A tempestade

1116 Words
A médica logo surgiu, as enfermeiras afastaram eu e Heitor de perto do leito assim que a profissional de aproximou da maca que estava nossa filha. Em questão de segundos, o lugar estava repleto de gente. Quando me dei conta, Mel passou sendo levada por todos eles na maca. Tento correr atrás para acompanhar minha filha, mas uma enfermeira se aproxima de mim me impedindo de prosseguir. — Anna achou melhor fazer um procedimento de urgência, para liberar a respiração da garota. Para melhor monitoramento, ela também subirá para UTI. Pediu que tivessem um pouco de paciência, que logo desceria para explicar a situação. Querem que eu traga um chá ou um café enquanto esperam? — A enfermeira me olhava sem um pingo de empatia. Parecia um gravador, replicando o que a médica havia dito. Eu sei, a função dela exige isso, mas isso dói de alguma forma no meu coração. Poderia ao menos mostrar que se importa para enganar meu coração um pouco que seja. — Não quero chá ou café, quero a minha filha. — Respondi com muita tristeza. Heitor me abraçou. Só pude me virar e aninhar nos seus braços antes de começar a chorar. Não era fácil assistir minha filha novamente em uma situação como essa. — Não fique assim. Nossa Mel é forte. Quantas vezes ela já superou as tribulações na sua saúde com um lindo sorriso no rosto. Eu sei que é assustador, me sinto da mesma forma, mas tenho certeza que a minha menina vai melhorar e vamos terminar de assistir todos os filmes da Barbie em família, como prometi para ela. — Heitor me consolou limpando minhas lágrimas. Tenho certeza que ele tava muito assustado, nunca havia passado por nada disso, mesmo assim, eu não neguei seu consolo. — Eu sei, mas ela é apenas uma criança. Não deveria passar por toda essa dor. Ela nunca fez m*l a nenhuma mosca. A vida dela foi difícil desde o momento que saiu da minha barriga. Ela teve que lutar para se manter viva. Talvez a maldição dela tenha sido ser uma mãe como eu. — Confessei. Talvez tenha sido o banho demorado que fez ela piorar. Não seria a primeira vez que eu cometia um erro ao cuidar da Mel que teve consequências terríveis. Por mais que os anos se passassem, eu ainda cometia erros. — Quando penso que finalmente estou começando a ser uma boa mãe. Eu cometo um novo erro. Quando acho que estou aprendendo como cuidar de uma criança, acabo deixando a minha filha em problemas. Estava tudo tão bem. Eu estraguei tudo novamente. — Acredito que ninguém é perfeito e você se esforça bastante para isso. Você basicamente vive para Mel. Não tem luxo nenhum, por mais que trabalhe, investe tudo que tem para filha. O maior quarto do apartamento é da Mel. O único cômodo com ar é o quarto da pequena. Tudo da Mel é sempre novo. Você comprou um carro para dar mais comodidade e segurança para ela. Se você não for uma boa mãe, não sei quem será. Errar é humano, mas você sempre tira uma lição importante de todos os seus erros. Esse não será diferente, certo? Isso, se foi realmente a sua culpa. Não sabemos o que aconteceu ou como que a pequena ficou nessa situação — Heitor tentou me acalmar me abraçando forte e acariciando meu cabelo. Mesmo sabendo que ele estava certo. Eu não conseguia deixar de pensar que tudo que acontecia com a minha filha era minha culpa. Será que só eu sou assim? Ou toda mãe adolescente se sente assim? Será que é algo que todas as mães sentem? Ou apenas eu por todos os erros que cometo? Heitor me sentou em uma cadeira, puxou a minha cabeça até o seu colo. Não disse mais nenhuma palavra. Como soubesse que eu não iria ouvir de qualquer forma. Talvez, no fundo, eu apenas queria externar a minha dor. Eu chorei até adormecer. Acordei com Heitor me chamando. Anna, a pediatra que estava atendendo Mel estava na nossa frente. — A senhora está bem? — Anna perguntou parecendo bastante preocupada comigo. — É difícil ver a minha filha, tão pequena, passando por tantas dificuldades tão cedo. Quando acredito que as coisas estão melhorando, algo assim acontece, mas deixando isso de lado. O que aconteceu? Como está minha filha? Eu posso ver ela? — Tinha mais perguntas que isso, mas pensei não ser corretor bombardear a médica de perguntas por enquanto. — Você lembra uma grande amiga minha, Mel lembra o seu filho. Liam, filho da minha amiga, com pouco tempo de vida, foi diagnosticado com câncer. Os médicos desenganaram, Aurora, sua mãe. Para piorar, não conseguiamos encontrar ninguém compatível com ele. A minha amiga desabava sempre que o seu filho piorava, perguntava como a vida podia ser tão injusta com alguém tão pequeno, mas sabe o que aconteceu? O namorado dela, na época, era compatível com Liam, nem mesmo o pai era. E sabe como o meu afilhado está agora? Casado com a minha filha, se tornou oncologista infantil e me deu até netinhos para eu estragar. O que quero dizer é que não desanime. Vocês e a Mel vão virar o jogo. Assim como Aurora e Liam. — Anna claramente era mais empática do que qualquer médica que tive nos últimos anos. Nem sabia que um médico poderia passar tanta confiança para uma mãe. — Eu sei. Tento ser sempre forte, mas às vezes, a gente desaba... — Desabafei. As minhas emoções estavam a flor da pele. — Eu compreendo. É natural e saudável. Se você não colocar para fora tudo que sente, vai explodir com os seus sentimentos. Enfim... Que tal falar da Mel. Acredito que está ansiosa por notícias. — Anna disse com um sorriso que me deixou ainda mais calma. Com toda a certeza minha filha estava bem — Os exames da Mel mostram uma piora, que não parece ter vindo de agora. Ela não estava fazendo os exames? Ou acompanhamento? A medicação está completamente errada. Tanto para idade dela como para o tipo. No fim, a medicação dela não fazia qualquer efeito. Era como se tivesse tomando água. Agora a Mel está estabilizada, mas precisamos acelerar a cirurgia. Nesse momento, você precisa de um cirurgião especializado. Tenho dois nomes para indicar. — Anna me entregou dois cartões. — Eu indico que façam contato urgente e tentem adiantar uma consulta. Podemos deixar Mel estável por um tempo, mudei as medicações, vamos manter ela no tratamento intensivo, para que não haja nenhuma surpresa, vamos monitorar todo tempo, mas ela só deve se recuperar totalmente com a cirurgia até que aconteça, vamos manter ela hospitalizada.
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