Brinde de hoje: A pequena Melissa

1107 Words
Os profissionais de saúde agiram com rapidez e precisão. Enquanto a obstetra terminava de fazer o parto, o pediatra que me pareceu experiente, assumiu o bebê, pelo tom de voz que usava, parecia bastante confiante ou apenas eu quis acreditar nisso. Naquele momento, não havia mais nada que pudesse fazer. Apenas confiar em todos ali. Olhei para o lado, a minha bebê estava pálida ao mesmo tempo que azulada e completamente imóvel naquele pequeno berço. O tempo parecia se arrastar enquanto a equipe trabalhava incansavelmente para trazer vida a esse pequeno ser. O pediatra realizou massagens cardíacas delicadas, enquanto a enfermeira administrava oxigênio na tentativa de fazer aquele pequeno ser reagir. Depois de alguns momentos angustiantes, um sinal vital fraco surgiu no monitor. O bebê tossiu e soltou um chorinho baixo, mas foi suficiente para encher a sala de parto com alívio e alegria. O milagre da vida havia prevalecido, e aquele pequeno ser, que um momento antes parecia estar perdido, agora estava respirando e lutando pela sua chance no mundo. — Ela voltou! Precisamos levar a bebê urgentemente para a UTI. Temo que ela possa ter outra parada! Preciso fazer mais exames e estabilizar ela. — O pediatra explicou para Natasha enquanto empurrava aquele carrinho de bebê com velocidade para o lado de fora do lugar. — Certo. Me dê notícias. — Natasha concordou com o médico, mas parecia ocupada. Assisti aquele médico desconhecido levar a bebê que eu não sabia que tinha embora. Queria ir atrás com aquela pequena, mas meu corpo estava pesado, me sentia sonolenta. Tentei chamar Natasha e pedir ajuda, mas antes que eu conseguisse falar, fui pega por um sono pesado. Quando despertei, estava sozinha em um quarto. Será que tudo aquilo havia sido só um pesadelo? Será que desmaiei e tive aquele sonho louco? Olhei ao redor confusa. Gritei por alguém, mas ninguém me ouvia. Por sorte, encontrei o botão de emergência ao lado da cama e consegui chamar a equipe de enfermagem, que logo trouxeram Natasha e o pediatra que havia lavado o bebê. — Acho que não foi um sonho. E nem precisei me beliscar para saber. — Falei rindo. Talvez eu tenha apenas enlouquecido. — Olá, Caroline, como se sente? — Natasha tinha um sorriso nos lábios. — Com muito sono — Respondi tentando conter o riso. Vão achar louca se eu tiver uma crise de riso agora. — Deve passar em algumas horas. Aliás, esse é Vicente. Ele é o pediatra responsável por sua bebê. — Natasha apresentou o pediatra que estava ao seu lado, o mesmo que esteve presente na sala de cirurgia. — Voltando ao que compete a mim, seu parto natural foi um sucesso, não houve qualquer complicação. Sua recuperação deve ser rápida. — Obrigada. E como está a bebê? — Perguntei curiosa, se não era sonho e eu não estava maluca, tenho certeza que uma criança saiu de dentro de mim. Embora ainda seja maluco pensar nessa ideia. — O bebê nasceu prematuro, creio que ele tenha por volta dos oito meses, como uma gravidez surpresa, não foi tomado os cuidados necessários, por isso, a bebê nasceu menor do que deveria e bem mais fraca. E há um fator complicador, sua filha nasceu de oito meses, seu pulmão ainda não estava completamente formado. No momento, ela está estável, mas sua vida ainda corre risco. As próximas 24 horas são determinantes. Eu e minha equipe estamos fazendo nosso melhor para que ela tenha tudo que for necessário nesse momento. Monitorando ela de perto. — Vicente explicou parecendo cansado. — Posso ver a bebê? — Perguntei. Não parecia real para mim. Como vim ao hospital tomar um Buscopan e acabo com um bebê? Não fazia sentido. Pensei que se talvez visse a bebê, acabaria aceitando a realidade que luto para ignorar. — Claro que sim. Só não poderá colocar ela em seus braços no momento, mas poderá conhecer ela. — Vicente explicou com um sorriso desajeitado. — Vou chamar um maqueiro. Te explicarei o restante do quadro da pequena enquanto você há conhece. Acenei concordando com Vicente. Não demorou muito para o maqueiro surgir. Enquanto eu era empurrada até o local, meu coração parecia que ia sair do peito. Como eu iria explicar para meus pais que vim ao hospital tomar um remédio para cólica e voltei com um brinde desse? — Bem, essa é a sua pequena filha. Não se assuste com os fios e tubos ligados a ela. É algo temporário, até que ela consiga fortalecer o corpo e seu pulmão. — Vicente explicou ao notar minha surpresa ao olhar para aquele pequeno ser, tão delicado, cheio de tubos e fios. — A bebê nasceu pequena e abaixo do peso. Ela tem 39 centímetros e pesa 1,790 gramas. Acredito que a bebê nasceu entre o sétimo e o oitavo mês de gestação. — Ela parece tão... Frágil e pequena. — Quanto mais olhava para ela, mais meu coração se apertava. Nunca vi um bebê tão pequeno e magro em toda minha vida. — Alguns aspectos dela ainda não estavam completamente prontos, como os pulmões: Já que estão entre os últimos órgãos a amadurecer. Seu sistema imunológico pode não ser tão eficaz quanto o de um bebê nascido no tempo esperado, tornando-a mais suscetível a infecções. A capacidade de digerir alimentos está limitada, necessita de uma alimentação especial. Por último, mas não menos importante, embora o cérebro e o sistema nervoso estejam em desenvolvimento avançado, ainda há riscos de complicações neurológicas, especialmente em bebês muito prematuros. No momento, não há nada. Ela está em observação nesse aspecto também. Mesmo assim, estamos otimistas, desde que foi estabilizada ela está reagindo bem, porém, como eu já havia dito, as próximas 24 horas são cruciais. — Vicente explicou devagar, como se estivesse me dando tempo para absorver a situação toda. — Aliás, já pensou em um nome para sua filha? Como aquela bebê poderia ter um nome? Quando eu sequer esperava sua vinda ou existência, mas de alguma forma, toda vez que eu olhava para ela, um nome vinha em minha mente, já que aquela pequena me fazia lembrar da primeira boneca que ganhei da minha mãe. — Melissa... — Pensei alto me aproximando da encubadora onde ela estava. — Licença, Caroline, certo? Não conseguimos fazer contato com seus pais e nem encontramos a funcionária que acompanhava a senhorita. Como é de menor, precisamos de um responsável para assinar os papéis. — A enfermeira disse segurando uma prancheta. — Como assim? — Meus pais eram bastante ocupados, mas sempre que sabiam que eu estava doente, atendiam até mesmo em reunião. Será que algo aconteceu com eles?
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