Luiz sentiu seus olhos se arregalarem, assim como sua própria boca se abrir em pura descrença. Ele sabia que aquilo era provavelmente um híbrido que havia sido movido para a sala especial por algum problema, isso explicava muito o motivo de sua mãe ter agido daquela forma tão rápida. E isso despertava outros pensamentos ainda mais assustadores, como por exemplo, apenas híbridos selvagens e perigosos eram mantidos isolados naquela área. A cada minuto parecia mais do que óbvio que aquela criatura na sua frente, não estava atrás de um amigo... Seus olhos estudavam brevemente a pantera, observando como seu tamanho era maior do que o considerado normal para um animal. Ou como seus músculos pareciam retesados e flexionados em uma posição de ataque, esperando um pequeno deslize, para se jogar contra seu corpo e o morder. Seus lábios estavam franzindo ameaçadoramente, mas os dentes não estavam completamente a mostra, não que isso o impedisse de poder ver o quão grandes e pontudos, seus caninos eram. Tudo aquilo já formava uma imagem quase inesquecível, ainda assim, nada parecia chamar mais sua atenção do que aqueles olhos verdes brilhantes, fixos em cada mínimo movimento seu. Ele podia jurar que aquelas orbes esverdeadas brilhavam de maneira hipnótica. Eram magníficas. Ele até poderia elogiar o hibrido, isso é claro, se o mesmo não parecesse pronto para o matar.
_O-olá...- murmurou baixo entredentes, seu maior medo era fazer algo que soasse como perigo para o outro e o mesmo acabasse com seus dentes pontiagudos contra seu pescoço indefeso.
O hibrido levantou preguiçosamente suas orelhas, inclinando de leve sua cabeça para o lado, sem sair de sua postura assassina. Yoon levou aquilo como um bom movimento, já que apesar de tudo, ainda estava vivo. Por isso continuou balbuciando. Talvez se ele conseguisse o distrair por algum tempo, alguém pudesse vir o ajudar.
_E-eu não sou uma ameaça, okay? Acredite em mim...- tentou abrir um sorriso, que mais se assemelhava a uma careta deformada. O hibrido ainda não havia desviado o olhar de si, porém, também não havia se aproximado, o que era uma boa variável.- Eu realmente não vou o machucar. Minha missão é ajudar pessoas como você, sabia? Eu sou um médico...
Agora, aquilo sim tinha sido um erro. Aparentemente a pantera não era alguém muito fã daquela profissão, já que assim que a palavra fugiu de seus lábios, a mesma voltou a rosnar e dar passos em sua direção. Arregalando os olhos em puro pavor, Luiz tentou se virar e correr, toda a estratégia anterior sendo completamente ignorada pelo seu cérebro assustado. Entretanto, para seu maior desespero, ele não conseguiu dar nem dois passos antes de se ver frente à frente com uma parede. Era bem óbvio que o hibrido havia o cercado propositalmente e ele nem ao menos havia percebido. Deus, Luiz nunca quis tanto gritar um palavrão como naquele momento. Se virando novamente para sua posição anterior, tentando não se mover muito rápido para não induzir o animal raivoso a pular em seus ombros e o atacar de maneira traiçoeira, ele teve que morder sua língua com força para não gritar. Durante seus poucos segundos de distração, o hibrido aproveitou para se aproximar ainda mais de si, sem duvidas não havia nem mesmo um metro de distância entre seus corpo.
_p**a merda, p**a merda, p**a merda...- Yoon sussurrou para si mesmo, tentando controlar o tremor que corria por todo seu corpo, mas aquilo era basicamente impossível no momento. Parecia que todo o medo e pavor possível que um humano pudesse sentir, estava o controlando. Seus membros tremiam em puro pânico, assim como seus olhos ardiam de quão exageradamente aberto estavam.- Por favor, não me mate. Por favor, por favor...
Seu tom, contrariando até mesmo sua própria mente, era calmo e suave, como se falasse com alguma criança. Luiz percebeu que até mesmo quando estava surtando, ele não surtava. O que realmente era muito bom para um momento como aquele. Todavia, mesmo aquilo não o ajudou, já que com passos preguiçosos, quase como se brincasse consigo, ele observou a pantera diminuir mais alguns centímetros da distância, se movendo em sua direção. Okay. f**a-se a calma! Pensou, tentando andar sorrateiramente para o seu lado direito, visando chegar ao corredor por onde sua mãe havia sumido, apenas para se afastar daquela aproximação intimidadora. Mas é claro, aquele não era o seu dia de sorte. E antes mesmo que um terceiro passo pudesse ser feito, Luiz se viu pisando em falso e caindo de b***a contra o piso excessivamente branco.
