motivo apenas deitou-se na cama e fitou o teto, tudo parecia girar, o mundo dela inteiro parecia estar girando, deixando a zonza, tonta, incapaz de se locomover para o certo, o fim. Respirou fundo. Pérola chegou e se aninhou nela formando uma pequena bolinha de pelos e ronronou agradecida quando Hermione começou a lhe fazer leves carinhos.
— Vamos dormir. - ela decretou e então pescou o potinho que havia deixado ali minutos atrás. Sentindo-se péssima por ter de recorrer à calmantes, ela engoliu as pílulas e poucos minutos depois, sua visão foi se escurecendo até ela cair em sono profundo.
(...)
Passava um pouco das quatro horas da tarde, quando Hermione bateu a porta da frente saindo de casa. Ainda tinha muito o que resolver e trabalhar era o que poderia fazer para chegar ao final disso com eficiência. Agradeceu aos céus por, desta vez, ter tido um sonho tranquilo, sem imagens inexplicáveis e perturbadoras, apenas a paz da escuridão. Havia semanas que não sabia o que era ter isso. E, não ter sonhos ou dejavu a ajudou estar mais disposta para retornar ao Ministério. No caminho para lá, pode sentir o frio varrendo as ruas com mais força, aquele ar gélido que passava por ela e só faltava trincar seus ossos dava mais vasão ao inverno, e em como já tinha passado-se algum tempo em que Harry começara a trabalhar neste bendito caso. Quase três meses e tudo o que eles tinham era Olímpios, o sinônimo de nada, pelo menos para Hermione.
O prédio do Ministério estava no seu pico de movimento quando Hermione enfim chegou até o mesmo. Por onde andava podia observar pessoas apressadas, memorandos voando a todo vapor, algumas pessoas gritando com outras, e aquela fila constante nas lareiras se fazendo visível do Hall de entrada.
— O mundo que nunca para. - murmurou e sorriu, enquanto se movia para o elevador.
O nível que estava trabalhando estava do mesmo modo que os outros; corrido. Por tal ela apressou os passos para a sua sala, já mentalizando novos pontos em que supunha que poderia melhorar. Estava em frente a porta da sua quando ela o viu.
Ele se encontrava sentado nas cadeiras para visitantes em frente a mesa da Sra. Welts, e ambos sorriam um para o outro ao tempo que debatiam algo que aparentava ter muita importância. A mais velha sorria com muita vontade, demonstrando o quão satisfeita estava com aquele assunto, e o moço que tratava dele.
Hermione parou perto dos dois e pigarreou para lhes chamar a atenção. Quando ele a viu tratou de levantar-se.
— Eu disse que ela viria. - ele disse para a sra Welts e piscou cheio de si -Hermione! - exclamou animado, aproximando-se dela e tomando sua mão para dar aqueles seus habituais beijos galanteadores -
— Blás. - ela o cumprimentou acenando com a cabeça - O que faz aqui? - suas sobrancelhas estavam erguidas para ele em uma quase desconfiança, não havia um motivo para tê-lo ali. -
— Ora, que jeito mais doce de receber um bom amigo. - ele ironizou, alargando ainda mais seu sorriso -
— Desculpe. - ela revirou os olhos e sorriu -
— Melhor assim… - ela passou as mãos pelos seus ombros - Estou esperando você à quase duas horas. - contou o moreno de olhos escuros como a noite com um falso ar de drama -
— Imagino que isso tenha um motivo justificável. - deduziu a morena -
— Certamente que sim. - ele concordou - Vamos entrar?
Ela acenou com a cabeça e então entrou na própria sala, sendo seguida pelo homem. Ela pendurou a bolsa e o casaco grosso que vestia no cabide e virou seus olhos para ele, que a essas alturas já estava sentado apenas acompanhando os gestos dela, Blaise não precisava de um convite para se sentir à vontade. Ele era confiante o suficiente para tal.
Ao invés de se sentar em sua cadeira, atrás da mesa de mogno, a bruxa optou por puxar a cadeira ao lado dele e se sentou.
— Porque está aqui? - tornou a perguntar olhando diretamente para os olhos misteriosos dele.
— Vim persuadir você. - ele anunciou - E quero que saiba que não sairei daqui sem uma resposta positiva. - acrescentou ele - Então, vamos fazer isso do jeito fácil ou difícil? - perguntou Blás sorridente, aquilo era divertido para ele, pensou Hermy -
— Está se referindo ao Baile de Natal? - ela arriscou descobrir cruzando as pernas e jogando o corpo um pouco para trás, para apoiar as costas. -
— Isso mesmo, querida. - ele balançou a cabeça em afirmativa - Mandei Draco fazer a intimação, mas obviamente o termo que ele usou com você saiu mais como um convite… - Blás agitou as mãos e balançou a cabeça em negativa - Tive que vir aqui pessoalmente e fazer do jeito certo.
