PAOLA MARTINELLI
— Que homem estranho — murmurei, vendo a porta do elevador se fechando lentamente à minha frente. O olhar penetrante daquele homem me causou arrepios.
— Acredito que este seja o motivo do tio Marco agir estranho — o Luigi diz, abraçando-me por trás. Sinto meu telefone vibrar na bolsa e pego-o — E olha ele de novo, seja lá qual for esse compromisso, deve ser importante — o Luigi falou ao ver o nome do meu pai brilhando na tela.
— É deve ser mesmo — novamente o arrepio percorre o meu corpo — É melhor eu ir logo! — digo, enviando uma mensagem para o meu pai.
Eu estarei mentindo se disser que estou calma e que aquele desconhecido não me assustou, ele me assustou bastante, eu senti uma certa ameaça em suas palavras. Após um tempo pensando nas palavras do homem e em sua presença intimidadora, lembrei-me da discussão dos meus pais, a que ouvi ontem, então é este o tal que chegou à cidade e que, aparentemente, não é tão amigo assim.
— O que você está pensando? — O Luigi perguntou, acariciando a minha perna.
— Nada demais, só estou tentando entender o que está acontecendo.
— Não se preocupe, meu amor. Assim que chegar a empresa, irei fazer algumas ligações e vou descobrir quem é esse i****a e qual é a relação dele com o seu pai. Além do mais, não importa quem ele seja, não vai intimidar o tio Marco, ele é o nosso Primeiro-ministro, uma autoridade maior aqui no país.
— É, você está certo — sorrio, tentando mostrar tranquilidade, mas a verdade é que eu não consigo aquietar o meu coração, sei lá, o meu sexto sentido está gritando que isso não é tão simples assim.
Quarenta minutos depois chegamos à minha casa. Assim que o portão abre, vejo o meu pai parado lá na entrada da garagem, pelo rosto torcido e a postura ereta com as mãos na cintura, seu humor está o pior possível.
— Vamos lá, eu não vou te deixar sozinha — o Luigi segura a minha mão e sorri, tentando me passar segurança. Pela postura relaxada e a expressão tranquila, ele realmente não parece estar nada preocupado, o que é compreensível, já que ele sempre esteve no topo da pirâmide.
— Finalmente você chegou! — meu pai diz, olhando-me com um misto de emoções em seus olhos, que eu não consigo descrever.
— Papai, desculpe não ter avisado que ia dormir fora de casa, mas é que eu achei que o senhor e a mamãe não fossem se importar já que eu estava com o Luigi. Olha só, ele me devolveu inteira, não falta nem um pedacinho — brinco, beijando a sua bochecha.
— Tio Marco, eu também peço desculpas, mas eu não me arrependo nem um pouco de ter sequestrado sua filha por uma noite.
— Luigi, obrigado por tê-la trazido de volta, agora você pode ir, por favor, eu preciso conversar com a minha filha — meu pai diz, sério, e frio demais para o meu gosto. Mesmo quando estava bravo e chamava a nossa atenção, o meu pai nunca tinha essa frieza na voz.
— Tio Marco, me desculpe, é sério, eu realmente peço desculpas, mas eu não irei deixar a Paola sozinha. O senhor sabe que somos namorados e, muito em breve, seremos noivos, então eu não vejo motivos para essa atitude do senhor. Além do mais, a Paola já é maior de idade, é uma adulta, é natural que ela durma fora de casa e com o namorado.
— Luigi, eu estimo muito você, eu o vi crescer, sei da sua índole e, acredite em mim, faço muito gosto do relacionamento de vocês…
— Então, por que o senhor está agindo assim, papai? É por causa daquele homem estranho? — interrompi-o.
— Que homem? — Ele perguntou, encarando-me.
— O homem que encontramos lá no hotel. É muito alto, tem os cabelos pretos e uma cara péssima. É muito m*l educado também — respondi e noto uma certa palidez tomando o rosto do meu pai. — Que compromissos temos que cumprir com ele? — Ele engole em seco, após ouvir minha pergunta.
— Vamos falar sobre isso mais tarde. Luigi, eu quero agradecer por cuidar da minha filha e tratá-la tão bem esse tempo todo.
— Tio, o senhor sabe que eu amo a sua filha e que tudo o que eu quero é fazê-la feliz.
Sinto seus braços envolvendo minha cintura e um beijo estalado em minha cabeça.
— Vocês já tomaram o café da manhã? — minha mãe aproximou-se, perguntando. Mesmo com a maquiagem, eu consigo notar o cansaço em seu rosto, e os olhos vermelhos indicam claramente que ela chorou, de novo.