_p***a, porra... Mas que porra...- se antes que ainda havia uma mínima chance de se afastar, ele já estava com medo, agora ele tinha certeza que não tinha mais nenhum controle sobre sua própria bexiga de tão assustado que se sentia.
Com sua nova posição, ele estava bem mais "perto" do hibrido selvagem. Na verdade, ele até mesmo podia visualizar pequena manchas em seu pelo preto sedoso e o que pareciam ser alguns machucado em sua parte dianteira. Tomando uma respiração trêmula, ele ergueu seus olhos e fechou suas mãos em punhos contra o chão, quando viu a cabeça do felino muito mais perto do que considerado necessário, devia ter uns poucos 30 centímetros os afastando. Luiz tinha certeza que se entendesse seu braço, ele conseguiria acariciar as orelhas grandes da pantera. E aquela constatação fez com que os últimos — e minúsculos — vestígios de calma, sumissem completamente.
_Por favor, não me mate! Por favor, não! Eu nem tenho carne o suficiente! Vai ser como morder a pior coisa do mundo! Minha dieta é uma merda! Eu não como nutrientes o suficiente e vivo me enchendo de fast foods! Vai ser como morder uma batata frita molenga e cheia de óleo gorduroso!- exclamou em um tom alto, até mesmo assustando levemente a pantera, que agora o olhava parecendo muito confuso. Mas sinceramente, a mente de Luiz nem mesmo estava conseguido pensar no que saia de sua boca, então como ele poderia controlar seu tom?- Você não pode me matar. Por favor, não! Eu ainda tenho muito o que fazer e esfregar na cara da minha mãe que sou um médico melhor que ela...
Inclinando a cabeça para o lado, a pantera encarou o ômega fixamente. Esse que nem mesmo percebia que estava lançando feromônios para tudo a sua volta. Era uma mistura quase sufocante de um perfume doce e intenso, carregado de muitos sentimentos para ser possível identificar. O hibrido deu mais um passo a frente, 20 centímetros os afastando. _Não, por favor, não! Não, não, não...- repetiu em puro desespero, vendo a pantera dar mais um passo a frente. Dez centímetros de distância agora. p***a, ele até mesmo conseguia sentir a p***a da respiração da pantera. p***a!
_Por favor, não me mate...- voltou a repetir, fechando fortemente suas próprias orbes, para não ter que encarar aqueles olhos verdes brilhantes e muito inteligentes de volta. Ele queria chorar, tentar encontrar uma justificativa boa o suficiente para convencer o hibrido a não o devorar, mas sua mente parecia muito ocupada repetindo "p***a" sem parar.- Não... Não, por favor, não... p***a, eu ainda nem mesmo fiz sexo com alguém! Eu vou ser a p***a de um fantasma virgem que não pode ir para o seu pós vida, porque nunca nem mesmo viu o p*u de outra pessoa! p***a, não, não, não me mate, p***a, não... Eu ainda não estou pronto para morrer...
Uma repetição quase fúnebre de vários "não's" e "p***a's" continuaram fugindo de seus lábios. Aumentando ainda mais de volume assim que sentiu a respiração da pantera contra o seu pescoço. Um choramingou doloroso se juntou aos sussurros, sentindo que estava muito perto de seus últimos minutos de vida. Yoon apertou ainda mais seus olhos, assim como seus dedos contra o piso sólido. Era isso, era sua morte. Ele podia sentir o animal abrir sua grande boca e cheia de dentes pontuados. A baforada quente e primitiva sendo direcionada a lateral daquela região. Sim, era isso. Ele perderia sua cabeça em uma p***a de mordida de pantera. Um silêncio se seguiu, enquanto ele prendia sua respiração em um ato involuntário e esperava pelo veredito final. Esse que finalmente chegou. Entretanto, para a total surpresa e incredulidade de um Min muito assustado, o animal arisco não apertou os dentes contra sua pele tão frágil e pálida. Ele não o mordeu. Não. Em vez disso ele sentiu uma longa e lenta lambida ser depositada quase de maneira hesitante naquela área tão sensível. A p***a de um lambida! Arregalando seus olhos e saindo do seu torpor, Luiz quase entrou em pânico novamente ao perceber como o corpo da pantera se colocava sobre o seu, o tampado completamente. Suas patas dianteiras musculosas estavam quase em volta de sua parte superior, o cercando, enquanto as traseiras — parecendo ainda mais fortes — estavam uma de cada lado de suas pernas. Por Deus, o animal conseguia ser maior do que ele — nessa posição sentada em que se encontravam. Antes que pudesse dar atenção a isso, Luiz novamente sentiu o hibrido deslizar sua língua pelo seu pescoço com o que parecia ser um ato de... carinho? Era quase como se ele fosse um alfa cuidando de seu ômega.
