19: Escolhendo.
Por três vezes ela respirou fundo antes de adentrar o prédio do Ministério no dia seguinte.
Três, o número dela da sorte. Não dois, não quatro. Três. E que Merlin tivesse piedade, misericórdia, pena, empatia ou qualquer outra coisa que a fizesse não encarar Draco logo de cara naquele dia. Precisava se preparar psicologicamente para esse reencontro agora que sabia sobre um passado até então adormecido dentro de si. Precisava dizer a seu cérebro para não surtar quando o visse, precisava controlar aquela tremedeira que ela tinha certeza que eclodiria. Precisava, acima de tudo, se acalmar.
Aquela manhã, diferente da anterior, estava totalmente cinza, o sol não foi capaz de resistir às pressões do inverno e nascer, e havia a garoa fininha deixando as ruas frias e molhadas. Uma representação quase que perfeita de sua própria vida. Tipicamente caótica, pensou ela.
Em passos apressados, ela encaminhou-se para sua sala em seu vestido ameixa de mangas longas e suas mini botas de inverno de cano grosso. Se sentia um pouco melhor do que o dia anterior, fisicamente falando. E sua cabeça apesar de ferver com todas as informações sobre sua vida pessoal, também estava trabalhando a mil no caso dos tronquilhos. Tinha planos os quais julgava que poderiam dar certo, e se se concentrasse tinha certeza que conseguiram desta vez.
O elevador estava lotado naquele horário como era típico. Hermione enfiou-se em meio às pessoas e apertou o número do seu nível. Teve alguns desejos de melhoras e comemorações por já estar de volta de seus colegas de trabalho, algo o qual ela realmente ficou agradecida, pois demonstrava a preocupação deles para com ela.
— Tenho certeza de que vai pegá-lo Srta. Granger. - anunciou a secretária do Ministro assim que Hermione saiu do elevador.
A castanha apenas sorriu amavelmente para a mulher e então continuou apressada para sua sala. Os saltos grossos de sua bota reverberando através do assoalho movimentado eram quase o único som com o qual ela se preocupava.
Assim que conseguiu chegar até sua sala, abriu a porta e pôs seu corpo para dentro do cômodo, seus olhos focalizaram quase que imediatamente o vaso singelo de cristal e o tão misterioso lírio nele, ambos praticamente brilhavam com todo o seu significado agora.. Suspirou e murchou os ombros, pendurando a bolsa no cabideiro e seu casaco, e pesadamente indo até aquela flor. Algumas coisas pareceram estalar em sua cabeça a cada passo.
Ele lembrava! Claro que lembrava! Quem mandaria lírios? Quem além dele que sabia o quão significativo havia sido para os dois. E como ela ainda esteve todos os dias alheia a esse detalhe tão primordial? Tão óbvio.
Porquê? Porquê ele continuava a lhe mandar flores depois de tantos anos, depois de ter seguido sua vida, conhecido outra mulher, noivado com ela diante da bruxandade toda. O que Draco Malfoy queria afinal? Enlouquecê-la? Pois estava conseguindo.
Hermione esfregou os olhos frustrada e saiu de perto da flor. Sua mente a alertava: deixe isso, concentre-se no trabalho. Deus, ela precisava desligar seu eu pessoal dali, ou talvez sucumbisse a insanidade de vez.
Ela rodeou a mesa e sentou-se na cadeira, puxando aquela nova pilha de arquivos que havia sido deixada em sua mesa e que estava lhe esperando. Nada parou enquanto ela esteve ausente, e ela não podia se sentir mais agradecida por isso. Começou a ler os relatórios dos Aurores responsáveis por cada guarnição, e teve a percepção de que era como andar em círculos a cada nova página que ia lendo. Essa quadrilha parecia estar anos-luz à frente deles, como se soubesse cada próximo passo do Ministério. Será que estava sendo tão previsíveis assim?
Ela se recostou na cadeira afastando-se por um momento dos papéis e levou a ponta do dedo mindinho até os lábios e o mordeu, pensativa. Era tudo tão confuso, uma maldita inconstância de informações e provas, como se tudo fizesse sentido e no minuto seguinte fosse totalmente contraditório! Repentinamente enquanto Hermione ainda estava dispersa, sua porta foi aberta sem cerimônia, e aquela voz, aquela que estava em sua cabeça e em todas aquelas memórias que ela tentava fugir, estava ali.
