Capitulo 2

1939 Words
Ryder Fico um bom tempo distraído. Só me dou conta que a menina está me chamando quando ela faz alguns gestos. Acordo do transe e olho em volta, querendo saber quem estava me chamando atenção. — Senhor Dragonni? Senhor? — a menina Amy me chama a atenção e olho para ela sem entender nada. — Aconteceu algo? — pergunto confuso. — Senhor, ficou distraído — ela fala e me desculpo, afinal, eu voltei a pensar no meu passado; a única coisa boa que restou desse passado foi meu filho, Noah. — Então, senhor, eu queria te perguntar uma coisa. Fico pensando no que poderia ser, e espero que não seja para sair com ela, que é uma adolescente e disso eu fujo como o d***o da cruz. Eu dou valor à minha saúde mental, já chega de me relacionar com meninas mimadas. E tem mais, meu irmão com certeza iria me matar se eu chegasse perto da Amy. — Do que se trata? — indago, esperando não me arrepender. — Eu tenho uma amiga que é chef de cozinha — a menina fala. — Mas não estou procurando uma chef de cozinha, preciso de um cozinheiro. — conserto-a. E mais, ela usou o feminino, que significa mulher e isso eu não quero de jeito nenhum. — Senhor Dragonni, ela é ótima e cozinha superbem — a menina fala toda empolgada e me faz ver que era mesmo uma adolescente. — Eu imagino, só que eu procuro um cozinheiro — digo em tom mais ameno. — Que pena! Ela seria uma ótima funcionária — comenta em tom de tristeza. — Pois é uma pena, mas não daria certo, porque moro numa fazenda onde só têm homens — digo logo querendo dar um fim àquele assunto. — Eu entendo. Vou pedir para fazerem um anúncio para você. Posso enviar no seu e-mail o modelo para sua aprovação? — ela me questiona. — Sim, pode. A senhorita tem todos os meus dados. Qualquer coisa entra em contato comigo. — Tudo bem então, senhor Dragonni. Me despeço e saio de lá olhando o relógio, até que vejo que está quase na hora de eu pegar o Noah na escola. Andando de volta ao carro, me pego incomodado com as palavras daquela menina. É estranho, pois nunca fiquei preso às palavras dela e sei que é uma besteira me apegar àquelas simples palavras, mas era como se dissessem para eu voltar e pegar o número da tal amiga. Não posso fazer isso. Colocar uma mulher dentro de casa não é uma boa coisa. — Tudo bem, filho? — minha mãe pergunta curiosa. — Sim, mãe, tudo bem — eu respondo. — Você está estranho! — ela supõe. — Estranho como? — indago confuso. — Como se estivesse em dúvida. Algo aconteceu? — ela me pergunta. — Mais ou menos — respondo sem perceber. — Me conta então, filho — ela pede, preocupada com algo que tenha acontecido. — Deixa pra lá, mãe — eu respondo, não querendo comentar sobre o que aconteceu. — Deixa pra lá nada, Ryder. Conta-me de uma vez o que aconteceu. — Nossa! Esqueci-me de falar que a minha mãe era um doce, mas quando queria saber de algo era como se fosse um detetive e não descansava enquanto a gente não contasse tudo. — Ok, mãe, a senhora venceu. — Solto um suspiro ao ver que ela não iria desistir. — Muito bem, estou ouvindo. — É uma coisa b***a. — Eu ainda tento ver se ela muda de ideia, mas está me olhando fixamente com aquele olhar que dizia “não vou desistir”. Droga. — Bom, é o seguinte: a senhora sabe que eu fui ao jornal colocar um anúncio. — Ela assente em concordância e eu continuo. — Pois então, a recepcionista, que é uma adolescente, me disse que tem uma amiga chef de cozinha. — Minha mãe fica surpresa e me fala: — Nossa, meu filho! — diz ela. — Estranho, não? — eu pergunto, mais para mim do que para ela. — Pode ser, mas por que você não a contrata? Espera aí! Acho que minha mãe se faz de surda às vezes, só que se eu pronunciasse isso em voz alta ela esqueceria que eu sou um adulto e me bateria, com certeza. — Mãe, a senhora esqueceu que eu não quero contratar uma mulher? — eu pergunto em um tom mais ameno. — Claro que não, meu filho! — Então? — Ryder, acho que você deveria contratar essa chef de cozinha. — Não posso — n**o, querendo pôr um ponto final nessa história. — Filho, você já pensou que ela pode ser uma senhora de idade? — ela me pergunta e isso não me passou pela cabeça. Se fosse assim, até que seria uma boa ideia. — É, vou pensar, mas algo me diz que eu deveria voltar lá e pegar o número dela — comento com a minha mãe, lembrando o que estava acontecendo comigo agora a pouco. — Pois então, Ryder, volta lá e pede o número da senhora chef! — Agora não dá, tenho que pegar o Noah. — Só de falar no nome do meu filho ela se desmonta toda, pois é louca pelo meu menino. — Ok, vamos pegá-lo, estou morrendo de saudade. Você não tem o número de lá? — Acho que sim. — Eu penso um pouco. — Meu filho, é até bom que seja uma senhora! — Por quê? — pergunto confuso. — Assim ela vai poder fazer coisas para vocês! — fala. — Fazer o quê, mãe? Seria só comida mesmo — eu respondo, sem saber se estava fazendo a coisa certa, mas a minha intuição dizia que sim. — Ela pode até ser boa para o Noah, que tem que comer direito e comida de criança não é aquela bomba que vocês dão para ele comer. — Bomba? Do que a senhora está falando, mãe? — pergunto sem