Capítulo 2

2066 Words
Emily Acordo atordoada na cela com umas leves batidas na grade, tento me levantar mas não consigo, minhas costas estão doendo muito. Encaro a figura de terno, gravata, e uma maleta nas mãos. XXX: Emily, sou o teu advogado, doutor Marcos Valério, prazer. Vim te representar a mando do Terror. Suspiro aliviada e com muita força, eu me levanto do chão frio. Emily: Doutor, eu não estou me sentindo muito bem - Falo atordoada com a mão na cabeça. Marcos: Faz quanto tempo que você está aqui nessa... Cela? Se é que eu posso chamar isso de cela. Emily: Não sei, desde que me prenderam me sedaram, me trancaram aqui e eu só acordei agora - Respondo ajeitando meu cabelo que está todo ininhado. Marcos: Fazem mais de 24 horas, pelo visto não te ofereceram o básico, banho e comida - n**o - Precisamos conversar em particular, você tem uma audiência ainda hoje. O carcereiro que está ao lado dele abre a cela e eu saio, ele me algema e caminhamos até uma sala privada, entro com o advogado e o carcereiro nos espera na porta. Me sento em uma cadeira e ele em outra, de frente pra mim, estou extremamente lerda para tudo, não estou conseguindo racionar as coisas muito bem. Marcos: Emily, o Terror me chamou desde ontem - Assinto - Puxei todo o teu processo e vi que é uma situação bem delicada e conplicada, eu poderia conseguir uma condicional se eles não estivessem dificultando para você, você sabe que o Osvaldo Guimarães tem muita influência nesse meio e ele quer que você pague severamente, mas da maneira dele. Emily: Isso tá tão errado - Bufo - Ele tá controlando todo mundo aqui dentro, cê acredita? - Ele assente com a cabeça. Marcos: Acredito, pois eu vi com meus próprios olhos. De acordo com a lei nº 13.257 você tem direito à uma prisão domiciliar porque tem uma filha menor de doze anos, mas eles não estão trabalhando com a lei, e sim sob as ordens do Osvaldo, que quer cada vez mais te deixar aqui ou em um lugar pior. Todavia, se você se der bem durante a audiência, a gente pode conseguir algo melhor. Emily: Eu tô achando que eu vou ficar presa para sempre - Debruço meus cotovelos na mesa e começo a chorar - Tá sendo tudo tão difícil e confuso para mim, eu não tenho notícias do meu marido e nem da minha filha, não sei o que fizeram com ela, não sei se ele está bem, se está sendo bem tratado no hospital, e se principalmente, está vivo - Falo fungando. Marcos: Calma Emily, respira fundo, eu sei que a barra que você está passando é grande, e quando tudo isso acabar, eu vou ser o primeiro a procesar essa delegacia e todos os envolvidos nisso. Mas agora não é tempo para isso, precisamos nos virar o que temos, então vamos fazer o seguinte, a audiência será ás quinze horas, eu preciso que você me conte tudo o que aconteceu para que eu possa entrar em sua defesa - Assento - Outra coisa, você também precisa estar limpa e alimentada, uma boa aparência vai ser bom nessa audiência, se eles te verem para baixo demais, só vai ser mais fácil ainda te julgar como culpada e te condenar á anos de prisão. Emily: Doutor, não me fala nem uma coisa dessas, eu não tenho culhão para aguentar tudo isso! Seria tudo tão mais fácil se o Fábio estivesse aqui - Falo passando a mão no meu rosto. Marcos: Eu estou sendo sincero, e no momento ele não está aqui para ajudar, então me veja como o seu único amigo nesse momento, não fale nada sem a minha presença, combinado? Emily: Sim, combinado. No carro que pegaram a gente, tinha uma mala minha cheia de roupas, por favor vê se você consegue recuperar. Marcos: Isso eu consigo, mas você tem que se sair bem na audiência, vão fazer de tudo para te deixar mais confusa que o normal, mas lembrando que você só responde se quiser, se sentir que não tem necessidade de responder o que está sendo perguntado então não o faça. Emily: