— Eu não gostei nada dele, parece meio… — parei, tentando encontrar um adjetivo que consiga expressar melhor a minha opinião sobre o dito cujo — psicopata.
Os olhos da minha mãe ficaram ainda mais temerosos após ouvir as minhas palavras.
— Você não precisa se preocupar com isso agora, ok? Deite-se e durma um pouco mais, você não deve ter dormido muito à noite — pisca para mim, exibindo um sorriso terno e levantando-se da cama.
— Mamãe, só mais uma coisa — digo, fazendo-a parar — e quanto ao compromisso que aquele homem disse que eu tenho, a que ele se referiu?
— Eu já disse para você não se preocupar com isso agora. Só aproveite a sua vida e seja feliz, minha menina.
— Mamãe, por… — tento insistir em uma resposta, mas ela me interrompe.
— Paola, eu já disse para você não se importar com isso agora, por favor, não insista! — diz, virando-se e saindo porta afora, sem me dar chance de fazer mais perguntas.
A minha mãe tinha toda razão, eu não dormi muito durante a noite, então assim que deitei a minha cabeça no travesseiro cai em um sono profundo.
Eu dormi até a hora do almoço, o que deixou o meu corpo muito preguiçoso. Esse é um dos motivos pelo qual eu odeio acordar tarde, o meu corpo fica péssimo e eu não tenho ânimo para mais nada. Como eu não tive que ir trabalhar, acabei ficando o dia todo em casa curtindo a minha preguiça.
Às 17h o meu pai voltou para casa, sua expressão continuou r**m, mas eu não fiz mais perguntas sobre o tal “amigo”. Na hora do jantar, acabei fazendo a minha refeição sozinha, a Fátima, nossa secretária, disse que meus pais saíram para um compromisso com um amigo, eu tenho certeza que é o psicopata.
[...]
— Bom dia! — A Annabeth gritou da porta, erguendo suas mãos, com várias sacolas — Olha só o que eu trouxe para tomar café com você — vai até a mesa que fica no canto do escritório e começa a espalhar várias bandejas descartáveis com salgadinhos e cremes.
— Bom dia. O que é tudo isso, sua louca? — perguntei, andando até ela.
— São uns recebidos que eu ganhei daquela cafeteria da rua Via del Corso, eu fiz uma “publis” deles na semana passada e dobrou a clientela, então, eles me enviam café da manhã quase todos os dias, e lá em casa ainda tem vários bolinhos e cremes da entrega que fizeram há dois dias atrás.
— Que delícia esses bolinhos com recheio de morango — digo, enfiando um bolinho inteiro na boca.
— São perfeitos! Eu vou ter uma conversa séria com o gerente, porque se ele continuar com esses agrados, eu vou virar uma bola, eu já não sou magra e baixinha desse jeito, vou ficar igual bola, pequena e redonda — faz uma careta, após morder um pão de mel.
— Pare com esse delírio, Anna, você é linda. Esse quadril largo e essa b***a farta arrancam suspiros do público masculino que eu sei — falei, dando-lhe um tapinha na b***a e ela ri.
A Annabeth tem a autoestima baixa por causa da sua altura, ela mede 1, 63, é a mais baixinha da nossa turma, mas isso não diminui em nada a beleza dela, que tem a cintura fina, o quadril largo e uma b***a farta, não é grande demais e nem pequena, é compatível com o corpo curvilíneo dela, que realmente chama bastante atenção, principalmente quando ela coloca um biquíni.
— Como é bom ter amigas que elevam a nossa autoestima. Te amo. — diz, mandando um beijo para mim — Agora vamos colocar as fofocas em dia. Você disse que tinha novidades para me contar, o que é? Eu quero saber tudo! — se joga no sofá, colocando a almofada no colo.
— Bom, eu tenho uma coisa muito, muito importante para dividir com você — sento-me ao seu lado, exibindo o meu melhor sorriso e abaixando a gola da minha camiseta — Olha só, consegue adivinhar o que isso significa?
— Isso é um… — ela pára de falar, olhando atentamente para o lugar onde ainda está visível a marca.
— Sim! Isso é exatamente um chupão. Anna, eu finalmente consegui ir até o fim com o Luigi e foi perfeito! — falo com toda empolgação que deixa muito evidente a minha felicidade. — Você não faz ideia de como foi lindo, acredita que ele preparou uma serenata para mim, no final do nosso jantar. Anna, eu me senti em um filme de romance. O Luigi foi tão carinhoso, tão romântico… Você não vai falar nada? — questiono ao vê-la em silêncio por tanto tempo, geralmente ela m*l deixa a gente falar, fica perguntando sobre tudo, todos os detalhes.
— Eu, falar? Sobre o que?
— Sobre o que você achou?! — falei, erguendo as minhas sobrancelhas. Ela sorri e me puxa para um abraço.
— É óbvio que eu vou falar, né! Eu estou muito orgulhosa de você, minha amiga, agora, finalmente, você é uma mulher! — Sorri, acariciando o meu rosto.
— Sim, eu sou uma mulher, Anna, uma mulher completamente realizada. Você não imagina como o Luigi é maravilhoso na cama, eu fiquei até com as pernas bambas, literalmente falando. Foi incrível!