Hermione, que até então esteve calada somente ouvindo com atenção, soltou uma risadinha incrédula.
— Você é impossível! - ela sentenciou - Blás, agradeço mesmo seu convite mas é algo que possivelmente não vai casar com o que já tenho em mente…
— Hermione, sei que você consegue se fizer um esforço. - ele colocou suas enormes mãos em cima das dela - Além do mais, não vai estar cheio de ex-Comensais lá, pode confiar. - assegurou piscando para ela em cumplicidade -
De repente, ela ficou seria e franziu as sobrancelhas para ele.
— Foi isso que ele disse a você? Que estou com medo de ir porque pensei que sua casa iria estar cheias de Comensais? - Hermione perguntou de forma dura e cada palavra parecia como um tiro certeiro -
Blaise arrumou sua compostura divertida e também ficou sério. A castanha notou que com a mesma facilidade que ele deixava que sorrisos se mostrassem em seus lábios, ele sabia a hora de desfazê-los. Percebeu que ela mesma assumira aquela forma mais rígida, simplesmente à menção de uma atitude que ela não havia tomando, ou um pensamento que estava muito distinto da realidade por trás do motivo pelo qual não tinha dito “sim” ao primeiro convite feito por Draco.
— Escute, eu estou pouco me importando se nesse baile haverá ou não Comensais, ou sabe-se Deus quem mais você quiser convidar. - Hermione começou depois de alguns segundos de silêncio - Apenas não dei uma resposta porque não tinha uma. Com certeza terei mil coisas para resolver no Natal e por isso não quis assumir esse compromisso, pois não sei se poderei cumprí-lo. Fico completamente ofendida, tanto por ele quanto por você terem pensado algo tão preconceituoso ao meu respeito. - desabafou ela -
Ele levou a mão ao queixo e soltou o ar.
— Não vou mentir, Granger, Draco realmente disse a mim que você provavelmente não queria se misturar. - confessou Blás - Mas não posso culpá-lo. Todos os outros pensariam a mesma coisa. E não por você, mas sim por causa de nós. A sociedade inteira sabe que estivemos do lado errado, e por mais que tenhamos nos redimidos ainda é difícil confiar. Eu vejo os olhares que recebo. - ele disse e seu tom de voz havia adquirido um pouco de casualidade e tranquilidade, algo para tentar passar um pouco mais de verdade a sua narração -
— Eu nunca fiz isso com vocês, ou com qualquer outro que tenha se redimido. - ela se defendeu - Acredito no arrependimento.
Blás sorriu.
— Eu sei.
— Mas parece que Draco não. - ela retrucou um pouco irritada -
— Tudo foi muito pior pra ele, Hermione. Não que tenha sido fácil pra qualquer um de nós… - explicou o moreno -
— Acredite, pra mim também foi. - ela o interrompeu. Pra ninguém havia sido fácil. Foi uma guerra. Elas são dolorosas em seu geral.
— Disso também sei. - Blás repetiu - Mas depois de tudo vocês tinham apoio de todo um mundo, e nós? - perguntou retoricamente - Não estou justificando o fato de Draco ter tido esse pensamento. - disse ele quando Hermione ameaçou abrir a boca para protestar - Só estou dizendo que as vezes nem ele mesmo se vê como merecedor de estar sendo aceito dentro da sociedade. E sempre que pode acaba se pondo pra baixo por conta do passado. Ele torna tudo um pouco mais difícil do que já é. - contou ele -
— Ele não devia. - ela murmurou e um nó estranho formou-se em sua garganta. -
— Quando ele me contou, claro que eu soube que poderia ser mais uma vez a visão dele das coisas, por isso vim aqui. - Blás olhou para ela como se pedisse compreensão - Me desculpe se a ofendi, Granger, não foi minha intenção, de verdade. - ele pediu apertando a mão que estava sob a sua carinhosamente -
Hermione apenas Assentiu com a cabeça. Parte daquela irritação dela por Malfoy ter dito aquilo naquela tarde se dispersou, mas outra se criou, como a dele não ser capaz de entender que podia sim ser uma pessoa confiável, ainda se culpar por tudo o que fez. Deu um meio sorriso para Blás.
— Posso ficar sem dar uma resposta sobre seu convite? - Hermione mudou de assunto propositalmente. -
— Intimação. - corrigiu o moreno, aquele seu ar de bom humor voltando. Ela gostava disso nele -
— Seja o que for. - ela retorquiu - Posso dizer que se puder irei, podemos ficar acordados dessa forma? - propôs -
Blás parou para pensar um pouco.
— É melhor do que um “não”. - ele observou -
Hermione sorriu abertamente para ele e se levantou dando um tapinha em seus ombros. Colocou-se atrás das mesa e olhou para ele divertida.
— Tenho trabalho a fazer, fora. - mandou em meio à um riso -
— Tudo bem, tudo bem. - ele acatou a ordem e se levantou arrumando o terno que usava. - Espero você no baile de Natal, hein!
— Está bem! - ela disse e começou a arrastar os papéis que haviam em cima da mesa para perto de si. Observou, nesse meio tempo, que havia o lírio do dia no pequeno vaso de cristal, e então tudo parecia estar no seu lugar. Pelo menos no trabalho.
Escutou a porta ranger para dar saída à Zabini e ergueu os olhos, quando ele estava no limite da porta, refreou os próprios passos e olhou para trás, para ela. Aquele olhar de mistério estava lá novamente, instigando-a.
— Você deveria falar com Draco. - ele disse simplesmente e em seguida, saiu, batendo a porta e a deixando intrigada para trás.
Ela mordeu o lábio inferior e deixou seu corpo relaxar na poltrona, ponderando se deveria ou não fazer aquilo.
Encontraria uma resposta para isso no fim do dia.
Entre tantas coisas para fazer e pensamentos inquietantes, Hermione terminou aquele dia de trabalho. Harry e Ron estariam de volta à guarda aquela noite, mas por sorte e por lógica ela ficaria pelo ministério durante aquela semana.
Havia conversado com o Ministro sobre a possibilidade pedir um reforço e fazer uma investigação secreta, mas sem desfazer as guarnições e mantendo o ritmo dos interrogatórios, precisaria focar todos os aurores disponíveis nisso, erros não seriam mais tolerados.
Ela bebeu o último gole de chá de sua xícara e então fitou os relatórios empilhados perfeitamente sob sua mesa. Finalmente havia os devorado. Já sabia o que não deveria ser feito novamente se queria mesmo finalizar aquela investigação que tirava sua paz.
Guiou seus olhos até o relógio que se mantinha na parede leste da sala e verificou que já estava mais do que na hora de ir para sua casa, na manhã seguinte passaria onde seus amigos estavam para lhes levar algo para comer e pegar algumas informações de Harry.
Hermione apanhou suas coisas e saiu da sala, trancando a mesma em seguida. Sua cabeça aparentava estar um tanto quanto melhor diante de tanto trabalho, tanta distração para levar suas frustrações para longe, deixá-las descansando um pouco.
Quando dobrou um corredor, uma corrente de ar veio por algum maldito lugar que Hermione não pôde identificar, e seu corpo todo estremeceu, o coração começou a acelerar seus batimentos rapidamente, e, aquela sensação de vazio preencheu seu interior. Ela parou, levando as mãos ao peito, tentando entender de onde provinha aquela prenuncia de mau agouro. Olhou para trás para deparar-se sozinha no corredor, de repente as pessoas que também estavam saindo de suas salas desapareçam.
— Não há nada aqui. - murmurou encorajando a si mesma -
Recomeçou seu trajeto, e viu, os cabelos loiros dele brilharem de dentro do elevador. Foi aí que percebeu que queria resolver aquela história entre eles. Hermione ainda tentou alcançar o elevador mas não teve muito êxito em sua tentativa, no entanto, pode estar perto o suficiente para conseguir fazer sinais para que ele a esperasse no Hall.
Havia um onda de ansiedade esquentando seu sangue enquanto ela descia no próximo elevador, seus dedos inquietos tamborilavam nas pastas que ela levava consigo. Torcendo como jamais pensou que pudesse torcer para Malfoy estivesse a esperando lá embaixo. Saiu do elevador às pressas, varrendo com os olhos castanhos toda a área do Hall a procura de Draco, não o vendo em nenhuma parte dali, ela correu de encontro a porta giratória, empurrando com força para ver se ele tinha ido, e quando estava na rua pôde vê-lo do outro lado, com as mãos nos bolsos. Revirou os olhos praguejando-o no mesmo tempo em que o seguia. Seus saltos limitavam sua velocidade, e ainda dificultavam seu equilíbrio. Mas, ela era determinada, e se queria arrumar as coisas com ele, então iria fazer isso.
