Farei o que tiver ao meu alcance

1211 Words
— Carol, para onde você está indo? — Letícia perguntou com a língua pesada enquanto eu colocava Mel na cadeira ao lado. — Você vai deixar a menina deitada aí? Não, né? Ela não pode ficar em um lugar como esse. Sabe como é a saúde dela. — Vou procurar informações e saber o que posso fazer. Deixei um dos meus celulares com Mel, assim posso abrir a câmera a qualquer hora e saber o que está acontecendo além de rastrear ela. Não se preocupe, a minha filha é obediente, sabe que a tia dela precisa ficar quietinha e ela vai manter você na linha também. Volto logo com mais informações. — Não era o ideal, mas eu não sabia o que tinha acontecido, levar Mel não era uma ideia boa definitivamente, olhei ao redor buscando alguém que parecesse de confiança, encontrei uma mulher com um filho dormindo no colo. Passei a notar que mães são solidárias com outras mães. — Preciso sair um instante, pode ficar de olho por um instante para que ninguém se aproxime da minha filha, por favor? Prometo, não irei demorar. Ela está com a tia agora, mas como foi medicada, acho que pode acabar adormecendo e deixando a criança sozinha. — Ah, sim. Tudo bem. — A mãe concordou confusa com meu pedido. Sabia que Mel não sairia da cadeira, mas ficar parada era tão perigoso quanto sair no hospital e a minha melhor opção era uma mãe para ajudar outra mãe. Aprendi isso nos últimos anos, não tem ninguém que vai te compreender mais na vida que uma mãe que passa diariamente o mesmo que você. — Obrigada. — Agradeci aquela mulher e me voltei para onde Mel estava já mexendo em alguma coisa no celular. — Filha, se alguém desconhecido se aproximar de você ou da sua tia, grite bem alto e sem medo, para que eu possa ouvir de onde eu estiver. Assim chegarei rápido possível. Combinado? Confio em você para cuidar da sua tia. Sei que gritar é com você mesmo. — Certo. Mamãe. Não demore. Não gosto de ficar longe de você. E aqui está frio. — Mel disse sem tirar os olhos do celular, eu ri com a careta que ela fez. — Tá bom. Beijos, minha princesa. Letícia, tente se manter o máximo acordada possível, ok? Você que lute. Cuide da minha filha. Jogo você pela janela se algo acontecer com a minha menina. — Ameacei mesmo. Sei que ela não estava em condições, mas eu queria ter certeza que Mel estava segura. — Como alguém trata um paciente com ameaças? Claro que farei meu melhor para cuidar dela, mesmo que eu não esteja na melhor condições para fazer isso. Não precisa nem pedir. — Letícia fez a mesma careta que Mel. Acho que sei onde ela aprendeu. Me afastei preocupada, não gostava de deixar Mel sozinha, ainda mais em lugares assim. Sei que joguei uma responsabilidade gigante nas costas de uma menina tão pequena, mas não posso fazer nada, quando vivemos sem muitas pessoas boas ajudando, aprendemos a nos virar como pudemos. O importante é que ela esteja segura e saudável. Assim que passei da porta, saindo da sala de emergência, corri para recepção, para descobrir onde estava Marieta. Precisava descobrir o médico responsável por ela e onde estava acomodada. Rodei um pouco o hospital perguntando por ele, até que finalmente descobri qual era a sala de cirurgia que estava. O procedimento com Marieta ainda estava em andamento na sala, tinha que esperar para ter alguma notícia. Quando notei que ia demorar, ativei a função localização e a câmera do celular que estava com Mel. Ela estava ainda sentada na cadeira fazendo careta para tela, não sei o que estava jogando, mas roubou toda a sua atenção. Demorou cerca de mais uma hora, Mel já havia adormecido com o celular nas suas perninhas, apoiada na cama que a sua tia estava sentada nervosa olhando para um lado e outro tentando não adormecer. Me senti um pouco culpada, Letícia precisava descansar, mas a prioridade era minha filha, depois daria um jeito de me desculpar. Quando estava pensando na próxima bolsa ou sapato que daria para Letícia, vi o médico saindo da sala de cirurgia tirando a touca e suspirando. Parecia completamente exausto. — Olá, o senhor deve ser o Kléber, me disseram que é o responsável pela paciente Marieta. Sou da sua família, poderia me dar alguma informação sobre o seu estado? Só me disseram que era de risco, o seu nome e estava em cirurgia. Pode me dizer algo mais? — Perguntei com a fala acelerada ao correr na sua direção. — Vamos, sente um pouco, a senhora parece bastante cansada e eu passei muito tempo em pé. Vamos sentar e conversar sobre o que aconteceu. Combinado? Vou pedir que tragam um pouco de chá para nós. — O médico acenou para o mesmo sofá onde fiquei esperando por ele. A cautela dele em falar me deixou tensa — Certo. — concordei acenando com a cabeça e o segui até aquele sofá super desconfortável que quase destruiu minha coluna. — Pronto. Agora que estamos sentados. Quero dizer que a cirurgia não teve complicações, mas não é confirmado que deu tudo certo ainda. Marieta sofreu traumatismo craniano, fizemos tudo que pudemos na cirurgia, as próximas horas vão ser decisivas para sua vida. Encaminhei ela para UTI para ser monitorada para saber toda a sua evolução. Não quero acabar com suas esperanças, mas há uma chance que ela nunca mais acorde e continue em coma por muitos anos. Aconselho que chamem toda a família para apoiar e se necessário, no pior dos casos, se despedir. O futuro agora é imprevisível e está nas mãos de Deus. — o médico me explicou enquanto me olhava com atenção, como se analisasse minhas reações. — Quer dizer que Marieta pode nunca mais acordar? — Me levantei assustada. Isso era terrível, mas eu não podia apenas aceitar aquela notícia. Precisava fazer o que fosse necessário para que ela ficasse bem. Ela merecia uma vida feliz e duradoura. — Faça tudo que for possível por ela. Se necessário, novos profissionais ou transferir para um lugar melhor. Faça o que for ao seu alcance para que Marieta tenha todas as chances possíveis. Eu arcarei com todo o custo. Pagarei o que for preciso para que Marieta sobreviva e supere o que está acontecendo. — Entendi. Farei tudo que for possível para reverter esse quadro, apenas queria deixar ciente do poderia acontecer e as hipóteses para preparar seu coração. — Kléber concordou mesmo que parecesse confuso. — Farei tudo que tiver ao meu alcance, buscarei profissional e tratamento para reverter. Aguarde, mas chame os parentes. Nunca sabemos o dia de amanhã. Marieta para mim, era a mãe que nunca tive, embora na teoria eu já tive duas, que não valiam nada. Nos últimos quatro anos a sua presença constante na minha vida foi um pilar, me ajudando sempre que eu me sentia fraca, me deixando mais forte. Eu não teria conseguido chegar aqui sem Marieta e não vou permitir que ela nos deixe. — E eu posso ver ela? — Perguntei após organizar todos os meus pensamentos. Não era o momento de se levar pela emoção.
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