13 - Enfrentando.

4012 Words
13: Enfrentando. Ecos. Era tudo o que ela estava escutando. Zumbidos abafados por todos os pensamentos que estavam sendo jogados à ela sem pudor ou piedade. Harry estava se matando, batendo as mãos em cima da mesa, exigindo mais dedicação e informações e tudo o que ela conseguia ouvir eram os ecos. E não eram sobre aquela reunião inesperada, que estava acontecendo porque um dos Aurores que estava de guarda aquela noite havia sido atacado e passava muito m*l no St. Mungos. Eram daquele maldito sonho, e da "explicação" que ele tinha lhe oferecido quando lhe presenteara com a delicada e tão significativa pulseira de pérola. Sabia que aquele sonho com ela desejando a morte de Malfoy deveria ser o que permearia e que estaria fazendo estardalhaços dentro dela, mas, encontrar aquela pulseira escondeu quase que por inteiro o recente acontecido, tornando o anterior muito mais digno de suas paranóias, de suas deduções, e de seu olhar desfocado. Ela não tinha ideia de como conseguiu chegar até o Ministério, o choque que teve ao sentir aquela jóia em mãos inibiu todo o resto de seus sentidos, inclusive, sua capacidade de se lembrar das coisas, dos seus atos a curto tempo. Ela acreditava que estava ali apenas no automático, porque estava tão desorientada após sentir a frieza do ouro em sua derme, que simplesmente aparatou, segundos depois estava sentada de qualquer forma, seus olhos arregalados e seu coração, que parecia ter ficado em casa juntamente àquele objeto, batendo lentamente, e mais ecos dentro dela. Hermione sabia o quão inoportuno era estar daquela forma, ao menos, aquele momento. Mas a jovem bruxa não conseguia esquecer que lá, no meio de toda aquela bagunça que ela acidentalmente havia criado estava uma jóia que era desconhecida para ela até ter sonhado com a mesma, semanas atrás. Que, tê-la queria dizer que aquela lembrança era real. E se era real deveria haver uma explicação sobre o "porque dela não se lembrar." Estava tão cansada quando encontrou aquele objeto... Talvez, mas só talvez, pudesse ter sido só sua imaginação pregando peças! Esperava que quando chegasse em casa tudo não tivesse passado de um m*l entendido, que, já que estava tão empenhada em entender aquele sonho, acabara por delirar que encontrava a bendita pulseira. Merlin poderia conceder isso à ela? Esse milagre de não haver nada à sua espera, pronto para desencadear algo que estivera escondido? Bufou, não seria tão i****a a esse ponto, por mais fé que tivesse. Aquela pérola estava lá, jogada no chão, largada à própria sorte. Aguardando o momento em que ela voltaria para casa, cheia de teorias e mais perguntas que talvez nunca fossem ser respondidas. Hermione revirou os olhos. Besteira tentar ignorar os sinais. Os primeiros sinais, aqueles que começaram a aparecer logo que ele chegou, e que diziam que havia algo por trás daqueles olhos cinzas. Mas ela, em sua tão cega vontade de encontrar a lógica, enrolou e ignorou todos eles, agora estava ela, sendo obrigada a vê-los gritar diante seus olhos. Retornou ao presente quando Ron adentrou a sala de reuniões. A porta rangendo foi o que o denunciou, e ela deu sua atenção a ele. Estava suado, um pouco de sangue em suas vestes, e tinha uma expressão de raiva mesclado à tristeza em seu rosto. O cansaço também estava lá, ela podia ver refletido em seus azuis. - E então, algo? - havia expectativa na voz do Potter quando ele questionou a Ron, seus olhos quase brilharam por uma fração de momentos esperançoso de uma boa notícia ter chego - - Não. - ele murmurou, descontente e inconfundivelmente contrariado - Harry suspirou pesadamente e fechou seus olhos verdes por alguns segundos, levando as mãos até os mesmo e esfregando-os. Ron murchou os ombros e se sentou próximo à Hermione. O ruivo esbarrou os ombros