Ele se dirigia para o beco que sempre usava para aparatar. Um pouco mais próxima dele, ela gritou fazendo sua voz ser ouvida e então o loiro finalmente parou um pouco após a entrada do tal beco.
Ela aproximou-se dele um pouco ofegante.
— Que Droga, eu disse pra você me esperar no hall! - ela esbravejou com a respiração falha -
— Para quê? - ele a olhou com indiferença, seus azuis não esboçando qualquer reação. - Acho que já dissemos tudo o que poderíamos dizer um ao outro. - acrescentou ele colocando suas mãos novamente dentro dos bolsos fundos -
— Ninguém disse nada, Malfoy, você apenas tirou conclusões equivocadas. - ela retrucou em meio a uma carranca e um olhar acusador. -
Draco soltou o ar pelo nariz e franziu o cenho. Hermione podia ver, exatamente como Blaise via. Ele estava perdido.
— Escute, aquela tarde quando você me convidou para o Baile de Natal, eu não… - ele a interrompeu -
— Aquilo já passou, Granger. - ele disse rude seu tom de voz cortante como o frio - Eu já entendi, não sou i****a. Assunto encerrado. - concluiu afastando-se para ir embora -
Hermione respirou profundamente, ninguém podia dizer que ela não estava tentando. Ela o puxou pelo braço, fazendo ele cambalear para trás, para perto dela, e lhe olhar nos olhos, dando a ela, a visão de sua imensidão cinza, que lhe encarava um pouco surpreso pela atitude.
— Você vai me ouvir agora, Malfoy! - ela bradou - Você não tem esse direito! Não pode sair por aí ficando chateado com uma pessoa porque VOCÊ entendeu as coisas erradas. - ela bateu suas mãos no peito dele com irritação - Isso é injusto, muito injusto! Eu não disse nada a respeito do seu passado, nada em relação as suas escolhas, eu simplesmente…
— NÃO PRECISOU, GRANGER! - ele berrou em cima dela, as mesmas palavras daquele dia, a afastando um pouco de si e passando as mãos pelo próprio cabelo em exasperação - Eu vejo como você me olha… - falou mais baixo -
Hermione sentiu a ira tomando conta do seu corpo como fogo em gasolina, rapidamente. Seu olhar para ele se tornou duro. Nunca, desde que ele havia retornado, tinha o olhado com desprezo, não por conta das escolhas dele. E lhe irritava muito que ele não fosse capaz de ver isso.
— Isso é deprimente, Draco. - ela concluiu - Você fez algo para si mesmo, procurou um caminho certo, mas não acredita na própria escolha de fazer o bem, na própria redenção. - balançou a cabeça desacreditada -
— Não queira me fazer o monstro quando você não sabe o que passei. - ele vociferou, seu rosto estava vermelho pela raiva, seus olhos faltavam faiscar, ela conseguira tirá-lo do sério - Não quando tudo foi mais fácil pra você, heroína de guerra. - ele balbuciou as palavras com um sarcasmo desnecessário.
Um tapa teria doído menos. Hermione se afastou dele, sua expressão era de pura incredulidade e, uma decepção crescendo dentro de seu corpo gritava. Ela não poderia insistir em alguém que sequer tinha a perspectiva de entender que todos os lados sofreram, todos os lados perderam alguma coisa, ainda que o dela tenha conquistado a “Vitória", perdeu muito mais do que ganhou, no fim das contas. Ela esboçou um sorriso triste a ele, uma melancolia avassaladora se instalando nela e sendo palpável no ar.
— E eu tola pensando que estávamos nos tornando amigos. - ela disse, fitando bem aqueles olhos misteriosos como o mar revolto em dias tempestuosos - Você é egoísta, Malfoy. E isso não vai mudar. - afirmou com pesar - f**a-se.
Ela virou-se para sair daquele beco e deixou um loiro calado para trás, andava vagarosamente de volta para o Ministério, usaria uma lareira. Iria para sua casa, tomar um banho de banheira, relaxar, esquecer Malfoy de vez, uma amizade não pode ser criada com uma pessoa que tinha um pensamento tão decadente, ainda mais em relação aos valores dela.
Adentrou o prédio sem pressa, caminhando pesadamente para as lareiras, o som que ouvia era apenas os passos ecoados e a própria respiração lenta. No entanto, aquele arrepio involuntário a pegou novamente e ela olhou para trás como sempre fazia, desta vez, diferente das outras vezes, havia uma sombra no meio do corredor com uma varinha em riste, apontada em sua direção, ela pôde apenas identificar quem era, antes de um feitiço ser lançado em sua direção e lhe acertar em cheio. Era Olímpio.