09: Defendendo.
Assim que atravessou as portas do Ministério, percebeu que seria uma semana daquelas. E, como pressentido, os problemas não perderam tempo em se mostrarem visíveis... Próximo ao elevador, encontravam-se Ron e Draco, os narizes de ambos quase se encostando e seus olhos - ao longe - demonstravam o quão perigosa era toda aquela proximidade.
Hermione olhou para cima, pedindo à Deus e a Merlin que eles lhe ajudassem a não matar nenhum daqueles dois, não aquele dia, porque ainda tinha uma reunião importante mais tarde e uma longa vida pela frente, para ir para Azkaban ainda tão jovem como era. Em passos rápidos ela se encaminhou para onde eles estavam, no intuito de acabar com toda aquela tensão que já começava a chamar atenção de algumas pessoas.
Testosterona maldita aquela que existia nos seres masculinos! - ela praguejou, mentalmente.
— Bom dia, Ronald, Draco. - cumprimentou e enfiou-se entre os dois, olhando hora para o loiro, hora para o ruivo - Qual o problema? - ela foi direta -
— Ele. - prontificou-se Ron a responder a castanha, indicando Malfoy com o queixo -
— Você quem está me acusando sem um motivo justificável e eu que sou o problema? - debochou Draco, seu rosto trazia uma expressão de divertimento, diferente de Ron, que aparentava ferver de tanta raiva -
— Ron? - Hermione virou-se para o amigo, as mãos pousadas em sua cintura e as sobrancelhas elevadas esperando a explicação -
— Não me olhe como se eu fosse o culpado, afinal, eu trabalho aqui! - ele retrucou m*l humorado fazendo uma careta, deixando claro seu desagrado -
— Malfoy também trabalha aqui. - ela retorquiu, indiferente -
— Que trabalhe, eu não me importo, mas não quero que ele tente usar isso para se aproximar de você, ou te fazer m*l, como eu sei que ele vai! - acusou o ruivo, olhando raivoso para um Malfoy indiferente. Toda a tensão já era nítida desde quem entrava no ministério até quem passava por eles, para ir para os seus respectivos departamentos.
Draco soltou uma risada anasalada e Hermione o olhou, seu olhar o repreendendo pelo ato. O loiro fechou sua cara em uma expressão séria, acatando a bruxa, ainda que seus olhos demonstrassem o quão divertida aquela situação lhe parecia.
Bufando, Herms voltou-se para Ron uma segunda vez.
— O que quer dizer? - perguntou para o ruivo, monótona -
— Olhe, como isso diz respeito a mim, acho que devo explicar essa situação patética que o Weasel está criando aqui.. - intrometeu-se Draco. - Esse show todo dele, é somente porque pedi para que Sra. Welts me avisasse quando você chegasse. - informou sem cerimônia, tão naturalmente como seria esperado dele fazer, ironicamente falando, é claro -
— Eu? - ela não pode esconder a surpresa de seu rosto e voz - O que você quer comigo?
— Eu estive lendo um caso que chegou essa semana, tenho duas opções e as duas são totalmente viáveis, mas estou realmente em dúvida sobre qual delas escolher. - comentou ele e colocou as mãos nos bolsos, casualmente - Queria sua opinião, apenas.
— Qual caso? - questionou, e por um breve minuto ela esqueceu havia sonhado com ele, que estar perto era perigoso, e que sempre que ele ia, depois de conversas, ela acabava com perguntas e uma visão diferente -
— A Lula gigante do Castelo St. Michael's Mount, aquele à 900 Quilômetros da Inglaterra… - respondeu ele, enquanto entrava no elevador, Hermione o seguindo e Ron também, a contragosto -
— Oh, estive esperando esse caso por semanas.. - ela falou, empolgada.
Por mais que seu trabalho fosse complexo, era algo que ela fazia com a maior dedicação, porque tinha sido o que ela havia escolhido para si, e estar falando do que conhecia desde que terminara os estudos em Hogwarts era algo que a deixava bem feliz e a aliviava do estresse que era lidar com outro departamento, mesmo que seu companheiro de debate fosse Draco.
