Movimento da vida

1044 Words
No fim, conseguimos ser atendidas sem problema. O médico havia atrasado tanto, que mesmo chegando atrasadas, esperamos mais duas horas para finalmente conseguir entrar na sala do médico. Melissa já havia corrido, chorado, reclamado e gasto toda sua energia na recepção. Entrou no consultório já com os olhos pesados. O médico como sempre olhou alguns exames. Examinou a garota. Releu toda sua ficha, como sempre fazia, antes de dar seu veredito. Eu apenas esperava ansiosa com medo de uma notícia r**m. — Pronto. Vou aumentar a medicação de Melissa, como havíamos conversado. Como ela está crescendo, há a necessidade de aumentar a dose aos poucos para encontrar a quantidade ideal. Para estar adequada ao corpo dela que está cada vez maior. Como eu já havia explicado para você. — Vitor era o médico que estava acompanhando Melissa nos últimos três anos, desde que descobrimos a razão do pulmão de Melissa ser tão frágil e sensível. Começamos o tratamento, mas a evolução não estava indo como imaginavamos. — Aqui estão os próximos exames necessários. Peça que a secretaria para marcar os exames e o retorno. — Entendi. Para quando deve ser o retorno? Depois dos exames ou do efeito da medicação? — Perguntei organizando mentalmente uma agenda. — Os exames devem ser feito daqui a uma semana, quando a nova dose estiver fazendo efeito. A consulta deve ser feita depois que tiver os resultados dos exames. Estarei esperando. Aliás, quando é que poderei ter a honra de sair com a senhorita, ehn? Você não tem como ser ocupada para sempre. Tem que ter um tempinho livre, não é? Depois de tanto estresse diário, todo mundo merece um tempinho para tornar aquela cerveja gelada e limpar a mente. — Vitor não era o tipo de médico que eu gostava por perto, mas eu não tinha realmente outra opção. — Desculpa, doutor, mas a vida de mãe solo é bem corrida. Como sabe, a saúde de Mel não é das melhores. E isso me leva bastante tempo. Não tenho tempo para encontros ou cervejas depois do expediente, até porque meu expediente é infinito e nunca acaba. Terei que rejeitar sua proposta. Peço desculpa. Nos vemos na próxima consulta. Obrigada. — Era uma mentira. Na realidade, eu não tinha qualquer interesse em relacionamentos. Tinha uma vida agitada o suficiente e completa apenas com a Mel. Não queria procurar sarna para me coçar, com um relacionamento, ao menos, era assim que me sentia nos últimos anos, mas nunca se sabe o que pode acontecer no futuro. — Ahhh que malvada. Um dia ainda consigo ter uma chance com essa loira linda. Quanto mais você me rejeita, mais eu quero uma oportunidade. Sou bastante obstinado quando quero, tá? Ainda vou ganhar esse coração de gelo. — Vitor era um ótimo médico, mas um péssimo profissional. Será que ele sabia o significado de ética no seu dicionário? Tinha um pouco de nojo, mas não encontrei nenhum outro médico especializado na doença da minha filha, querendo ou não, eu precisava aguentar os absurdos dele até encontrar outro médico. — Vejo você depois. — Falei indo em direção da porta. Só conseguia pensar como um médico falava esse tipo de coisa com uma mãe de paciente, na frente de sua filha. Ele era completamente s*******o. Minha vontade era chutar bem no meio das pernas dele, para aprender a ter cuidado com o que fala e respeitar as pacientes. Deixei a sala do médico com Melissa no meu colo sonolenta, ela já estava coçando os olhos. Precisava voltar para casa o mais rápido possível, minha filha era um doce, nunca dava trabalho, não queria guerra com ninguém, mas quando ela estava com fome ou sono, parecia o demônio da tasmânia. Eu fazia o máximo, para não deixar ela chegar nesse nível. Melhor evitar uma guerra desnecessária. Assim que terminei de assinar os papeis de autorização dos exames, estava saindo da clínica bastante distraída fazendo os cálculos mentais dos exames novos e medicações, meu celular tocou. Um número desconhecido. Olhei um tempo para tela, pensando se deveria atender, não gostava de atender ligações desconhecidas. Demorei tanto, que quando fui atender, a chamada caiu antes que eu pudesse aceitar. — Também não queria atender, sabia? Vamos, Mel. Sua vovó está indo nos visitar. O que você quer jantar? Que tal comprar alguns coisa e fazer pizza? Você gosta de rechear elas, não é?— Segurei a pequena nos meus braços, enquanto guardava o celular, mas o telefone voltou a tocar. — Espera um pouco. Acho que é importante. Não é? Ou não estaria insistindo tanto. Não durma ainda, minha pequena, você quer escolher o que vai colocar na pizza, não é? * CHAMADA ON * — Alô? — Atendi a chamada colocando Mel no banco traseiro do carro que estava no estacionamento da clinica, minha filha estava cada dia mais pesada e maior. Não aguentava ela no meu braço por muito tempo. — Com quem ou falo? Alô? — Olá, aqui é do hospital Prudente. Sou a enfermeira de platão. Seu número estava no celular em um paciente que entrou agora pouco na urgência. Houve um acidente de carro, ele foi resgatado com vida, mas o paciente chegou desacordado na emergência. Poderia vir até o hospital, por favor. Precisamos de um responsável no local para tomar as decisões. — Uma voz feminina me disse. Meu coração apertou naquele momento. Sentia que poderia explodir a qualquer momento. Quem havia sido a última pessoa que eu liguei? Não havia feito ligação para ninguém naquele dia. Só podia ser uma ligação antiga. — Estou indo. — Achei melhor não pensar em nada isso. Apenas peguei a minha filha e entrei no carro tentando acalmar meus sentimentos. Haviam poucas pessoas que eu mantinha contato diário, todas elas eram importantes e fundamentais na minha vida. * CHAMADA OFF * Não achava uma boa ideia levar ela para o hospital, ela tinha a imunidade baixa e facilmente pegava infecções, mas liguei para Marieta e Letícia, nenhuma das duas atenderam, o que me deixou ainda mais preocupada com a situação. Sem escolha do que fazer, ajeitei Mel na cadeirinha com cuidado e parti em direção do hospital. Fui o caminho inteiro até o o hospital orando para que não fosse nada grave.
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