Não é piada

1013 Words
Andar de maca não era nada divertido como eu imaginei. Nos filmes parecia muito mais divertido. Quando me dei conta, eu estava em um lugar totalmente diferente. Tinha saído dos corredores do hospital, estava em uma sala, cheia de aparelhos. Haviam várias pessoas ao meu redor cuidando de mim de alguma forma, mas nenhuma realmente estava prestando atenção em mim ou ninguém se preocupava em responder as minhas perguntas. Quanto mais eu pensava naquela situação, mais nervosa eu ficava, já sentia uma dificuldade para respirar e a vontade era sair daquele lugar correndo. Eu definitivamente, estava prestes a surtar. Eu só queria a minha mãe. Nunca pensei que sentiria essa necessidade novamente, depois que cresci. — Quem está acompanhando a senhorita? — Uma enfermeira perguntou enquanto fazia o acesso para colocar o soro, ao menos acho que seja. Sinto que o meu cérebro está sobrecarregado, um pouco pela dor e outra por toda a situação — Onde está o pai do bebê? Pronto, mamãe. Quer que eu chame alguém? Não é fácil passar por esse momento sozinha. Posso chamar alguém para segurar sua mão. Você vai se sentir mais segura. — Pai? Bebê? Mãe? O que estão dizendo. — Naquele ponto, eu já sabia exatamente o que estava acontecendo, mas de alguma forma, decidi negar a possibilidade ao máximo. Mesmo sabendo que era inútil fazer aquilo. Eu sentia o nó na minha garganta ficando cada vez maior. — Gente, vocês estão confundindo alguma coisa. Já viu uma grávida tão magra como eu? Vocês sabem que quem tá grávida parece que comeu melancia inteira, não é? Preciso nem cursar medicina para saber isso. Parem com essa brincadeira. Eu não estou grávida. EU não posso estar grávida. Parem com isso. — Caroline, sei que deve ser difícil assimilar tudo que está acontecendo, mas você passou por um fenomeno bastante raro. A sua gravidez é uma surpresa, completamente inesperada e assintomática. Lembro que disse que havia uma funcionária esperando por você. Quer que eu a chame? Ligue para alguém? Não temos muito tempo. A sua filha está querendo conhecer a mãe. Ela parece bem impaciente. — Natasha segurou a minha mão com um incrível sorriso no rosto. Quem sorrir ao dizer que alguém de 16 anos está esperando um bebê? Minha mãe ainda me chama de bebé, como apareço em casa com esse presente de natal adiantado. — Espera. Eu estou mesmo grávida? Isso é realmente possível? — Assim que menstruei, tive bastante dores, a ponto de desmaiar, fui levada ao médico por minha mãe, mas a ginecologista deixou claro que eu tinha endometriose e teria dificuldades para engravidar futuramente, além de uma TPM terrível. Nunca passou na minha cabeça essa possibilidade de ter um bebê. Quem com 16 anos pensa na possibilidade de engravidar? Não, melhor. Eu só fiz aquilo uma vez na minha vida inteira e nem sei se fiz direito. Doeu. Não foi bom. Nunca mais quis nem repetir. Qual a chance disso acontecer? As pessoas não tentam várias vezes antes de conseguir engravidar, gente. — Parece que sim, mas não precisa ter medo. Estarei aqui para segurar a sua mão enquanto a sua mãe não chega. Esse momento pode ser assustador para nós mulheres, ainda mais quando se é pega de surpresa como aconteceu com você. Se me permitir, ficarei ao seu lado até que a sua linda bebê venha o mundo. Eu entendo que tenha várias perguntas, mas poderemos responder todas elas quando você e o seu bebê estiverem fora de risco. Combinado? A sua filha parece ser do tipo apressada. Que não gosta de esperar — Natasha perguntou tentando deixar o clima mais leve, apenas concordei com a cabeça. Ao menos, de alguma forma, me sentia segura com ela. Desisti de tentar entender o que estava acontecendo e apenas me deixei levar pela maré, mas a dor já era enorme e desproporcional, ficou ainda maior. Natasha me orientava quando respirar ou empurrar. Mesmo com dificuldade de entender o que ela dizia, eu seguia os seus comandos sem pensar demais sobre aquilo. Queria apenas que a dor terminasse. Pouco a pouco, sentia o meu corpo se rasgando. Não foi nada lindo ou mágico, foi doloroso e assustador. — Empurra com toda a sua força! Já está nascendo. O bebê já está vindo. Empurra com toda a sua força. Já está pertinho dela nascer. Não desista. — Natasha disse sentada de frente para mim, olhando entre as minhas pernas. — Equipe do neo, se preparem para receber o bebê. Força, mamãe. A pequena está vindo. A sua bebé está chegando para te conhecer. Mesmo com a dor enorme que tomava conta de mim. Fiz o que ela mandou. Exatamente igual. Senti um alívio enorme tomando conta de mim ao ver Natasha levantando da cadeira com o bebê nos seus braços. Fiquei ansiosa pela espera daquele choro clichê que há após o nascimento, mas não houve choro. Será que acontece só em filmes? Os bebês não fazem barulho quando nascem? E eles nascem sempre azulados assim? Não. Algo parece errado. Enquanto eu esperava por um choro tão alto que ecoaria naquele quarto, mas não houve qualquer som, um silêncio desconfortável tomou conta do lugar. Natasha havia passado o bebê para as mãos do pediatra, responsável pela equipe do neo-natal. A tensão naquela sala de parto era palpável, enquanto os médicos e a equipe de enfermagem se preparavam para uma situação crítica. O pediatra que estava com a minha bebê, colocou ela rapidamente em um pequeno berço e começou a realizar manobras de ressuscitação. Os técnicos de enfermagem prepararam os equipamentos necessários, incluindo um ventilador e um desfibrilador. — Não está funcionando. — O pediatra disse para sua equipe sem parar com as manobras naquele pequeno bebê. — Tragam o desfibrilador! O meu bebê recém-nascido havia vindo ao mundo sem respirar e a vida estava por um fio naquele momento. Senti o meu mundo parar. Parecia que tudo estava em câmera lenta. Nem sequer entendia o que eu estava sentindo. Ter aquela bebé parecia assustador, mas pensar em perder ela, me doía ainda mais.
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