Eu não estava pronta para nada disso

1006 Words
— Ligamos para o número de contato de emergência, lá dizia ser o seu pai, mas pode ter dado número errado, acontece ainda mais por você ter dado entrada sentindo bastante dor. Pode anotar aqui o número novamente? Tentaremos fazer contato outra vez. — A enfermeira disse sem jeito me entregando a prancheta com uma caneta. Haviam várias razões para meus pais não atender as ligações, não era algo extraordinário, estranho seria se eles atendessem. — Certo, aqui o número do meu pai e esse é o da minha casa, poderá falar com os funcionários. Eles talvez tenham mais chances de falar com os meus pais. Os dois têm problemas para atender números desconhecidos. — Falei anotando o número no papel — E sobre assinar os papéis, não há necessidade deles. Fui emancipada quando completei 16 anos, como eles sempre estão viajando, acharam que seria melhor para mim dessa forma. Era sempre uma complicação para assinarem qualquer coisa da escola. Nunca imaginei que seria útil nessa situação, mas sobre isso, não tem razão para se preocupar em fazer contato com eles. — Entendi. Mesmo assim, nesse momento, acho que você precisa da presença da sua família e do pai da criança. Não estou querendo me meter em sua vida, mas é um conselho de uma mãe para outra, você acabou de ter bebê e sabe que a situação dela não é boa. Além disso, você ainda é muito nova. Será importante o apoio da família nessa situação. — A enfermeira era uma senhora por volta dos seus 60 anos. Tinha os cabelos totalmente branco e um semblante preocupado. — Eu não sei nem como dizer a eles que tudo isso aconteceu. É completamente inesperado. De uma forma que nem consigo assimilar. Tudo bem se eu organizar os meus pensamentos antes de dizer algo para eles? Sinto que ainda não estou pronta para isso. Não que eu realmente tenha escolha. — Não sabia como dizer aos meus pais que tinha tido um bebê sem ter ao menos um namorado, mas acho que não tem como esconder isso. Como iria esconder um bebé com a saúde frágil? Logo eu que nunca criei nem peixe em aquário. — Tudo bem, mas mesmo assim, terei que fazer a ligação para informar para eles a situação atual. Mesmo que seja emancipada, ainda é necessário esse procedimento, ainda mais, na situação que está. Falarei por você, antecipando eles dois do que aconteceu, quando estiver pronta, poderá conversar com eles e ser sincera, tenho certeza que seus pais vão entender a sua dificuldade para contar. Por enquanto, saiba que pode contar comigo para o que precisar. Conseguimos algumas roupinhas para a pequena Melissa, acredito que como ela veio inesperadamente, não há roupas, brinquedos ou itens de bebês. Conseguimos alguns itens. Tudo é novinho! Alguns nunca foram sequer usados, o que foram, apenas uma vez ou duas, no máximo, bebês crescem tão rápido que muita roupa se perde antes mesmo de usar. Está tudo bem limpinho, tá? — A enfermeira me entregou uma bolsa de bebê bastante pesada. De onde será que ela conseguiu tanta coisa? — Conte comigo, tá bom? — Muito obrigada. Aliás, como a senhora se chama? Como posso receber tanta ajuda e nem saber o nome de alguém tão maravilhoso? Eu... não sei como agradecer. — Para ser sincera, nem cheguei a pensar que não havia nada esperando pela bebê em casa. Eu m*l conseguia digerir a existência de Melissa ainda na minha vida. — Me chamo Maria, querida. E não precisa me agradecer. Temos que ajudar uns aos outros. Nunca se sabe o dia de amanhã. Então, não se preocupe. Enquanto seus pais não estiverem aqui, eu irei ajudar você, menina. — Maria me disse segurando minha mão, não pude conter minhas lágrimas. — Está tudo bem. Tenho certeza que tem vários sentimentos que você tem que lidar agora. Com o tempo tudo ficará bem. Eu garanto. O início sempre é mais difícil. As lágrimas não pararam de surgir. Meu coração estava doendo. Foi naquele momento que eu senti que tudo era real. Eu era uma adolescente que tinha acabado de se tornar mãe inesperadamente de uma bebê de saúde frágil e o pai era alguém que quebrou meu coração em pedaços, um amor de verão que queimou antes mesmo de crescer. Maria me acompanhou até meu quarto, me deitou na cama, sentia sua mão acariciando minha cabeça enquanto eu chorava até adormecer. Acordei estava sozinha no quarto. Minha mente estava mais organizada e meu coração muito mais calmo. Levantei com dificuldade da cama. Sentia um pouco de dor, mas minhas pernas estavam se movendo sozinha em direção do berçário. Maria logo que me viu, correu em minha direção com uma cadeira de rodas, me conduziu até a encubadora onde estava a pequena bebê. Assim que me aproximei, ouvi um barulho alto e fino, como um alarme tocando. Maria me puxou para longe enquanto a equipe médica circulava Melissa. Não consegui entender nada do que eles diziam, mas a forma com que Maria me abraçava, seu semblante preocupado, deixava claro que não era coisa boa. — Vamos, pequena! Você é tão forte! Não pode desistir agora. Vamos! Lute! — Vicente falava com firmeza. Levantei preocupada, queria conseguir ver melhor o que aconteceu. Senti minhas pernas ficando bambas, meu coração estava querendo sair pela boca. E naquele momento, apenas conseguia pensar que eu nem sequer havia me apresentado para minha filha. Nem olhei para ela o suficiente. Caí de joelhos no chão, chorando com medo do que viria. E fiz a única coisa que podia fazer naquele momento. — Deus, sei que não sou boa o suficiente. Que não estou preparada para nada disso, mas se me der uma oportunidade, prometo que dedicarei a minha vida para o bem dessa pequena garota. Darei tudo de mim por Melissa. Por favor, senhor, salva a minha filha. — Sussurrei de cabeça baixa. Se me perguntarem porque eu me sentia daquela forma, não saberei dizer, mas eu sabia que não podia perder Melissa.
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