— Tomamos um café rápido lá no hotel, mas eu aceito outro, a senhora sabe que eu adoro as receitas da sua chef de cozinha, tia — o Luigi respondeu, abraçando-a.
Nos sentamos à mesa e uma conversa amigável, e até sorrisos, ecoaram pelo ambiente, parecia um café da manhã normal de todos os dias, mas a tensão era palpável. Eu não sei o que está acontecendo e nem quem é aquele homem, mas, de uma coisa eu tenho certeza, isso não é nada bom. O meu pai, que geralmente conversa muito e sorri muito, em todas as refeições, está calado e m*l toca na comida. A minha mãe, que reluz jovialidade e adora mostrar o seu belo sorriso, está cabisbaixa e o brilho que vejo em seu olhar é de tristeza e até um certo temor.
O que está acontecendo aqui?
Quem é aquele homem?
E… por que eu sinto que meus pais têm medo dele?
São tantos questionamentos que a minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento.
Após o café da manhã, o Luigi se despediu e seguiu para a sua rotina, antes de sair ele ressaltou que ia tentar descobrir quem é o homem e o que ele veio fazer aqui. Ter o apoio do Luigi me deixa um pouco mais segura e ele tem razão, eu não tenho o que temer, afinal, meu pai é o Primeiro-ministro da Itália, nós somos a segunda família mais poderosa do país, o meu namorado é o filho do presidente da República e o herdeiro da família Giordano, que são os mais poderosos do país. Eu não estou entendendo todo esse medo que estou sentindo. Seja lá quem for aquele homem, ele não nos oferece nenhum perigo.
Eu até pensei em fazer perguntas ao meu pai sobre tudo isso, mas ao vê-lo se arrumando para o trabalho, decidi deixar para tirar minhas dúvidas outra hora.
— Posso entrar? — minha mãe perguntou, depois de bater à porta.
— Claro que sim, mamãe.
Ela aproximou-se e tocou o meu pescoço, sorrindo.
— Vejo que finalmente a minha garotinha virou uma mulher — diz, puxando-me para sentar ao seu lado na cama. — Me conta como foi? Você gostou?
— Ah, mamãe, foi incrível! No começo eu fiquei com muito medo, mas o Luigi foi um príncipe comigo e conseguiu me acalmar e depois me fez sentir tantas coisas que eu nem consigo explicar — mantenho meus olhos fechados enquanto falo, lembrando das cenas maravilhosas que protagonizei durante a noite.
— Minha menininha, eu estou muito feliz por você. Essa é uma passagem muito especial para nós mulheres e eu estou muito feliz, e grata, por você ter curtido o seu momento e que foi com quem você ama — sua voz embargou e eu abro os olhos, encontrando um rosto emocionado à minha frente.
— Por que a senhora está chorando?
— Estou chorando porque sou uma boba, não liga para mim — diz, tentando mostrar um sorriso feliz, mas eu só vejo apreensão.
— Mamãe, quem é aquele homem? É dele que você e o papai estavam falando ontem, não é?
— Paola não vamos falar disso, estamos falando sobre você, sobre sua primeira vez — ela tenta desviar do assunto.
— Mamãe, nós estamos falando sobre mim, mas, eu tenho certeza que esse choro e estes olhos preocupados não são por causa de mim. Eu não sou mais criança, mãe, eu sei que tem alguma coisa séria acontecendo e é por causa daquele homem assustador.
— Ele intimidou vocês lá no hotel? O que ele fez? — Perguntou ansiosa, dando-me mais certeza do temor que ela tem dele.
— Quem é ele, mãe? O que ele quer conosco? — Perguntei, fazendo-a olhar para mim.
A minha apreensão quanto a este assunto só aumenta quando ela demora a responder. Após vê-la respirar profundamente e sentir o suor em suas mãos trêmulas, ficou muito óbvio que ela tem medo do homem. Que tipo de homem é capaz de intimidar a família do homem que detém autoridade de um país? — Perguntei-me internamente, enquanto aguardo a resposta dela.
— Paola, independente do que acontecer, eu só quero que você saiba que o seu pai está lutando com todas as forças para protegê-la.
— Me proteger de quem, mãe? Quem é aquele homem? — Insisto, ficando nervosa.
— Aquele homem é o Jason Bishop, é um empresário dos Estados Unidos, a quem o seu pai deve um grande favor.
E de novo aquele arrepio me toma, agora mais forte do que antes. A imagem dos olhos escuros penetrantes invade a minha mente, fazendo-me tremer e eu nem sei o porquê.