Quem precisa de você?

1143 Words
— Ufa! Bom trabalho, galera. Melissa está melhor. Vou pedir alguns exames para saber o que está acontecendo. Por favor, Maria, recolha um pouco de sangue dela. Vou deixar os exames prescritos. Será que a pequena ficou tão feliz em ver a mãe? Venha, mamãe. Sua filha está esperando por você. — Vicente tinha um sorriso tão calmo, que sequer parecia que alguns minutos atrás estava com a vida da minha filha em suas mãos. — Não seja tímida, Caroline, é a sua bebê. Sim, era minha bebê. Enquanto me aproximava, eu sorri. Aquela bebê havia aparecido de surpresa na minha vida. Por alguma razão, não percebi que estávamos convivendo juntas por tanto tempo. Só de pensar me aperta o coração. Será que não há uma razão maior para tudo isso acontecer? Eu espero que sim. Nunca pensei que minha vida tomaria um rumo tão inesperado. — Olá, Melissa, tudo bom? Desculpa não me apresentar antes, mas você foi uma grande surpresa para mim, para ser sincera, sempre gostei de Kinder Ovo, mas nunca recebi um brinde como você. É realmente raro... — Algumas lágrimas rolaram do meu rosto, mas logo tive uma crise de riso— Eu sou sua mãe. Acho que eu preciso desejar uma boa sorte para você. Ter uma mãe dessa não será tarefa fácil. Eu tive um pouco de medo, na verdade, eu ainda tenho muito. Tenha paciência com a mamãe, tá? Eu prometi que serei forte por nós duas. Pode ser difícil no começo, mas vai dar certo. Ao menos, eu espero... — Que criança não ficaria feliz com uma mãe tão jovem, bonita e cheia de energia. — Vicente brincou se aproximando de mim. — Tenho certeza que sua filha vai ficar cada vez melhor com sua presença. Ouvindo sua voz perto dela. Já que é a única informação que ela deve ter recordação. O mundo é muito novo para o bebê, para eles, há única coisa confortável e conhecida é a sua mãe. — Farei o meu melhor. Vai ser uma bagunça, mas será divertido. Não é? — Por alguma razão, todo medo havia passado ao ver como aquela pequena lutava pela vida — Será uma grande aventura. Depois daquilo, tudo mudou para mim. A ideia de ter uma filha, não era mais tão assustador, mas na verdade, até um pouco divertido. Cada dia que passava no hospital enquanto minha pequena estava internada, era uma pequena vitória nossa, que eu comemorava junto com a equipe médica, acabei me tornando próxima a eles, mas como não ficar, eu não saí do hospital nenhum minuto. Havia decidido que só sairia de lá com Melissa em meus braços. Os dias se passaram arrastados, eu não sabia o que era dormir há muito tempo. E nem tive tempo para pensar exatamente o que tinha acontecido ou como explicaria isso para meus pais. Do dia para noite, me tornei mãe e não sabia o que fazer naquela situação. Estava encarando um problema de cada vez e evitando pensar demais no futuro. Liguei várias vezes para os meus pais, mas não atendiam minhas ligações. Não fazia ideia do que estava acontecendo. Fiquei preocupada se algo teria acontecido, mas não conseguia fazer nada. Toda minha energia estava focada em Melissa. Por sorte, tive muita apoio da equipe do hospital. Me ajudaram não apenas com as necessidades básicas, mas ouviram meus medos e me ensinaram muito sobre maternidade. Eu era uma mãe de 16 anos que não sabia trocar as fraldas da bebê, dar banho ou sequer tinha leite para alimentar Melissa. Estava completamente perdida. A ajuda de todos eles foi fundamental. Apenas depois do seu primeiro mês, que pude levar Melissa para casa, estava ansiosa para mostrar a todos, como ela era linda e forte. Estava muito orgulhosa de nós duas, mas inesperadamente, ao entrar em casa, encontrei todas as minhas coisas embaladas na sala, que estava completamente vazia. Não havia móveis ou funcionários. Me surpreendi ao ouvir passos vindo em minha direção. — Pai? — Falei surpresa. Será que algo aconteceu? — Não sou seu pai. — Oscar me disse me olhando com cara de nojo. — Você sabe muito bem que é apenas um bebê abandonado, minha esposa que tem um bom coração decidiu te dar uma nova vida quando te encontramos dentro de uma caixa na porta de nossa casa, mas sabe, mesmo se der pérolas para os porcos, eles continuaram sendo porcos, não valorizaram as pérolas e continuaram se chafurdando na lama. Olha isso. Com 16 anos. É uma grande v***a com um bebê. Uma vergonha. Não sei como ainda tem coragem de andar com cabeça erguida depois de tamanha vergonha. Ainda desfila com isso no braço como se fosse motivo de orgulho. — Como é que é? — Fiquei surpresa em ouvir aquilo. Meu pai não era um homem afetuoso, mas nunca pensei que poderia ouvir algo assim vindo dele. — Nós realizamos todos os seus caprichos, mas como retorno você nos deu vergonha e problemas. Já não queremos mais essa dor de cabeça em nossas vidas. Você e essa coisa se virem para viver. Não nos ligue nunca mais ou nos procure. Você morreu para nós. E esse negócio no seu braço, nunca nem existiu. — Oscar explicou indo em direção da porta. A raiva tomou conta de mim. Não fiz nada de errado para ouvir algo assim, muito menos Melissa. Não deixarei que ninguém, nem mesmo meu pai, ouse menosprezar minha filha. — Dói demais quando cai a ficha, você percebe que as coisas estavam nítidas o tempo todo. E eu só não percebi porque queria que fosse diferente. Se sempre pensou assim de mim, fico feliz em ir embora. Prefiro não estar onde não sou bem-vinda. E muito menos, deixar minha filha conviver com pessoas imundas e sem escrúpulos como vocês. — Respondi. Sentia o nó na garganta, mas não merecia ser humilhada e não preciso aceitar calada. — Tanto faz. Só não procure minha esposa. Vamos fingir que você morreu. Espero que entenda o que isso quer dizer. Você é burra, mas nem tanto. Deve entender ao menos isso. — Oscar disse antes de fechar a porta com toda a força. Olhei aquela casa completamente vazia, onde um dia pensei que estava repleta de amor, mas era um enorme engano da minha parte. Acho que no fundo eu sempre soube. Pais que nunca foram presentes, mas que sempre foram exigentes. Como se eu fosse apenas um troféu para exibir com os amigos. Eu era apenas uma capricho de uma esposa rica? Pensar nisso machucava um pouco. — Quem precisa deles, não é, Melissa? Bem... pensando bem, a gente meio que precisava do dinheiro deles... mas o que faremos agora? — Gargalhei ao notar que agora estávamos só eu e a minha pequena no mundo. — Para onde vamos agora? E como vamos viver?
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