— Com fome, Hermione? - havia ironia e divertimento da parte dele ao observar que ela mordia com vontade o dedo . -
Ela quase pulou na cadeira pelo susto e automaticamente seus olhos buscaram os dele, observando a confusão cinza brilhar diante do bom humor que ele aparentava desfrutar. Seu coração parou, sua respiração falhou, seus pelos se elevaram, sua voz mingou. O corpo todo dela se manteve imóvel, sem qualquer tipo de reação. Existiam dentro dela duas pequenas “ela”, uma berrava descompensada que ela deveria levantar e lhe dar uma bofetada daquelas e dizer dramaticamente; “ - Eu me lembro de tudo, seu i****a”. E a outra, uma mais civilizada lhe sussurrava educadamente; “ - você pode entrar no jogo dele e descobrir tudo.”.
Em sua visão, além dos olhos malditos de Draco surgiram dois caminhos a se seguir, e ela precisava escolher muito antes do que pensou que precisaria.
Ambas as opções eram tão tentadoras, sua mão tremia de vontade de socar a cara dele, mas, em contrapartida seu coração quicava na esperança de poder fazê-lo pensar que estava no controle de tudo, que havia conseguido se sobressair, e então de repente ela iria ruir tudo assim como ele tinha feito. Vingança? Não. Não era vingança. Apenas uma boa dose do que ela sentiu.
Forçando-se a soar indiferente, obrigando-se a manter-se sentada, falar com ele de maneira que não demonstrasse como ela estava sentindo raiva por ele conseguir ser tão hipócrita, ela deu um pigarro, coçando a garganta e piscando rapidamente para se situar. Ensaiou perfeitamente um sorriso agradável e contornando o vulcão de ira que estava prestes a entrar em erupção dentro dela, Hermione respondeu;
— Na verdade, estou faminta. - a ambiguidade exalava de suas palavras minuciosamente escolhidas -
Draco riu, aquele maldito riso aberto de todos os dentes, o mesmo que ela viu refletido em seu passado e que lhe roubava suspiros e pensamentos românticos e imbecis. E Hermione não soube, não entendeu, mas aquele gesto fez seu pescoço esquentar e seu ritmo cardíaco de repente havia sido alterado. Malfoy aproximou-se e sentou em frente a ela, desfazendo os botões de seu terno escuro, e afrouxando a gravata como sempre fazia.
— Me desculpe por não ter ido visitá-la novamente, as coisas apertaram por aqui. - ele disse, havia agora em seu tom de voz algo parecido com culpa, a mudança repentina de assunto a pegou um pouco de surpresa -
— Tudo bem. - ela devolveu serenamente. Por fora estava relaxada, calma, mas por dentro ela se contorcia de vontade de berrar em cima dele. - Soube do caso da Lula. - ela desconversou, falar sobre trabalho ajudaria ela a conseguir se controlar.
Ele passou as mãos pelos cabelos, os bagunçando um pouco e estalou língua, pondo em evidência todo o seu cansaço em relação àquele caso.
— A duquesa do Castelo está louca dizendo que a Lula vai acabar invadindo St. Michael’s Mount. - ele disse revirando os olhos - Um pequeno presságio de inferno antes da audiência. - ele soltou o ar e seus ombros marcharam um pouco -
— Quando será a audiência? - ela questionou com interesse verdadeiro -
— Amanhã. - ele deu um pequeno sorriso e Hermione notou que era de nervosismo.
Involuntariamente, e ela quis muito se amaldiçoar por isso, Hermione levou sua mão até a de Draco e apertou carinhosamente. Não foi capaz de controlar aquele impulso que tomou conta de seu corpo. Ele elevou seus olhos azuis para ela, olhando diretamente para o que ela pensou ser sua alma, de tão fundo que foi, e então, com o polegar ele esfregou a mão em cima da sua, sua pele em contato com a dela enviando pequenas ondas de um calor que parecia aconchegante e genuíno.
— Você vai conseguir. - ela disse convicta. -
— Obrigado. - ele disse, a voz dele soou doce aos seus ouvidos, havia algo que pairava sobre eles. Aquele maldito e aterrorizante clima de romance palpável diante daquela mesa e os dois o sentiam, mas naquele momento isso não parecia importar nenhum pouco. - Como você está? - ele perguntou ainda com os carinhos na mão dela e os olhos sob os seus -
Foi como um despertar. Hermione lembrou-se de imediato das suas noites em claro no hospital por causa da memória do campo de lírios e de todas as outras que vieram posteriormente, e em como se sentia quebrada emocionalmente por culpa dele e de sua covardia ainda inexplicável. Bruscamente puxou a mão da de Draco e ergueu sobre si um escudo impenetrável, ao menos, pensou desta forma.
— Estou bem. - foi uma resposta curta. E ela desviou os olhos para o enorme relatório antes de focalizar novamente o loiro.
Draco fitava Hermione com interesse, sua expressão facial não dizia se ele percebera a brutalidade ou a arrogância com a qual ela se desvencilhou dele, tampouco qualquer outro pensamento que pudesse estar rondando-o. Somente a fitava, e isso estava roendo o escudo que ela levantou a pouco diante de si.
— Eu preciso trabalhar, Draco, se puder me dar licença eu ficaria grata. - ela disse, depois de alguns minutos em um silêncio onde eles apenas se encaravam. Quebrar aquilo era essencial, ela tinha medo de que ele ainda pudesse ter algum tipo de efeito sobre ela.
Malfoy assentiu e soltou um pequeno sorriso enquanto arrumava novamente o terno e a gravata. E sem dizer qualquer palavra, ele saiu da sala da morena deixando-a no fogo cruzado entre sua mágoa e o que aparentava estar florescendo novamente dentro dela em relação á ele.
(...)
Eram mais de cinco da tarde, a sala de reuniões estava lotada, abafada e barulhenta. As cadeiras ocupadas ladeavam aurores e no centro, Hermione liderava aquele encontro.
Mais uma vez, eles tentavam bolar um plano que desse certo, ou conseguir alguma informação realmente importante, além de relatos confusos de alguns trouxas atordoados depois de um provável Obliviate. Era uma situação complicada, pois quando Olímpios conseguiu fugir foi que eles se deram conta da dimensão em si do problema com a quadrilha e de como eles estavam para trás naquilo.
— Os furtos decaíram nas últimas semanas, mas os tronquilhos traficados aumentaram mais de dez por cento. - comunicou Hermione seriamente. - E fiz um levantamento das relíquias que também foram roubadas, a maioria com descendência Maya e Persa. A simbologia só aparenta crescer em meio a tudo, mas não encontrei nada que fizesse sentido. - ela largou as mãos em cima mesa e suspirou - Agora mais do que nunca preciso que se atentem aos detalhes, às histórias por trás de cada peça desaparecida.
— Hermione, você supõe alguma coisa a magia n***a? - questionou Kingsley na outra extremidade -
— Sim, Kingsley, infelizmente ao que tudo mostra, a situação é mais complexa do que imaginei. - ela disse olhando diretamente para o homem que a encarava na outra extremidade.
— Então o que devemos fazer? - perguntou um dos Aurores próximos a Ron -
— Vamos reduzir o número de pessoas das guarnições. - ela contou - Em vez de três, apenas dois irá bastar. Precisamos fazer-los acreditar que ainda estamos com a mesma estratégia… As interrogações, no entanto, serão interrompidas... Harry?
— Estou com você em tudo. - ele concordou freneticamente com a cabeça - A propósito, até pensei em formarmos tipo uma redoma de guardas. Tenho quase certeza de que eles estão com portais ilegais, só preciso identificar os locais.
— Quanto tempo acha que precisa? - Hermione perguntou -
— Umas duas semanas, no máximo. - ele informou. -
— Certo. - disse Shacklebolt erguendo-se de sua cadeira e olhando para o relógio na parede atrás de sua cadeira. - O expediente acabou. Todos pra casa. E, por favor, façam tudo o que essa mulher mandar. - pediu sorrindo para Hermione enquanto se locomovia para fora da sala de reuniões.
Aos poucos todos foram saindo da sala até restarem somente Hermione, Harry e Ron. Ela deu um suspiro profundo e então olhou para seus amigos.
— Não falou tudo, porque? - Harry questionou aproximando-se.
— Estive pensando Harry, há algo de muito errado. Desde sempre houve. E Olímpios ter fugido foi somente o estopim. - desabafou a Granger -
— Acha que pode ser alguém da equipe? - Ron perguntou franzindo o cenho diante de possível possibilidade -
— Acho sim. Não faço ideia de quem seja. Mas os dias do agente duplo estão contados. - informou com seriedade e começou a arrumar seus papéis nos braços para ir embora.