nos da castanha e ela apenas apertou os lábios para ele e suspirou. Estava longe dali, perdida no meio de um turbilhão de probabilidades sobre Malfoy e seus sonhos. - Voltem às guardas, por favor. - Harry pediu e tirou os óculos, passando as mãos nos olhos mais uma vez, cansado. Silenciosamente, todos se foram. - Vou precisar de vocês dois hoje... - informou o moreno apoiando a b***a na mesa de reuniões, olhando firmemente para Hermione e Ron. - Tudo bem. - Hermione sequer questionou sobre o que poderia ser. Apenas, queria poder ocupar a cabeça com alguma coisa para que deixasse seus demônios esperando-a em casa. Retardaria enfrentar isso o máximo que pudesse. Medo? Bem, até mesmo a mente mais brilhante da Geração poderia alguma vez se dar o luxo de sentir-se acuada diante do desconhecido. Afinal, se estava escondido havia algum bom motivo para isso. - Isso não poderia ter acontecido... - ela ouviu Harry murmurar a si mesmo enquanto se levantavam. Mentalmente, ela concordava com ele muito mais do que era certo admitir. (...) Harry empurrou a ela uma grande caneca de porcelana, que estava até a borda de café, escorregando o corpo lentamente e então estar sentado no chão como ela. Puxou a coberta grossa que ela estava usando para se aquecer juntamente aos feitiços aquecedores e jogou sobre suas pernas esticadas no chão frio coberto de folhas secas de outono, somente depois disso foi que olhou para ela, em seus olhos castanhos e dispersos sabe-se lá onde. - Eu odeio café. - Hermione reclamou levando a caneca até os lábios sentindo a bebida de gosto forte deslizando quente por sua garganta. - Vi você bebendo café por mais de uma vez nesta última semana. - o amigo de olhos verdes debochou, bebendo um grande gole da sua caneca - Então tenho até a astúcia de dizer que você não odeia café... Atrevo-me a dizer que até goste. Ela deu um meio sorriso e então seus olhos estavam sobre ele também. - Talvez eu não odeie mesmo. - ela confessou enquanto mais da bebida escura deslizava para dentro de si, esquentando seu corpo internamente. E, infelizmente havia uma maldita ambiguidade por trás daquelas palavras simples. Ambos ficaram em silêncio após isso. Hermione, por mais que tentasse, não conseguia tirar da cabeça e do coração aquela sensação de estar perto e mesmo tempo longe de uma pista. Como se, cada vez que seus dedos estavam prestes a tocar a verdade, algo além de sua compreensão mudava todo o rumo e então novamente havia milhas de distância entre ela e o que a faria entender o que estava acontecendo. Involuntariamente, ela deixou que um suspiro escapasse de si. E o mesmo pareceu deixar o ar denso e pesado. - O que há? - Harry incomodado, perguntou virando-se para ela - Tenho percebido você um tanto quanto distante ultimamente. Não fala mais comigo das coisas, aparenta estar com o mundo nas costas e anda bebendo café... O café foi o estopim! - ele suspirou também - - Eu estou perdida, Harry. - ela o olhou nos olhos, percebendo que talvez pudesse desabafar com ele. - Perdida dentro de mim, esbarrando em cada novo detalhe ou coisa que eu não sabia que existia, umas sensações sufocantes me estrangulando quando tento dormir e nada explica isso... - Sentiu as lágrimas beirarem os olhos por conta de toda aquela sensação de afogamento que estava sentindo. Misturadas e contraditórias com outras tantas. Presa, enterrada abaixo de todo medo, insegurança e receio do que iria encontrar neste caminho que teria de trilhar, um provável caminho pro passado, ou que, a julgar pelo pouco que estava obtendo, caminho doloroso. Respirou fundo, engolindo o choro como se o mesmo fosse vidro, machucando muito mais por não deixar sair. Não podia se entregar assim, ainda não. Harry puxou a cabeça dela para que a mesma se apoiasse em seus ombros e acariciou os cabelos cheios