— Eu ainda estou aqui! - Ron falou de repente, fazendo com que os outros lembrassem da sua presença - É amiguinha dele agora? - perguntou emburrado, a carranca em sua cara cheia de sardas apenas crescendo -
— Pare de agir feito um menino encrenqueiro e mimado! - Ela disse, sem paciência - Não vê que é algo sobre trabalho. - explicou mesmo sendo evidente que não era preciso -
— Um trabalho que não é mais seu, pelo que soube. - o ruivo retrucou, rude -
Hermione piscou, perplexa pelo modo que Ron falou, e aquilo lhe doeu. Olhou para Draco que semicerrou os olhos para ele e então a voz arrastada de Malfoy se pronunciou.
— Mas que vai voltar a ser assim que vocês aprenderem a sair da barra da saia da Granger! - respondeu Draco, com desdém -
— Eu não falei com você, Filhote de Comensal! - o ruivo quase berrou totalmente descompensado -
Hermione notou Draco paralisar-se e ainda o viu tentar abrir a boca para responder porém aparentava não ter uma resposta à altura daquele xingamento tão decadente. E ela odiou a expressão que se formou no rosto de Draco, podia até imaginar onde ou o que ele estava pensando. Pois, a mesma também vagou para aquela época, sem nem estar preparada para isso. Não sabia como tinha sido para Malfoy superar tudo depois que Voldemort sucumbiu, mas ela tinha certeza de que não havia sido uma caminhada exatamente fácil, assim como a sua, apesar dela ter tido apoio de uma sociedade inteira, e ele? Quem o ajudou? Por mais que não suportasse a ideia de ter Malfoy por perto, ou desempenhando um trabalho que ela levou anos para deixar perfeito, ela entendia que se ele estava ali, no Ministério, era porque de fato havia se regenerado, e não porque tinha dinheiro, já que, pelo menos na gestão de Kingsley, ela sabia que o mesmo não colocaria pessoas que não fossem honestas, ou capazes de executar as funções de forma correta. Ron conseguia ser tão t**o agora como era na época da escola. E isso definitivamente deixava a já quase nula paciência de Hermione ainda menor.
— Ronald! - bradou Hermione, totalmente envergonhada pela atitude do amigo em relação à escolhas de Draco quando ainda era um adolescente. - Eu pensei que você tivesse aprendido algo depois de tudo, principalmente depois do seu casamento. - ela falou, aborrecida. - Não sei como ainda consigo me surpreender com sua babaquice!
Cheia de coragem, ela tocou o ombro de Draco, não pensando nas possíveis reações de seu corpo, ou em quantas novas perguntas e questões iria ganhar, apenas fez, e este destinou seus olhos azuis-acinzentados para ela.
— Me desculpe por isso, Malfoy. - ela deu de ombros, ignorando completamente o olhar de choque e os resmungos de seu amigo ruivo - E, bem, se você puder passar na minha sala no horário do almoço podemos debater esse caso. - ofereceu um sorriso constrangido para ele, e recebeu um de volta.
O elevador parou e ela desceu, seguindo para sua sala furiosa com Ron e com um pouco mais de empatia por Draco.
(...)
Aquela barulheira de homens falando de todos os lados estava fazendo a cabeça dela doer de modo insuportável. Ela massageou as têmporas que latejavam enquanto todos os protestos continuavam ganhando cada vez mais força e voz.
Quase hora do almoço e ela presa em uma maldita reunião com homens que pareciam verdadeiros animais selvagens que não sabiam se comportar sem sua babá por perto. Estava passando por tudo isso porque Harry havia simplesmente estendido uma hora sua chegada, por conta de uma missão que surgira para ele logo pela manhã.
Incapaz de conseguir permanecer no meio daquela algazarra - assim que ela conseguia ver aquilo -, ela levantou-se e foi para a porta, saindo da sala e optando por esperar seu amigo e chefe lá fora, antes que cortasse algumas línguas. Eventualmente, ela puxou as notinhas de papel do bolso de suas vestes para repassar tudo o que ainda tinha que fazer aquele dia. Quando o fez, veio junto o telefone da Dra Mendes para ela.