Tá certo doutor. Marcos: Mesmo que estejam todos comprados, eu conheço o juiz e eu te garanto que ele não é corrupto, ele não se vende, então fica tranquila perante a isso, mas como já é óbvio que o Osvaldo também vai estar com o advogado dele, ele vai falar tudo e mais um pouco. Emily: Ele vai estar em defesa do Breno, né isso? Marcos: Sim, pois o Breno já não está aqui entre nós, e como o Osvaldo está com tudo nas mãos, ele quer te detonar na audiência, porque é como eu te falei, o juiz não vai estar fazendo parte da panelinha, então Osvaldo tem que mexer os pauzinhos para conseguir sair por cima, porque ele não vai conseguir controlar o Juiz com dinheiro. Emily: Entendi. Marcos: Essa investigação não é de hoje, é desde que o Breno invadiu Paraisópolis então eles vão estar bem preparados, muita gente trabalhou nesse caso. Emily: Eu tô muito fodida, cara. Marcos: Não estaria tanto se não houvesse uma testemunha, alguém testemunhou contra você no dia da invasão e deu a eles a informação complementar que queriam. Emily: Quem é essa pessoa? Ela vai está na audiência? Marcos: Não sei quem é, talvez esteja, mas provavelmente não, para não se identificar e permanecer no anonimato. Emily: Quando eu penso que as coisa não podem piorar... Marcos: Depois da audiência eu vou embora e prometo voltar com notícias amanhã, do Farinha e também da sua filha, mas pra isso você precisa se sair bem. Emily: Tá bom, por onde eu começo te contando? Marcos: Meu foco é o dia da invasão, tudo que aconteceu desde que você se acordou e o que te levou até lá nesse bendito dia. Começo a lhe contar tudo, sem nenhum detalhe a mais ou a menos. *** Fórum// 15:00 Marcos: Mantenha a calma, responda apenas o necessário e haja sempre com a verdade. Emily: Tá bom doutor. Marcos: Boa sorte - Toca no meu ombro. Entramos juntos e nos sentamos nos devidos lugares. Emily: O que foi? - Pergunto quando vejo ele meio tenso, seu rosto começou a ficar pálido - Marcos? O que aconteceu? Marcos: Trocaram de juiz, o que eu te falei não é esse. Emily: Ai meu Deus, nada tá dando certo - Falo baixo. Marcos: Fica tranquila, eu vou procurar saber o que aconteceu com o outro juiz - Quando ele se levanta, o juiz começa a audiência. Juiz: Boa tarde, todos sentamos por favor, iremos começar, silêncio absoluto. XXX: Identidades - Disse uma mulher vindo até a gente. Marcos entregou nossos documentos a ela e sentou novamente. Juiz: A ré, identificada como Emily Santory Albuquerque de Carvalho, pode começar a contar sua versão, como ocorreu e o porquê de ter matado o empresário Breno Cornélio Guimarães. Marcos: Fale apenas o necessário - Diz baixinho. Emily: Nesse dia eu descobri que estava grávida e fui para a favela contar ao Farinha, não sabia que tava tendo operação, quando eu cheguei lá a bala estava comendo, fiquei desesperada e ia voltar para casa, mas um soldado me reconheceu e passou um rádio para o Farinha, então ele pediu que o rapaz me levasse até onde ele estava, numa laje. Juiz: Qual o nome ou vulgo desse soldado? Olho para Marcos que assente, me dando autorização para prosseguir. Emily: Se não me falta memória era Siri, não me lembro muito bem, tudo aconteceu muito rápido. Ele me levou até a laje, quando eu cheguei lá já estava rolando o maior bate boca, Farinha estava a ponto de matar Breno que já foi decidido para matar também, ele estava de colete, com um bom porte de arma, e com uma espécie de escuta. Eu pedi para que os dois parassem mas foi em vão, eu quis evitar que aquilo acontecesse e resolvi contar naquele momento mesmo que eu estava grávida, para tentar poupar a vida do Breno, mas... - Sou interrompida pelo Aurélio, advogado da família de Breno. Aurélio: Com licença Sr. Meritíssimo, a ré está sendo mentirosa e totalmente contraditória, se a intenção dela era