que estavam amarrados de qualquer forma, tentando passar a ela alguma tranquilidade, já que, aparentemente não tinha algo bom o suficiente para dizer que pudesse acalentar o coração conturbado de Hermione, ele quase nunca era bom com palavras. Ela deixou que ele perdesse sua mão naquele emaranhado todo, sentindo falta de quando era apenas uma adolescentes preocupada com suas notas, e não uma adulta com tantos problemas para resolver. Colocando sua expressão mais firme, ela se recompôs. Seus olhos se fixaram a sua frente, e então ela viu o primeiro floco de neve - e era raro nevar em Londres -, despencar do céu e vir até o chão rodopiando quase que poeticamente, iniciando a transição de outono para inverno. Em seguida vieram outros e mais outros e ela perdeu as contas de quantos já haviam descido assim que Ron apareceu fazendo-os lembrarem de sua presença. - Eu ainda não acredito que ele conseguiu fugir. - o ruivo resmungou e sentou-se do outro lado de Herms, puxando também um pouco da coberta para cima de si, a fim de se proteger do frio. - Não foi culpa sua, se é por isso que está tão bravo. - Harry comentou, sua expressão um pouco mais amena agora - Ele tinha tudo sob controle. Nós é que estávamos vendados. - Harry é sério, eu avisei à você que as informações de Olímpios eram certas demais... - começou Hermione, seu rosto indo em direção à Harry e seus olhos se apertando para ele. - - Mione.. - ele choramingou - Não começa com aquele papo do "eu avisei você" - pediu o moreno, as mãos juntas balançando de um lado para o outro, era quase infantil - - Você não vai escapar do meu discurso, Harry Potter! - ela rebateu, cheia de si - Você deveria saber que ele não poderia querer dar tudo assim e não querer nada em troca. Por Deus, é óbvio que tudo foi uma armadilha! - Eu tenho que concordar com Hermione, Harry. - Ron disse, avaliando a situação - Durante todos esses anos de Aurores nós já nos demos m*l por conta dessas informações dadas de tão boa fé.. Tá na hora de aprender com os erros, amigo. - o ruivo esticou seu braço por trás de Hermione para que o mesmo tocasse o ombro de Harry. - - Obrigada por isso, Ronald. - ela agradeceu dando à seu amigo ruivo uma piscadela conspiratória - Tá vendo, até mesmo Ron sabe que não é assim que as coisas funcionam. Precisa ser mais criterioso em relação ao que pode ou não acreditar Harry, e, principalmente; desconfiar do que vem de graça. Nada nesse mundo é de graça. - enfatizou a morena - Você sabe. - Vamos focar no certo dessa vez... - Harry murmurou um tanto quanto culpado olhando para sua melhor amiga com seus olhos verdes miúdos. Era uma desculpa muda. - Ela esbarrou os ombros nos de Harry, que sorriu e esbarrou de volta. Os três iriam cobrir o Auror que estava no hospital, pois, por mais que tivesse sido uma sacada errônea essa da guarda, era melhor manter tudo como estava, para que o Ministério pudesse agir por trás dos olhos dos bandidos. - Acho que devemos fazer uma fogueira, vai esfriar ainda mais, mesmo que essa neve não dure. - observou Ronald quando o frio começou a doer - - Vocês estão sentindo essa sensação de déjà vu? - perguntou Harry esfregando as mãos uma nas outras, um olhar e sorriso ladino conspiratórios. - - Parece que estamos atrás das Horcruxes de novo.. - Herms disse, seus olhos vagando por aquele parque, lembrando-se das incontáveis florestas no qual esteve naquele ano de caçadas sombrias. - Tudo o que fazia parecia empurrá-la ao passado. Como se fosse necessário rever as coisas, e ela começou a pensar que talvez precisasse analisar com mais cuidado suas lembranças, pois era nítido que algo estava perdido por lá. O problema, entretanto, era voltar sem se machucar. Ela não sabia o quão doloroso seria sua viagem, tampouco se estava preparada, apenas sentia que era inevitável, e por