Ela ficou olhando para aquele pedaço de papel, avaliativa.
Hermione não tinha pensado direito sobre a ideia de procurar a psicóloga. Muitas coisas tinham acontecido e em partes ela tinha se negado a admitir que talvez precisasse de ajuda, pois acreditava quase que cegamente que iria conseguir todas as respostas sozinha, como se as mesmas estivessem nos livros de alguma sessão reservada que ela ainda não tinha encontrado. Entretanto, olhando agora para a caligrafia de sua mãe, e para aquele número que brilhava diante de seus olhos, ela percebeu que talvez uma visão profissional sobre os acontecimentos poderia ser uma boa opção a se seguir.
— Bilhete do seu admirador secreto? - a voz de Harry chegou aos ouvidos dela fazendo-a a olhar para ele, rapidamente -
— Graças a Merlin você chegou, Harry! - ela guardou rapidamente o pedaço de papel dentro do bolso das vestes e voltou-se completamente para Harry - Acho que mais um minuto aí dentro e eu teria azarado alguém. Que m*l educados. - choramingou, e apertou o braço do amigo -
Harry suspirou demonstrando todo o seu cansaço, e esfregou a mão dela que estava pousada em seu braço.
— Você deveria ter feito, Mione. - ele declarou e olhou para ela por um segundo antes de continuar, parecendo avaliar se deveria ou não começar aquele assunto - Ron me f-..
— Por favor, não estou com paciência para as lamúrias sem sentidos de Ronald, não mesmo. - ela cortou, revirando os olhos ao lembrar-se da situação deprimente que ele tinha proporcionado mais cedo. -
— Hey, não fui eu quem fiz nada. - Harry protestou levando as mãos acima da cabeça -
— Você sabe a culpa que carrega nisso tudo. - ela acusou referindo-se ao fato de Draco estar ali apenas para substituir os trabalhos dela, porque Harry precisou dela para o caso - Mas, não vou te esfregar isso na cara, ao menos não agora. - sorriu e apoiou a cabeça no ombro do amigo - Temos que repassar aos outros essas informações e talvez eu consiga sair cedo hoje...
— Hm, algo relacionado à esse papel que você escondeu mais do que rapidamente? - quis saber o moreno divertido -
— Você é intrometido, hein! - brincou ela, Harry apenas deu de ombros - Mas sim, é sobre ele.
— Essa vai ser a reunião mais breve que já fiz! - exclamou o Potter ao perceber que tinha menos de vinte minutos para dar as informações e montar as vigias - Você pode conduzí-la? - perguntou para sua melhor amiga, a voz pidona - Sei que consegue dar-lhes tudo de forma clara e objetiva. - endossou -
— Posso fazer isso, mas acredito que não conseguiremos sair desta sala com os grupos montados sem ultrapassar o tempo.. - alertou Hermione simplesmente -
— Concordo. - Harry assentiu - Vamos deixar isso para mais tarde, que tal? - ofereceu ele, e seus pés começaram a se mover até a porta
— Parece funcionar melhor.. - Hermione aceitou -
Hermione agradeceu baixinho e entrou na sala sem qualquer cerimônia. Ainda tinha muito o que fazer.
— Bem, desculpem pelo meu atraso. - Harry se pronunciou e sentou-se - Como estamos com pouco tempo para a reunião vamos direto ao ponto… Herms.. - chamou o moreno para que ela desse início a montagem das estratégias -
Hermione acenou positivamente com a cabeça e se pôs de pé, arrumando a postura, abriu as suas pastas com todas as suas anotações e começou:
— Verificando os relatórios eu percebi que são pelo menos 10 chaves de portais com maior fluxo de uso. - informou a Granger - Elas tem algumas coisas em comum, que acredito que deve estar interligadas de alguma forma.
— Tipo o que? - quis saber um dos aurores -
— Todas elas ficam extremamente perto dos trouxas, e de locais com muito movimento. O que é no mínimo estranho, já que seria esperado que eles optassem pela discrição. - explicou, dando eco a sua lógica - No entanto, quanto mais perto de museus, parques, e centros urbanos, maiores são os fluxos de uso.