poupar a vida da vítima, então por que ela o matou? Eis a questão. Marcos: Caro juiz, a ré não terminou de contar sua versão, então por favor desconsidere a pergunta e intromissão do advogado Aurélio Vargas. Juiz: Pergunta desconsiderada, a ré pode prosseguir. Emily: Breno estava falando várias coisas, estava bem nervoso, quando eu falei da gravidez eles ficaram em silêncio e Farinha ficou bem confuso porque não esperava que isso poderia acontecer comigo, então ele começou a me fazer perguntas e quando eu menos espero ele levou um tiro, Breno havia atirado nele - Falo deixando uma lágrima cair - Esse dia foi horrível, eu senti uma sensação péssima quando vi ele naquele estado, pensei que ele estivesse morrendo, então na hora da raiva eu... - Falo tudo muito rápido e o Marcos me interrompe. Marcos: Emily, se não quiser prosseguir é um direito seu, se acalma - Fala pegando no meu braço. Emily: Tá tudo bem, doutor. Continuando, na emoção, eu atirei algumas vezes no Breno, eu só conseguia pensar que depois do que ele tinha acabado de fazer, o meu bebê iria nascer sem pai, então por isso eu fiz. Quando eu me dei conta do que eu tinha feito, eu me senti a pior pessoa do mundo, fiquei igual uma estátua olhando ele no chão, já sem vida. Aurélio: Meritíssimo, claramente vemos que a ré é a vilã da história, cujo os fatos já mencionados, ela é uma assassina, mas está bancando a vítima, mostrando ter se sentido comovida com a morte do ex namorado, porém, dias depois do ocorrido, a ré estava pousando com foto em rede social e ainda não se sentindo satisfeita com isso, ela foi junto com o marido até o antigo condomínio e fez praticamente uma serie de assassinatos, deixando pelo menos duas pessoas sem vida, dentre elas, um agente da polícia que estava comandando o caso do seu marido. Marcos: Advogado Aurélio, esse não é o momento adequado para que o senhor traga problemas do passado, esse problema não se encaixa com o real motivo da minha cliente estar aqui hoje, não estamos aqui por escândalo nenhum, estamos aqui pela ré Emily Santory Albuquerque de Carvalho ter cometido um homicídio culposo, onde não houve a intenção de matar a vítima, visto que há minutos antes, ela tentou poupar a vida do mesmo. Visto também que o empresário saiu do seu conforto para ir até a favela de Paraisópolis, então o mesmo foi ciente de que sairia dali sendo um assassino, já que foi na intenção de matar o esposo da minha cliente, ou sairia sem vida, como foi o que aconteceu. Osvaldo: Não se atreva a falar do meu filho dessa maneira - Diz se levantando - Meu filho nunca seria capaz de matar alguém a sangue frio. O velho se alterou mesmo, até vermelho ele ficou. Marcos: Contra fatos não há argumentos. Juiz: Silêncio no tribunal - Fala batendo o martelo. Marcos: Meritíssimo, peço por gentileza um intervalo de cinco minutos. Juiz: Pedido negado, vamos dar início a audiência e assim, concluí-la. Por favor me tragam a testemunha, quero ouvir o depoimento e dar o veredito final. XXX: Sim senhor - Fala um dos seguranças. Olho para o Marcos querendo desabar no choro, não passa nem sinal de wifi. Tenho medo do que essa testemunha possa falar aqui, não sei o que está me aguardando. Marcos: As coisas não estão boas por aqui, o juiz foi comprado, sem sombra de dúvidas - Fala baixo perto do meu ouvido. Emily: Eu tô muito nervosa, doutor - Falo aflita sentindo minhas mãos e pernas tremerem. Marcos: Quanto mais calma você ficar, mais fácil será. Ele fala algumas coisas para me confortar, mas eu sei que está tudo perdido, o juiz vai me condenar a vários anos de prisão, eu não tô preparada para isso! Minha barriga gela e meus olhos se arregalam quando eu vejo quem está entrando aqui. *** Publicado dia 2 de Setembro de 2021, ás 11:30.
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