mais que não quisesse rever ou descobrir, os segredos não queriam mais se manter nas sombras. O celular de Harry tocou e puxou Hermione de volta ao frio cortante do fim de Novembro, ela piscou lentamente observando o melhor amigo ir falar com Ginny num ponto onde o sinal era melhor, enquanto Ron usava sua varinha para acender a tal da fogueira. Levantou-se do chão, dirigindo para perto das pequenas labaredas alaranjadas. Deixando seu corpo ser aquecido e tentando ao máximo relaxar, ainda que o motivo por estar ali gritasse por si só que não seria uma tarefa na qual conseguiria êxito. - Ela está preocupada. - Harry murmurou quando se sentou perto do fogo - Tem medo que sejamos atacados, como Frederick. - Eu não a culpo, estou também. - Hermione admitiu, com um suspirar pesado - - Qual o próximo passo? - perguntou Ron interessado, pondo-se entre ela e seu amigo moreno - - Falaremos no ministério. - Hermione cortou - Não confio na segurança desse lugar. - Seus âmbar saíram de cima do fogo que estalava na madeira fria e rolaram por todo o espaço que seus olhos conseguiram registrar. Tinha receio de estar sendo observada, por tal preferiu não revelar o que estava preparando para dar a volta por cima naquela investigação, precisaria usar a esperteza que sempre disseram que ela tinha. - Vai ser uma longa noite, não vai? - questionou o amigo moreno, esfregando os braços pelo frio - - Vai sim. - ela concordou e abraçou suas pernas - Soltou o ar e viu o mesmo fazer uma névoa a sua frente. - Longa e fria. - murmurou - ... ... ... Seus olhos já estavam pesando quando ela observou o sol começar a se erguer entre as árvores grandes e largas da floresta. Aquela cor alaranjada foi tomando conta do céu gradativamente dando a ela pequenos feixes daquela luz que parecia mágica. Recostou-se um pouco mais na tora de madeira apreciando a esplendorosa vista que podia desfrutar e esfregou as mãos umas nas outras para espantar o frio que havia se intensificado de forma relevante. Havia, como mencionado por Harry, sido uma longa noite. O tempo, aquelas malditas horas pareceram passar muito devagar, o que fez com que, mesmo com ela atalhando para outros assuntos, acabasse sempre em seu quarto, atrás do guarda-roupas, olhando aquele objeto que brilhava intensamente. A pérola daquela pulseira que estivera em seu sonho. Com os ânimos mais calmos, a capacidade de pensar de forma coerente parecia ter retomado sua utilidade. O que deu a ela quase que a certeza de que ela mesma não foi quem bloqueou suas próprias memórias. Apesar de ter tido seus piores momentos na Guerra e por muito de si ter ido junto com aqueles que deram sua vida pela vitória, ela não considerava isso um fato tão traumático ao ponto de bloquear a si mesma. Sabia, entretanto, que se fizera isso nunca iria se lembrar se fez. Porque era esse o real propósito de bloquear algo, se recusar a conviver com eles martelando em sua cabeça. Estalou a língua, confusa. Mas, como evitar aquela intuição que berrava dentro de si? Se ela nunca foi fraca. Superou e suportou todas as suas escolhas de Guerra, conviveu com os pesadelos e as dores até poder dormir sem acordar aos gritos na madrugada, ou entupida de calmantes. Não, definitivamente ela mesma não havia feito algo assim. Era covardia demais, por mais que doesse, que ruísse tudo por dentro. Todo mundo tem alguma dor, lembrou-se. Algo que fazia o coração sangrar e ainda assim, seguir em frente. O que a fez voltar novamente para as primeiras hipóteses. Ou aquilo estava sendo implantado em sua vida por alguém, ou, bem, era tudo real e sua memória talvez tenha sido apagada. - Obliviada... - murmurou apenas para ver que peso que aquela palavra poderia dar-lhe e o que sentiu fez seu coração doer de uma forma descomunal e avassaladora. Se tivesse sido realmente obliviada