— Eu imagino… — falou baixo, parecendo desanimada, sei lá.
— Por que você falou desse jeito? — questionei, encarando-a.
— Bom, é que seria bem estranho se uma homem com aquele tamanho todo não fizesse um trabalho digno na cama — faz uma careta divertida, fazendo-me rir com a sua sinceridade.
— Quem está fazendo um trabalho digno na cama? — A voz do Luigi soa alta perto da porta, assustando a nós duas. — Então, esse é assunto só de meninas e eu não posso saber? — ele perguntou, olhando para a Anna, que está pálida e depois volta a sua atenção para mim.
— É exatamente isso, esse é um assunto de meninas. Você chegou há muito tempo? — perguntei, indo até ele e dando-lhe um beijo.
— Não, eu acabei de entrar. Desculpe ouvir a conversa de vocês, foi sem querer, eu juro, a sua secretária que me deixou entrar — diz, erguendo as mãos em sinal de rendição.
— Está tudo bem, não estávamos falando nada demais. Olha, venha provar essas delícias que a Anna trouxe para o café da manhã, ela ganhou de uma cafeteria que ela fez uma “publis”.
— Eu já tomei o meu café da manhã. Obrigado.
— Bom, está na minha hora, vou deixar os pombinhos se curtirem aí. — A Anna diz, pegando sua bolsa. — Tchau, amiga e tchau, Luigi.
— Não precisa ir agora, Anna — digo, fazendo um muxoxo.
— Eu preciso sim, tenho que editar, um vídeo para hoje ainda.
— Ela precisa ir, deixa ela. Tchau, Anna. — o Luigi falou, apontando a direção da porta.
— Luigi!
— Até mais, pombinhos.
Após a saída da Anna, encarei o Luigi, mostrando toda a minha indignação, com a sua atitude.
— Por que você falou desse jeito com ela?
— Que jeito? Eu não fiz nada, foi ela quem disse que precisava ir embora — falou, erguendo os ombros, sua voz transbordando desdém.
O Luigi sempre mostrou uma certa distância da Anna, numa trocou mais do que três palavras com ela, nas reuniões da nossa turma, e eu nunca entendi o porquê dele tratá-la assim, já que a Anna é tão legal, fora o fato da tia dela ser funcionária do governo, antes era funcionária do grupo Giordano, ou seja, a tia da Anna, sempre trabalhou diretamente com a família dele. Mas, hoje ele exagerou, praticamente a expulsou daqui e agora está falando desse jeito.
— A Annabeth é uma pessoa super legal, Luigi, quando você vai começar a tratá-la melhor?
— Por que eu tenho que tratá-la melhor, se eu nunca a tratei m*l? Ou por acaso ela veio reclamar com você?
— É claro que não. E nem precisa, eu e todos da turma, vemos como você é frio e distante com ela.
Ele me abraça por trás e beija o meu pescoço, fazendo-me arrepiar.
— Eu saí da minha empresa, que fica há dois quilômetros daqui, para vir dar um bom dia para a minha namorada. Você tem certeza que quer mesmo debater a forma que eu trato outras mulheres? Aliás, você deveria estar feliz, já que eu só tenho olhos para você.
— Luigi, não distorce as minhas palavras. Você sabe muito bem que eu estou falando sobre ser simpático e amigável, como você é com as Gabrielle, com a Samantha, a Clarissa, com elas você é legal.
Ele bufa, afastando-se de mim, sua expressão fechada e fria mostra que eu consegui deixá-lo irritado.
— Pelo jeito você quer mesmo ser a benfeitora da oprimida. Então, tudo bem, eu vou ser simpático. Satisfeita?! — sorri irônico. — Bom, aproveitando que eu estou aqui, eu fiz algumas pesquisas sobre o homem.
— O Jason Bishop, a minha mãe me disse o nome dele — ele confirma com a cabeça. — O que você descobriu?
— Que ele é um bandido, aliás, não só bandido, ele é o chefe da máfia dos Estados Unidos, a Bishop Imperial, uma organização criminosa que atua internamente, eles são tão poderosos e perigosos quanto a Cosa Nostra e a Ndrangheta, que comandam o submundo do crime aqui na Itália.
Eu fiquei sem palavras por alguns minutos, a minha cabeça acabou de dar um grande nó. Qual a relação do meu pai com esse bandido?
— Você… não descobriu qual negócio ele tem com o meu pai? A minha mãe disse que o meu pai deve um favor a esse homem.
— Não, isso eu ainda não descobri, mas eu vou. — Afirmou, abraçando-me — Fica calma, o meu pai vai conversar com o tio Marco e tentar entender o que está acontecendo.
No restante do dia, eu não consegui fazer quase nada, a minha cabeça só conseguia pensar nas palavras do Luigi sobre o homem, e se antes eu já não gostava dele, agora menos ainda. Mas, para o meu azar, parece que eu não vou conseguir manter distância do bandido psicopata, pois assim que entrei em casa, o primeiro rosto que vi é o dele.
— Boa noite, Paola Martinelli. O seu pai não a ensinou a cumprimentar as visitas? — diz, exibindo um sorriso desdenhoso. Ele está sentado confortavelmente em nosso sofá, está tão relaxado e arrogante que até parece que a casa é dele.