— É o Malfoy, certeza! - disse Ron olhando com os olhos azuis cerrados em direção a Hermione -
Hermione olhou para Ron e balançou a cabeça em negação deixando-se sorrir. Estava brava com Draco por uma porção incontável de coisas, mas não acreditava que ele tinha algo a ver com o tráfico de tronquilhos. Por alguma razão maldita, ela confiava na redenção dele.
— Cala essa boca e vai pra sua casa. - sentenciou Hermione batendo na cabeça dele e saindo da sala -
Ela se dirigiu a sua sala para pegar seus pertences e em minutos estava na fila para as lareiras. Ainda não podia ir caminhando para sua casa, recomendação da curandeira. Logo, ela entrou na lareira, fechou os olhos, pegou o pó, murmurou o endereço, e foi consumida por aquele calor gostoso das chamas verdes. No entanto, ao invés de sua casa estar silenciosa, havia vozes risonhas que saiam de sua cozinha.
Hermione saiu às pressas da lareira, largando de qualquer forma os arquivos em cima da mesa de centro e olhando para aquela cena.
Gin e Pansy estavam em sua cozinha, a ruiva mexia algo com cheiro bom na panela e a morena revirava seus armários. Ela piscou um pouco surpresa por vê-las na sua casa e ainda por cima aparentando uma paz nunca antes vista.
— O que estão fazendo aqui? - Hermione perguntou andando até a bancada e apoiando os cotovelos para olhar bem pra elas. Deus, até pareciam amigas.
Ginny olhou para a amiga e abriu o maior sorriso do mundo, e Pansy fechou a porta do armário e deu um meio sorriso para a castanha.
— Viemos fazer uma surpresa pra você! - anunciou a grávida animada, mexendo com mais alegria o que estava cozinhando -
— Juntas? - Hermione perguntou desconfiada, olhando de uma para a outra - Da última vez que estiveram juntas, quase se mataram..
— Bem, as coisas mudaram um pouco entre nós. - disse Pansy se aproximando da bancada - Somos uma família agora, não é? - perguntou retoricamente -
— Ginny? - Hermione chamou como para a ruiva dar uma posição sobre o que a outra dissera, suas sobrancelhas juntas pela desconfiança -
A ruiva largou a panela no fogão e desligou o fogo indo até onde as outras duas mulheres estavam. Elas estavam estranhas, notou Hermione. Mas de alguma forma havia entre ambas uma sintonia, algo como se desse confirmação ao que diziam.
— É verdade. - Ginny concordou - Desde que voltaram de lua de mel pude conviver melhor com Pan, e bem, ela não é tão r**m assim… - disse sorrindo para a morena -
— Pan? - a castanha perguntou incrédula - Nossa, quanto tempo mesmo eu dormi? - brincou a castanha largando um risco nervoso -
— Olha só, Hermione, sei que passamos poucas e boas em Hogwarts, mas as coisas mudaram dentro de mim, de verdade. - Pansy se pronunciou olhando nos olhos de Hermione estudando atentamente as feições da Granger - Você faz parte da família de quem amo, então, obrigatoriamente preciso me dar bem com você. E se você quiser um pedido de desculpas por todos aqueles anos, então realmente me desculpe.
Hermione não poderia estar mais chocada. Nunca em sua vida imaginou que receberia pedidos de desculpas de Pansy, assim como nunca imaginou se tornar amiga de Draco. Ela engoliu em seco por um momento. Não sabia o que dizer, não era algo pelo qual esperou, e não soube como reagir. Olhando nos verdes incandescente de Pansy ela podia ver a sinceridade do gesto, e notou que a mesma estava disposta a passar uma borracha em tudo, se pegou imaginando se foi assim que começou o romance com Draco, com um pedido de desculpas e uma sinceridade estampada em olhos indecifráveis. Balançou a cabeça, não era hora dele invadir seus pensamentos agora.
— Hum.. Nossa, eu.. - ela estalou língua meramente confusa. não tinha raiva ou mágoa Pansy. Mas era estranho de toda a forma - Não sei. - a castanha encolheu os ombros em dúvida -
— Qual é Hermione, olhe bem pra quem eu consegui seduzir - Pansy indicou Gin com os olhos, que deu um empurrou com os ombros - A cabeça ruiva mais difícil.
