O que posso fazer?

1056 Words
O médico me olhou como se tivesse ponderando sobre a resposta. Cada pausa dele, meu coração parecia que sairia pela boca, mas mesmo assim, eu não tinha forças para dizer o que se passava na minha cabeça naqueles momentos de silêncio. — Senhora, não falo isso por m*l, mas a situação dela não é boa. Ela se machucou bastante. Pode ser demais para a senhora nesse momento. Sem contar, que não poderia chegar perto dela, apenas ver através de um vidro. Aconselho que se acalme um pouco. Reflita e trabalhe o seu coração para se preparar para o que vai encontrar. Não é uma cena fácil. — Kléber parecia me olhar mais do que eu gostaria, será que eu parecia estar prestes a passar m*l? Não vou mentir, não me sinto nada bem. — Pode me adiantar o que esperar dessa cena? Como ela está? — Perguntei com medo do que iria encontrar. Não gostava sequer de ver sangue, ainda mais, pessoas realmente machucada. Se fosse algo leve, o médico não teria dito nada disso, certo? — Bom, alguns ferros estão presos na sua cabeça, com intuito de manter ela totalmente imobilizada e auxiliar na cirurgia que foi feita. Ela respira no momento por aparelhos, está com um dos braços mobilizados, o pescoço e dois dedos dela, além disso, ela está ligada há vários fios, canos e aparelhos. Por isso, aconselho a trabalhar mentalmente antes de encontrar com ela. Até mesmo eu que nunca vi ela, senti uma dor enorme vendo aquela cena. Se achar que é demais, tire um tempo para acalmar o coração antes de encontrar com ela. — Kleber parecia desabafar, mas olhava para longe, como se estivesse lembrando de algo. Talvez não fosse a primeira vez que ele lidou com uma situação como essa. — Farei o que diz, mas, tenho que contar tudo para sua neta, que estava com ela no carro, está um pouco ferida apenas, mas deve ficar bem. Preciso retornar para falar com ela sobre isso e alimentar a minha filha. De toda forma, agradeço as suas informações e conselhos. Quero saber sobre o que devemos esperar no futuro, assim poderemos nos organizar melhor o que podemos fazer sobre toda essa situação. Marieta não pode morrer, de jeito nenhum... Preciso ter uma luz de esperança de uma recuperação ao menos, seus netos vão precisar disso quando contar a eles. — Dei um sorriso tímido para ele, o médico acenou timidamente e me entregou um cartão. — Me ligue se tiver qualquer dúvida. Sou cirurgião é um pouco mais difícil me encontrar no hospital. Estarei à disposição para qualquer dúvida. Amanhã passo por aqui pela manhã para saber as mudanças que tiveram. Estou à disposição para qualquer dúvida ou conselho. Também irei estudar a situação e as melhores opções. — O médico sorriu parecendo animado com algo. Eu dei um sorriso sem graça antes de sair em direção de onde estava Letícia, mas acreditei que antes de contar tudo a ela. Eu precisava contar para Heitor. Não sabia como dizer aquilo. Para ser sincera, eu estava com dificuldade de assimilar tudo aquilo. Marieta era a única pessoa que me estendeu a mão quando o mundo inteiro virou as costas para mim e Mel. Ela me deu algo que nunca tive, uma família. Não é injusto demais? Eu perder a minha terceira família? E a única que realmente me aceitou, enquanto todas as outras me rejeitaram. Será que eu tinha uma maldição? Todos que eu considerava como família me deixavam de uma forma ou de outra? Não conseguia evitar sentir esse peso no meu coração. — Já posso pedir música no fantástico? Sinto que o meu coração vai se rasgar ao meio apenas com a possibilidade disso acontecer. Deus não pode ser tão injusto, não é? Eu não fiz nada para merecer tanta dor assim. Com toda a certeza dessa vez poderei proteger a minha família. Eu posso fazer isso, mas como poderei fazer para contar tudo isso ao Heitor? Ele está tão longe... Essa notícia vai abalar o completamente. — Pensei alto enquanto andava pelo corredor tão devagar que parecia estar em câmera lenta. Não conseguia ouvir nem o sons ao redor. Era como se tivesse um tupor. De toda forma, não adiantava fugir daquilo. Era inevitável ter que contar para ele. Melhor eu do que acabar sabendo pelas mídias sociais de alguma forma. A verdade vai vir à tona de todo jeito. Será melhor que ouça a notícia de alguém conhecido pelo menos. A ligação chamou várias vezes antes de ser atendida. * CHAMADA ATIVA * — E aí, loirinha, minha filha já está com saudade de mim? Ainda não é hora da historinha. Será que é a mãe dela que está com saudade de mim? Duvido muito que a loira sem coração ainda isso. Fala aí, o que é? Estou terminando de me arrumar para um encontro. Sabe aquela ruiva que eu te disse? Ela aceitou sair comigo. E você dizendo que ela não aceitaria. Sou irresistível. Confia no pai!— Heitor disse com uma voz super animada. Ele tinha comentado que uma ruiva não estava caindo nas cantadas dele, a última vez que nos falamos. A animação dele me deixou ainda mais tensa para contar o que estava acontecendo no Brasil enquanto ele estava sem saber de nada e prestes a curtir uma boa noite, mas era inevitável, mesmo que eu não quisesse, precisava contar para ele. — Heitor, Marieta e Letícia sofreram um acidente de carro. Letícia teve algumas escoriações, quebrou alguns dedos, mas está bem na medida do possível. Marieta está em estado grave, os médicos disseram que as próximas 24h são decisivas. Acho melhor você vir para o Brasil. Estou tentando buscar especialistas e transferir ela para um hospital melhor. Letícia ainda não sabe sobre nada disso. Acreditei que seria melhor falar com você antes dela. Não faço ideia de como ela vai reagir quando souber — Fui direta. Não sabia contar isso de uma forma mais leve. É o tipo de aula que deveríamos ter na escola. Quanto mais cresço, mais inútil o cateto da hipotenusa se torna. — Como é? Espera. Repete. Que tipo de brincadeira é essa? Do que diabos você está falando, Caroline?— Heitor mudou completamente o tom de voz, se tornou uma mistura de preocupação e raiva.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD