Fica Rico, Fica Pobre

1139 Words
Não vou mentir que por alguns minutos, o medo e toda a resposta me pressionou um pouco O turbilhão de emoções tomaram conta dos meus pensamentos. Estava praticamente me afogando neles, quando Melissa chorou tão alto, que ecoou por todo o lugar que antes estava dominando pelo silêncio. Me trazendo de volta para a realidade que gritava pedindo minha atenção em meus braços — Tem mesmo como saber o que você quer ou sente só pelo choro? Não faz sentido. As enfermeiras sempre acertavam de primeira. Bom, a fralda está limpa, então só resta fome, dor ou tédio. Não vejo a hora de ouvir você falando o que quer. Tentar adivinhar é um pouco difícil e nem sempre você fica feliz com essa demora — Pensei alto enquando apertava o pequeno nariz de Melissa, tentando roubar sua atenção e fazer ela parar de chorar — mas... Como posso alimentar você? Tenho certeza que não tem o leite que você precisa no armário. Não deve ter nada. Olhei ao redor, aquele enorme vazio de paredes brancas e me dei conta. Eu não tinha casa, dinheiro ou ajuda para cuidar de Melissa. Ela estava com fome, eu não estava conseguindo produzir leite. Precisava ir na farmácia comprar a fórmula que foi indicada pelos médicos. Entretanto, o que farei com todas essas malas? Onde vou preparar a fórmula? E como comprarei elas?Para onde eu vou depois disso? E onde vamos dormir? Péssimo momento para ser expulsa de casa. Se é que há um bom momento para isso. O desespero começou a tomar contar de mim naquele momento. O problema real naquele momento não era ter sido abandonada por meus pais, mas sim, não ter casa. Melissa tinha uma saúde fragilizada. O médico deu diversas recomendações antes de sair do hospital para que nada acontecesse com ela. Dormir com ela na rua com toda certeza não era uma delas. — Definitivamente, não! Não podemos ficar na rua. Tem que ter outra forma. Eu tenho que me proteger e cuidar da minha filha.— Falei alto. Eu precisava ouvir aquilo para colocar minha cabeça no lugar, mas era mais fácil falar do que fazer. Comecei a procurar na minha bolsa o dinheiro que eu ainda tinha. Raramente eu andava com dinheiro na bolsa, me arrependi muito por isso. Por sorte, achei vinte reais, mas não pagava sequer a fórmula. Enquanto eu revirava a bolsa procurando por mais dinheiro para completar, pelo menos a fórmula, encontrei os meus cartões de crédito. — Será que lembraram de cancelar os cartões? — Pensei alto. Na mesma hora busquei um lugar pequeno e barato no aplicativo de aluguel de imóveis por temporada. Cruzei os dedos na hora do p*******o. Era minha única esperança. Se a compra fosse negada, eu não saberia o que fazer. Teria que dormir embaixo de um escorrego. Por sorte, meus pais ainda não haviam se lembrado do meu cartão de crédito, talvez só se dêem conta no final do mês. O limite do meu cartão conseguiu pagar seis meses de aluguel. Meus pais tinham me dado dois cartões, um era adicional do meu pai e outro da minha mãe. Como se fossem suas mesadas. Gastei primeiro o crédito do cartão do meu pai. Se alguém cancelaria rapidamente quando notasse o uso, seria ele. Com o da minha mãe, decidi que iria comprar comida. Ela nunca prestava atenção nas notificações do banco ou na conta. Já teve vários problemas por isso. Peguei o Uber e fui direto para o lugar que aluguei. Era parecido com uma pequena vila. Repletas de pequenos cubículos. Ao entrar no cubículo que aluguei, me surpreendi com o tamanho. O lugar tinha apenas uma sala, com uma pequena cozinha acoplada e banheiro. O sofá se transformava em cama. Era tudo terrível. Sujo, velho e empoeirado. Tinha cheiro de mofo. Teias de aranha e o banheiro estava imundo, mas eu não podia reclamar. Ao menos, nos próximos seis meses temos um teto, com água, internet, gás e energia. — Talvez depois de uma boa limpeza fique melhor, não é, filha? Não vamos desanimar. Vai dar tudo certo. — Falei sorrindo para Melissa que choramingava com fome. Não tinha conseguido alimentar ela ainda. — Não reclame tanto. Vai ficar cheia de rugas. Já pensou, como seria estranho um bebê cheio de rugas? E eu disse que você teria que ser paciente com sua mãe. Olha a bagunça que tá a vida dela. Não tive resposta nenhuma de Melissa, o que era esperado. Ela continuou reclamando de fome. Com um aplicativo de serviço de entrega, pedi várias coisas na farmácia e no supermercado. Entre eles fraldas, mamadeiras e tudo que pensei que poderia ser útil para o bebê. Eu não tinha nada para bebê. Sequer roupas. Também nunca tinha cuidado de um bebê na vida, mas pedi tudo que havia usado no hospital nos últimos dias para cuidar de Melissa. — Sobrou apenas 100 reais de limite no último cartão. Agora eu entendo Chico: Fica rico, fica pobre. Fica rico, fica pobre. Acho que nasci para ser pobre mesmo. Não tem condições. E você também, embora seja linda como uma boneca. — Pensei alto pensando o que mais seria necessidade básica. Achei um aplicativo de venda de usados. Havia muita coisa de bebê. Comprei poucas roupas. Apenas duas de frio e duas camisas regatas. Comprei dois brinquedos. Três fraldas de panos e um cobertor. Precisava deixar ao menos cinquenta reais para emergência. Não sei o que pode acontecer ou faltar. Respirei fundo, ao menos tive a sorte de ter os cartões ou teria que dormir na rua. Olhei ao redor, parte do lugar estava repleto das malas que estavam minhas coisas. O que eu iria fazer com tantas malas? Não caberia naquele lugar e nunca mais poderei usar boa parte disso. Não fazia sentido desfilar com roupa de marca sem nem tem o que comer. E pensar que tudo foi tão caro. Não posso apenas jogar fora. Seria um desperdício. Ainda mais agora que eu mais preciso de dinheiro. — Aí Meu Deus! Isso é genial, Melissa. Podemos vender tudo isso. Tudo que está aqui é de marca. As bolsas, sapatos, roupas. Tudo. Tenho certeza que não vou conseguir vender pelo mesmo valor, mas podemos conseguir nos manter por mais tempo ou até eu conseguir uma forma de ganhar dinheiro. Vamos voltar para parte que fica rico, espero que por um bom tempo , filha. — Estava aliviada. Tínhamos teto, um lugar quente e comida. Melissa ficaria bem. Era o suficiente, certo? Foi o que pensei, mas sabe qual o grande erro dos adolescentes? A falta de experiência. Essa ignorância latente nos que ainda precisam viver muito, os coloca em problemas que poderiam ser facilmente evitados, mas como eu era adolescente, não pude evitar comenter mais um erro, dos inúmeros que eu ainda cometeria.
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