Ela havia ficado realmente intrigada quando percebeu isso nos relatórios, e por isso a ideia das guarnições se concretizou ainda mais em sua cabeça. Dessa maneira conseguiria saber se era ou não uma estratégia para disfarçar o real ponto de uso.
— Outra coisa que me deixou surpresa - devo admitir -, é que elas são todas tem a mesma distância uma das outras, e formam um círculo ao redor do Parque Central.
— Simbologia? - sugeriu Harry tocando o queixo pensativo -
— Então, estou estudando isso um pouco mais, mas sim. Pode ser que haja um motivo pra esses “detalhes”.. - fez aspas com as mãos e conseguiu arrancar alguns sorrisos -
— É pessoal, estamos lidando com alguém esperto, atentem-se a qualquer coisa. - alertou o Auror chefe - Por mínima que seja, elas podem fazer toda a diferença nas mãos desta mulher - apontou para Hermione e piscou, conspiratório - Alguém quer pontuar alguma coisa? - emendou Harry, aos outros homens - Sugerir ou retificar algo?
Ninguém se manifestou.
— Certo. Como estamos em cima da hora, os grupos das guarnições serão definidos na outra reunião que teremos mais tarde. - concluiu olhando no relógio - Estão dispensados. Bom almoço!
A massa de corpos brutos se dispersou rapidamente e só permaneceram na sala Harry e Hermione. Ela suspirou e se sentou passando as mãos no rosto cansada.
— Esse caso é o caso, Harry. - comentou -
— Eu percebi isso quando você disse “outra coisa que me deixou intrigada”, - ele imitou e sorriu, a morena o acompanhando - Pelo menos tenho você nisso. - confessou e destinou à ela um olhar agradecido -
Hermione nada respondeu. É óbvio que se fosse por sua escolha não teria largado seu próprio trabalho para enfiar-se no meio de uma investigação realmente trabalhosa. Entretanto, aquele sentimento de irmandade que tinha por Harry a fazia querer dar o máximo de si para ajudá-lo, e não somente porque tinha ânsia de voltar pro seu departamento, mas sim porque ele precisava dela.
— Quer almoçar comigo e Ginny naquele restaurante do outro lado da rua? - convidou Harry se levantando e arrumando os óculos nos olhos -
— Não, obrigada. - ela disse e se pôs de pé, catando suas pastas e penas -
Ele acenou e saiu, deixando-a para trás.
A castanha seguiu para sua sala, a cabeça cheia de teorias e planos para pegar a bendita quadrilha. Em frente a sua porta, ela parou. Como suas mãos estavam ocupadas, ela empurrou sua porta com os pés e quando a mesma se abriu ela tomou um susto. Ele estava sentado na sua cadeira. As mãos entrelaçadas e em cima da mesa, e os olhos fixos nela. Estremeceu. Hermione levou alguns segundos para se recuperar do pequeno susto, e balançou a cabeça fechando a porta com os pés e se dirigindo até sua mesa, onde depositou suas coisas. Em seguida, mirou nele e colocou as mãos na cintura.
— O que faz aqui? Ou melhor, aí? - questionou jogando o queixo para indicar sua cadeira -
Ele jogou a cabeça para o lado e olhou o corpo dela de cima abaixo. Seu rosto era a face do cinismo. Ele era tão irritante!
— Você me convidou para um almoço. - respondeu e, esticou suas pernas para colocar em cima da mesa da mulher -
— É melhor não fazer isso se ainda quiser ter pés! - ela avisou seriamente -
— Tudo bem, nada de pés na mesa.. - falou ele, colocando os pés onde deveriam se manter -
— Saí logo daí! - mandou, impaciente, aproximando-se e sacudindo um pouco a cadeira - Abusado!
— Merlin, onde estão seus modos, Granger? - perguntou se levantando e transformando seu rosto em uma imitação de desagrado -
— No mesmo lugar que você deixou os seus quando entrou aqui e sentou na minha cadeira. - ela disse, acre, sentando-se na sua cadeira finalmente -
Malfoy deu a volta na mesa e sentou-se na cadeira defronte para Hermione. Ela observou ele desfazer o nó da gravata e percebeu que aquilo era uma mania dele, principalmente quando iria tratar de assuntos sérios.
