Judy
— Bom dia, Srta. Di Lua. Hoje o chefe está de bom humor e solicitou uma reunião com todos os funcionários às 14hrs.
— Obrigada por me avisar, Mary.
Mary foi uma das poucas pessoas que continuou falando comigo após o meu primeiro dia. O restante se achavam superiores aos novos contratados, o que me dava um pouco de receio.
Passei o dia tentando me concentrar em tudo que estava fazendo, anotei cada recado, cada vírgula e ponto para que não me prejudicasse no futuro, na hora do almoço liguei para Ulisses. Quando saí ele ainda dormia, não estava se sentindo bem contudo que vinha acontecendo com ele, mas o seu ex-namorado babaca não perde por esperar.
Ligação Ativa
— E aí, já tomou café? — Perguntou ouvindo seu riso abafado do outro lado.
— Parei para almoçar agora, mas já tomei café sim. E você, como está se saindo aí? — Suspirei tentando não deixar que nada me abalasse, mas a verdade é que, eu não estava em um clima muito legal. Minha menstruação estava perto e meus hormônios estavam a todo vapor, me fazendo chorar por qualquer coisa.
— Acho que estou me saindo bem. Hoje o chefe disse que iria querer fazer uma reunião com todos os funcionários da empresa, será que bem alguma coisa r**m por aí, Uli?
— Claro que não, Judy. No mínimo, deve ser aumento para chamar todos de uma vez, ou… — Ele sorriu do outro lado e eu me senti ainda mais confusa. — Ou ele só vai apresentar algum direito novo. Não deve ser nada demais.
— Você não vai me dizer que está na Quitanda? Ulisses, você precisa descansar, já tem me ajudado muito e não quero que fique se esforçando e possa piorar a situação.
— Não estou cansado, boba. Só disse aquilo ontem pra que você e Ramon ficassem a sós. Acha mesmo que eu não percebi?
— Percebeu o que, Ulisses? Você me disse que… seu safado. Nunca mais faça isso, me deixou preocupada.
— Eu não prometo nada, se for para te ver sorrir daquele jeito, irei me machucar todos os dias.
— Não quero que se machuque para que eu tenha que me encontrar com Ramon, Ulisses. Eu não quero que você se machuque, se fizer isso de novo eu juro que te darei o troco. — Ouvi uma voz masculina se aproximar e então olhei para o lado e não vi ninguém, quando sei aquelas mãos grandes em minha cintura, me puxando para perto do seu corpo. — Depois nos falamos, Uli. Até mais.
Ligação Inativa
— Será que podemos conversar, Judy? — Andrew ainda segurava minha cintura, atraindo alguns olhares de quem estava na cafeteria.
— O que está querendo conversar, Andrew? Da última vez que tentamos alguma coisa, você me trocou por sua melhor amiga e ainda veio com a desculpa de que estavam bêbados. Ainda bem que eu não transei com você, ou estaria arrependida agora. Agora, por favor, me deixe em paz.
Andrew foi a minha paixão de adolescência. Fizemos muitos planos, até dizíamos que íamos casar um com o outro quando ficássemos adultos, isso aconteceu, mas Andrew ao invés de cumprir com suas promessas, se tornou um homem bonito, sexy e além de tudo um filho da p**a. Me via como sua irmã depois de tudo que planejamos juntos, mas apenas eu fui tola em alimentar esperanças, fantasiando até nosso casamento, mas a realidade me trouxe a tona quando o vi transando com duas garotas no banheiro da escola.
— Eu sinto muito, Judy. Eu quero muito ter você pra mim e…
— Eu e mais quantas? Se quiser ser meu amigo a gente vai ser, continua tudo como era antes, mas não crie expectativas em ter alguma coisa comigo porque você não vai. — Ele me fiatava com seus olhos negros e tão… tão covicentes se eu não o conhecesse bem.
— Eu tô falando sério. Andei pensando melhor e não quero ninguém além de você. — Seu olhar me deixava atordoada, não porque ainda tivesse sentimentos por ele, mas a insistência era uma coisa que me irritava bastante.
— Se continuar com essa conversa desagradável não seremos nem mesmo amigos e se é isso que você quer, por mim, tudo bem. — Paguei a conta, peguei a chave do carro e sai caminhando até o mesmo. Mas suas mãos novamente grudaram em meu corpo.
— Então vamos jantar hoje à noite? Eu, você, Ulisses e Mel. O que acha? Ela chega hoje de viagem e eu quero ficar perto de você, mas não quero forçar a nada. Amo você, Judy. Jamais te machucaria. — Andrew sorriu e beijou minha testa.
A frase do "eu te amo" era sempre dita por nós três: eu, ele e Vivian, mas Vivian parou de falar quando se sentiu adulta e nós dois continuamos, como se fosse um hábito nosso.
— Pode passar lá em casa hoje, só não chega muito cedo que eu vou ver meu pai quando sair do trabalho. — Foi então que eu esqueci de avisar Ramon sobre o horário em que sairia. Droga! — Talvez a gente fique lá em casa mesmo, está frio e assim aproveitamos mais o nosso momento. Nunca mais fizemos isso. — Ele sorriu e assentiu, me abraçou, nos despedimos e eu fui embora. Estava quase atrasada, já eram quase duas da tarde e eu não queria me atrasar para conhecer meu chefe, se bem que isso não faria a menor diferença em minha vida.
Cheguei faltando cinco minutos para o meu intervalo acabar. Fui ao banheiro arrumar o cabelo e retocar o batom e quando voltei fui direto para uma sala que era tipo um cinema, com várias cadeiras e um telão logo a frente. A mulher que me entrevistou se mantinha à frente, creio que ela seja alguma familiar do dono para ter tamanha responsabilidade.
Quando todos entraram, Mary sentou ao meu lado dizendo:
— O que você acha que é? Um aumento ou mais coisa pra gente resolver?
— Eu não acho nada, Mary. Estou nervosa!
— Nervosa com o quê? Ramon é um gato, uma pena que seja meu chefe, caso contrário, já teria dado em cima dele. Mas, não o faço por medo de levar um fora e perder meu emprego.
Quando a mulher terminou de falar, Ramon apareceu vestido elegantemente em uma roupa social azul marinho. Então ele é o dono? Eu sabia que ele era empresário, só não sabia que era da Lancer!