Capítulo 6

1187 Words
- Como assim a p***a da sua irmã? É a sua irmã que fica aliciando criança caráleo? - NÃO p***a, MINHA IRMÃ NUNCA FARIA ISSO E SOLTA LOGO A MINHA COROA, SENÃO VOU TIRAR SUA MÃO DO CORPO. O que aquele menor tava achando? Era minha mãe caramba, minha mãe e minha irmã, que no caso eu nem sabia como tava direito porque o rosto inteiro dela tava jorrando sangue, até os cabelos pintados de vermelho. Eu não sei quem inventou essa história, mas pode escrever, a família vai ter que encomendar a lápide. Eu corro novamente para o chão da praça todo vermelho, aonde minha pequena está jogada, desacordada e com dificuldade até de me dar sinal de vida, pego sua cabeça e coloco no meu colo, como isso foi acontecer? Por que isso foi acontecer? A menina não faz m*l a ninguém - ME AJUDA AQUI CARALEO, ME AJUDA A LEVAR ELA PRO HOSPITAL QUE ELA TÁ MORRENDO. Pego ela meio sem jeito e ainda escuto os gritos da minha mãe lá no fundo, mas agora não dá não, eu tenho que escolher e escolho salvar minha pequena. - QUE É A p***a DO MÉDICO QUE TÁ ATENDENDO HOJE? Os funcionários me olham desesperados percebendo que eu não tô de brincadeira, já que carrego minha pequena toda desfalecida e trago comigo o menor com o fuzil apontado, pronto pra atirar em qualquer um que me negar atendimento. O Montanha não veio, acho que ficou abismado em descobrir que estava simplesmente a ponto de matar a pessoa que eu mais vivo pra proteger. Nunca foi segredo pra ele, ele sabia que sou capaz de dar a vida por essa garota, ele só não sabia quem era. A Ísis sempre ficou presa do quarto dela, lendo os livros gigantescos que ela fazia minha coroa comprar no sebo do morro e nunca se importou em conhecer nenhum dos caras que tinha amizade, então, sempre foi fácil esconder minha boneca de porcelana. Era casa, escola, escola, casa. Quando precisava de alguma coisa, sempre era minha mãe e eu que conseguia, a rua quase nunca tinha o privilégio de contemplar a beleza da minha bebê. O problema é que minha mãe começou a achar que isso não era nada saudável pra ela, ainda mais agora que a bichinha completou 18 anos e tá aqui no morro só de passagem. Pois é mermão, a filha da p**a passou em primeiro lugar na universidade federal pro curso de nutrição, é mole? A bicha é f**a mesmo e foi o primeiro ano que a gente ficou realmente separado porque ela teve que ir morar mais perto lá do campus e voltou só porque entrou de férias. Mainha já colocou na cabeça que a menina tinha que fazer mais coisas fora de casa, pra conhecer o mundo, então todo dia manda ela fazer uma coisinha, é comprar pão na padaria, entregar um bilhete na vizinha, comprar alguma coisa no mercadinho do morro. Já disse pra ela não fazer isso, não quero que a Ísis chame atenção, mas parece que falo com a parede. Cacete, agora eu tô aqui, desesperado, dentro desse maldito hospital, tentando entender como foi que em 15 dias minha mana conseguiu ser notada por alguém e agora está jurada de morte. Os enfermeiros pegam ela e levam pra dentro de uma sala. Parece até que tão mais desesperados que eu e isso me apavora, eu quero ir junto, quero ver o que tá acontecendo, o que vão fazer com a minha princesinha, mas a p***a da enfermeira não me deixa passar nem pela primeira porta. - Espere aqui, a gente vai fazer o que puder para salvar ela. - O que puder não moça, vai fazer o possível e o impossível senão vai ter chuva de bala dentro dessa biroca aqui. Tô me tremendo todinho aqui, meu mundo tá desmoronando e eu nem sei como isso aconteceu. Por que ela tava lá naquela praça? Por que o Montanha tava socando ela como saco de batata? Por que aquele povo todo tava acusando ele de comprar criança? Que caramba tá acontecendo? - Cadê ela Jú? Cadê minha pequena? O que aconteceu com ela Jú? Pode falar filho, eu aguento, eu sou forte, pode falar - Eu não tenho nada pra falar não mãe, ainda não me falaram nada. Eles levaram ela agora e nem sei como ela tá só sei que saiu todo mundo aqui desesperado gritando um com o outro e se escafederam pra dentro dessa merda. Minha mãe me abraça tão forte, mas sei que seu coração tá pior que o meu. A Ísis não nasceu dela, mas era como se fosse. As duas sempre foram muito unidas. Minha mãe sempre disse que ela é sua melhor ouvinte, sempre escuta e não fala nada, só olha mesmo. O dia inteirinho era minha mãe e minha irmã e a noite a gente se unia. Foi o porto seguro da coroa quando meu herói teve um infarto na sua frente, sem chance nenhuma de voltar e depois disso, a nossa família era só a gente. Duas horas nesse caramba, duas horas e não sai ninguém pra vir falar a p***a da merda que tá acontecendo aqui e eu já tô a ponto de quebrar cada cantinho dessa joça. O médico sai e consigo ver que a cara dele não é das melhores, mas o que eu posso fazer, eu mesmo vi a cara toda amassada e ensanguentada da Ísis, só tava torcendo pra que tudo não tivesse acabado naquele chão de paralelepípedo da pracinha. - O senhor que é o familiar da paciente Ísis Garcez? Acho que tava na cara né, eu tava acabado, só contando os minutos pra receber a pior notícia da minha vida. Eu sabia, eu tava sentindo, mas Deus ainda queria olhar pra esse cara todo fodido que eu era, minha dor parece ter chamado Sua atenção. - A situação ainda é delicada, a paciente sofreu traumatismo craniano, precisou ser entubada e está sob ventilação mecânica. Ainda é cedo para dar certeza sobre seu quadro clínico, as próximas 48 horas serão primordiais para identificar possíveis sequelas, por enquanto, temos que aguardar e somente isso. Se vocês acreditam em Deus, aconselho a pedir para que Ele faça um milagre, porque a paciente ainda está correndo risco de morte, só conseguimos estabilizá-la, agora é com Ele. A p***a do médico diz com a maior tranquilidade do mundo que minha irmã ainda está morrendo, só que agora ela morre sem sentir dor porque eles doparam ela, mas vou fazer o quê, é isso, eu tenho que esperar. Mainha consegue segurar o choro, parece que ela se agarra a essa pontinha de esperança e fica firme, tentando me acalmar. - Jú, ela já passou por coisas piores meu filho e olha aí, ela conseguiu e vai conseguir de novo, a nossa pequena vai voltar pra casa, confia meu filho. Eu confio, pouco mas confio, só que agora, confio bem mais que vou meter uma bala bem no meio da testa de quem causou esse sofrimento todo para a minha bonequinha de porcelana.
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