— Então, Malfoy, por favor, me relembre o motivo de você estar aqui. - pediu ela -
— O caso da Lula, Granger. - ele respondeu e lhe olhou profundamente - Mas, neste momento estou com tanta fome, que seria capaz de comer uma Lula… - ele brincou e sorriu, e, mais uma vez Hermione pôde admirar quão bonito e encantador era ele quando sorria. - Almoça comigo? - convidou -
Todos os alertas internos dela apitaram, eles pediam desesperadamente para que ela se negasse, que saísse daquela sala, que acabasse com aquela conversa e aquela proximidade tão impactante. Entrementes, sua coragem até então afetada por ele, quis se sobressair, mostrar que ela tinha que enfrentar aquilo, que covardia não era e nunca seria seu lema. Por tal, pela primeira vez desde que ele havia ressurgido em sua vida, ela não aceitou aquela necessidade que seu corpo impunha para se afastar dele.
— Tudo bem, eu acho que posso sobreviver à isso. - insinuou ela e, espontaneamente, piscou para ele -
Com um sorriso vitorioso nos lábios Malfoy se levantou e ajeitou sua gravata, olhou para ela que ainda continuava sentada e ergueu as sobrancelhas, questionador.
— Que?
— Estou morrendo de fome, Hermione. - ele disse, se dando a liberdade de chamá-la por seu primeiro nome e ela controlou-se para não transparecer o quão estranho aquilo soava aos seus ouvidos -
— Oh, desculpe. - ela pediu e se pôs de pé, saindo de trás da mesa e se dirigindo até a porta.
Draco acompanhou-a e, quando passaram pela porta, ele pousou sua mão na parte baixa das costas dela, como se estivesse guiando-a. Hermione ficou tensa e segurou sua respiração por alguns instantes. A mão dele era grande, quente e dava uma sensação de proteção, e, inevitavelmente faziam-na viajar para o mundo daquele sonho que havia ela, ele, algo perturbador e uma pérola. Ela soltou o ar e balançou a cabeça tentando se obrigar a parar de catalogar cada reação que tinha quando o assunto era ele.
— Onde vamos? - ele quis saber -
— Você que me convidou, pensei que tivesse um lugar em mente. - constatou ela suplicando internamente para que a mão dele abandonasse seu corpo -
— Eu não sei onde levar Hermione Granger para comer. - ele debochou quando estavam entrando no elevador - Diga, onde seus namorados costumam te levar? - perguntou ele, interessado.
— Eu não tenho um namorado.. - deu de ombros e suspirou de alívio quando as mãos dele enfim saíram de si -
— Ah, não! - ele disse sorrindo - Não precisa mentir, Hermione! - ele pediu - Todos sabemos que os homens caem loucos à seus pés!
— Todos quem? - ela ergueu para ele suas sobrancelhas -
— Todos nós. - respondeu simplesmente - Apesar de achar que, particularmente, você é feia e gorda. - ele cutucou -
Ela olhou para ele com desdém, balançando a cabeça em negativa e revirando os olhos ao final.
— Bem, você não é bonito, nem sexy. - ele provocou - É até comum e muito irritante...
— Só você reclama. - ele insinuou, e ela viu malícia nos olhos azuis dele -
— Talvez você só tenha saído com pessoas que não tenham um cérebro, ou senso. - ela justificou, falando baixinho e se deixando sorrir levianamente -
— Você está saindo comigo. - ele apontou somente para irritá-la -
— Mas não é um encontro. - retrucou -
— Poderia ser… - ele provocou, seus olhos estavam brilhando. Ele estava adorando aquilo -
— Com você? Nunca! - ela negou soltando um bufo de insatisfação -
— Se você soubesse o tanto de mulheres que disseram isso e acabaram... - ele aproximou-se dela, até demais, ela notou, e sussurrou em seu ouvido - ...na minha cama. - concluiu a frase -
— Draco! - ela arregalou os olhos e corou violentamente empurrando o loiro -
Draco voltou para seu lugar e sorriu abertamente.
(...)