aquilo era crueldade. E, ela só precisava de um pouco mais para descobrir o maldito que tinha feito isso com ela. E ela seria impiedosa com esse ser, jurou. - Bom dia. - Harry saudou oferecendo a ela um sorriso amigável que com certeza era muito promissor - - Dia. - ela tentou em todo o seu cansaço devolver aquele gesto sereno dele - Ela se levantou e bateu um pouco dos resquícios de neve que se abrigara em sua roupa, e Harry aproximou-se e balançou seus cabelos retirando as fuligens esbranquiçadas que manchavam seus cachos espessos. Em seguida, o Potter passou a mecha solta do cabelo para trás da orelha dela e então pousou as mãos em ambos os lados do rosto dela. - Sei que você está tentando passar por algo. - ele disse, ela sentiu seu coração começar a sair do ritmo - Não sei o que, não sei o que dizer, e não sei quanto tempo vai durar isso... - ele confessou - Mas, eu estou aqui, Hermione. Quando estiver disposta a falar, ou se quiser apenas um ombro, você sabe que estou aqui. Ela puxou-o para perto e o abraçou, sentindo o calor dele quase como um escudo. Agradeceu mentalmente por ter a Harry, aquele irmão de alma e coração que havia ganho por acaso. O cheiro dele a acalmou nos segundos que duraram aquele abraço, carregado e transbordado de amor e irmandade, um sentimento real que só aumentou com o tempo e o empenho de ambos de manter aquilo até o fim da vida. - E eu sei que você está mortalmente cansada, mas por favor, poderia dar uma passadinha no ministério antes de ir para sua casa? - ele pediu ainda com ela aconchegada nele, olhando para baixo com aquele olhar suplicante que ele usava com ela - Por favor? - Tudo bem. - ela cedeu em meio a um bocejo - O que preciso fazer? - Algum de nós precisa dizer a Kingsley que ainda estamos vivos. - Ela se afastou de Harry e lhe deu um soquinho no ombro. - Dia. - Ron Saudou sonolento e entregando a eles duas canecas de café. - Os outros já chegaram para nos substituir. - bocejou - Por favor, diga que podemos ir pra casa? - ele quase gemeu a última frase - - Eu avisarei a Shacklebolt. - sentenciou a mulher - Andem, vão para suas casas. - e sorriu amorosamente para ambos - Até mais tarde. Dizendo isso, ela fechou os olhos e quando os abriu estava naquele beco que Malfoy sempre usava para aparatar. Pensar nele fez ela estremecer um pouco, porque tudo que a atormentava tinha um dedo - por não dizer o todo -, de Draco. Era estranho pensar que ele lhe dera aquilo. Que dissera que a amava e que a beijou. Merlin, ele a beijou! Queria muito mesmo que aquilo fosse alguma ilusão, que pudesse algum dia acordar e descobrir que era tudo um pesadelo e que sua vida ainda era feliz e calma sem aquelas intromissões esquisitas de alguém que nunca deveria ter saído da ala de "pessoas odiosas e patéticas". Mas não podia negar; Malfoy havia ultrapassado isso e muito pior, estava entrando na ala das "pessoas que me importo". Levou as mãos ao coração. Será que ele também tinha sido... Balançou a cabeça negativamente. Teria tempo para pensar nisso depois, agora, precisava focar no seu trabalho só um pouco. ... ... ... - Estou realmente feliz em vê-la. - Kingsley sorriu para ela quando a mesma atravessou a porta de sua sala - Todos os outros estão bem? - - Sim. Posso ir embora? - perguntou ela diretamente - - Sente-se. - ele ordenou entre um meio sorriso - - Kingsley... - ela choramingou - eu passei a noite em claro, preciso mesmo dormir. Ele bateu nos ombros dela fazendo-a sentar-se. - Tenho uma pergunta. - Aposto que poderia me questionar depois. É sério estou exausta. - ela quase forçou um bocejo para enfatizar seu estado físico - - Só preciso de uma palavra e então estará liberada, sim? - ele prometeu - Ela assentiu rendida e então deixou-se relaxar na poltrona. - Eu contratei Draco para te substituir. - ela lutou