Oh, espera... Mais uma vez os olhos de Yoon se encontravam muito mais abertos do que considerado normal, — agora com o acréscimo de um rubor rosado se espalhando por suas bochechas redondas — dessa vez por um motivo muito diferente do anterior. Ele só não sabia se era pelo fato de aparentemente seu — não mais — assassino ser a p***a de um alfa ou por estar se sentindo cada vez mais calmo, enquanto sentia a língua longa da pantera, "acariciar" sua glândula odorífica. Muito inconscientemente o médico se pegou farejando ao seu redor, finalmente percebendo como o seu próprio odor natural parecia preencher toda a sala — sem dúvidas causado por todo o desespero e medo anterior — e que ele não estava sozinho. Acompanhando o seu perfume doce de morango, estava um tão potente quanto. Era quase semelhante aquele cheiro de terra molhada, no início de uma chuva, que parecia embalar sua mente em momentos bons. Estava levemente misturado com um cheiro pungente de remédios e drogas químicas. Mas ainda era bem presente, talvez fosse por resposta ao cheiro que ele mesmo estava liberando. E... Droga. Suga não queria assumir isso, ainda mais nesse momento tão... crítico, que se encontrava. Todavia, esse sempre tinha sido um dos melhores cheiros para Luiz. Por isso ele quase não se recriminou quando se viu respirando mais fundo do que necessário, para degustar um pouco mais do momento.
_V-você... Oh...- ele começou, soltando um suspiro pesado quando sentiu o hibrido esfregar o focinho contra aquela parte, antes de a lamber novamente. O odor de chuva aumentando significantemente, assim como o de morangos.- ...Você não vai mais me matar, não é? Seu tom era baixo. Tudo o que o médico menos queria, era assustar um híbrido selvagem, com os caninos muito perto de sua jugular. Mesmo que ele parecesse um pouco mais "satisfeito" com sua presença, Yoon não iria arriscar. O hibrido — obviamente — não o respondeu, apenas fez um movimento, empurrando sua cabeça para cima, como se pedisse para que ele inclinando mais para o lado e deixasse a parte que ele estava concentrado, totalmente a mostra para suas investidas. Yoon queria fazer uma objeção sobre aquilo, já que ele estava quase apresentando seu pescoço para o hibrido e aquilo era algo muito íntimo — quase tanto quanto sexo — quando um alfa e ômega estava envolvidos. Mas, aparentemente, a pantera já tinha conhecimento sobre aquilo, já que havia começado a esfregar sua própria cabeça contra aquele local sem dúvidas o marcando com seu próprio cheiro. O que também era um ato muito íntimo entre um casal alfa/ômega. Era quase como uma reivindicação. Um suspiro fugiu pelos lábios de Yoon, enquanto ele desviava seu olhar para o teto, sua cabeça curvada em um ângulo que sem duvidas o daria torcicolos e suas costas curvadas em uma posição sentada que o renderia costas doloridas. No momento ele estava realmente avaliando se a situação atual era melhor do que ser desmembrado por dentes afiados até a morte certa. Porém, nada foi pior do que a vergonha que o tomou, pintando suas bochechas de um vermelho forte, quando ouvindo barulho de passos, olhou para o final do corredor a pouca distância de si e observou a expressão surpresa que sua mãe e que mais alguns guarda alfas tinham em seus rostos, enquanto observavam a sua situação atual.
_Hum... Oi, mãe... Poderia me dar uma ajudinha aqui?
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