— De fato, essa parece a decisão mais viável. - ele concordou e bebeu um gole de seu vinho tinto - Sério, esse caso é muito seu, Hermione.
— Todos os outros também, Draco. - ela corrigiu simplesmente -
— Pelos céus, você não lida com elogios como uma pessoa normal? - ele perguntou, retoricamente -
— Lidaria, mas nós dois sabemos que estou dizendo a verdade.. E bem, isso não me pareceu um elogio, nenhum pouco. - ela sabia que não havia necessidade, mas respondeu -
— Você é inacreditável! - exclamou ele -
— Eu sou realista, apenas. - deu de ombros e comeu o que restava da lula em seu prato -
Havia sido um almoço até agradável, exceto pelo fatos das insinuações de Malfoy que hora ou outra a deixavam tão vermelha quanto um pimentão maduro. Ele adorava incitá-la e provocá-la, quase como na época de Hogwarts, porém, as brincadeiras dele pendiam muito para o lado s****l agora, e por mais que ela não fosse nenhuma mocinha puritana, era estranho falar de sexo com ele. De repente, ela levantou os olhos e viu que ele a encarava de uma forma muito diferente. Como se buscasse algo muito importante que tinha perdido. A intensidade daquele olhar mexia com toda a estrutura dela. Fazendo-a se sentir inundada por todo aquele mistério que aquela cor transmitia à ela. Era como entrar em transe momentâneo. Ela coçou a garganta incomodada com aquilo e ele piscou e sorriu, abaixou a cabeça e olhou para o relógio grande e dourado que enfeitava seu pulso e suspirou.
— Que pena, Granger, seu tempo de estar comigo acabou.. Preciso ir. - ele fingiu uma cara triste até ensaiou um biquinho -
— Graças a Deus! - ela brincou - Pode ir, eu ainda vou terminar meu vinho. - sentenciou ela -
Ele chamou o garçom e pagou toda a conta, obviamente ignorando os protestos de Hermione sobre dividir os gastos. Se ergueu da mesa, despediu-se da Granger e deu passos em direção à porta, ela sentiu o cheiro dele ir junto com o mesmo e agradeceu a Deus por isso. Relaxou na cadeira, feliz em finalmente estar sozinha e suspirou enquanto degustava sua bebida. Deixando que todas aquelas sensações que sentira ao ser levada pelos olhos do perigo se perdessem em sua cabeça.
No entanto, aquele cheiro dele retornou à ela como uma oferenda e ela o viu aproximar-se novamente..
— Granger eu esqueci um coisinha.. - ele se explicou -
— Diga.
— Obrigado. - ele agradeceu, e ela lhe olhou confusa - Pelo que fez por mim mais cedo. - encolheu os ombros - Talvez poucas pessoas tentam entender o que foi aquilo pra mim. Eu não sei se você entende, mas acredito que tenha sido uma das poucas que no fim não me condenou. - ele confessou e ela pôde ver a sinceridade das palavras dele através de seus olhos - De verdade, esses bruxos tem sorte por ter você! - ele tocou a mão dela que estava em cima da mesa levemente e, antes de ir, beijou o topo de sua testa.
Hermione apenas se manteve paralisada, tudo o que tentou evitar sendo despejado de uma única vez. Em pensar que ela quase conseguiu superar essas coisas estranhas que estavam acontecendo. Mas ele tinha que voltar, que pedir desculpas e beijá-la” para ruir com tudo! Seu coração se apertou e ela ficou com as palavras dele em sua cabeça, imaginando um menino novo e sozinho passando por tanta treva. A cabeça pesou, e nesse momento ela soube que precisava fazer alguma coisa, que, não era apenas uma coincidência ficar daquela forma.
Rendida, ela puxou o celular da bolsa e o número do bolso das suas vestes. Sem hesitar, sem protelar, discou e levou ao ouvido. A ansiedade martelando a cada batida do seu coração.
Três toques. Uma voz do outro lado.
— Alô, escritório da Dra. Mendes, em que posso ajudar?
— Oi. - ela disse cheia de coragem. - Aqui é Hermione. Hermione Granger. Gostaria de marcar uma consulta.