entender. — Besteiras, filho. Doces, salgadinhos etc. — Ok, ok. Calma, ele vai comer — eu digo, chegando por fim à escola dele. No começo Noah não queria ir para a escola, eu sentia falta dele e quase chorei ao vê-lo saindo para a escola; meu menino está crescendo. Eu sou louco pelo meu menino. Desde o momento em que nasceu ele se tornou o centro do meu universo. Pena que a mãe dele nunca pensou assim. A única coisa que ela sabia fazer era pedir dinheiro para ir a shoppings, salão de beleza, essas coisas. Só pensava nela e nunca no nosso filho. Ah, se arrependimento matasse eu estaria morto e enterrado. Realmente eu não sei como me envolvi com ela, sem saber que era uma mulher fútil e mimada que queria todas as coisas do seu jeito. Vejo meu filho saindo da escola, descemos do carro e, quando ele vê a minha mãe corre para os braços dela. Sei que os dois eram muito unidos e essa certeza me fez perceber como Noah sente falta de uma companhia feminina. — Nossa, eu não ganho nenhum abraço? — Faço uma expressão triste. — Papai, papai — meu Noah me chama, abraçando e querendo ser abraçado com força; essa era nossa brincadeira de abraçar, como se tivesse um laço nos amarrando, e lá eu estava recebendo o abraço dele, que me fez ver que ele já estava um homenzinho. — O papai estava com saudade. Como está, meu filho? — eu pergunto depois que a gente se afasta e ele se despede da professora. Entramos na caminhonete e seguimos direto para a fazenda, sempre brincando. Ele vai contando como tinha sido o dia de aula e eu fico atento, ouvindo tudo. Chegamos à minha fazenda e posso te dizer que aqui é o meu lar; sempre digo que, quando morrer, quero ser enterrado aqui mesmo. Claro que todos ficam horrorizados com o que eu digo sobre a morte, mas depois que você a vê tantas vezes de perto, chega até o ser natural eu pensar desse jeito. Minha fazenda tem todos os tipos de criação de animais e plantações, é um lugar enorme. Desde que Noah nasceu eu mostrava a fazenda para a minha ex, que achava um absurdo eu querer viver no mato. Estaciono a caminhonete em frente ao casarão, minha casa é boa mesmo, em tudo. Meus irmãos e eu sempre cuidamos de tudo, desde arrumar a casa e até mesmo lavar a louça. Uma vez por semana vem uma faxineira para a limpeza mais pesada ou a esposa de alguns dos peões vinha para ajudar, em agradecimento, afinal eles tinham casas aqui mesmo na fazenda e seus filhos eram matriculados na mesma escola que o meu. Para mim todos éramos iguais e não fazíamos distinção de nada. Noah sai correndo, quando a porta se abre e aparece um dos meus irmãos. As mulheres ficam loucas quando os veem, mas vou contar uma coisa: eles podiam ser galinhas, mas respeitavam meu filho e nunca traziam suas conquista para cá, em sinal de respeito a mim e ao Noah. — Oi, mamãe, chegou seu filho preferido — meu irmão Dominic fala fazendo carinho na minha mãe. — Não acredita nele, mãe. Lembre-se que eu sou seu preferido — brinco, olhando para ela e piscando o olho. Ela dá uma risada. — Não acredito, mãe, que você prefere essa coisinha aí. — Nem reparo que meu irmão caçula, Jesse, chega, se fazendo de coitado. — Parem com isso, meninos — minha mãe nos chama a atenção e balança a cabeça como se dissesse: esse aí não tem jeito. — É, Ryderzinho. Pode parar. — Dominic é um i****a mesmo, mas fazer o quê? Eu amava aquele b***a. — Para de me chamar assim, coisinha fofa! — eu respondo, o fazendo ficar doido. Quando dou por mim, já estava correndo dos meus irmãos. Sei que a gente parece criança, e meu filho fica ali, querendo brincar com a gente e chamo-o: — Vem, filho. Vamos mostrar para o Shrek do seu tio Dominic e para o burro do tio Jesse que nós somos os preferidos. Não precisei falar duas vezes e ficamos ali brincando, como se não tivéssemos nada para fazer. Naquela hora esquecemos que éramos adultos e voltamos a ser crianças. As nossas brincadeiras nunca eram ofensivas, mas minha mãe gritava: — Vocês são um bando de crianças levadas, parecem que tem a idade do Noah — ela nos fala e entra. A gente para de brincar, chego para eles e digo: — Precisamos conversar. — Eu faço uma cara de suspense, deixando os dois doidos. — Fala logo, Ryder — exige meu irmão Jesse. — Vamos logo, Ryder, você demora demais — pede Dominic. Todos que nos veem juntos acham que somos trigêmeos e não é verdade. A diferença entre nós é de dois ou três anos para cada. Ali, sem a nossa mãe ouvir, eu conto sobre a casa e também sobre a floricultura e não dá outra, os dois concordam logo. Resolvemos fazer uma surpresa, pois temos certeza de que meu pai vai adorar a ideia, ele também gosta de flores. Com isso em mente, entramos e fomos nos limpar, depois corremos para a cozinha por que tinha um almoço nos esperando. Penso que não existe nada melhor do que um almoço preparado por nossa mãe, e nessa hora eu sinto falta do meu pai. Fazemos a nossa oração e começamos a almoçar, a refeição é uma das que mais amo: frango no molho com polenta. Amo minha mãe, é a melhor cozinheira e, com certeza, melhor que a chef.
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