para não revirar os olhos - E, pelo que soube ele é realmente bom. Se especializou em Genebra, está fazendo tudo direitinho... - O Ministro juntou ambas as sobrancelhas - Você confia nele? Ele foi direto. E aquilo não poderia tê-la pegado ainda mais em cheio, e ela uniu as sobrancelhas automaticamente. Teve que fazer sua cabeça trabalhar, montar respostas, situações, buscar atitudes, relembrar tudo o que ambos viveram desde que ele havia retornado e junto com ele todas aquelas malditas coisas. Lembrou das brigas, das desculpas, dos olhares, dos sorrisos que ambos trocavam, das insinuações maliciosas, do beijo que ele lhe dera no restaurante, e, inevitavelmente, daquela acusação que ele lhe fez e que os tinha deixado afastado. Massageou as têmporas por alguns segundos, tudo era como pequenos raios chegando a cabeça dela, como se fosse uma espécie de download carregando para dar um parecer final. E quando carregou, ela sabia o que deveria dizer. Talvez ela se arrependesse, mas a resposta para aquela pergunta era surpreendentemente simples. - Sim. - ela disse cansada - Confio nele. Confissões internas as vezes deixam o coração leve e te dão uma visão melhor das coisas. Hermione se surpreendeu mais uma vez naquela hora, com o tanto de peso que pareceu sair de si aliviando até mesmo sua alma. Quando pôde enfim sair daquela sala, Hermione sentia que tinha feito uma coisa boa para uma nova pessoa, e, não era necessário ela contar a ele, ou a qualquer outro. Ela sabia e isso era o que de fato importava. Passou em frente a sua sala antiga - que voltaria a ser sua em breve -, e olhou para Malfoy trabalhando ali, concentrado, seu coração pulsou violentamente tal como pulsava nos primeiros contatos que teve com ele logo que o mesmo assumiu seu lugar. Involuntariamente pensou que, quando voltasse ele não estaria mais lá, que haveria apenas a lembrança dele e, quem sabe, algumas coisas esquecidas, talvez até o cheiro... Admitiu a si mesma que sentiria a droga da falta dele, por mais que admitir isso soasse um pouco estranho. Pensou seriamente em entrar naquela sala e arrumar as coisas com ele, mas o cansaço apenas a fez rumar para sua casa. Precisava dormir, descansar, porque ainda tinha uma quadrilha a pegar, e esta dita era esperta o suficiente para conseguir dar muito trabalho a ela. Quando adentrou seu apartamento, alguns poucos minutos após deixar o Ministério, sentiu toda a tensão que afastara de sua cabeça no decorrer do dia, voltar com intensidade, o iminente enfrentamento entre si e aquilo que estava em seu quarto, a esperando furtivamente, apertando seu coração. Não tinha mais para onde fugir, fez na rua o que podia e o que pediram para fazer na tentativa de prolongar seu tempo para enfrentar, entretanto, tinha que voltar para casa uma hora, estar frente a frente com aquela pulseira cheia de questionamentos. E essa hora aconteceu. Foi recebida com muito carinho, assim que jogou as chaves na mesinha de centro, por pérola, SUA pérola, aquela que ela reconhecia como sua, a companhia que tinha a algum tempo, a bichana de olhos amarelados e pelos esbranquiçados e felpudos. A felina saudosa se enroscou nela até que pudesse estar em seus braços, sendo mimada como merecia. - Também estava com saudades, amor. - ela deu um beijo no topo da cabeça felpuda de pérola que apenas fechou os olhos assentindo - Ela pôs pérola no chão e fechou os olhos com muita força. Puxando toda a coragem que morava dentro dela, e olhou para a porta do seu aposento, que se mantinha entreaberta. Ela quase podia visualizar a jóia atrás do móvel, insinuante e ousada chamando-lhe. - Nenhum medo pode te impedir de fazer alguma coisa para sempre. - murmurou a si mesma e deixou que seus pés se movessem para onde o demônio estava.
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