— Cala a boca, Parkinson! - pediu Gin com um sorrisinho um pouco mais mole do que era normal de seu ser - Escute, são novos tempos, ela faz parte dos Weasleys por causa de Ron, então, deixemos o passado para trás.
As palavras da cunhada se fixaram em sua cabeça. “Deixar o passado para trás”. Deus, era tudo o que mais queria poder fazer, mas o próprio passado não queria ficar para trás, dançava aos seus olhos a cada vez que ela se via perto de pessoas que possivelmente conviveram com eles enquanto eles viviam o romance às escondidas. Ela teria de começar a saber lidar com aquilo, principalmente se queria descobrir a fundo o que aconteceu.
Na verdade, não via m*l algum em passar uma borracha em tudo, começar do zero, reescrever outra história por cima de uma que não tinha dado certo. Dava tempo ainda.
Rendida, e por alguma razão aquilo pareceu tirar um peso de seu peito, ela revirou os olhos e sorriu para as mulheres a sua frente.
— Okay, eu topo um novo recomeço. - disse Hermione esticando a mão para Pansy, onde a mesma apertou com empolgação. -
Gin apenas assistia tudo com um enorme sorriso no rosto, Hermione jurava tê-la visto fungando, mas preferiu não comentar nada.
— Certo, agora que todas somos amigas, vamos continuar com a comida, Pansy. Estou ficando faminta. - mandou a ruiva, voltando para o fogão -
— O que vão fazer? - quis saber Hermione já se encaminhando para o quarto -
— Massa a’la Weasley! - anunciou Ginny -
***
A manhã toda havia sido tão corrida, que Hermione m*l teve tempo de respirar fundo. Aparentemente Harry tinha conseguido descobrir o local da última aparição de Olímpios, e agora ela precisava escolher uma turma de Aurores para enviar até o local, ela rogava a Merlin que não fosse somente mais um truque, pois infelizmente eles estavam sem nada para sobrepor à quadrilha. Ainda repensando em quem poderia deslocar para aquela missão, ela encaminhava-se para o restaurante que ficava no outro quarteirão depois do Ministério.
Repentinamente, a chuva pegou-a no meio do caminho, obrigando-a a correr para evitar de ficar completamente encharcada, esgueirando-se pelas fachadas das lojas comerciais, Hermione conseguiu chegar até o estabelecimento onde iria almoçar, tirando sua varinha da bolsa, ela lançou o feitiço para se secar e ficou próximo a janela, apenas vendo a chuva cair enquanto esperava ser atendida. Gostava muito do inverno quando ele não a pegava desprevenida.
Estava entretida com as mechas do seu cabelo, e com as gotas de chuva que desciam pela janela, quando a porta do restaurante foi aberta com desespero, em seguida, dirigindo-se até ela com pressa veio Malfoy, ele estava com seus cabelos e roupas molhados, mas tinha o maior sorriso do mundo em seus lábios - aqueles que um dia ela adorou sentir sobre os seus -, e então, quando encontrou-se perto dela o suficiente, puxou-a para seus braços em um abraço caloroso.
Ela ficou atordoada e absorta naqueles pequenos minutos que duraram o abraço, pôde sentir, nesse tempo, um coração que batia como louco no peito de Draco, e que quase lhe desarmou por inteiro. Ainda assim, não compreendia o motivo de estar sendo engolida por ele, sentia apesar da sensação acolhedora, um incômodo e um medo maldito dentro de si. Estar tão perto assim era perigoso, porque as coisas dentro dela ainda não estavam em seu devido lugar, e poderiam colocá-la em alguma situação delicada.
— Obrigado. - ele sussurrou entre seus cabelos parcialmente molhados da chuva - Por acreditar que eu iria conseguir. - explicou ele, respondendo as perguntas inconscientes dela -
Tão rápido quanto surgira, ele soltou-a. Voltando para a chuva sem nenhuma outra explicação, além daquele agradecimento. E Hermione ficou ali, com o coração arrebentado dentro do peito, e o cheiro do perfume dele grudado na sua roupa, e a sensação de que não havia para onde ir, se não em frente com aquilo. No caso dela, atrás.
Mexer com o passado era uma trilha sem volta, e Hermione tinha certeza que poderia despertar muita coisa no caminho, inclusive, sentimentos adormecidos.